segunda-feira, 23 de novembro de 2020

POLÔNIA CONTRA A ULTRADIREITA

A Polônia se levanta contra a ultradireita. A onda conservadora vira tiro pela culatra. Em resposta a tentativa de limitar o direito ao aborto, milhares vão às ruas. Mulheres exigem democracia e fim do governo fundamentalista.


Muita gente viu fotos das grandes manifestações que tomaram as ruas de cidades da Polônia nas últimas semanas. Talvez se perguntem como é possível que, durante uma pandemia, centenas de milhares de pessoas, principalmente mulheres jovens, tenham saído para se manifestar na maior mobilização social do país desde o movimento Solidariedade, na década de 1980.

O que levou as pessoas às ruas?

A razão mais imediata desta mobilização é uma sentença recente do Tribunal Constitucional, que se transformou num organismo político que, segundo muitos observadores, não é mais independente do Partido Direito e da Justiça (PiS), o partido de extrema-direita que ocupa o governo há dois mandatos. 

Resumindo: em 22 de outubro último, este tribunal, presidido por uma mulher, decidiu invalidar a constitucionalidade do acesso ao aborto por má formação no feto, limitando ainda mais a regida lei de aborto polaca. De fato, a Polônia tem uma longa história de restrições ao direito reprodutivo.

A interrupção da gravidez era legal e acessível durante o período do socialismo de Estado posterior a 1956, mas uma lei promulgada, em 1993, o limitou a apenas três casos: quando a gravidez for resultado de um crime (ou seja, de um estupro), quando a vida ou a saúde da mulher estiverem em risco e quando o feto apresentar anomalias graves. Enquanto estavam vigentes estas restrições, o número de procedimentos realizados era escasso: pouco mais de mil abortos anuais feitos pela via legal, em um país com uma população de 38 milhões de habitantes. Além disso, até outubro de 2020, 97% destes procedimentos foram realizados através do pressuposto que acaba de ser proibido.

A consequência disso é que a decisão do Tribunal supõe que, na prática, quase todas as interrupções de gravidez estão proibidas. Naturalmente, as mulheres seguirão fazendo aborto às margens do sistema. Quando, no começo da década de 1990, esse direito foi restringido, as mulheres passaram a buscar procedimentos clandestinos. Atualmente, existem redes de acompanhamento que oferecem às mulheres o financiamento e a informação necessárias para abortar de forma segura no exterior, ou fazê-lo elas mesmas em casa.

A ilegalidade quase total do aborto poderia ter sido prevista no clima político atual da Polônia. O governo não previa, no entanto, uma resposta tão multitudinária contra essa decisão. As últimas medidas tomadas pelo PiS e a resistência frente a elas devem ser analisadas no contexto da guerra corrente contra a “ideologia de gênero e LGBTI+”, que o governo polaco tem lutado nos últimos cinco anos (desde que o Partido Direito e Justiça ganhou pela primeira vez as eleições presidenciais).

Essas são algumas das suas últimas ações claramente contra a igualdade: o ministro da Justiça ameaçou, em julho de 2020, retirar-se de forma oficial do Convênio de Istambul (o instrumento do Conselho da Europa que trata de prevenção e luta contra a violência às mulheres e as violências domésticas) e Andrzej Duda, o presidente da Polônia, em sua campanha pela reeleição recente, afirmou em uma conhecida declaração que “LGBTI+ é uma ideologia, não é gente”. Além disso, as ações do governo têm se agravado com o tempo e, em agosto de 2020, a polícia atacou e prendeu ativistas LGBTI+ de Varsóvia.

Os protestos que estão acontecendo agora são uma resposta ao aumento da perseguição contra os direitos das mulheres e das pessoas LGBTI+, que culminou com a sentença do Tribunal Constitucional, mas são também fruto de mobilizações anteriores da esquerda. Em 2016, a tentativa do Parlamento de restringir o acesso ao aborto legal foi detido por manifestações em massa (conhecidas como o “protesto negro”) e greves de mulheres. E na primavera de 2020, durante o confinamento, uma tentativa parecida foi contra-atacada por bloqueios do trânsito nas maiores cidades, protestos nas sacadas de prédios, reuniões espontâneas e passeios coletivos em espaços públicos.

A partir de uma perspectiva mais ampla, esses protestos são igualmente consequência, direta e indireta, de todas as mobilizações sociais ocorridas, desde os anos 1990 e início dos anos 2000, pelos direitos das mulheres e LGBTI+, e das recentes greves globais pelo clima. No contexto polaco, além de tudo, podem ser entendidas em linhas gerais como um indicador do fim do domínio cultural e político da Igreja Católica Apostólica Romana e de sua contínua ingerência na esfera pública e no sistema educativo (a religião foi introduzida nos colégios públicos em 1990). Um exemplo disso é que, hoje, a lei do aborto de 1993 é entendida pela população em geral como um “pacto”, feito pelas costas das mulheres, entre os líderes políticos homens e os membros da Igreja católica.

