quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Dez Castelos Polacos na Bielorrússia

A história muitas vezes entrelaçou os destinos da Polônia e da Bielorrússia. Muitos monumentos que datam da época em que os dois países se uniram como um só Estado sob a Comunidade Polaca-Lituana foram preservados na Bielorrússia contemporânea.

O Castelo Mir

Foto: Natalia Fedosenko

Localizado na pequena cidade de Mir, na região central da Bielorrússia, este castelo foi adicionado à Lista do Patrimônio Mundial da UNESCO no ano de 2000 devido ao grande valor das inúmeras camadas estilísticas deste enorme edifício - foi reconhecido como um registro simbólico da região história turbulenta.

A história desta residência fortificada remonta ao século 15, quando um edifício gótico foi erguido neste local pelo "starosta" (prefeito) de Brest e Kaunas, Jerzy Illinicz.

Na segunda metade do século 16, o castelo tornou-se propriedade da família Radziwiłł pelos 300 anos seguintes. Membros da família o expandiram e reconstruíram, por exemplo, Mikołaj Radziwiłł, apelidado de "o órfão", deu ao castelo sua elegante forma renascentista e acrescentou uma ala residencial, e Michał Kazimierz Radziwiłł transformou o edifício em uma residência barroca aristocrática no século 18.

No final do século 19, o castelo foi vendido a Mikołaj Światopolełk-Mirski, que renovou o edifício abandonado e restaurou seu esplendor. Durante a Segunda Guerra Mundial, o castelo foi transformado em um gueto - arame farpado estendido ao longo de suas paredes e a população judia foi assassinada pelos alemães nazistas no parque do castelo.

Hoje, o Castelo Mir é um dos castelos mais interessantes e mais bem preservados da Bielorrússia, com um museu e um hotel em seu interior meticulosamente reformado.

Castelo Nieśwież
Foto: Alexxx Malev

O castelo em Nieśwież, como a maioria dos edifícios deste tipo, foi reconstruído várias vezes. Cada novo proprietário ou membro da família modificava a estrutura do castelo de acordo com as suas necessidades, mas também de acordo com as modas arquitetônicas vigentes. O terreno em Nieśwież foi dado a Mikołaj Niemirowicz ,em 1446, pelo rei Kazimierz Jagiellończyk em reconhecimento ao seu serviço. Nas décadas seguintes, o terreno mudou várias vezes de proprietário, até se tornar propriedade da família Radziwiłł na primeira metade do século XVI. Eles expandiram a casa senhorial de madeira localizada aqui muitas vezes, eventualmente transformando-a em um vasto complexo castelo-palácio-parque, com um castelo ricamente decorado e alas, galerias e uma igreja.

Banquete organizado pela família Radziwiłł em homenagem a Józef Piłsudski na sala da lareira do palácio em Nieśwież,
outubro de 1926


Entre os arquitetos que trabalharam, em Nieśwież (Nesvizh), estava um representante do barroco inicial, Jan Maria Bernardoni, que projetou outra extensão do palácio na década de 1580, bem como uma igreja situada na propriedade. Bernardoni projetou a Igreja de São Pedro e São Paulo, em Cracóvia, considerada um dos melhores exemplos do início da arquitetura barroca na Polônia.

Em 1994, o governo bielorrusso reconheceu o Castelo Nieśwież como um monumento histórico e cultural nacional e, em 2005, o monumento foi incluído na Lista do Patrimônio Mundial da UNESCO.

Palácio Sapieha


O Palácio Sapieha, em Różana, é outra residência que foi construída e ampliada ao longo de muitos séculos pelas famílias nobres que o possuíam. O primeiro castelo foi construído no topo da colina, no início do século 17, pelo Chanceler do Grão-Ducado da Lituânia, Lew Sapieha.



No século 18, o edifício foi ampliado; a família Sapieha hospedou figuras importantes como o rei Stanisław August Poniatowski. Entre 1784 e 1786,Aleksander Sapieha transformou o edifício em um elegante palácio que incluía uma galeria de arte, biblioteca e teatro. Naquela época, o palácio era um dos maiores do gênero na República da Polônia.

