terça-feira, 18 de março de 2014

A falta de razão histórica para invasão da Crimeia


A fala do presidente Putin, nesta terça-feira, 18 de março de 2014, no Kremlin, em Moscou é discutível sob pontos de vista históricos e geopolíticos.
Numa história de mil anos, 127 anos, 40 anos, 5 anos de ocupações... São nada se tomados factualmente. Para se analisar a situação da Europa Central, no momento, é necessário ser mais conjuntural. Isto para não se validar crimes e aceitar como verdades situações momentâneas.
De maior potência e de maior território no final da idade média, a União das Duas Nações Polônia-Lituânia, iniciada em 1371 com o matrimônio da Rei da Polônia (Jadwiga - sim rei e não rainha) com o Duque Iaguelão da Lituânia se transformou em República Polônia-Lituânia em 1453.
Evoluiu para uma República Parlamentarista com Senado, Câmara de Deputados e eleição de reis (geralmente príncipes estrangeiros) em 1572. Culminou com a introdução da Constituição de 3 de maio de 1791 (a primeira da Europa) que derrubava o “Liberum Veto”.
O artigo da Lei acabou causando a criação da Confederação de Bar, onde um grupo de congressistas polacos se rebelou contra a queda do "liberum veto" existente desde 1572 e se aliou às potências estrangeiras para a ocupação da Polônia.
De 1793 a 1918, o Reino da Rússia, o Reino da Prússia (atual Alemanha) e o Império Austríaco ocuparam o território polaco e causaram as maiores atrocidades contra os povos da Polônia (polacos, rutenos, ciganos, judeus e tártaros).
Em ações conjuntas, os três invasores dizimaram grande parte da população polaca e introduziram nas terras colonos de suas respectivas nações.
O idioma polaco foi proibido nas três áreas invadidas; proibição dos padres polacos fazerem seus sermões e homilias em idioma polaco; despolonização dos nomes geográficos, ruas, praças e cidades; venda obrigatória das terras polacas para colonos estrangeiros, entre outras medidas, como a Kulturcamp preconizada por Von Bismarck, de eliminar qualquer traço da cultura polaca, substituindo pela cultura germânica; na parte ocupada pelos russos houve a imposição da fome e apreensão de toda colheita agrícola que era enviada para Moscou.
Com a derrota do Império Austríaco e germânico na primeira guerra mundial, a Polônia pode sair das trevas impostas pelos vizinhos poderosos e novamente hastear a bandeira branca e vermelha da águia branca e voltar a figurar no mapa do mundo.
Mas os comunistas que assumiram o poder na Rússia Monárquica em 1917, voltaram a invadir a Polônia e foram rechaçados por um exército polaco muito menor.
Em resposta às tentativas do presidente polaco Józef Pilsudski e do líder ruteno Symon Petliura de se criar um Estado para a Rutênia, os bolcheviques de Moscou se adiantaram e criaram em 1922, a República Socialista Soviética da Ucrânia, em território que havia sido da Polônia.
Os Rutenos que viviam há séculos na Polônia, viraram ucranianos comunistas e a Rutênia milenar se transformou na Ucrânia controlada por Moscou.
No final da Segunda Guerra Mundial, os líderes Ocidentais e a Rússia dividiram os territórios da Europa Central, sem ouvir a maior vítima da Guerra, a Polônia. O líder Soviético avançou mais sobre o território da Polônia, dando as terras para a Ucrânia Soviética. Comboios e mais comboios de polacos foram retirados de suas terras milenares do Leste e socados nos 312 mil Km quadrados de território que sobrou na divisão encetada por Stalin, Truman e Churchill na Reunião de Potsdam.
Os Estados Unidos então resolveu reconstruir os agressores alemães através do Plano Marshall e relegar à própria sorte a vitimada Polônia. Em troca, os Estados Unidos impuseram a permissão de instalar várias bases militares na Alemanha (Ocidental).
À Polônia destruída por alemães e soviéticos, restou lutar contra guerrilheiros ucranianos que invadiam o território destinado a Polônia, no intuito de aumentar o território da Ucrânia Soviética e assassinar mais polacos. Por 4 anos, a Polônia se viu sozinha e acossada por Stalin. Viu seu território ser invadido por civis russos que provocavam badernas e crimes.
Em 1949, da mesma forma que Putin fez agora na Crimeia, foi imposto um referendo aos polacos se desejavam ou não se tornarem comunistas como a Rússia.
As fraudes foram escandalosas pró-Rússia, como foi agora na Crimeia. Assim, mais uma vez a Polônia sofreu ocupação russa, agora de caráter comunista stalinista.
Como uma ilha católica apostólica romana na região, cercada por protestantes ao Norte, Oeste e Sul e por ortodoxos a Leste, a Polônia teve as portas de suas igrejas, por mando do comando soviético, em Moscou, fechadas.
Em 1953, o Cardeal Primaz da Polônia, Stefan Wiczynski foi preso pelas autoridades soviéticas. Foi libertado em 1956, quando as portas das igrejas foram abertas.
Não tomasse esta atitude, de liberação, os soviéticos teriam visto o comunismo acabar na Polônia, em 1956.
Os anos que se seguiram não foram fáceis para os polacos, levantes em 1960, 1963, 1968 e 1970 tornaram as relações Varsóvia-Moscou desastrosas.
Em 1981, foi preciso a instauração da Lei Marcial, para segundo o presidente polaco Jaruzelski impedir uma invasão do exército soviético, como havia acontecido na Tchecoslováquia e Hungria, uma década atrás.
Mas finalmente os operários dos estaleiros de Gdansk e os mineiros da minas de Katowice fizeram ruir o grande Império Soviético....e vários povos puderam se libertar de Moscou.
O chefe do Serviço Secreto Soviético assumiu o poder então na Rússia (vem se revezando no papel de primeiro-ministro e presidente) e vem tentando recompor o antigo Reino do Romanov e o Império dos Soviéticos.
Como estratégia tem levantado a ideia de defender povos de origem russa presentes nas repúblicas reinvadidas da Chechênia, das províncias da Geórgia (Ossétia do Norte e do Sul, e Abicássia). O oferecimento de cidadania e passaportes russos para todos os cidadãos de outras nações que nasceram no período soviético foi uma primeira medida.
A segunda medida foi invadir repúblicas e províncias estrangeiras com o véu de proteção.
Não foi nada mais do que isso, o que está acontecendo na Crimeia...e amanhã será Donestk e Kharkiv... e quem sabe num futuro não muito distante, Varsóvia... Isso para reconstituir não só Império Soviético de 1917 a 1989, mas também o Reino dos Romanov de 1793 a 1918.
Putin quer ser coroado Rei das Europa Central e do Leste.
Esse é o grande propósito, e o Ocidente como fez em 1793/95 e em 1949 vai deixar a Polônia relegada a sua própria sorte...
E pensar que os Estados Unidos receberam o maior contingente de imigrantes em sua história, não da Irlanda, ou da Inglaterra, mas justamente da Polônia, fossem católicos ou judeus. Foram os polacos judeus que transformaram Los Angeles em Hollywood.
A pergunta é: o que os Americanos descendentes de polacos católicos e de judeus têm feito ao longo do tempo para defender a Polônia?
O que a maioria dos cientistas americanos ganhadores do Prêmio Nobel (a maioria nascidos na Polônia) têm feito para defender a Polônia?
O que os israelenses descendentes de polacos judeus têm feito para defender a Polônia?

