Passados alguns dias das eleições presidenciais na Polônia, o que se pode dizer de pronto é que o país saiu dividido ao meio das urnas.
O atual presidente Andrzej Duda foi reeleito com 51,0% dos votos neste segundo turno.
As eleições mostraram que passou a existir um confronto mais do que visível entre uma Polônia moderna e uma outra conservadora, velha.
O prefeito de Varsóvia, Rafal Trzaskowski, que há dois meses nem era candidato tem um perfil mais ao centro, mas ainda assim também é um conservador, é da centro-direita e foi derrotado por pequena margem de votos, algo como 422 mil votos e ficou com 49,0%.
As duas Polônias são visíveis no mapa de 312,679 km² (por obra do soviético Józef Stalin) que habitam o mesmo país. De um lado, a cosmopolita, aberta, laica, tolerante, de maior presença nas regiões Noroeste, Oeste, Centro-Oeste, Sudoeste, em Varsóvia e maiores centros urbanos. De outra parte, a ultra-nacionalista, conservadora, católica e retrógrada, que mantém-se cativa nas regiões Leste, Sudoeste e Centro-Leste, mais notadamente na área rural e pequenas cidades.
Análise dos resultados
Uma análise dos resultados finais apresentados pelo Comitê Nacional Eleitoral permite ver que o eleito recebeu mais votos dos homens que das mulheres.
Entre os homens Andrzej Duda obteve 52,3%. Apenas 47,7% dos homens votaram em Rafał Trzaskowski.
Já as mulheres preferiram o prefeito de Varsóvia ao presidente da república, mesmo que por margem muito pequena (50,2% contra 49,8% para o atual presidente).
O voto feminino parece ser mais progressista que o masculino.
Em relação às faixas etárias, Trzaskowski foi o preferido dos mais jovens. Recebeu 64,4% de votos dos eleitores entre os 18 e os 29 anos. Duda 35,6%.
Trzaskowski também venceu com 55,4% dos cotos contra 44,6% entre pessoas dos 30 aos 39 anos e 55,1% contra 44,9% dos eleitores entre os 40 e os 49 anos de idade.
Andrzej Duda venceu as eleições porque seu eleitorado mais idoso movido pelos discursos e homilias de dois representantes da igreja católica apostólica romana do padre Tadeusz Rydzyk e do arcebispo metropolitano de Cracóvia Marek Jędraszewski. Dois cabos eleitorais importantíssimos do PiS - Partido do Direito e Justiça, fundando pelos gêmeos Kaczyński, em oposição ao mito Lech Wałęsa. Entre os votantes entre os 50 e os 59 anos, Duda conseguiu 59,1%, contra 40,9%. E uma cit'oria acachapante entre os sexagenários com 61,7% contra 38,3%.
Concluindo: quem decidiu as eleições foram os idosos católicos conservadores e da direita ideológica. O menos avisado vai dizer: "Ah! é porque eles viveram o período comunista" e sabem que centro é como se fosse esquerda para deles.
Outra informação relevante dos resultados finais é quanto ao nível de escolaridade. Duda deu de lavada entre os estudantes que possuem apenas o ensino básico, a vitória foi 77,3% contra 22,7% dos votos. Também entre os seminaristas a vitória foi grande: 74,7% contra 25,3%.
Entre os eleitores com ensino médio houve empate técnico. Duda recebeu 50,3% e Trzaskowski 49,7%.
Já entre os eleitores com formação superior o oposicionista venceu com 65,9% contra 34,1%.
O que permite afirmar que as pessoas com menos estudos votaram no ultra-diretista Duda e os mais estudados no centrista.
Também foi possível perceber que as pessoas com menos rendimentos votaram no atual presidente, e as com maior renda no prefeito de Varsóvia.
Por regiões
De Oeste a Leste a Polônia foi dividida por eleitores centristas e conservadores. Além disso, ficou visível a divisão entre o rural e o urbano. Duda teve amplo apoio entre os pequenos agricultores (que são maioria no país) com 63,2% dos votos contra 36,8% de Trzaskowski .