A questão do aborto na Polônia está muito politizada nos últimos 30 anos — e, especialmente, nos últimos cinco. O governo, ao dar sinal verde para uma nova restrição na lei, brincou com fogo. Foi contra a maioria que forma a opinião pública polaca, que se opõe a novas proibições e prefere que os supostos casos de aborto de legal se ampliem, em vez de serem reduzidos.

Daí, vem a reação.
Os protestos contra a sentença do Tribunal começaram no dia 22 de outubro e continuaram de outras formas nos semanas seguintes: marchas de rua, bloqueios em horários de grande tráfego em entroncamentos importantes e manifestações em escritórios e em frente a casas de algumas personalidades importantes da direita. A maior concentração ocorreu no dia 30 de outubro, quando mais de 100 mil pessoas se uniram para bloquear Varsóvia.

A sentença do Tribunal chegou em um momento muito difícil para muitos setores da sociedade: com a pandemia de covid-19, o sistema de saúde a ponto de colapsar e previsões de recessão econômica, muitos grupos perderam a confiança em um governo que está distraído, intensificando sua campanha de ódio contra as pessoas LGBTI e mulheres.

Por esse motivo, se somaram aos protestos outros grupos, como taxistas, associações agrícolas, sindicatos e, de maneira espontânea, motoristas de ônibus e bondes urbanos. É importante mencionar que essas revoltas se ampliaram e chegaram às cidades menores, sobretudo em áreas conhecidas por serem a base política do PiS, como a região noroeste de Podlasie (Podláquia) e a região sul de Podkarpacie (Subcarpática).

Sabemos que, na Polônia, um país onde as organizações de mulheres lutam há mais de duas décadas pelo aborto legal, esta onda de manifestações foi de longe a que mobilizou mais gente. E também foi incomum por muitas outras razões. Em primeiro lugar, porque o ápice foi a raiva das mulheres, sentida de forma massiva, coletiva e transbordante, de forma parecida, por exemplo, ao movimento #MeToo. Essa reação emocional potente poderia ter sido resultado da frustração acumulada pelos contínuos passos do governo para limitar os direitos das mulheres.

Agora, a raiva das mulheres se desatou ao ver como o partido que está no governo proibia a prática de aborto em sua totalidade, sem aparentar qualquer respeito pelo processo democrático — a lei foi modificada sem debate público e isso constitui uma omissão do dito processo — e talvez também devido a que essa proibição é algo muito pessoal para muitas delas, porque se deram conta, mais uma vez, de que suas vidas são tratadas com total desprezo por numerosos homens a frente de cargos políticos.

Seja como for, essa raiva contra o governo respingou na Igreja católica — muitas mulheres protestaram nas missas de domingo, e algumas igrejas foram “decoradas” com grafites em sinal de protesto. E também se dirigiu contra líderes políticos homens e falsos aliados, que queriam apropriar-se da raiva das mulheres para seu próprio benefício político. Um exemplo é o movimento recém-criado e de corte bastante conservador chamado “Polônia 2050”.

O cansaço, a ira e a raiva absoluta foram bem refletidas nos slogans. Entre os mais populares, destacam-se “Cai fora” (Wypierdalać) e “vá à merda PiS” (J… PiS). Em todo o país, centenas de milhares de manifestantes, em sua maioria mulheres jovens, tomaram as ruas portando cartazes com dizeres como “Queria poder abortar o governo”, “Isso é guerra” ou “O inferno para as mulheres”.


Ao contrário do que se temia, o uso de linguagem vulgar não afetou o propósito da luta. Ao contrário, como a escritora e acadêmica Inga Iwasiów destacou: “Assim que começamos a ser vulgares, o outro lado começou a nos escutar”.

Além do mais, nos debates políticos do país se produziu uma autêntica mudança quase que da noite para o dia: organizações de mulheres com a All-Poland Women’s Strike, que coorganizou os protestos pelo direito pleno ao aborto, e a Abortion Dream Team, um coletivo de acompanhamento que ajuda as mulheres a abortarem em suas próprias casas, que eram consideradas “muito radicais” até para alguns setores do feminismo, e se converteram em um grande interlocutor nos debates políticos convencionais, e atraíram a atenção dos principais meios de comunicação. Agora já não são vistas como minoria radical ou extremistas que devem ser silenciadas para que as posturas supostamente moderadas do espectro político fiquem onde estão.

Mas o que realmente fez com que os protestos crescessem durante semanas foi a enorme mobilização de jovens e sua determinação. Gente jovem de todos os gêneros celebrou sua subjetividade política nas ruas, gritando palavrões ao governo.

Os que ficaram em casa, mostraram apoio a partir de suas sacadas, janelas e pela internet. O compromisso dos jovens, que com frequência são vistos como despolitizados e descomprometidos, foi uma surpresa. Sobretudo porque, como geração, cresceram em uma realidade social marcada por uma sucessão de governos, “progressistas” e conservadores — em função do apoio político da Igreja –, defensores da militarização e do nacionalismo.