Texto:
*Ulisses Iarochinski
(mestre em cultura internacional e doutor em história pela Universidade Iaguielônica de Cracóvia)

segunda-feira, 17 de março de 2014

Sikorski: o novo líder da Europa?

capa da revista semanal Tcheca "Respekt" desta semana
A revista semanal tcheca "Respekt" saiu às bancas nesta segunda-feira com matéria de capa analisando a "Polônia como um poder crescente na Europa".
A revista chamou, o ministro das relações exteriores da Polônia, Radosław Sikorski como um novo líder ao estilo Lech Wałęsa.
O ministro das Relações Exteriores polaco foi o responsável pela mediação entre a oposição ucraniana da Praça Independência - Maydan, em Kiev e o presidente deposto Viktor Yanukovych.
O "Novo líder na Europa", que muda a política e a história da Europa, foi como semanário Tcheco "Respekt" em sua mais recente edição desta segunda-feira o definiu.
No contexto do conflito na Ucrânia, a revista apresenta a Polônia como sendo um crescente poder europeu e chama a atenção para a atividade política e a dinâmica, nos últimos anos, da estrela política Sikorski.
O semanário lembra a mediação de Sikorski entre a oposição ucraniana e o afastado Presidente da Ucrânia Viktor Yanukovich do poder.
"E, embora a mediação tenha ocorrido por apenas algumas horas, ela levou a uma enxurrada de eventos, que hoje estão mudando substancialmente a ordem mundial. Esta não é a primeira vez que Radosław Sikorski, na onda dos eventos, é empurrado para a frente. Mas desta vez, não podemos deixar de notar que o polaco está se tornando uma estrela política, o que não acontecia na Europa Central desde os anos 90, quando o mundo ouvia Vaclav Havel ou Lech Wałęsa",  publica a revista.

Trecho do Editorial da Revista:
Polônia será o poder de liderança nos países da coalizão que enfrentam a Rússia ", escreveu há cinco anos, o cientista político americano George Friedman em seu livro os "Próximos Cem Anos".
Pela primeira vez desde o 16 século, de acordo com Friedman, os polacos se tornaram uma força importante na política internacional, e a razão é uma só: os russos não suportam a idéia de que eles eram parte de uma série de países e o normal é que eles querem ter mais influência.
Portanto, de acordo com Friedman, novamente eles tentam "construir a sua antiga esfera de influência ". O primeiro país que a Rússia vai enfrentar será a Polônia que, ao contrário da Alemanha, vai obstruir as ambições de Moscou, escreve Friedman. Para os Estados Unidos, a Polônia vai se tornar um aliado-chave. Friedman já provou uma capacidade fascinante de prever o futuro, e é este desenvolvimento que vemos agora.
Quando publicou seu livro, pareceu para muitos que ele exagerava. Mas ele mesmo escreveu que estava errado quem pensa que a paz atual será para sempre. "É verdade que as circunstâncias que, em um momento da história parecem tão persistentes e dominantes, podem mudar muito rapidamente. Eras vêm e vão. Nem as relações internacionais, ou qualquer coisa sobre como o mundo olha hoje, indica como vai ficar daqui a vinte anos", escreveu Friedman.
O fato da Polônia tornar-se um grande jogador do tabuleiro atual, não só para aqueles que desdenham a história, o nosso vizinho trabalha há vários anos nesse sentido. Um diplomata tcheco, nos bastidores disse que, enquanto os tchecos do último governo debatiam sobre o mal Bruxelas construído por nós mesmos em um canto, os polacos estavam ativos: "Qualquer porta que você abriu em Bruxelas, ficou atrás de um poste com uma ideia ou uma proposta", disse o diplomata tcheco.
A prestigiada revista britânica "Prospect" há dois anos classificou a Polônia entre os países mais ativos na Europa e também entre os mais capazes. A influência significativa deslocou mais uma vez o atual ministro das Relações Exteriores da Polônia Radosław Sikorski para zonas de conflito. Sua voz foi ouvida antes, mas a sua atividade na abordagem da crise na Ucrânia ultrapassou a todos na política europeia como um diplomata cada vez mais influente.
É por isso que nós trazemos o seu perfil escrito por Martin M. Šimečka .
:: No passado, nós trouxemos a entrevista na "Respekt" com Radosław Sikorski e sua esposa, a jornalista e historiador Anne Applebaum.
Ao finalizar trago mais um pouco de Friedman. Ele diz que se a Rússia desencadear uma nova guerra fria (devido ao mau estado da infra-estrutura e da curva demográfica do país), ela estará acabada pois será: a queda da Rússia. Caros leitores,
Desejamos-lhe uma leitura inspiradora
Erik Tabery

Veja a capa no link:
http://www.respektstore.cz/tapety/ilustrace-z-titulni-strany-respektu-12-2014/

Sikorski é tratado no editorial da revista e por seus editorialistas como o novo líder político da Europa Central

http://respekt.ihned.cz/c1-61853750-editorial-rusko-nevyhraje

sábado, 15 de março de 2014

Entrevista com Reitor da Universidade de Lwów

Padre Bogdan Prach com o reitor da UMCS, prof. Stanisław Michałowski
(Fot. Sylwia Skotnicka - UMCS)
"Nossos professores têm sido notificados para que eles se apresentem para fazer parte de batalhões comandos adicionais", declarou o Reitor da Universidade Católica de Lwów, o padre ortodoxo greco-católico Bogdan Prach, durante encontro de estudantes da Faculdade de Ciências Políticas da Universidade de Maria Sklodowska Curie, em Lublin.
"Precisamos nos preparar para algo pior, caso venha acontecer coisa muito errada",  disse Prach.
Em uma entrevista para a jornalista Anna Gmiterek-Zabłocka, do jornal Gazeta Wyborcza, ele disse que na Ucrânia, cada dia mais aumentam as conversas com os alunos, seus pais e mães. "Eles estão com medo de uma guerra", afirmou o Reitor ucraniano.

Anna Gmiterek-Zabłocka: Sr. Reitor, como está o estado de espírito, neste momento, na Universidade em Lwów?

Bogdan Prach: Nós estamos, infelizmente, muito assustados com o que está acontecendo na Ucrânia. Até agora, nós não tivemos nenhuma razão para pensar que tal situação pudesse estar acontecendo na Ucrânia. Claro, as questões com relação a Rússia sempre existiram, mas nos últimos anos não se percebia tanto risco, tal qual a presente escalada se apresenta de agressão ao território da Ucrânia.

Zabłocka: E qual é o clima entre os alunos?

Bogdan Prach: Eles estão muito engajados. Estão à procura de acordos com os alunos do Leste da Ucrânia. Recentemente estiveram conosco em Lwów um grupo destes estudantes do Leste. Eles vieram a convite dos nossos estudantes de jornalismo. Muitos deles conheceram Lwów pela primeira vez.
Entende-se que toda esta propaganda também os influencia. Eles vieram com algumas preocupações, e aqui viram um mundo completamente normal. Estes nossos encontros foram muito agradáveis, com todo mundo querendo saber o que fazer, como proceder.

Zabłocka: Os cidadãos de Lwów devem vir até o senhor com uma pergunta tão simples, mas difícil, "O que será de nós agora ?" Não é mesmo?

Bogdan Prach: Sim, estas conversas são diárias. E é muito difícil controlar qualquer resposta, porque, hoje, não é de fato apenas um conflito russo-ucraniano, mas sim, um conflito global entre as superpotências.  A Ucrânia, hoje, não pode fazer nada para ser a diferença nesta situação.

Zabłocka: Quem são essas pessoas que vem conversar com o sacerdote? Quais são suas emoções?