Nas grandes e médias cidades, Traskowski venceu nas cidades com 200 a 500 mil habitantes por 53,8% contra 46,2% e nas maiores com mais 500 mil pessoas venceu com 61,9% contra 38,1%). Nas pequenas cidades entre 50 e 200 mil habitantes a vitória foi com menor margem, 51,0% contra 49,0%).
Já no exterior, os eleitores que vivem em outras condições sociais e econômicas e distantes dos problemas mais urgentes da população deu ampla vitória ao candidato da oposição. Foi uma vitória maiúscula: 74,1% contra 25,9%. Em apenas dois países importantes Duda conseguiu vencer: Estados Unidos e Ucrânia.
Trzaskowski venceu em 10 das 16 voivodias, mas as seis em que perdeu deram a vitória para a reeleição do atual presidente.
Duda venceu com larga vantagem nas voivodias Subcarpátia (70,9%), Lublin (66,3%), Santa Cruz (64,4%), Podláquia (60,1%) e Pequena Polônia (Małopolska) (59,6%). Não bastasse ganhou na voivodia de Lódz, importante centro operário com 54,5%.
Nas demais, Trzaskowski venceu mas por pequena margem de votos, como na Silésia (51,0%), na Mazóvia (52,3%), Opole (52,6%), Cujávia-Pomerânia e Vármia-Mazúria (ambas com 53,2%), na Grande Polônia Wielkopolska (54,9%), na Baixa Silésia (55,4%),Pomerânia Ocidental (58,8%), Lubúsquia e Pomerânia (59,2% em ambas).
Entre as capitais de voivodias Trazkowski venceu em 15, perdeu apenas em Rzeszów, capital da Subcarpátia: 49,7% contra 50,3% de Duda. Em Varsóvia, ao mesmo tempo capital do país e da voivodia da Mazóvia, Trzaskowski teve vitória esmagadora: 67,3% contra 32,7%.
Esquerda, existe?
Os eleitores do candidato da esquerda Waldemar Witkowski foram tão poucos que mesmo se transferissem seus votos para Trzaskowski dariam a vitória para o oposicionista.
Dos eleitores de Hołownia, cerca de 83% seguiram a indicação do candidato independente e deram o seu voto a Trzaskowski.
Já os votantes de Biedroń deram 86% para candidato da oposição.
Não se pode dizer que há uma esquerda na Polônia, o país foi dividido neste segundo turno das eleições presidenciais entre extrema-direita e centro-direita. A centro esquerda do ex-presidente Aleksander Kwaśniewski não é nem sobra do que foi. E a esquerda de Valdemar Pawlak não se sustenta em nenhuma eleição. Herança de uma passo recente stalinista de 40 anos. Quatro décadas que o Ocidente dos países aliados preferiram reerguer a Alemanha algoz, do que a Polônia vitimizada. Deixaram os polacos nas mãos do stalinismo soviético e da igreja conservadora do Papa João Paulo II.
Pode-se resumir o eleitor de Andrzej Duda como sendo homem, idoso, extremamente religioso e ouvinte da Rádio Maria, pouco escolarizado, com rendimento baixo, rural e morador do Leste e centro-leste atrasados economicamente.
Quem votou em Trzaskowski é mulher, jovem, com formação superior e com rendimento superior à média, moradora dos principais centros urbanos e estrangeiro e da metade Oeste-Norte-Noroeste-Sudeste e Sul do país.
Futuro
Trzaskowski e seu PO-Partido da Plataforma Cívica apresentaram um protesto ao Supremo Tribunal, alegando que milhares de eleitores do exterior foram impedidos de votar, por não terem recebido os envelopes dentro do prazo, ou não lhes chegou à mão. Há, ainda, acusações de irregularidades no voto por correspondência pot causa da pandemia.
Mas as eleições parlamentares (Senado e Sejm-Câmara dos Deputados) serão logo em outubro, ou mais tardar dezembro. O que pode ocorrer é uma incógnita. A coalização de centro-direita ganhou espaços importantes. E a tendência é que cresça. O partido do reeleito é conduzido com mão forte pelo gêmeo vivo dos Kaczyński, o ultra-conservador e inimigo público de Lech Wałęsa, o Jarosław Kaczyński que dá ordens e o presidente Duda acata sem restrição. Não é louco de enfrentar o gêmeo.