Foi uma revelação ver massas de jovens, imunes e indiferentes à retórica disciplinadora de ameaça e medo do ministro da Educação, Przemysław Czarnek, que tentou intimidar os alunos e o professorado com a advertência de que aqueles que participassem das manifestações poderiam ser levados a juízo. Ou as palavras de Jarosław Kaczyński, líder do PiS, que chamou à “defesa da Polônia e das igrejas católicas” frente às forças que “querem destruir a Polônia” e buscam “o fim da nação polaca como a conhecemos”.

No cartaz preto, “Meu corpo, minhas regras”, a determinação e persistência da juventude são uma novidade e dão o que pensar a todos. Graças a ela, o partido que governa o país aprendeu uma lição amarga sobre o quanto seus métodos e sua retórica nacionalista estão desgastados, e o quanto seu partido está distante dos mais jovens — ou seja, de seu futuro eleitorado.

Além disso, o alcance dos protestos pode ter posto fim à ideia do monopólio do populismo de direita, algo sobre o qual o governo atual sempre se apoia. A narrativa compartilhada por grande parte da população, de que os direitos LGBTI+ e das mulheres são um ataque da “ideologia estrangeira” contra os “valores tradicionais” da Polônia pode parar de funcionar em vista dos recentes acontecimentos.


Essa nova onda de manifestações, suas palavras de ordem e sua estética podem ser um sinal de que a narrativa liberal de alcançar pequenas conquistas de direitos humanos, em particular os relacionados aos LGBTI+ e ao aborto, também mostra que a oposição progressista ao governo está desatualizada. Os partidos de esquerda, que apoiam abertamente os direitos LGBTI+ e o direito ao aborto — ainda que seu respaldo social seja de somente cerca de 10% –, poderiam beneficiar-se dessa nova realidade política se forem capazes de superar o estigma do pós-comunismo

Mesmo com essa grande onda de protestos de rua chegando ao seu final natural, devido ao puro esgotamento de todas as pessoas envolvidas, os resultados da mobilização ainda estão por vir. Já estamos em 20 de novembro, e o governo ainda não publicou a sentença do Tribunal, o que significa que, na prática, a lei não mudou.

Além disso, no último mês, a All-Poland Women’s Strike ampliou suas demandas perante ao governo a outras áreas além dos direitos ao aborto: direitos LGBTI e das mulheres em geral, direitos trabalhistas, separação entre Igreja e Estado e independência total do poder legislativo. Agora mesmo, as organizadoras desse movimento se encontram construindo suas bases, de baixo para cima, para serem capazes de continuar a luta no futuro.

Texto: Magda Grabowska
Tradução: Gabriela Leite

* Magda Grabowska é socióloga e professora da Academia de Ciências da Polônia

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Dez Castelos Polacos na Bielorrússia

A história muitas vezes entrelaçou os destinos da Polônia e da Bielorrússia. Muitos monumentos que datam da época em que os dois países se uniram como um só Estado sob a Comunidade Polaca-Lituana foram preservados na Bielorrússia contemporânea.

O Castelo Mir

Foto: Natalia Fedosenko

Localizado na pequena cidade de Mir, na região central da Bielorrússia, este castelo foi adicionado à Lista do Patrimônio Mundial da UNESCO no ano de 2000 devido ao grande valor das inúmeras camadas estilísticas deste enorme edifício - foi reconhecido como um registro simbólico da região história turbulenta.

A história desta residência fortificada remonta ao século 15, quando um edifício gótico foi erguido neste local pelo "starosta" (prefeito) de Brest e Kaunas, Jerzy Illinicz.

Na segunda metade do século 16, o castelo tornou-se propriedade da família Radziwiłł pelos 300 anos seguintes. Membros da família o expandiram e reconstruíram, por exemplo, Mikołaj Radziwiłł, apelidado de "o órfão", deu ao castelo sua elegante forma renascentista e acrescentou uma ala residencial, e Michał Kazimierz Radziwiłł transformou o edifício em uma residência barroca aristocrática no século 18.

No final do século 19, o castelo foi vendido a Mikołaj Światopolełk-Mirski, que renovou o edifício abandonado e restaurou seu esplendor. Durante a Segunda Guerra Mundial, o castelo foi transformado em um gueto - arame farpado estendido ao longo de suas paredes e a população judia foi assassinada pelos alemães nazistas no parque do castelo.

Hoje, o Castelo Mir é um dos castelos mais interessantes e mais bem preservados da Bielorrússia, com um museu e um hotel em seu interior meticulosamente reformado.