Bogdan Prach: A maioria são jovens casais que têm medo sobre as perspectivas para os seus filhos, eles têm medo sobre o seu futuro. Da mesma forma, mães e pais de jovens que podem ser convocados para a guerra, estão com muito medo de derramamento de sangue. Além disso, o sangue já foi derramado em Kiev. A guerra desperta um medo muito grande, porque nós não gostaríamos de estar passando por isso. Mas todo mundo está passando e é nosso maior problema.

Zabłocka: Esta é certamente uma decisão difícil, mas eles falam especificamente sobre o quê para o senhor?

Bogdan Prach: Os pais desses jovens me dizem diretamente que eles entendem que você tem que levantar-se em defesa da pátria, só não querem que seja sangue derramado em vão. Dizem-me que a luta deve ter algum sentido, mas que se deve chegar a um acordo.

Zabłocka: E eles estão falando, por exemplo, se alguém quer fugir da Ucrânia?

Bogdan Prach: Sim, também. Assim que os protestos eclodiram na Crimeia , eles próprios se animaram a ajudar famílias, amigos e estranhos, para virem para a Polônia. Estas pessoas vivem nas montanhas Bieszczady, ou perto da fronteira, com a famíliares ou em hotéis. Mas no momento muitos já voltaram para suas casas.

Zabłocka: Temos informações da Ucrânia, de que todos estão se mobilizando, que só assim terão força. Essas informações tem chegado ao senhor, de parte, por exemplo, dos estudantes, sobre provisões?

Bogdan Prach: Sim, nossos funcionários têm recebido informes dos estudantes, de que recentemente passaram por um treinamento militar. Eles devem comparecer aos comandos militares para formarem batalhões adicionais. Mas por enquanto, só se apresentarm. E eles nos informam sobre isso, dizendo: "Sim, nós vamos. Esse é o nosso chamado hoje".

Zabłocka: Em relação aos estudantes polacos, a situação é diferente. Aqui eles são todos ainda inexperientes, praticamente todos hoje são isentos do serviço militar. Por favor, Reitor, quando o senhor é perguntado: "o que vai acontecer?"...  O que o padre responde?

Bogdan Prach: Eu acho que de alguma forma devemos nos preparar para o pior, para algo muito ruim. Se isso acontecer, e na mesma medida que a nós, também a Polônia toca. Mas não só aos nossos dois países, mas também a toda a Europa. Embora eu acredite, é claro, como um representante da Igreja greco-católica, no entanto, que se conseguem caminhos diplomáticos fazer tudo. Nossa maior esperança está colocada na América e na Europa.
Tem que ser assinado um acordo de associação com a União Europeia. Eu acredito que esse acordo pode ajudar, mas também pode irritar ainda mais a Rússia. Eu digo aos meus interlocutores sobre a importância da oração. De qualquer forma, uma vez iniciados esses mal-entendidos, todas as igrejas na Ucrânia começaram a chamar a atenção para a necessidade da oração. E esta oração era e continuará a ser, implacável.
Padre Bogdan Prach com o reitor da UMCS, prof. Stanisław Michałowski (Fot. Sylwia Skotnicka - UMCS)

sexta-feira, 14 de março de 2014

Meu bisavô polaco, Piotr Jarosiński

Meu coração polaco voltou
coração que meu avô
trouxe de longe para mim
um coração esmagado
um coração pisoteado
um coração de poeta
Paulo Leminski

Meu bisavô Piotr Jarosiński, em foto tirada em Harmonia, Monte Alegre, no Paraná, na década de 40.
Meu bisavô polaco nasceu em Dobre, próximo a Minsk Mazowiecki, na Mazóvia, em 5 de dezembro de 1880.
Filho de Jan Jarosiński (nascido em 1834) e de Wiktoria Jackowska.
Casou em Wojcieszków com Anna, filha de Antony Filip e Katarzyna Ognik em 1900. Ainda em Wojcieszków nasceram os filhos Wiktoria (1901), meu avô Bolesław (1905), Józef (1908) e Maria (1911).
Participou como soldado convocado pelo invasor russo na Guerra Rússia X Japão, em 1905. Foi ferido de guerra de primeira categoria.
Na volta, já pensando em imigrar e fugir da opressão russa fez seu passaporte em 1906. Mas somente imigrou em maio de 1911.
Saiu de Wojcieszków com a esposa e os quatro filhos a pé até a estação de trem mais próxima, em Krzywda (distante 12 km). Dali partiram até Trieste na Itália, passando por Cracóvia e Viena.
O Navio Columbia da empresa Janowitzer Wahle & Cia. fez escala em Gênova e Lisboa antes de aportar no Rio de Janeiro, em 14 de junho de 1911. Foram 24 dias no mar. Ficou 10 dias em quarentena na Ilha das Flores até receber a notícia de que havia ganhado terra colonial em Castro - PR, na Colônia do Tronco.
Viajou com a família no Ita Itaúba (navio de cabotagem brasileiro) até Paranaguá. Dali até Ponta Grossa, passando por Curitiba de novo de trem.
O último trecho da longa viagem de imigrante fez em carroça do governo paranaense. Em Castro ainda iriam nascer os filhos Władysław (Ladislau) Angelina, Jan (João) e Anaztacja.
Em 1928, vendeu a terra colonial e comprou terreno na Vila Rio Branco, onde iria morar até morrer em 1955. Na década de 40 trabalhou na construção da fábrica de papel da Klabin em Monte Alegre, Parana, Brazil.
Era alfabetizado e poliglota, lia e falava com desenvoltura polaco, russo e português. Foi antes de tudo um corajoso homem como soldado e pai de família imigrante.

quarta-feira, 12 de março de 2014

Brzezinski: A Polônia merece o cargo de Secretário-Geral da OTAN.

Prof. Zbigniew Brzeziński (Fot. Agata Grzybowska / Agencja Gazeta)
"O Polaco enérgico com conhecimento das áreas potencialmente de maior risco seria uma escolha muito boa como novo secretário-geral da OTAN", declarou em uma entrevista para a Agência Governamental de Notícias - PAP,  da Polônia, o professor Zbigniew Brzezinski.

Brzezinski foi conselheiro de segurança nacional dos Estados Unidos durante a presidência de Jimmy Carter, nos anos de 1977 a 1981, e no momento membro do Centro de Washington para Estudos Internacionais (CSIS).

Zbigniew Kazimierz Brzezinski nasceu em Varsóvia, em 28 de Março de 1928. Recebeu do governo da Polônia a condecoração de cavaleiro da Ordem da Águia Branca. Imigrou com os pais para Montreal, no Canadá, em 1938, onde seu pai exerceu o cargo de Cônsul Geral da Polônia.
Em 1953, defendeu tese de doutoramento em Ciências Políticas na Universidade de Harvard. Em 1958, obtêm cidadania Norte-americana...e desde então nunca mais deixou os Estados Unidos.

Conhecido por sua posição intervencionista em política externa, em uma época na qual o Partido Democrata tendia de modo crescente ao isolacionismo, sua política externa realista é considerada por alguns como a resposta Democrata ao realismo de Henry Kissinger, do Partido Republicano.

PAP: Como a admissão na OTAN em 1999, dos três primeiros países pós-comunistas Polônia, Hungria e República Checa mudou a ordem internacional?

Zbigniew Brzezinski: Simplificando, o alargamento da OTAN(Organização do Tratado do Atlântico Norte) acabou com a divisão da Europa. Se os antigos países comunistas da OTAN fossem excluídos, tudo o que aconteceu no final dos anos 80 e no início dos anos 90, eles estariam constantemente expostos ao perigo, e até mesmo - como mostram os recentes acontecimentos na Ucrânia - a uma ação hostil. Há um velho ditado americano: " Boas cercas fazem mais por melhores vizinhos. Adesão à OTAN é como uma cerca, para que, num relacionamento de longo prazo com uma superpotência agressiva, o que fica a leste, torna-se mais cordial.