Logo depois, no entanto, a família Sapieha mudou-se para outras terras, e a propriedade em Różana começou a entrar em declínio. Uma seção do palácio foi transformada em depósito de grãos no início do século 19, houve um grande incêndio no palácio em 1914, e ele sofreu alguns danos durante a Segunda Guerra Mundial.

Desde então, o impressionante palácio está em estado de ruína permanente, mas os vestígios do seu esplendor ainda são claramente visíveis. Em 2012, graças a fundos da União Europeia, o enorme portão de entrada ornamental que leva aos jardins do palácio foi reformado.

Mansão Niemcewicz
Ilustração: Napoleon Orda

A propriedade Skoki perto de Brest pertenceu à família Niemcewicz do início do século 18 em diante. Em 1770, Marceli Niemcewicz reconstruiu a mansão de madeira de lariço (cedro, árvore da família da Larix polonica), em Skoki, transformando-a em um elegante palácio de pedra.

O edifício de dois andares foi coberto por um telhado de mansarda alto e duas torres de três andares foram adicionadas às laterais da estrutura principal do edifício. A propriedade pertenceu à família Niemcewicz até 1939.

Foi aqui que Julian Ursyn Niemcewicz nasceu em 1758. Ele foi dramaturgo, poeta, historiador, jornalista, membro do Comitê Nacional de Educação, ajudante e secretário de Tadeusz Kościuszko durante a Revolta de Kościuszko, e co-autor (com Hugo Kołłątaj) da Constituição de 3 de maio de 1791.

Foi um dos dezesseis filhos de Marceli Niemcewicz, que vendo as necessidades desta grande família construiu a mansão, em Skoki,  que acabou abandonada por muitos anos. Há cerca de uma década ela mas foi reformada e hoje abriga um museu.

Mansão Mickiewicz
Foto: Artsyom Ablazhei

De acordo com muitos pesquisadores, o poeta polaco Adam Mickiewicz nasceu nesta mansão de madeira no vilarejo de Zaosie na véspera do Natal de 1798, embora não haja documentos que confirmem isso. Logo depois, a família Mickiewicz mudou-se para Nowogródek (atual Navahrudak), mas foi nesta mansão que o bardo nacional da Polônia supostamente passou os primeiros anos de sua vida.


Ilustração: Napoleon Orda

Embora os prédios em madeira da fazenda e a mansão em Zaosie tenham sido negligenciados por muitos anos, os prédios foram restaurados, na década de 1990, por ocasião do 200º aniversário de Adam Mickiewicz, e alguns foram reconstruídos. Hoje, o prédio abriga o Museu Adam Mickiewicz, onde os visitantes podem ver como vivia a nobreza da província no final do século 18 e início do século 19.


Mansão Eliza Orzeszkowa


O enredo do romance "Nad Niemnem" (No Rio Niemnem), importante registro das relações sociais e dos costumes da segunda metade do século XIX, se passa perto de Grodno, que a autora deste romance em três volumes, Eliza Orzeszkowa, conhecia muito bem. Ela nasceu e foi criada na propriedade Milkowszczyzna, que inspirou o cenário da história das famílias Bohatyrowicz e Korczyński.


Orzeszkowa vendeu sua propriedade herdada, em 1869, e viveu em uma casa de madeira em Grodno. Foi aqui que o livro "Nad Niemnem" e uma série de outras obras desta indicada ao Prêmio Nobel foram escritos. No edifício onde passou grande parte da sua vida, existe hoje um museu dedicado ao seu trabalho. Orzeszkowa está enterrada no cemitério paroquial de Grodno e há um monumento a ela na cidade. 

Velho Castelo
Foto de 1931

Grodno é considerada a cidade favorita do Rei Stefan Batory. Ele passou tanto tempo lá e por isso que Grodno foi considerada a capital não oficial da Comunidade polaca-lituana durante seu reinado.

Batory residia no Castelo Velho, construção do século XIV. Foi durante o reinado de Batory que o castelo gótico foi reconstruído, dando-lhe um estilo maneirista. Nos séculos seguintes, o edifício foi modernizado várias vezes; no século 19, serviu de quartel para o exército russo e, de 1918 a 1939, abrigou um museu.