Castelo Nieśwież
Foto: Alexxx Malev

O castelo em Nieśwież, como a maioria dos edifícios deste tipo, foi reconstruído várias vezes. Cada novo proprietário ou membro da família modificava a estrutura do castelo de acordo com as suas necessidades, mas também de acordo com as modas arquitetônicas vigentes. O terreno em Nieśwież foi dado a Mikołaj Niemirowicz ,em 1446, pelo rei Kazimierz Jagiellończyk em reconhecimento ao seu serviço. Nas décadas seguintes, o terreno mudou várias vezes de proprietário, até se tornar propriedade da família Radziwiłł na primeira metade do século XVI. Eles expandiram a casa senhorial de madeira localizada aqui muitas vezes, eventualmente transformando-a em um vasto complexo castelo-palácio-parque, com um castelo ricamente decorado e alas, galerias e uma igreja.

Banquete organizado pela família Radziwiłł em homenagem a Józef Piłsudski na sala da lareira do palácio em Nieśwież,
outubro de 1926


Entre os arquitetos que trabalharam, em Nieśwież (Nesvizh), estava um representante do barroco inicial, Jan Maria Bernardoni, que projetou outra extensão do palácio na década de 1580, bem como uma igreja situada na propriedade. Bernardoni projetou a Igreja de São Pedro e São Paulo, em Cracóvia, considerada um dos melhores exemplos do início da arquitetura barroca na Polônia.

Em 1994, o governo bielorrusso reconheceu o Castelo Nieśwież como um monumento histórico e cultural nacional e, em 2005, o monumento foi incluído na Lista do Patrimônio Mundial da UNESCO.

Palácio Sapieha


O Palácio Sapieha, em Różana, é outra residência que foi construída e ampliada ao longo de muitos séculos pelas famílias nobres que o possuíam. O primeiro castelo foi construído no topo da colina, no início do século 17, pelo Chanceler do Grão-Ducado da Lituânia, Lew Sapieha.



No século 18, o edifício foi ampliado; a família Sapieha hospedou figuras importantes como o rei Stanisław August Poniatowski. Entre 1784 e 1786,Aleksander Sapieha transformou o edifício em um elegante palácio que incluía uma galeria de arte, biblioteca e teatro. Naquela época, o palácio era um dos maiores do gênero na República da Polônia.

Logo depois, no entanto, a família Sapieha mudou-se para outras terras, e a propriedade em Różana começou a entrar em declínio. Uma seção do palácio foi transformada em depósito de grãos no início do século 19, houve um grande incêndio no palácio em 1914, e ele sofreu alguns danos durante a Segunda Guerra Mundial.

Desde então, o impressionante palácio está em estado de ruína permanente, mas os vestígios do seu esplendor ainda são claramente visíveis. Em 2012, graças a fundos da União Europeia, o enorme portão de entrada ornamental que leva aos jardins do palácio foi reformado.

Mansão Niemcewicz
Ilustração: Napoleon Orda

A propriedade Skoki perto de Brest pertenceu à família Niemcewicz do início do século 18 em diante. Em 1770, Marceli Niemcewicz reconstruiu a mansão de madeira de lariço (cedro, árvore da família da Larix polonica), em Skoki, transformando-a em um elegante palácio de pedra.

O edifício de dois andares foi coberto por um telhado de mansarda alto e duas torres de três andares foram adicionadas às laterais da estrutura principal do edifício. A propriedade pertenceu à família Niemcewicz até 1939.

Foi aqui que Julian Ursyn Niemcewicz nasceu em 1758. Ele foi dramaturgo, poeta, historiador, jornalista, membro do Comitê Nacional de Educação, ajudante e secretário de Tadeusz Kościuszko durante a Revolta de Kościuszko, e co-autor (com Hugo Kołłątaj) da Constituição de 3 de maio de 1791.

Foi um dos dezesseis filhos de Marceli Niemcewicz, que vendo as necessidades desta grande família construiu a mansão, em Skoki,  que acabou abandonada por muitos anos. Há cerca de uma década ela mas foi reformada e hoje abriga um museu.

Mansão Mickiewicz
Foto: Artsyom Ablazhei

De acordo com muitos pesquisadores, o poeta polaco Adam Mickiewicz nasceu nesta mansão de madeira no vilarejo de Zaosie na véspera do Natal de 1798, embora não haja documentos que confirmem isso. Logo depois, a família Mickiewicz mudou-se para Nowogródek (atual Navahrudak), mas foi nesta mansão que o bardo nacional da Polônia supostamente passou os primeiros anos de sua vida.


Ilustração: Napoleon Orda

Embora os prédios em madeira da fazenda e a mansão em Zaosie tenham sido negligenciados por muitos anos, os prédios foram restaurados, na década de 1990, por ocasião do 200º aniversário de Adam Mickiewicz, e alguns foram reconstruídos. Hoje, o prédio abriga o Museu Adam Mickiewicz, onde os visitantes podem ver como vivia a nobreza da província no final do século 18 e início do século 19.