PAP: Há 15 anos nos EUA, no entanto, existiam vozes contrárias que expressaram preocupação de que a expansão da OTAN iria piorar as relações com a Rússia. Como o senhor avalia isso hoje?

ZB: Sim, havia pessoas que expressam tais pontos de vista, mas eles eram muito míope. Como os eventos recentes, não só na Ucrânia, mas antes na Geórgia e é possível que, no futuro, na Ásia Central, tendo em conta as aspirações territoriais da Rússia sobre o Cazaquistão, a Rússia pode vir a ser muito agressiva.

PAP: Que papel nas negociações para a admissão na OTAN, desempenhou o caso do polaco coronel Ryszard Kuklinski e sua reabilitação na Polônia?

(obs. Kuklinski, foi um oficial do exército polaco que desde o início dos anos 70, tornou-se uma das mais valiosas fontes de inteligência dos EUA no bloco soviético. Ele foi condenado à revelia por traição pela Polônia Comunista e tornado herói pela Polônia democratizada).

ZB: Kuklinski foi importante para reforçar a segurança dos EUA, de modo que seria irônico se a América concordasse com a adesão da Polônia OTAN e ao mesmo tempo, a Polônia continuasse a demonizar e a punir Kuklinski. Era simplesmente uma questão de bom senso. Compreendo que o presidente Kwaśniewski e o primeiro-ministro Miller depois de várias conversas comigo "apertaram os dentes" e foram capazes de resolver esse problema.

PAP: Em junho o senhor escreveu no Twitter que "a Polônia, é o maior aliado da OTAN na Europa Central, e portanto, merece o cargo de Secretário-Geral da organização." Cinco anos atrás, um candidato para o cargo foi o ministro das Relações Exteriores Radosław Sikorski, mas reunidos na reunião de cúpula em Estrasburgo os líderes escolheram o dinamarquês Anders Fogh Rasmussen. Por que agora escolheriam um polaco?

Z.B: Eu não mudei de idéia. Talvez os acontecimentos das últimas semanas na Ucrânia sejam ainda a confirmação da minha opinião de que o enérgico e bem- informado ministro seja o Secretário-Geral da OTAN, com sensibilidade para os problemas dos potenciais de maior risco ele seria uma escolha muito boa. Mas se não for desta vez, então será o próximo.

PAP: O senhor aconselharia uma maior expansão da OTAN?

ZB: Na minha opinião, a adesão na OTAN não é um ato de caridade, mas um ato de garantia mútua pelo estado de prontidão em participar plenamente da Aliança e contribuir para a sua eficácia militar. Eu acho que os países, percebendo como ato de caridade, simplesmente enfraquecem a OTAN. Alguns países podem ser membros da União Europeia, sem ser membro da organização. Na verdade, esses países, se jogarem um papel positivo na UE, são indiretamente protegidos pela OTAN. O maior problema é, na minha opinião que estes países, sendo membros da União Europeia e da OTAN, em várias ocasiões se comportam na organização como um bloqueio potencial, usando a exigência de unanimidade nas decisões da Aliança.

A situação na Crimeia é de fundo histórico e não político

Mapa da República Polônia-Lituânia de 1619, onde se vê que a Crimeia era um Canato Turco 
Podem até ter havido manifestantes neonazistas em Kiev...Mas a questão é muito mais antiga...a Crimeia era grega e foi ocupada por mongóis (tártaros). Nunca na história aquele povo foi russo... Nem antes, nem agora! O que houve foi ocupação e deslocamento de russos para terras invadidas, imposição do idioma russo sob pena de morte, e agora farta distribuição de passaportes russos a cidadãos de outras nacionalidades e países com o pretexto para proteção de "seus cidadãos".
Quando os russos de Romanov invadiram a Crimeia também invadiram a Polônia em 1793. Não existia Ucrânia (criada em 1922 pelos soviéticos em resposta a derrota na Guerra Polaco-Russa de 1920).
O povo da nova República Soviética era ruteno (assim eram chamados os ucranianos), que viviam em terras da Polônia desde a queda do Principado Kievano (criado pelos Vikings em terras da Europa Central) e que nesse período ganharam um território, um estado e um nome para seu país: Ucrânia.

Por que Catarina a Grande, prima do Rei eleito da Polônia August Poniatowski, invadiu a Polônia???
Porque os polacos vinham dando mau exemplo aos reinos hereditários da Europa desde 1453, quando junto com a Lituânia, criaram a República das duas Nações, com um congresso estabelecido e eleições para rei...a hereditariedade de uma única família caiu por terra.

Por que Catarina a Grande, junto com Austria e Prússia invadiu a Polônia em 1793?
Porque a República polaca (seguida pelos EUA de 1776 e França de 1792) ousou estabelecer uma Constituição, a de 3 de maio de 1791 numa Europa de Reinos totalitários, ungidos pela Igreja Católica Romana.

Por que Catarina a Grande invadiu a Polônia e a Crimeia no século 17?
Porque nem todos os congressistas polacos concordavam com os destinos da República com a queda do "Liberum Veto" da Constituição de 3 de maio, e se conflagraram contra o próprio país e se aliaram aos três invasores, na conhecida Confederação de Bar (cidade hoje na Ucrânia e fundada pela rainha da Polônia, Bona Sforza (do Reino de Bari, atualmente cidade italiana).

Quando, em 1918, a Polônia recupera seu Estado (apagado do mapa por russos, austríacos e alemães), na Rússia havia acontecido a revolução Bolcheviki em 1917. Os comunistas estabelecidos no poder não quiseram perder as terras invadidas por Romanov em 1793...E invadiram novamente a Polônia em 1920.
Só que levaram mais uma surra dos polacos, como havia acontecido em 1612, quando o rei polaco Władysław entrou vitorioso no Principado de Moscou (não existia a Rússia até então).
Como consequência, os moscovitas após alguns anos conseguiram criar o reino da Rússia, o que só foi possível, com o desleixo de Varsóvia para com terras tão distantes.
Mas o pior de tudo isso foi o ódio eterno que os russos passaram a nutrir pelos polacos.
Assim, a questão dos passaportes russos dados por Putin, aos chechenos, aos georgianos da Ossetia do Norte, da Ossetia do Sul, da Abicassia e agora, aos ucranianos de fala russa da Crimeia....Não tem absolutamente nada a ver com esse discurso comunista do PCB e do PCdoB sobre a questão...
O que deseja o ex-chefe da KGB é reconstruir a Grande Rússia dos Romanov, a Rússia da União Soviética, esta derrubada por uns eletricistas e mineiros polacos das cidades de Gdansk e Katowice....
Coisas como fornecimento de gás russo a Itália, Alemanha, França são muitos factuais diante de uma história de agressões mútuas entre Polônia e Rússia.
E na questão Ocidente X Oriente... o Ocidente está ainda em grande dívida com a Polônia....pois ao abandoná-la aos facismo stalinista (esse regime nunca foi de esquerda) deu dinheiro para reconstruir a Alemanha nazista através do Plano Marshal...deu dinheiro aos agressores e abandonou as vítimas polacas da segunda guerra mundial...
As questões da antiga Iugoslávia (Eslavos do Sul) República Soviética criada no decorrer dos acontecimentos pós primeira guerra mundial, e seu desmantelamento pós a queda da União Soviética... também tem a ver apenas com os ideais de Pan-eslavismo imaginados tanto por polacos quanto por Russos, tanto por Pilsudski quanto por Lenin.
E portanto, a questão no momento, vivida pela Ucrânia e Crimeia, passa ao largo de comunistas x nazistas, direita x esquerda....quem não percebe isso e tenta explicações sob o viés de cada uma das visões incorre em erro histórico.

