A APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes) escolheu os melhores de 2016 em assembleia realizada nesta quarta (30), no Sindicato de Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo em dez categorias:
Arquitetura, Artes Visuais, Cinema, Literatura, Música Erudita, Música Popular, Rádio, Teatro, Teatro Infanto-Juvenil e Televisão.
Não houve quorum para votação em Dança e em Moda.
Os críticos destas áreas não explicaram o porquê das ausências.
Regina o prêmio ganhou na categoria tradução:
LITERATURA
Grande Prêmio da Crítica: “A Ditadura Acabada -5”, de Elio Gaspari (Intrínseca)
Romance/Novela: “Como Se Estivéssemos em Palimpsesto de putas”, de Elvira Vigna (Companhia das Letras)
Ensaio/Teoria e/ou Crítica Literária/ Reportagem: “Trópicos Utópicos”, de Eduardo Giannetti da Fonseca (Companhia das Letras)
Infantil/Juvenil: “Quem tem medo de curupira?”, de Zeca Baleiro, ilustrações de Raul Aguiar (Companhia das Letras)
Poesia: “Rol”, de Armando Freitas Filho (Companhia das Letras)
Contos/Crônicas: “A(s) Mulher(es) que eu amo”, de Eros Grau (Globo Livros
Tradução: “[um amor feliz]”, de Wisława Szymborska, tradução de Regina Przybycien (Companhia das Letras)
Biografia/Autobiografia/Memória: “Rita Lee: Uma Biografia”, de Rita Lee (Globo Livros)
Votaram: Amilton Pinheiro, Gabriel Kwak, Sérgio Miguez e Ubiratan Brasil
Regina Przybycien é professora aposentada da UFPR e professora convidada da Universidade Iaguielônica de Cracóvia.
Possui graduação em Letras pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (1972), mestrado em Inglês - Louisiana State University (1980) e doutorado em Estudos Literários pela Universidade Federal de Minas Gerais (1993).
Um dos poemas
Wisława Szymborska
Nada mudou.
O corpo sente dor,
necessita comer, respirar e dormir,
tem a pele tenra e logo abaixo o sangue,
uma boa reserva de de unhas e dentes,
ossos frágeis, juntas alongáveis.
Nas torturas leva-se tudo isso em conta.
Nada mudou.
Treme o corpo como tremia
antes de se fundar e Roma e depois de fundada,
no século XX antes e depois de Cristo.
A tortura são como eram, só a terra encolheu
e o que quer que se passe parece ser na porta ao lado.
Nada mudou.
Só chegou mais gente,
e às velhas culpas se juntaram novas,
reais, impostas, momentâneas, inexistentes,
mas o grito com que o corpo responde por elas
foi, é e será o grito da inocência
segundo escala e registro sempiternos.
Nada mudou.
Talvez os modos, as cerimônias, as danças.
O gesto das mão protegendo o rosto,
esse permanece o mesmo.
O corpo se enrosca, se debate, se contorce
cai se lhe falta o chão, encolhe as pernas,
fica roxo, incha, baba e sangra.
Nada mudou.
Apenas o curso dos rios,
do contorno das costas, matas, desertos e geleiras.
Entre essas paisagens a pequena alma passeia,
some, volta, chega perto, voa longe,
estranha a si própria, inatingível,
ora certa, ora incerta da sua existência,
enquanto o corpo é, é, é
e não tem para onde ir.
(tradução: Regina Przybycien)
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