Mansão Eliza Orzeszkowa


O enredo do romance "Nad Niemnem" (No Rio Niemnem), importante registro das relações sociais e dos costumes da segunda metade do século XIX, se passa perto de Grodno, que a autora deste romance em três volumes, Eliza Orzeszkowa, conhecia muito bem. Ela nasceu e foi criada na propriedade Milkowszczyzna, que inspirou o cenário da história das famílias Bohatyrowicz e Korczyński.


Orzeszkowa vendeu sua propriedade herdada, em 1869, e viveu em uma casa de madeira em Grodno. Foi aqui que o livro "Nad Niemnem" e uma série de outras obras desta indicada ao Prêmio Nobel foram escritos. No edifício onde passou grande parte da sua vida, existe hoje um museu dedicado ao seu trabalho. Orzeszkowa está enterrada no cemitério paroquial de Grodno e há um monumento a ela na cidade. 

Velho Castelo
Foto de 1931

Grodno é considerada a cidade favorita do Rei Stefan Batory. Ele passou tanto tempo lá e por isso que Grodno foi considerada a capital não oficial da Comunidade polaca-lituana durante seu reinado.

Batory residia no Castelo Velho, construção do século XIV. Foi durante o reinado de Batory que o castelo gótico foi reconstruído, dando-lhe um estilo maneirista. Nos séculos seguintes, o edifício foi modernizado várias vezes; no século 19, serviu de quartel para o exército russo e, de 1918 a 1939, abrigou um museu.

A renovação do castelo está em curso desde 2017 (no entanto, algumas das obras de restauração foram criticadas pelos conservadores por não respeitarem o papel histórico delas). O objetivo da renovação é restaurar a aparência do Castelo Velho, do século XVI, justo do reinado do Rei Stefan Batory. A imagem do rei está agora na torre do castelo, que foi pintada com a técnica do esgrafito.

Catedral São Francisco Xavier

A Catedral de São Francisco Xavier, em Grodno, a maior e mais ornamentada igreja da cidade, pertencia originalmente aos jesuítas. O rei Stefan Batory tentou atrair jesuítas para Grodno apoiando a construção de uma igreja para eles na cidade, e ele próprio desejou ser enterrado lá.

O plano falhou, mas os monges se tornaram ativos em Grodno, na década de 1820. Primeiro, eles abriram uma escola, depois construíram um complexo de mosteiro que incluía uma enorme igreja barroca com duas torres altas. Foi consagrado em 1705.

O objeto mais valioso na igreja é a pintura do século 17 de Nossa Senhora da Congregação doada por Albrecht Radziwiłł, uma cópia da pintura de Nossa Senhora das Neves na Basílica de Santa Maria Maggiore, em Roma. Muitos dos valiosos móveis originais do século 18 foram preservados na basílica de Grodno, incluindo um altar principal esculpido em duas camadas e altares laterais barrocos.

Banco da Polônia
Foto de 1925

Na época da Segunda República Polaca, a cidade de Brest não era apenas a capital da província, mas também um importante centro de poder local. Tornou-se a sede de muitos escritórios e instituições burocráticas, como o Gabinete Provincial, a Sede Provincial da Polícia do Estado, o Gabinete do Distrito de Brest, o Conselho Regional, o Tesouro do Estado e a Inspeção Escolar. 

Vários edifícios foram erguidos nas décadas de 1920 e 1930 para atender às necessidades dessas instituições. Algumas receberam formas simples e modestas, mas outras tornaram-se estruturas significativas no espaço da cidade. Este último grupo inclui a sede do Banco Nacional Polaco, projetado em 1925, por Stanisław Filasiewicz.

O arquiteto, sem dúvida, seguiu o modelo de numerosos edifícios públicos em dezenas de cidades da Segunda República da Polônia projetados por Marian Lalewicz, um arquiteto conhecido e respeitado da época.

O edifício recebeu elegantes elementos neoclássicos, particularmente populares em edifícios públicos, porque faziam referência ao passado distante através do uso de colunas, pilastras, cúpulas e cornijas ornamentais proeminentes. Hoje, o prédio abriga a sede do Banco Nacional da Bielorrússia.

Conjunto habitacional e administrativo

Enquanto Brest se tornou a sede de instituições e escritórios burocráticos, também foram construídos conjuntos habitacionais para os funcionários. A demanda por novas casas foi tão grande que, em 1924, uma equipe de quatorze arquitetos foi formada para desenvolver projetos para casas idênticas. O programa de investimento para apoiar a construção de assentamentos habitacionais para funcionários polacos nas Terras Fronteiriças Orientais foi liderado pelo Ministério de Obras Públicas. 

Um dos projetos realizados dentro desse programa foi um conjunto habitacional e administrativo construído na rua Unia Lubelska, em Brest. A maioria das casas foi projetada por Julian Lisiecki (várias foram projetadas por Marcin Weinfeld), e foram baseadas na ideia de uma cidade-jardim.