segunda-feira, 3 de março de 2014

Polônia convoca reunião do Conselho de Segurança Nacional


O presidente da Polônia, Bronisław Komorowski, disse hoje, após reunião do Conselho de Segurança Nacional que "no caso Ucrânia - Polônia, quero dizer que estamos firmes no propósito de apoiar as propostas dos Estados Unidos, o que significa, decididamente, uma possibilidade real de aplicar sanções contra a Rússia". E completou dizendo que "se estas propostas trouxerem bons resultados, elas devem ser apoiadas com atitudes firmes de determinação e prontidão. E esta deve ser uma ameaça real".
A ameaça de que falou Komorowski é a perda total do controle territorial da Ucrânia sobre a Crimeia. Segundo o presidente polaco "há também o risco de uma escalada que tais ações ocorram em outras partes do Estado ucraniano".
O Conselho de Segurança Nacional foi convocado na manhã desta segunda-feira para debater qual a posição a ser adotada pela Polônia, no caso do conflito se estender. Fazem parte deste conselho, os presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados, o primeiro-ministro, o vice primeiro-ministro, ministro da defesa, ministro do interior e os presidentes dos partidos políticos representados no parlamento da Polônia.
Komorowski afirmou que "a crise na Ucrânia não se configura numa ameaça direta a Polônia, mas sim é uma ameaça para a ordem internacional."
O presidente acrescentou que a discussão na reunião do Conselho será a posição polaca a ser apresentada na próxima reunião do Conselho Europeu. "A União Europeia deve ter - a Polônia apresentará nossa posição no Conselho Europeu - uma posição muito firme sobre perspectiva de adotar sanções, tanto políticas quanto econômicas contra a Rússia''.

domingo, 2 de março de 2014

Polacos na Guerra do Contestado

A Guerra do Contestado aconteceu no Paraná e só no Paraná entre 1912 e 1916. A área dos conflitos se estendeu, apenas, no território do Estado do Paraná. Somente em 1917, após o governador do Paraná, Afonso Alves de Camargo, ceder aquelas terras ao Estado vizinho é que elas passaram a ser Santa Catarina.
Embora muitos eventos tenham se realizado em 2012, ainda está se rememorando o mais sangrento conflito social do Brasil de todos os tempos: A Guerra do Contestado.
O Livro "Revelando o Contestado" é uma publicação da Imprensa Oficial do Paraná, com a coordenação editorial de um polaco, Ulisses Iarochinski, e um ucraniano, Jorge Narozniak.

Capa: Luiz Solda / Destacando um imigrante polaco (à direita) sendo levado a Ponta Grossa 
Quando me foram mostradas as fotos inéditas do sueco Klas (Claro) Gustav Jansson para o projeto “Revelando o Contestado”, a primeira coisa que me saltou aos olhos foram as casas de madeira do interior do Estado do Paraná.
Retratadas em primeiro ou segundo plano, elas imediatamente remetiam a ideia de Paraná e também de Polônia. Imagens como as que revelam as tropas do coronel curitibano João Gualberto entrando em Canoinhas, Porto União, Três Barras, Calmon e Irani. Enquanto desfilavam por aquelas ruas de chão batido, os policiais tinham diante de si edificações muito diferentes daquela arquitetura típica portuguesa de paredes de taipa caiadas de Florianópolis e do enxaimel alemão de Blumenau.

Foto: Claro Jansson / Canoinhas
Aquelas casas de madeira ali, no sertão do Paraná, construídas com tábuas e sarrafos na vertical, eram reproduções de seculares moradias do Leste da Polônia. O modelo simples da carpintaria polaca foi a solução encontrada pelos imigrantes da região de Lublin, quando foram assentados nas colônias das bacias dos rios Iguaçu, Negro, Peixe e Chapecó. Terra abundante em araucárias, perobas, angicos e imbuias.
Ainda sob o impacto das imagens e da qualidade técnica de Jansson, notei a foto de uma casa com a bandeira do Paraná. No detalhe dos lambrequins dos beirais, vi outro testemunho da presença polaca na região conflagrada. Na nota feita pelo fotógrafo Claro Jansson no negativo em vidro estava escrito: “Força Pública do Paraná no Contestado. Três Barras provavelmente”. Aí, encontro evidência de outra ordem.
Mais do que um registro fotográfico, uma prova documental, de que antes dos soldados entrarem no conflito, foram os policiais paranaenses que enfrentaram os revoltados posseiros e colonos daquelas paragens. A capa deste livro é outra marca indelével de que, além da pele morena, mulata, mestiça do povo do Paraná, também a branca das estepes da Europa Central esteve envolvida. São evidentes os olhos azuis do polaco, à direita.
A zona conflagrada de Guerra foi totalmente no Paraná.
Muito se escreveu sobre o conflito paranaense nestes cem anos. Mas muito poucos estudos (ou quase nada) falaram da presença de imigrantes polacos na Guerra do Contestado.
Mas nem por isso, entre peludos e pelados, pode-se negar a participação dos imigrantes polacos. Foi a partir das colônias e vilas paranaenses de Cruz Machado, Fluviópolis, General Carneiro, Mallet, Nova Galícia, Rio Azul, Rio Claro, São Mateus do Sul e Vera Guarani, que os polacos cruzaram o Iguaçu, o Negro, o Timbó e o Canoinhas, fincando raízes na região do Contestado.
Dessas localidades partiram estes colonos de pele clara e cabelos loiros e castanhos claros para outros rincões, espalhando-se por Bela Vista do Toldo, Irineópolis, Major Vieira, Monte Castelo e Três Barras.
Muitos filhos destes imigrantes nasceram no Paraná e, por força na nova configuração geográfica de 1917, foram transformados compulsoriamente em catarinenses de carteirinha.
Consistem até hoje, em grande parte dos casos, na maioria da população rural de origem eslava do atual Estado de Santa Catarina.
Aqueles polacos dispersos pelos ervais encontraram, nos vales entre os rios Iguaçu e Uruguai, seus meios de subsistência. À medida que se tornavam ervateiros, incursionavam nas florestas encimadas por imponentes pinheirais e de milhões de árvores da Ilex paraguariensis.
Ali, construíram suas casas e constituíram suas famílias. Viviam da coleta da erva-mate e de lavouras sazonais. Chegou-se ao ponto de polacos do Rio Iguaçu exportarem a erva-mate paranaense para Cracóvia, na Polônia, no final do século XIX, através do porto de São Mateus do Sul.
Na luta pela defesa da terra e dos direitos espoliados, os nativos da terra contestada não estiveram sozinhos ao cerrarem espingardas e facões diante da tirania do capital estrangeiro, do coronelismo, da ausência da Igreja, da generalizada ineficácia do governo.
No mesmo processo de assimilação e adaptação social e cultural, os polacos acaboclados também guerrearam. Alguns, ao lado dos revoltados, outros, das forças militares.
Homens de briga ou vaqueanos. Todos faziam parte de excluídos em seu país de origem e assim iniciaram uma prometida vida de liberdade em terras onde corria leite e mel. Fizeram isto, no mesmo estrato social brasileiro em que estavam inseridos antes da grande aventura além-hemisfério. Foram colocados à mercê da própria sorte num dos muitos rincões do país que lhes haviam prometido imensas dádivas.
Para o catarinense de origem polono-paranaense Fernando Tokarski, a guerra foi em território paranaense e sua ocupação tinha sido determinada pelo governo do Paraná, permanecendo até hoje a influência cultural e social deste Estado na antiga região do Contestada.