Jarosław e aliados continuaram a bater contra as modernidades, aumentando o reacionarismo atacando as minorias LGBTQI, o aborto, e a religiosidade extremada da população mais pobre.
As eleições mostraram que passou a existir um confronto mais do que visível entre uma Polônia moderna e uma outra conservadora, velha.
O prefeito de Varsóvia, Rafal Trzaskowski, que há dois meses nem era candidato tem um perfil mais ao centro, mas ainda assim também é um conservador, é da centro-direita e foi derrotado por pequena margem de votos, algo como 422 mil votos e ficou com 49,0%.
As duas Polônias são visíveis no mapa de 312,679 km² (por obra do soviético Józef Stalin) que habitam o mesmo país. De um lado, a cosmopolita, aberta, laica, tolerante, de maior presença nas regiões Noroeste, Oeste, Centro-Oeste, Sudoeste, em Varsóvia e maiores centros urbanos. De outra parte, a ultra-nacionalista, conservadora, católica e retrógrada, que mantém-se cativa nas regiões Leste, Sudoeste e Centro-Leste, mais notadamente na área rural e pequenas cidades.
Análise dos resultados
Uma análise dos resultados finais apresentados pelo Comitê Nacional Eleitoral permite ver que o eleito recebeu mais votos dos homens que das mulheres.
Entre os homens Andrzej Duda obteve 52,3%. Apenas 47,7% dos homens votaram em Rafał Trzaskowski.
Já as mulheres preferiram o prefeito de Varsóvia ao presidente da república, mesmo que por margem muito pequena (50,2% contra 49,8% para o atual presidente).
O voto feminino parece ser mais progressista que o masculino.
Em relação às faixas etárias, Trzaskowski foi o preferido dos mais jovens. Recebeu 64,4% de votos dos eleitores entre os 18 e os 29 anos. Duda 35,6%.
Trzaskowski também venceu com 55,4% dos cotos contra 44,6% entre pessoas dos 30 aos 39 anos e 55,1% contra 44,9% dos eleitores entre os 40 e os 49 anos de idade.
Andrzej Duda venceu as eleições porque seu eleitorado mais idoso movido pelos discursos e homilias de dois representantes da igreja católica apostólica romana do padre Tadeusz Rydzyk e do arcebispo metropolitano de Cracóvia Marek Jędraszewski. Dois cabos eleitorais importantíssimos do PiS - Partido do Direito e Justiça, fundando pelos gêmeos Kaczyński, em oposição ao mito Lech Wałęsa. Entre os votantes entre os 50 e os 59 anos, Duda conseguiu 59,1%, contra 40,9%. E uma cit'oria acachapante entre os sexagenários com 61,7% contra 38,3%.
Concluindo: quem decidiu as eleições foram os idosos católicos conservadores e da direita ideológica. O menos avisado vai dizer: "Ah! é porque eles viveram o período comunista" e sabem que centro é como se fosse esquerda para deles.
Outra informação relevante dos resultados finais é quanto ao nível de escolaridade. Duda deu de lavada entre os estudantes que possuem apenas o ensino básico, a vitória foi 77,3% contra 22,7% dos votos. Também entre os seminaristas a vitória foi grande: 74,7% contra 25,3%.
Entre os eleitores com ensino médio houve empate técnico. Duda recebeu 50,3% e Trzaskowski 49,7%.
Já entre os eleitores com formação superior o oposicionista venceu com 65,9% contra 34,1%.
O que permite afirmar que as pessoas com menos estudos votaram no ultra-diretista Duda e os mais estudados no centrista.
Também foi possível perceber que as pessoas com menos rendimentos votaram no atual presidente, e as com maior renda no prefeito de Varsóvia.
Por regiões
De Oeste a Leste a Polônia foi dividida por eleitores centristas e conservadores. Além disso, ficou visível a divisão entre o rural e o urbano. Duda teve amplo apoio entre os pequenos agricultores (que são maioria no país) com 63,2% dos votos contra 36,8% de Trzaskowski .
Nas grandes e médias cidades, Traskowski venceu nas cidades com 200 a 500 mil habitantes por 53,8% contra 46,2% e nas maiores com mais 500 mil pessoas venceu com 61,9% contra 38,1%). Nas pequenas cidades entre 50 e 200 mil habitantes a vitória foi com menor margem, 51,0% contra 49,0%).
