sexta-feira, 25 de abril de 2014

Morreu o poeta e dramaturgo Rózewicz


O poeta e dramaturgo polaco Tadeusz Rózewicz, várias vezes candidato ao Nobel da Literatura e um dos autores mais importantes da literatura polaca do pós-guerra, morreu nesta quinta-feira, aos 92 anos, em Wrocław, no sudoeste do país, onde vivia desde meados dos anos 80.
Também romancista e tradutor, Rózewicz recebeu em 2007, pelo conjunto da sua obra, o Prêmio Europeu de Literatura.
Nascido em 1921, na cidade de Radomsko, perto de Łódź, era filho de um funcionário do poder judiciário e, tal como o seu irmão mais velho, Janusz, executado pela Gestapo, em 1944, militou na resistência polaca durante a segunda guerra.
O seu irmão mais novo, Stanisław Rózewicz (1924-2008) foi um cineasta polaco da geração de Andrzej Wajda. Talvez por isso, o próprio Tadeusz escreveu vários roteiros para o cinema.

Publicou alguns poemas ainda antes da guerra, em 1938, mas o seu primeiro livro, "Ecos da Floresta", foi escrito em 1943 e 1944, quando combatia no Exército Nacional (Armia Krajowa), o principal movimento da resistência polaca, usando o significativo nome de código “Satyra”.

Recebeu várias medalhas pela sua bravura durante a ocupação nazi, e no pós-guerra estudou História de Arte, sem nunca ter chegado a licenciar-se. Envolveu-se no meio artístico de vanguarda, sendo amigo de criadores como o teatrólogo Tadeusz Kantor e o cineasta Andrzej Wajda.


Os livros de poemas que publicou no final dos anos 40, como Niepokój (Ansiedade) ou Czerwona rekawiczka (A Luva Vermelha), testemunham a tentativa de reconstruir uma possibilidade de sentido nesse pós-Auschwitz que, segundo Theodor Adorno, não suportava já qualquer genuína criação poética.
Alguns acusaram-no de nihilismo e de se deixar contaminar excessivamente por autores como T. S. Eliot ou Ezra Pound, mas outros, como o Nobel da Literatura Czesław Miłosz, sublinharam o caráter inovador da sua poesia.

Rózewicz saiu do país em 1950 e passou um ano na Hungria, mas regressou depois à Polônia com a mulher. Crítico do regime comunista, viveu com grandes dificuldades, e completamente afastado dos meios literários, ao longo de toda a primeira metade dos anos 50.

Com a relativa abertura política que a Polônia viveu no final de 1956, após a morte, nesse ano, do líder comunista Bolesław Bierut (Stalin já morrera em 1953, e Kruschev liderava a União Soviética), Rózewicz teve oportunidade de seguir mais de perto a cena artística ocidental e, em particular, a vanguarda parisiense.
Fascinado com o trabalho de dramaturgos como Samuel Beckett e Ionesco, escreveu a peça Kartoteka (O Arquivo), considerada uma obra-prima do teatro do absurdo.

Cena da peça Kartoteka pelo grupo Bałtycki Teatr Dramatyczny im. Juliusza Słowackiego, de Koszalin

Parte da extensa obra de Tadeusz Rózewicz, que se prolonga pelo século XXI e inclui dezenas de títulos, entre livros de poemas, peças de teatro, e narrativas, está hoje traduzida em quase meia centena de línguas e recebeu vários prêmios, dentro e fora da Polônia.

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