“Sucessivas análises apontam que essa porção catarinense tem laços diretos com as correntes migratórias colonizadoras europeias intermediadas pelo Paraná. Nítida até hoje, essa influência se sobrepõe à catarinense, que apenas se fez notar por meio dos germânicos provenientes de São Bento do Sul e Joinville. Reiteradas vezes dissemos que, afora as divisas políticoadministrativas, as duas regiões separadas entre o Paraná e Santa Catarina em todos os aspectos são exatamente iguais, favorecendo as incursões colonizadoras.” (1999, p. 65).

Quando a Brazil Railway Co. criou sua subsidiária, Southern Brazil Lumber and Colonization Company, invadiu literalmente a região do Contestado paranaense, muitos polacos abandonaram seus lotes coloniais e ofereceram-se como mão-de-obra nos trabalhos ferroviários e de serraria. Os ingleses tinham compromissos contratuais com o governo brasileiro para também promover programas de colonização.
Nesse sentido, muitos assentamentos coloniais de imigrantes europeus foram atingidos pela ferrovia. Portanto, não eram apenas os antigos proprietários e posseiros os únicos atingidos pelo empreendimento.
Piotr Jarosinski
Meus dois bisavôs, Piotr Jarosiński e Wiktorio Hazelski, imigrantes polacos do Leste da Polônia, deixaram filhos e filhas aos cuidados de minhas bisavós Anna Filip e Anna Baniński e foram trabalhar em trechos que cruzavam o Estado do Paraná, desde Marcelino Ramos, nas margens do Rio Uruguai, até Sengés, na divisa com São Paulo.
Piotr tinha chegado com a mulher e dois casais de filhos em 1911 (Wiktoria, Bolesław, Józef e Maria), e foi assentado na colônia do Tronco, em Castro, enquanto à Wiktorio foi designado pedaço de terra na Colônia Papagaios Novos, em Palmeira.
Muitos de meus tios e tias foram nascendo em Matos Costa, Palmeira, Ponta Grossa, Castro, Piraí do Sul, Jaguariaíva, Sengés, Rio Vermelho e Itapeva

Não tenho dúvida alguma que a participação dos polacos na Guerra do Contestado tem origem na secular luta empreendida por eles contra a tríplice ocupação austríaca, prussiana e russa de 127 anos, na Polônia.
Os polacos, portanto, estavam acostumados a combater sistemas de opressão e não foi difícil entender que sua “Ziemia obiecana”(Terra prometida) corria perigo.
Foto: Claro Jansson - Cinema da Lumber com muita criança polaca
Nilson Thomé e Paulo Pinheiro Machado encontraram no Ministério do Exército listas de nomes dos revoltosos que se entregaram às autoridades militares da Coluna Leste, na cidade de Rio Negro, na vila de Papanduva e nas localidades de Major Vieira e Lajeadinho. Também conseguiram listas de alguns vaqueanos da Coluna Norte.
Destas listas, dos 520 nomes entre revoltosos e vaqueanos, 67 homens, ou 12,8%, eram polacos. Destes, 53, ou 79,1%, lutaram como revoltosos.
Outros 14, ou 20,9%, foram vaqueanos.
Do total de 1.093 revoltosos que se entregaram àquela coluna, 15,6% eram polacos. De 1.688 prisioneiros da lista do Ministério, 1.018 eram mulheres e crianças.
Foto: Claro Jansson
São estes alguns dos nomes presentes na lista de revoltosos:
Adão Bednarski (Adam, mais a esposa Paulina Jankowska e sete filhos), Adão (Adam) Bimarski, Adão (Adam) Kauski, Adão (Adam) Szoczek, Alexandre (Aleksander) Galeski (mulher e sete filhos), Alexandre (Aleksander) Gapski, Alexandre (Aleksander) Króliczowski, Alberto (Albert) Bigas (Bigaś mais a mulher Antonina Mackiewicz e dois filhos), Alberto (Albert) Jankowski, Alberto (Albert) Mainozowicz  (Majorowicz mais a mulher e um filho), Alexandre (Aleksander) Krenikeski (Krenikewski), André Boreck (Andrzej Borecki mais a mulher Filomena Bigaś e seis filhos), André Smartcz (Andrzej Smarcz mais a mulher e quatro filhos), Antônio Woidella (Antoni Wojdela) e esposa, Antônio Wojciechowski (Antoni mais a mulher Josefa e três filhos), Domingos Karwat (Dominik mais mulher e seis filhos), Ernesto (Ernest) Szwarowski, Estanislau Bigas (Stanisław) e esposa Teresa Kauwa (Kałwa), Estanislau Boreck (Stanisław Borecki), Estanislau Gauloski (Stanisław Gaulowski), Estefano Lewczak (Stefan mais a mulher Antonina Kocziński e filho), Ernesto Cznawski (Ernest Czawski), Estefano Wiekiewicz (Stefan) ou Wieczorkiewicz (1889-1948), Francisco (Franciszek) Bigas, conhecido por “Martin Polaco” (1857-1926), e sua mulher Agnes (Agnieszka), Martinho (Marcin) Niedzelski (mulher Antonina e nove filhos), Martinho (Marcin) Mackiewicz, Miguel Boreck e sua mulher Ana (Anna) Kalemach, Miguel (Michał) Nowack (mulher Franciszka e seis filhos), Miguel (Michał) Sentak, Miguel (Michał) Szczygiel e Miguel (Michał) Wozniak (mulher e cinco filhos).

Nas forças militares estavam André (Andrzej) Króliczowski, Antonio (Antoni) Czislowicz (Czysłowicz) (1899-1951), Basílio Pickek (Bazyli Pick), Pedro (Piotr) Terakik, Ricardo Boreck (Ryszard Borecki) e Teobaldo (Teobald) Wandrekowski, que integravam o piquete de vaqueanos sob o comando do coronel Leocádio Pacheco dos Santos Lima, de Três Barras.
Alexandre (Aleksander) Króliczowski, que aparece na lista dos revoltosos, também consta como um dos vaqueanos de Leocádio Pacheco. Entre os vaqueanos de Pedro Leão de Carvalho, o “Pedro Ruivo”, de Canoinhas, estavam Inácio Witek (Ignacy), João (Jan) Maliszewski, João (Jan) Rutęski, Manoel Stavas e Nicolau Jaroczewski (Mikołaj 1910-1948). O pai deste, Bernardo (Bernard) Jaroczewski (1870-1951), também foi vaqueano.

Para concluir, na Batalha do Irani, travada em 22 de outubro de 1912, que conste que foi ferido no confronto o soldado Teodoro (Teodor) Selerowski, que acabaria morrendo em Curitiba em 06 de março de 1913. Além dele, também o cabo de esquadra João (Jan) Matecki recebeu um tiro no cotovelo direito. Este lutava à direita e bem próximo do coronel João Gualberto Gomes de Sá Filho, quando o comandante paranaense recebeu um tiro no peito e depois foi trucidado com golpes de facão (Rosa Filho 1999:30).

No Contestado paranaense, os imigrantes polacos e seus filhos brasileirinhos estiveram envolvidos de todas as formas e por todos os lados e, portanto, devem ser resgatados e lembrados como personagens reais do mais sangrento conflito social do Paraná.