A renovação do castelo está em curso desde 2017 (no entanto, algumas das obras de restauração foram criticadas pelos conservadores por não respeitarem o papel histórico delas). O objetivo da renovação é restaurar a aparência do Castelo Velho, do século XVI, justo do reinado do Rei Stefan Batory. A imagem do rei está agora na torre do castelo, que foi pintada com a técnica do esgrafito.

Catedral São Francisco Xavier

A Catedral de São Francisco Xavier, em Grodno, a maior e mais ornamentada igreja da cidade, pertencia originalmente aos jesuítas. O rei Stefan Batory tentou atrair jesuítas para Grodno apoiando a construção de uma igreja para eles na cidade, e ele próprio desejou ser enterrado lá.

O plano falhou, mas os monges se tornaram ativos em Grodno, na década de 1820. Primeiro, eles abriram uma escola, depois construíram um complexo de mosteiro que incluía uma enorme igreja barroca com duas torres altas. Foi consagrado em 1705.

O objeto mais valioso na igreja é a pintura do século 17 de Nossa Senhora da Congregação doada por Albrecht Radziwiłł, uma cópia da pintura de Nossa Senhora das Neves na Basílica de Santa Maria Maggiore, em Roma. Muitos dos valiosos móveis originais do século 18 foram preservados na basílica de Grodno, incluindo um altar principal esculpido em duas camadas e altares laterais barrocos.

Banco da Polônia
Foto de 1925

Na época da Segunda República Polaca, a cidade de Brest não era apenas a capital da província, mas também um importante centro de poder local. Tornou-se a sede de muitos escritórios e instituições burocráticas, como o Gabinete Provincial, a Sede Provincial da Polícia do Estado, o Gabinete do Distrito de Brest, o Conselho Regional, o Tesouro do Estado e a Inspeção Escolar. 

Vários edifícios foram erguidos nas décadas de 1920 e 1930 para atender às necessidades dessas instituições. Algumas receberam formas simples e modestas, mas outras tornaram-se estruturas significativas no espaço da cidade. Este último grupo inclui a sede do Banco Nacional Polaco, projetado em 1925, por Stanisław Filasiewicz.

O arquiteto, sem dúvida, seguiu o modelo de numerosos edifícios públicos em dezenas de cidades da Segunda República da Polônia projetados por Marian Lalewicz, um arquiteto conhecido e respeitado da época.

O edifício recebeu elegantes elementos neoclássicos, particularmente populares em edifícios públicos, porque faziam referência ao passado distante através do uso de colunas, pilastras, cúpulas e cornijas ornamentais proeminentes. Hoje, o prédio abriga a sede do Banco Nacional da Bielorrússia.

Conjunto habitacional e administrativo

Enquanto Brest se tornou a sede de instituições e escritórios burocráticos, também foram construídos conjuntos habitacionais para os funcionários. A demanda por novas casas foi tão grande que, em 1924, uma equipe de quatorze arquitetos foi formada para desenvolver projetos para casas idênticas. O programa de investimento para apoiar a construção de assentamentos habitacionais para funcionários polacos nas Terras Fronteiriças Orientais foi liderado pelo Ministério de Obras Públicas. 

Um dos projetos realizados dentro desse programa foi um conjunto habitacional e administrativo construído na rua Unia Lubelska, em Brest. A maioria das casas foi projetada por Julian Lisiecki (várias foram projetadas por Marcin Weinfeld), e foram baseadas na ideia de uma cidade-jardim.

Pequenos solares foram construídos ao longo das ruas, em meio ao verde, em um estilo de inspiração barroca. As casas tinham varandas apoiadas por colunas grossas e telhados altos com janelas de águas-furtadas. Houve muitos outros assentamentos deste tipo construídos nas Terras Fronteiriças Orientais, nas décadas de 1920 e 1930, mas o conjunto em Brest é um dos maiores e, acima de tudo, o mais bem preservado.

Este texto foi escrito originalmente em idioma polaco.
Texto: Anna Cymer
Tradução para o português: Ulisses Iarochinski

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