Já no exterior, os eleitores que vivem em outras condições sociais e econômicas e distantes dos problemas mais urgentes da população deu ampla vitória ao candidato da oposição. Foi uma vitória maiúscula: 74,1% contra 25,9%. Em apenas dois países importantes Duda conseguiu vencer: Estados Unidos e Ucrânia.
Trzaskowski venceu em 10 das 16 voivodias, mas as seis em que perdeu deram a vitória para a reeleição do atual presidente.
Duda venceu com larga vantagem nas voivodias Subcarpátia (70,9%), Lublin (66,3%), Santa Cruz (64,4%), Podláquia (60,1%) e Pequena Polônia (Małopolska) (59,6%). Não bastasse ganhou na voivodia de Lódz, importante centro operário com 54,5%.
Nas demais, Trzaskowski venceu mas por pequena margem de votos, como na Silésia (51,0%), na Mazóvia (52,3%), Opole (52,6%), Cujávia-Pomerânia e Vármia-Mazúria (ambas com 53,2%), na Grande Polônia Wielkopolska (54,9%), na Baixa Silésia (55,4%),Pomerânia Ocidental (58,8%), Lubúsquia e Pomerânia (59,2% em ambas).
Entre as capitais de voivodias Trazkowski venceu em 15, perdeu apenas em Rzeszów, capital da Subcarpátia: 49,7% contra 50,3% de Duda. Em Varsóvia, ao mesmo tempo capital do país e da voivodia da Mazóvia, Trzaskowski teve vitória esmagadora: 67,3% contra 32,7%.
Esquerda, existe?
Os eleitores do candidato da esquerda Waldemar Witkowski foram tão poucos que mesmo se transferissem seus votos para Trzaskowski dariam a vitória para o oposicionista.
Dos eleitores de Hołownia, cerca de 83% seguiram a indicação do candidato independente e deram o seu voto a Trzaskowski.
Já os votantes de Biedroń deram 86% para candidato da oposição.
Não se pode dizer que há uma esquerda na Polônia, o país foi dividido neste segundo turno das eleições presidenciais entre extrema-direita e centro-direita. A centro esquerda do ex-presidente Aleksander Kwaśniewski não é nem sobra do que foi. E a esquerda de Valdemar Pawlak não se sustenta em nenhuma eleição. Herança de uma passo recente stalinista de 40 anos. Quatro décadas que o Ocidente dos países aliados preferiram reerguer a Alemanha algoz, do que a Polônia vitimizada. Deixaram os polacos nas mãos do stalinismo soviético e da igreja conservadora do Papa João Paulo II.
Pode-se resumir o eleitor de Andrzej Duda como sendo homem, idoso, extremamente religioso e ouvinte da Rádio Maria, pouco escolarizado, com rendimento baixo, rural e morador do Leste e centro-leste atrasados economicamente.
Quem votou em Trzaskowski é mulher, jovem, com formação superior e com rendimento superior à média, moradora dos principais centros urbanos e estrangeiro e da metade Oeste-Norte-Noroeste-Sudeste e Sul do país.
Futuro
Trzaskowski e seu PO-Partido da Plataforma Cívica apresentaram um protesto ao Supremo Tribunal, alegando que milhares de eleitores do exterior foram impedidos de votar, por não terem recebido os envelopes dentro do prazo, ou não lhes chegou à mão. Há, ainda, acusações de irregularidades no voto por correspondência pot causa da pandemia.
Mas as eleições parlamentares (Senado e Sejm-Câmara dos Deputados) serão logo em outubro, ou mais tardar dezembro. O que pode ocorrer é uma incógnita. A coalização de centro-direita ganhou espaços importantes. E a tendência é que cresça. O partido do reeleito é conduzido com mão forte pelo gêmeo vivo dos Kaczyński, o ultra-conservador e inimigo público de Lech Wałęsa, o Jarosław Kaczyński que dá ordens e o presidente Duda acata sem restrição. Não é louco de enfrentar o gêmeo.
Jarosław e aliados continuaram a bater contra as modernidades, aumentando o reacionarismo atacando as minorias LGBTQI, o aborto, e a religiosidade extremada da população mais pobre.
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