P.S. entre parentes de em negrito estão as grafias corretas em idioma polaco.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Da Europa Central a Cruz Machado

Texto publicado originalmente na Revista Helena, nº 1, da Secretaria de Estado da Cultura do Paraná:


As origens da gente do Paraná sempre foi componente importante nas relações sociais deste Estado. Elas ainda não foram discutidas de maneira suficientemente aberta e esclarecedora. A temática ainda é abordada, muitas vezes, de forma simplista e pouco acadêmica, permitindo que mitos e manipulações tomem feições de verdades históricas, e estudos sérios sejam ignorados ou acessíveis apenas a uma minoria.
Produto de um rico caldeirão de imigrações internas e externas, o paranaense, mais que qualquer outro brasileiro, está sempre se questionando quanto à verdadeira etnia do ancestral. A questão da origem étnica do povo do Paraná parece estar expressa diretamente na identidade de cada um e está ligada ao fato de esta ser uma terra essencialmente de imigrantes, ou de descendentes.

“Vim da Ucrânia valorosa,
que foi Russ e foi Rutênia.
Povo indomável, não cala
A sua voz em algemas.
Vim das levas imigrantes
Que trouxeram na equipagem
A coragem e a esperança.”
Helena Kolody

A paranaense de Cruz Machado, em seus versos, anuncia sua origem nas estepes da Europa Central. Helena enumera cada um dos nomes de sua nação de origem... De seu sentimento de pertencimento a uma nação! Do mais recente, Ucrânia, ao mais antigo, Russ, passando pelo mais longevo, Rutênia.
Tomando como exemplo o poema de Helena Kolody, vamos encontrar em antigos escritos sobre a origem dos povos eslavos (bastante significativos na formação do Paraná), dos quais faz parte Helena, uma lenda comum a esta gente, e que situa, em algum lugar do pretérito, três irmãos.

Lech, Czech e Russ penetravam na floresta inexplorada
buscando um local onde pudessem estabelecer um povoado.
De repente, avistaram uma colina com um velho carvalho e uma águia no topo.
Lech disse: esta águia branca eu adotarei como símbolo do meu povo
e ao redor deste carvalho eu construirei a minha fortaleza
e por causa deste ninho de águia (em polaco: gniazdo),
eu a chamarei de Gniezno (primeira capital do reino polaco).
Os outros irmãos continuaram a caminhada pela mata
com o objetivo de encontrarem também um local para seus povos
Czech seguiu na direção sul para formar as terras tchecas
e Russ foi para o leste para criar as nações da Rutênia, da Rússia e da Bielorrússia.

Russ também é herói de outra lenda, que localiza sua origem em outras terras. Mais precisamente na Escandinávia. Russ era um viking conhecido como Oleg. Eram os anos 880 d.C. e a Europa Central vivia então sob jugo do Império Ka-zan, dinastia do povo azeri, cuja sede ficava na região hoje correspondente ao Azerbaijão. Oleg, herói nórdico, em sua sanha de conquista, expulsou os azeris e criou na região o Principado Russ.
O território de Oleg, conhecido também como Principado Kievano (ou Kievan, Kiev), devido à antiga ocupação Ka-zan, estendeu-se pelas terras da Volínia e da Podólia. Embora lenda, é admissível deduzir que naquelas terras existissem tribos primitivas, que não eram vikings e tampouco azeris.
Descobertas arqueológicas registram a presença de povos autóctones, naquele local, desde o período paleolítico, cerca de 200 mil anos a.C.. E mais tarde, de povos nômades como os celtas, godos, suevos e vândalos. Aqueles povos, também conhecidos como protoeslavos, são as origens de polacos, tchecos, bielorrussos, russos, eslovacos e rutenos.

Enquanto Kiev, terra de Oleg (antiga Ka-zan), transformava-se em centro importante e rota comercial entre o Oriente e o Ocidente, lá nas terras de Lech, um pouco antes, no ano de 800 d.C., cresceu um ducado sob o domínio da dinastia Piast, que culminaria em 966 d.C. na criação do Reino da Polônia.
Neste tempo ainda não existia a Rússia e o principado de Moscou era ainda dominado por Rurik (fundador de Novgorod e Moscou) da mesma família viking de Oleg.
O principado Kievano, entretanto, não teria vida longa. Sua desintegração começou no século XI, depois da morte de um bisneto de Oleg, conhecido como Jaroslav – o sábio. Depois disso e por oito séculos, os rutenos (originários dos protoeslavos autóctones, azeris e escandinavos, habitantes da região de Kiev) viveram como súditos do reino da Polônia, do principado de Moscou (depois Rússia), além das ocupações austríaca, russa e prussa (depois alemã).

No século XVII, os moscovitas, filhos de Russ (como os rutenos), depois de sofrerem a invasão polaca em sua cidade-estado, conseguiram vencer os descendentes de Lech, anos mais tarde, numa reviravolta sem precedentes na história das guerras da Europa Central.
Como forma de assegurar seus domínios, os russos, comandados pelos Romanov, criaram um reino em substituição ao Principado de Moscou e ampliaram seu território do Mar do Norte ao Mar da China. Enquanto isso, os polacos com sua república binacional (primeira república moderna, anterior à República Francesa e à República Americana) estendiam seu território do Mar Báltico ao Mar Negro. No meio de tanta terra, cercada de mares por todos os lados, os rutenos passaram a ter dois senhores: de um lado um polaco e de outro um russo.

O fim da Primeira Guerra Mundial coincidiu com a Revolução Bolchevique, que derrubou a monarquia e instaurou a República Socialista Soviética da Rússia. Mudou a monarquia, mas não mudaram os russos. Uma vez mais a Polônia seria atacada pelo primo eslavo. Os russos quiseram reconquistar as terras polacas que tinham ocupado por 127 anos. Mas foram surpreendidos e a Guerra Polaco-Russa de 1920 terminou com vitória dos polacos.
Com a derrota para a Polônia, os russos se voltaram contra os rutenos, que tentavam havia dois anos instalar um Estado independente sob o comando do ruteno Szymon Petlura e a ajuda do polaco Józef Pilsudski. Contudo, os milenares rutenos não tiveram a mesma sorte dos polacos. Foram derrotados e como presente receberam o portentoso título de República Socialista Soviética da Ucrânia. Os rutenos viraram ucranianos e a Rutênia tornou-se Ucrânia.
Uma minoria dos rutenos recusou-se a aceitar o novo nome para sua nação – Ucrânia – e o novo termo gentílico – ucraniano.

A palavra “Ukrania”, nos idiomas eslavos, com variações de declinações, no geral, pode ser traduzida como “U” (do, em, no), “Kraj” (país), ou seja, “do, no nosso país”.

O novo Estado passou os 70 anos seguintes sob a tutela da Rússia Soviética, e quase foi dizimado completamente nos anos 30, por ordem de Moscou. Quem sobreviveu a tantos senhores e a tantos horrores não iria perecer. Sobreviveram ao Holodomor, à Segunda Guerra Mundial e ao Comunismo Soviético para, em 1990, conquistarem independência e soberania com a criação da República da Ucrânia. Aquela minoria rutena, entretanto, continuou encravada nas fronteiras atuais da Eslováquia e da Polônia e ainda é tratada pelo governo de Kiev como minoria, embora seja o mesmo povo, a mesma etnia… Configurando-se em caso raro de uma minoria étnica que é a própria etnia.