Pequenos solares foram construídos ao longo das ruas, em meio ao verde, em um estilo de inspiração barroca. As casas tinham varandas apoiadas por colunas grossas e telhados altos com janelas de águas-furtadas. Houve muitos outros assentamentos deste tipo construídos nas Terras Fronteiriças Orientais, nas décadas de 1920 e 1930, mas o conjunto em Brest é um dos maiores e, acima de tudo, o mais bem preservado.

Este texto foi escrito originalmente em idioma polaco.
Texto: Anna Cymer
Tradução para o português: Ulisses Iarochinski

quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Estado e Igreja juntos na Polônia ou a ascensão e queda do arcebispo de Cracóvia?

Polacos comemoram a entrada na União Europeia nas ruas de Varsóvia agitando as bandeiras da União e da Polônia

Não é segredo para ninguém o estarrecimento do Papa João Paulo II com o baixo comparecimento dos polacos às urnas na votação do plebiscito de 2003 para a entrada da Polônia na União Europeia, que se realizou no fim de semana.

Preocupado, o Papa, na noite do sábado, já com a votação em andamento, telefonou para três personagens da Polônia, o Cardeal Primaz Józef Glemp, o padre Tadeusz Rydzyk e o editor do jornal Gazeta Wyborcza, Adam Michnik. Pediu que os três conclamassem os polacos a comparecerem às urnas no domingo e dissessem SIM para a entrada na União Europeia.

Rydzyk usou os microfones da sua Rádio Maria para solicitar aos fiéis que atendessem ao pedido do pontífice. Glemp determinou a todas as dioceses, paróquias e igrejas do país, que na homilia das missas daquele domingo de manhã, fosse divulgada a ordem de João Paulo II. Michnik imprimiu uma edição especial do jornal e passou a noite, distribuindo-o por todo o país.

A ordem do Papa era para comparecimento aos postos de votação do plebiscito, para votar Sim pela entrada na União Europeia. O pedido foi atendido e desta forma foi possível recuperar o comparecimento ínfimo, do sábado, e atingir 58,5 % dos eleitores, no domingo. O mínimo aceitável era 51%. O SIM venceu com 77% dos votos, ratificando assim a entrada da Polônia na União Europeia. Apenas 23% disseram Não.

Oficialmente a Polônia passou a fazer parte da União Europeia,  em 1º de maio de 2004. O sonho de integração do Papa João Paulo II finalmente se realizou.

Em 1999, o Papa em visita a Polônia, comparece ao Sejm - Congresso e fala na importância do país fazer parte da UE

O Santo João Paulo II foi um defensor ferrenho da entrada da Polônia da União Europeia. Em 18 de maio de 2003, ele fez um pronunciamento onde dizia:

"Não haverá unidade na Europa até que se torne uma comunidade de espírito. Este fundamento mais profundo de unidade foi trazido à Europa e fortalecido ao longo dos séculos pelo Cristianismo com o seu Evangelho, com a sua compreensão do homem e com a sua contribuição para o desenvolvimento da história dos povos e nações. Esta não é uma apropriação da história. Pois a história da Europa é como um grande rio no qual fluem numerosos afluentes e riachos, e a diversidade de tradições e culturas que a constituem é a sua grande riqueza. O núcleo da identidade europeia é construído no Cristianismo". 

E acrescentou o slogan que ficaria marcado para sempre:
"Da União de Lublin à União Europeia! Este é um ótimo acrônimo, mas contém uma grande quantidade de conteúdo. A Polônia precisa da Europa."

Como se sabe, historicamente, a mais antiga república do mundo pós-renascimento, surgiu na cidade polaca de Lublin, em 1569, pela União do Reino da Polônia com o Grão-Ducado da Lituânia, e durou nesta forma até a adoção da Constituição de 3 de maio de 1791.

Nestes últimos 16 anos, a Polônia viu os laços da Igreja de Karol Wojtyła se aproximarem cada vez mais de um partido político, o PiS – Partido do Direito e Justiça, comandado pelos gêmeos Kaczyński. Também não é segredo para ninguém, a participação decisiva do padre Tadeusz Rydzyk, por meio de sua Rádio Maria, suas duas TV’s a cabo e faculdade de jornalismo, para a eleição de Lech Kaczyński em 2005.

Jarosław e Lech Kaczyński

Lech acabou morrendo na queda do avião presidencial junto com 96 pessoas que estavam à bordo, na viagem à emblemática cidade de Katyń, na Rússia. Foi em Katyń que o Exército Vermelho assassinou 22 mil oficiais polacos durante a Segunda Guerra Mundial. O presidente morreu, mas o irmão Jarosław permaneceu vivo para fazer vitorioso o partido de extrema-direita nas duas recentes eleições.

O que parece ser segredo, é a interferência da Igreja Católica no partido extremista, xenófobo, antissemita, misógino e fascista de Jarosław Kaczyński. Partido este que reelegeu Andrzej Duda para a presidência da República, meses atrás.

