segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

Polacos vão menos à missa de domingo

Polacas invadiram igrejas contra a lei que restringiu o aborto

O percentual de católicos que frequentam a missa dominical, na Polônia, caiu de 37% para 28% em dois anos, segundo os dados mais recentes do Instituto Estatístico da Igreja Católica (ISKK).

Os dados - que datam de 2021 - são certamente influenciados pelas restrições devido à pandemia. Mas a análise dos mesmos dados não esconde a influência de "fatores socioculturais" no preocupante declínio.

Embora a grande maioria dos polacos continue a se definir como católica, nos últimos anos a credibilidade da instituição eclesial foi prejudicada tanto pelo apoio dos bispos à decisão com a qual o Tribunal Constitucional restringiu severamente o acesso legal ao aborto (que se tornou lei em janeiro de 2021) − que provocou ondas de protestos de movimentos e organizações de mulheres em todo o país −, tanto pelas desconcertantes revelações sobre os abusos sexuais de menores por membros do clero e pela negligência e reticência com que os bispos enfrentaram a questão.

Desde 1980, a Igreja Católica na Polônia prepara um estudo anual sobre o número de participantes (que denominam de dominicantes), tendo também em conta o número de comunhões (comunicantes). Um domingo por ano, cada paróquia do país é solicitada a registrar os dados e enviá-los ao ISKK. O Instituto calcula então, ao nível nacional e ao longo do ano, o percentual de católicos que participaram da Missa.

Os dados mais recentes mostram que 28,3% assistiram à missa em 2021. Uma queda dramática em comparação com 36,9% de 2019 (a pesquisa foi suspensa, em 2020, devido à pandemia). Em 2011 o percentual era de 40%; em 2001 de 46,8%; em 1991 de 47,6% e em 1981 de 52,7% (cf. Notes from Poland, 14 de janeiro de 2023).

“Os números de 2021 foram influenciados pela situação da pandemia”, confirmou o vice-diretor do ISKK, Marcin Jewdokimow. “Deve-se recordar que, em 2020, devido às restrições da COVID-19, não foram recolhidos dados. Em 2021, coletamos os dados apesar de algumas restrições [ainda] em vigor."

De fato, os dados mais recentes foram coletados domingo, 26 de setembro de 2021, quando a entrada nas igrejas ainda era limitada a 50% da capacidade e os participantes ainda eram obrigados a usar máscaras. "Nos anos anteriores, o declínio de pessoas presentes foi constante. (…) Mas desta vez trata-se de um colapso. Por isso, acredito que no próximo ano vamos registrar uma recuperação na participação”, concluiu Jewdokimow.

Para Marcin Przeciszewski, editor-chefe da agência de notícias KAI - Katolickiej Agencji Informacyjnej (Agência Católica de Notícias), dos bispos polacos, o declínio na participação da Igreja se deve principalmente à pandemia de coronavírus. Mas ele admite que o escândalo de abuso sexual do clero, que atingiu a Polônia nos últimos anos, também acelerou o descontentamento com a Igreja Católica.

"No auge da pandemia, as igrejas ficaram fechadas por seis meses. Assim, muitos polacos compareceram às missas, pela Internet, TV, ou não compareceram. Perderam o hábito de ir à missa. O alto nível da prática religiosa na Polônia antes da pandemia se devia a um catolicismo que não era uma escolha pessoal, mas sim uma herança cultural. Então a pandemia, de certa forma, tirou essas pessoas do catolicismo, e só ficaram aqueles que fizeram disso uma escolha pessoal. Nesse sentido, nos encontramos em um momento histórico para o catolicismo na Polônia".

Segundo Przeciszewski, a população está geralmente dividida. Metade se identifica com o governo conservador, ora no poder, em todas as esferas. A outra metade está na oposição e em uma linha mais liberal. 

Outra questão abordada pelo editor da KAI é o que a mídia divulga, "dizem que a Igreja polaca está afiliada a esse poder político. E por causa disso, as pessoas que se opõem ao poder político tendem a rejeitar a Igreja Católica, a se distanciar dela. Isto é muito destrutivo para a fé dos polacos, que basicamente se perguntam: Posso pertencer a uma Igreja que não corresponde às minhas ideias políticas?"

Wojciech Polak, arcebispo de Gniezno e primaz da Polônia, definiu claramente o que agora é um declínio imparável na frequência dos jovens às missas. O arcebispo admite que a causa desse afastamento tem a ver com o fracasso da hierarquia católica em lidar com os abusos sexuais.


Polak em uma entrevista à agência oficial PAP destacou os dados desse declínio progressivo: praticamente apenas 25% dos jovens se dizem praticantes. No início da década de 1990, o número era de quase 70%. "Esses são números simplesmente devastadores." Questionado sobre se o fracasso em lidar com a pedofilia possa ter tido um papel neste declínio, o arcebispo confirmou que “sem dúvida, a negligência dos vértices que não se colocaram ao lado das vítimas minou nossa credibilidade como comunidade eclesial”.

Pesquisa revela que 47% dos jovens entre 18 e 29 anos têm visão negativa sobre a Igreja e 44% estão neutros. O instituto IBRiS realizou a pesquisa para o jornal Rzeczpospolita, perguntando aos cidadãos: Como você avalia sua impressão sobre a Igreja Católica na Polônia? 35% dos que responderam disseram que eles tiveram uma visão positiva da Igreja, 32% uma visão negativa e 31% das pessoas disseram que eles eram neutros.

Entre as pessoas de 18 a 29 anos, no entanto, as coisas diferiram: 47% dos entrevistados disseram terem uma visão negativa da Igreja, 44% neutros e apenas 9% avaliavam a instituição positivamente.

Embora 90% dos polacos sejam oficialmente católicos e mais de 80% das pessoas se identifiquem como crentes, a maioria católica no país está cada vez mais ameaçada à medida que uma lacuna crescente sobre a fé se abre entre as gerações mais velhas e mais novas.

Uma pesquisa do Pew Research Center de 2018 descobriu que “os jovens adultos na Polônia têm uma probabilidade consideravelmente menor do que os mais velhos de dizer que a religião é muito importante em suas vidas, de ir à igreja semanalmente ou orar diariamente”.

Dados publicados em março de 2020 pela agência governamental Statistics Poland confirmaram essa tendência, descobrindo que enquanto 51% das pessoas com mais de 75 anos e 41% entre 55 a 64 anos estavam forte ou moderadamente comprometidas com sua fé, o número de católicos comprometidos caiu para 17% das pessoas na faixa etária de 25 a 34 anos e 18% das pessoas entre 16 e 25 anos.


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