“Esse rapaz está querendo arrumar confusão!” – diria meu avô depois de ler “Polaco – Identidade Cultural do Brasileiro descendente de imigrantes da Polônia”, do senhor Ulisses Iarochinski.
O autor não é um novato na temática. Jornalista, ator, roteirista, dramaturgo e pesquisador, Ulisses, de ascendência polaca, já publicou outro tomo sobre o assunto, intitulado “Saga dos Polacos”, no qual desenvolve estudo sobre a imigração dos polônios para o Brasil.
“Polaco” é resultado de uma dissertação de mestrado em cultura internacional defendida perante uma conceituada banca na Universidade Iaguielônica de Cracóvia, na Polônia.
Apesar das evidentes características de um trabalho acadêmico, entrecortado por citações e repleto de referências de terceiros que embasam o desenvolvimento das ideias, o texto ainda sim é direto, leve e envolvente. O autor dosa sua escrita com um discurso que prende o leitor, num ritmo que cresce em interesse, a cada capítulo. As temáticas mais contundentes ficam para o fim, o que garante um sabor romanesco ao processo de investigação científica.
Em linguagem acessível, o tomo apresenta as razões históricas que, segundo Iarochinski e suas referências, esclarecem o motivo da palavra “polaco” ser usada nos demais países lusófonos, exceto no Brasil, como significado de pessoa natural da Polônia. Em nosso país o usual é “polonês”. No entanto, esse “usual” acoberta uma longa saga de preconceitos, constrangimento e sabotagem étnica, que nos são apresentados no desenrolar da pesquisa.
Percebemos, a partir do texto, que a palavra “polaco” foi usada das mais diversas formas depreciativas para reputar ao imigrante da Polônia, desvios de caráter, condutas imorais e práticas indecentes de uma parcela de grupos étnico-religiosos, cuja história se esconde pelas ruas estreitas do Rio de Janeiro nos tempos de Pedro II. Além disso, a mesma expressão foi propagada como sinônimo de pessoa de má índole, beberrão, bagunceiro e, por vezes, estúpido, por grupos de imigrantes já estabelecidos na capital paranaense no início do século.
Outra questão central da dissertação se refere ao feminino “polaca”, expressão que referenciava as loirinhas de olhos azuis, fossem elas polacas, austríacas, alemãs, russas brancas, etc. No contexto explorado, “polaca”, significaria qualquer prostituta loira “casada” com um cafetão judeu de origem eslava.
Tanta confusão sugeriu aos polônios estabelecidos e encastelados, um artifício afrancesado: “polonês”.
Enganos, preconceitos e armações se apresentam por detrás do uso e desuso do adjetivo pátrio que, apesar de toda miscigenação até nossos dias, ainda envergonha parte da comunidade descendente do glorioso povo das planícies da Europa Central. São tantas as peripécias e intrigas presentes e sugeridas no livro de Iarochinski, que ouso recomendar um voo de maior alcance de público do que pode propiciar a literatura, indicando uma mudança de suporte e linguagem, o que resultaria num delicioso roteiro de cinema. Atrevo-me a indicar Guy Ritchie para a direção. Que tal?
No entanto, apesar do apelo poético, é o discurso analítico que prevalece, e onde vemos possibilidade dramática, temos rigor científico. Chuvas e trovoadas aguardam os que buscam o apodíctico. Quanto ao livro, vale saboreá-lo devagar como um saboroso prato de Barszcz.
Severo Brudzinski / Escritor, professor e administrador público de cultura.
O livro “Polaco – Identidade Cultural do Brasileiro descendente de imigrantes da Polônia”, de autoria de Ulisses Iarochinski está sendo lançado nesta quarta-feira, 24 de novembro, às 19:30 horas, no Centro Paranaense Feminino de Cultura, Rua Visconde do Rio Branco, nº. 1717.
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