 
Andrzej Duda, o presidente reeleito de extrema-direita

Mas não se enganem, o segredo está caindo por terra. Os próprios representantes da igreja, que detém 97% da população do país sob sua doutrina, estão se derretendo e enfrentando a fúria salutar das mulheres polacas. O protesto que se estende por mais de duas semanas nas ruas do país, diante dos palácios do Congresso, da Presidência da República, do Tribunal Constitucional é uma resposta inflamada da polacas contra a decisão do judiciário que proibiu o aborto por má-formação do feto. Esta decisão, polêmica, foi acertada entre o PiS – Partido do Direito e Justiça e a Igreja Católica Apostólica Romana da Polônia.


Polacas em greve bloqueiam ruas de Cracóvia

O furor das mulheres se voltou contra as cúrias e igrejas, quando o arcebispo metropolitano de Cracóvia, Marek Jędraszewski começou a criticar os protestos femininos. Ele também parabenizou os juízes pela coragem e integridade após o julgamento do Tribunal Constitucional sobre o aborto. Marek fez pronunciamento durante a missa de indulgência celebrada no santuário papal “Białych Morzach” (Mares Brancos), em Cracóvia. Na oportunidade, ele citou textualmente a frase decisiva da presidente do Tribunal, Julia Przyłębska: "o aborto em caso de deficiência fetal grave e irreversível ou doença incurável é inconsistente com a Constituição”.

Jędraszewski é o mesmo arcebispo que na última Semana da Páscoa quando já vigoravam os protocolos da OMS - Organização Mundial de Saúde, de distanciamento social, uso do álcool gel e outros, conclamou os padres da sua diocese a exortarem nas missas, o compromisso dos fiéis de comparecerem às tradicionais procissões da semana. Não satisfeito, ele mesmo saiu às ruas de Cracóvia em procissão. Foi um ato religioso do qual participaram centenas de católicos, sem máscara, aglomerados e sem observar a distância segura.

Jędraszewski não tem fechado a boca desde então. “Há ataques a igrejas e santos nacionais, quando a liberdade é absolutizada até a anarquia. Na verdade, dar a outra pessoa o poder sobre a Polônia, é desistir da independência levianamente e sem reflexão”, argumentou o arcebispo na Catedral do Castelo de Wawel. Em sua exortação, Marek criticou as mulheres.

Indignadas, elas portaram letras garrafais diante de seus corpos contra a decisão do judiciário polaco, em frente à janela da Cúria de Cracóvia, denominando-a de "Casa de Satanás". Na janela, sobre a porta principal, há uma grande foto do Papa colocada ali desde a sua morte.

"Dom Szatana" (Casa de Satanás) - Foto: Beata Zawrzel

Na quarta-feira, dia 11 de novembro, data em que se comemora a recuperação da independência da mais antiga república do mundo, a da Polônia, Jędraszewski voltou a criticar as mulheres.
Na Catedral de Wawel, ele disse: “Temos uma experiência tão doída e uma consciência dolorosa das dificuldades em que nos encontramos. Há uma pandemia, bem como tentativas de introduzir na Polônia uma cultura anticristã e neomarxista, que proclama em seus slogans, um desprezo pela santidade de cada vida concebida. Onde a dignidade de uma mãe que deseja dar à luz uma criança carregada sob seu coração, é degradada.”

Misogenia não é apenas a aversão a “gays” e mulheres, mas também é uma atitude alimentada pelos homens que se dizem machos. Além disso, é premissa dos homens do alto clero católico, como o arcebispo Marek que não chegou a cardeal. Dias atrás, ele chegou a dizer mais este absurdo: “o raio característico com o logotipo da Greve das Mulheres era um sinal usado pelos homens da SS”.

No início do mês, Jędraszewski  escreveu sua "Carta aos Padres da Arquidiocese de Cracóvia", pouco antes do Dia de Todos os Santos. Tendo em mente, os protestos que acontecem em toda a Polônia, como parte da Greve das Mulheres, declarou: “Nos dias de hoje estamos passando por um momento difícil relacionado a agressões inimagináveis. Não apenas verbais! Quando nossos templos são devastados somos acusados de defender a verdade sobre a dignidade e a santidade de toda vida humana contida no Evangelho de Cristo". Foi uma resposta a invasão das mulheres às igrejas católicas polacas.

Arcebispo metropolitano de Cracóvia, Marek Jędraszewski

Em março ainda, no início da pandemia, Jędraszewski celebrou missa em memória do Dia Nacional da Memória dos Soldados Amaldiçoados. Na ocasião, ele foi recebido por manifestantes LGBT’s portando o slogan: “A praga do arco-íris e a civilização da morte dão as boas vindas ao Arcebispo Jędraszewski.” Enquanto o arcebispo falava sua homília dentro da igreja atacando o movimento LGBT, do lado de fora se ouvia a canção antifascista italiana “Bella Ciao”.

Cinco meses depois, em agosto, o ultraconservador Jędraszewski voltou a atacar o movimento das cores do arco-íris, contrariando, inclusive o Papa Francisco. Disse ele: “Não pise o passado de nossos altares”.

