Um recorte de jornal antigo comprova outra das contribuições e influências da imigração polaca para o Brasil. Embora haja nos meios acadêmicos, culturais e mediáticos do Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e Recife uma força tarefa encarregada de mostrar o Brasil mulato, o Sul com seus imigrantes de olhos azuis e pele clara, também exerceu e exerce um peso considerável neste Brasil de muitos Brasis. Pois como diria os versos consagrados pela voz da inigualável Elis Regina, "O Brazil não conhece o Brasil". O texto abaixo é a integra de uma coluna publicada num jornal do Rio Grande do Sul, na década de 60.
O Ministério da Agricultura vem de consagrar oficialmente o ilustre e desde longa data colaborador de C&Q, Czesław Bieżanko, como introdutor da soja no Estado do Rio Grande do Sul. Tal fato vem tendo grande repercussão nos meios agronômicos gaúchos, não só através da divulgação da imprensa sulina, como das referências fornecidas pelo “Anuário Brasileiro de Imigração e Colonização”, editado pelo referido ministério. Entre outras considerações, notícia autorizadamente aquela publicação:
“Vemos, aí, o Eng. Polaco Prof. Czesław Marian Bieżanko catedrático da Escola de Agronomia Eliseu Maciel, do Instituto Agronômico do Sul, da Universidade Rural do Sul (Pelotas), que foi o introdutor e orientador da cultura da soja, cujas primeiras sementes, trouxe da milenar Polônia civilizadora. O Prof. Czesław Marian Bieżanko em colaboração com um grupo de imigrantes polacos (alguns membros do Exército Imperial da Rússia), fizeram as primeiras plantações de soja em Santa Rosa das Missões, Guarani das Missões e diversos outros municípios do fabuloso Vale do Rio Uruguai, a Califórnia do Rio Grande, cuja cultura, uma vez tornando-se vitoriosa, está ganhando celeremente milhares de adeptos, transformando-se hoje numa das mais seguras e promissoras riquezas do Estado e do Sul do Brasil. Em verdade a soja marcha para se tornar a principal cultura agrícola do Rio Grande do Sul, dadas as suas fabulosas possibilidades.
Diz o Prof. Bieżanko: “A soja é conhecida no Extremo Oriente desde os tempos mui remotos. As pesquisas históricas demonstraram que, já há mais de 5.000 anos a soja encontrou enorme aplicação e consumo, por motivo do extraordinário valor nutritivo de suas sementes. Sem exagero algum, devemos dizer, que desde fins do século XVII, a soja é alimento básico na China, Coréia, Manchúria e Japão. Na parte Oriental da Rússia Asiática, o chamado leite de soja substitui, em muitíssimas localidades o leite de vaca. No comércio universal, a semente de soja cada vez mais ganha maior importância. Na Polônia, a soja foi conhecida no século XIX, mas somente depois da guerra russo-japonesa, os problemas (principalmente os oficiais serviram no Exército Russo e que voltaram), trouxeram consigo muitas sementes de diversas plantas do Oriente, entre elas várias dezenas de variedades de soja. Trabalhos sobre seleção da soja, observações e estudos sobre esta planta, executaram-se na Polônia, sob a direção dos professores J. Muszyński e Z. Strazewicz, no Jardim das Plantas Medicinais da Universidade de Stefan Batory, em Vilno. Dessa seleção provêm as sementes que trouxemos da Polônia, onde desde o ano de 1906, vários agricultores adiantados cultivam a soja, cognominada pelos orientais de Vaca vegetal. As sementes oriundas da Polônia, por nós distribuídas na zona missioneira do Rio Grande do Sul, já se alastram por Santa Catarina e Paraná, nas zonas coloniais destes Estados, principalmente entre os colonos polacos, alemães e italianos, entre os quais se pode encontrar maiores culturas dessa maravilhosa leguminosa. A soja é uma planta que, sob diversos pontos de vista, merece ser cultivada em maior escala possível. Possui utilidade fabulosa: este é um dos maiores fatores. O outro é ser uma planta de fácil cultivo. Acrescentaremos que é uma planta resistente aos insetos e também às doenças.”
Esta é uma das tantas e expressivas contribuições positivas e marcantes dos imigrantes polacos para o aceleramento do progresso do Rio Grande do Sul e almejada emancipação econômica e industrial do Brasil.
O Prof. Czesław Marian Bieżanko, pela sua projeção internacional, pela sua notabilidade e pelos seus relevados serviços prestados ao progresso do Brasil, de há muito tempo é merecedor do reconhecimento do governo da República, e a tal respeito bem andariam nossas autoridades diplomáticas se diligenciassem, sem mais tardança, a outorga da Ordem do Cruzeiro do Sul, a tão singular e ilustre amigo do Brasil.
(Transcrito do artigo de Inglez de Souza J. SEABRA, publicado na revista “Chácaras e Quintais, XVII (1) 39/40. São Paulo, 1963).
Cabe ressaltar ainda que Prof. Czesław Marian Bieżanko (nasceu em 22 de novembro de 1895, em Kielce, Polônia e e faleceu em 1986), é conhecido mais como pesquisador e entomólogo do que pela introdução da soja no Brasil. Seus trabalhos, bem como seus inúmeros periódicos publicados, são referência obrigatória para os entomólogos atuais.
Duas famílias de borboletas foram nominadas com seu nome. Em 1964, ele publicou uma lista de suas publicações (Biezanko C. M., 1964: Lista das publicacoes de C. M. Biezanko).
O acervo de Bieżanko se encontra tombado como um dos pontos mais importantes da coleção de invertebrados do Museu Carlos Ritter. Com a morte de Ritter em 1985, a coleção foi doada por sua esposa ao Museu Carlos Ritter. Antes de 1988, o Museu posuía seu acervo depositado no local onde atualmente se encontra a Biblioteca da Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel (FAEM). Em setembro de 1988, suas atuais instalações foram inauguradas no centro da cidade de Pelotas, à Rua Marechal Deodoro da Fonseca.
Atualmente, o Museu de Ciências Naturais Carlos Ritter encontra-se inserido dentro do Instituto de Biologia da Universidade Federal de Pelotas, com status de departamento.
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