Ainda em agosto, ele se tornou co-presidente da Comissão Conjunta do Governo e do Episcopado polaco.

Se aparentemente, Marek conta com a aprovação dos fiéis mais fervorosos em sua pregação contra o movimento “Greve das Mulheres”, há parlamentar na oposição ao governo de extrema-direita que ironiza o arcebispo de Cracóvia.

O deputado Krzysztof Śmiszek disse ao portal Onet, que "as palavras do Arcebispo Jędraszewski são muito engraçadas, porque são ditas por um homem que representa uma instituição que consiste apenas em solteiros. Acho que ele dirigiu esta declaração a si mesmo e ao seu meio"


Śmiszek disse que Marek Jędraszewski ao se dirigir aos peregrinos, reunidos no santuário da cidade de Kalwaria Zebrzydowska, "ao criticar a ‘ideologia dos solteiros’, faz com que mais e mais polacos deixem a Igreja”.

O deputado foi ainda mais incisivo, “muitas pessoas estão se afastando do catolicismo, não porque não sejam caras a certos valores universais que a Igreja Católica proclama. Os polacos estão deixando a Igreja por estarem revoltados e indignados. Eles não concordam com a aliança entre o trono e o altar, e que bilhões de złotys (moeda polaca) sejam bombeados do Estado para a Igreja.”

Claro está, pela análise do comportamento de Jędraszewski e da igreja católica da Polônia que o deputado Krzysztof Śmiszek é de esquerda. E mais ainda, quando o parlamentar se refere à situação da comunidade LGBT polaca atacada pela igreja do arcebispo: “Tenho vergonha do debate que aconteceu no Parlamento Europeu sobre a Polônia. Mais uma vez, tornamo-nos o arquétipo de uma criança malvada e rebelde em uma família europeia. Isso deveria fazer os governantes da Polônia, pensarem que nosso país e a Hungria ainda estão sob censura não sem razão.”

Krzysztof Jan Śmiszek nasceu em 25 de Agosto de 1979 em Stalowa Wola. Ele é advogado, ativista de direitos humanos e das minorias, tem doutorado em Direito e professor universitário. É criador e co-fundador da Sociedade Polaca de Lei Antidiscriminação, uma associação nacional de advogados e advogadas que trabalham pela igualdade e não discriminação. Também é presidente honorário desta organização. Membro do Partido SLD - Sojusz Lewicy Demokratycznej (União Democrática de Esquerda), que desde janeiro de 2020 passou a se chamar NL - Nowa Lewica (união entre o SLD e Wiosna). Śmiszek foi eleito deputado nacional para o Sejm (Câmara dos Deputados) ano passado.

A vice-chefe da Comissão Europeia, a tcheca Věra Jourová, anunciou que irá decidir sobre os próximos passos no processo de sanções a serem adotadas contra a Polônia em relação às polêmicas leis judiciárias muito em breve. “Devemos deixar claro, que os fundos da UE não irão para a Polônia se os direitos fundamentais dos grupos LGBT forem violados”, afirmou Jourová.

A eurodeputada tcheca Věra Jourová

A Polônia registra oficialmente menos de 2.000 abortos legais por ano. As organizações feministas calculam que quase 200.000 acontecem de forma ilegal, ou no exterior, a cada 12 meses. Sim, no Exterior.

Desde que o partido no poder e a igreja católica começaram a endurecer o discurso sobre o aborto no país que as mulheres polacas são tratadas como criminosas. O gran-finale desta cruzada culminou com o anúncio do Tribunal Constitucional proibindo o aborto de fetos com má-formacão e doentes.

ONG's europeias desde a decisão têm recebido um aumento de solicitações considerável de polacas que desejam realizar abortos. De acordo com a Ciocia Basia (Tia Barbarazinha),  ONG com sede em Berlim, que apoia as polacas que decidem abortar na Alemanha  a situação que já era complicada pela pandemia só piorou  depois da decisão do Tribunal. "Recebemos três vezes mais ligações que antes", declarou Ula Bertin, voluntária da Ciocia Basia.

A Aborto Sem Fronteiras (AWB), uma coalizão multinacional de Organizações Não Governamentais, declara que, desde o veredicto, já ajudou 40 polacas a viajarem ao exterior para abortar, ou a preparar as viagens. O número representa o dobro da média mensal.

O grupo holandês Abortion Network Amsterdam, informou que recebeu ligações de mulheres que estavam à espera de abortos legais em hospitais polacos e que foram "de algum modo abandonadas"


Esta união entre o partido no poder, o judiciário e a igreja do arcebispo de Cracóvia, que se posiciona contra as mulheres polacas está cavando um abismo, não só no próprio país, mas entre este e a União Europeia. Dar as mãos aos fascistas da Hungria não vai levar a Polônia aos céus, mas com certeza, o purgatório está muito próximo para os ultraconservadores católicos polacos.

Texto: Ulisses Iarochinski