A Cruz Machado
Quando Helena em seus versos fala que veio das “levas imigrantes”, ela está registrando pertencimento a grupos de imigrantes que começaram a chegar ao Paraná no século XIX.
As primeiras famílias de rutenos teriam chegado ao porto do Rio de Janeiro em 23 de agosto de 1891. Normalmente os imigrantes ficavam um período de quarentena na Hospedaria dos Imigrantes, na Ilha das Flores.
Ali, aquelas famílias foram registradas pelas autoridades brasileiras como sendo compostas de elementos polaco-austríacos, pois portavam passaportes familiares austríacos e faziam parte do grupo de imigrantes polacos procedentes da região ocupada pelo Império da Áustria, também conhecida como Galícia.
Nos 45 dias que ficaram na ilha souberam que seriam encaminhados ao Paraná, onde receberiam seus lotes de terra na Colônia Santa Bárbara, localizada no município de Palmeira, povoada por polacos e italianos. Outra parte do grupo seria encaminhada para a Colônia Rio Claro, no Município de Marechal Mallet, colonizada somente por polacos.
Do Rio de Janeiro, eles partiram em navios menores para Paranaguá, numa viagem de dez dias. Dali subiram de trem a Serra Mar, chegando a Curitiba, onde, uma vez mais, foram registrados como polaco-austríacos. A viagem de trem terminaria em Ponta Grossa e Mallet.

Os destinados a Rio Claro prosseguiam até Marechal Mallet em vagões de trens. A partir da última estação em Mallet, os imigrantes foram obrigados a viajar em carroções e a pé pelo trecho mais difícil da longa viagem. A viagem durava em média três dias. Em cada carroça, alugada pela comissão de imigração, puxada por quatro ou mais cavalos, comprimiam-se três famílias e a bagagem. Nos anos seguintes e até a Primeira Guerra Mundial, novos grupos de rutenos chegariam ao Brasil e continuariam a ser registrados como polaco-austríacos e/ou polaco-russos.
Estudiosos da etnia ucraniana no Brasil afirmam que até 1914 teria chegado cerca de cinco mil pessoas entre os grupos de polacos, que seriam, na verdade, rutenos.
A família de nossa poeta Helena foi assentada na Colônia Cruz Machado, a 50 km de União da Vitória, em 1911. Meses depois da chegada de seus pais, naquele ermo sertão do Sul do Paraná, a pequena Helena Kolody nasceu. Era 12 de outubro de 1912. Os pais de Helena faziam parte de um grande grupo de imigrantes polacos, que começou a chegar ao Pátio Velho do Rio do Banho, na Serra da Esperança, em maio de 1911. Eram, em sua maioria, procedentes da região ocupada pela Rússia.
O chamado do governo paranaense exerceu forte influência nesta nova onda de imigração, que começou em maio de 1911. Mas a maioria dos imigrantes chegou em outubro e novembro de 1911. Nesse meio ano entraram no Paraná 9,8 mil pessoas, a maioria polacos. Entre estas, 7,6 mil eram procedentes da ocupação russa e outras 1,5 mil da Galícia austríaca.

Desde o qual, seria mais tarde território da governadoria de Lublin, na nova fronteira da isolada região de Chełm, emigraram em 1910, 2.661 pessoas, em 1911, 6.554, em 1912, 3.802. Em 1911, sem emigrantes temporários, inclusive neste ano, de toda a governadoria saíram 13.140 pessoas (2,5 mil a mais do que ano anterior), no distrito de Krasnostaw 1.277 emigrantes, de Janów 1.221, de Puławy 491, de Lubartów 431 e de Lublin 387. Dos distritos administrativos, que antigamente pertenciam à governadoria de Siedlec, tinham emigrado 1.017 pessoas de Radzyń, 736 de Łuków e 250 de Garwolin. (Ciuruś, E. - Dobosiewicz, Z. - Groniowski, K. - Helman, W. - Krajewski, A. - Rómmel, W. - Żeromski, A. “Polonia w Ameryce Łacińskiej”. Polski Instytut Spraw Międzynarodowych. Wydawnictwo Lubelskie – A Polônia na América Latina, Instituto de Assuntos Internacionais da Editoria Lubelski - p. 26-27)

Os emigrantes que chegaram a Cruz Machado, em sua grande maioria, partiram das cidades polacas de Łuków, Garwolin, Rudnik, Wysokie, Rybczewice, Gorzków, Fajsławice, Sułów, Jaszczów, Krzeczonów, Wojcieszków. A soma dos imigrantes destas várias localidades chegava a 5.000 pessoas. No início de outubro de 1911, o governador de Siedlce (cidade polaca sob ocupação russa) apresentou outros números de emigrantes por cada localidade, que deixaram a Polônia rumo à América:

O distrito de Radzyń apresentou, em 1911, 1.783 emigrantes; Łuków, 1.255; Garwolin, 452; e os distritos vizinhos mais 150 pessoas. Rudnik (353), Wysokie (202), Rybczewice (195), Gorzków (164) Fajsławice (155), Sułów (218) Stary Zamość (161) Jaszczów (189) Krzczonów (174) Czemierniki (273), Rakołupy (328) e Brzeziny (179), Majdanie Ostrowski (105) Ostrowie (90), Mościska (82) Bzowców (76) Krasnostaw (77).

No distrito de Hrubieszów, a maioria de emigrantes saíram de um círculo entre 8 e 14 municípios. No distrito de Biłgoraj emigraram apenas seis pessoas de dois munícipios (Huta Krzeszowska i Puszcza Solska). Entre os emigrantes do distrito de Zamość foram 10 famílias do credo ortodoxo, certamente do rito oriental, de Hrubieszów 7, de Chełm 4, de Krasnostaw outros 3. Na base deste grupo também devem ser acrescentados emigrantes ilegais não registrados. (p. 142-150. IN: Centralne Archiwum GUS, GUS 1918-1939, Wydział Statystyki Ruchu Ludności 5376, k. 10n. – Arquivo Central GUS – Departamento Estatístico Movimento de Pessoal)

Confirmando que os primeiros rutenos que chegaram a Cruz Machado eram identificados como polacos e não ucranianos, o governador do Paraná Francisco Xavier da Silva, em sua mensagem ao Congresso Legislativo do Estado do Paraná, em 2 de fevereiro de 1912, informava:

Devidamente autorisado tem o Governo cedido, gratuitamente á União, terras devolutas para o serviço de povoamento do solo. No anno anterior entraram na Hospedaria de Paranaguá 9.788 immigrantes, sendo 8.071 Polacos Russos, 1.512 Austriacos, 82 Allemães, 24 Italianos, 19 Russos, 18 Hespanhóes, 26 Hollandezes, 29 Francezes, 12 Portuguezes, 6 Belgas, 3 Suissos e 3 Inglezes. (DAPE-PR Departamento de Arquivo Público do Estado do Paraná, Curitiba – PR. p. 16)

Como se vê não há menção alguma a ucranianos, ou rutenos. Somente o livro do Tombo da Paróquia de Nossa Senhora de Belém, de Guarapuava, responsável pelo Curato de Cruz Machado registrou que entre os imigrantes polacos haviam pessoas de outra etnia:

1°. Livro do Tombo da Paróquia. Termo de abertura. Sendo este Livro o primeiro do Tombo aberto no Curato de Cruz Machado, faz-se mister de uma informação sobre o princípio deste lugar: O núcleo de Cruz Machado foi aberto pelo Serviço de Povoamento de solo no ano de 1911. Os primeiros colonos foram Rutenos que agora contam no inteiro Curato algumas 80 famílias. Em seguida chegaram da Polônia Russa cerca de 750 famílias que foram localizadas. De resto a população se compõe de algumas 50 famílias brasileiras, algumas 20 alemãs protestantes e poucas famílias de outras nacionalidades.

E é justamente entre estas 80 famílias de rutenos, provavelmente originários da Polônia Austríaca, que se encontravam os familiares de nossa Helena Kolody. Assim como nas terras da Europa, os rutenos do Paraná e do Brasil somente viriam a se identificar como ucranianos, após o fim da Primeira Guerra Mundial, quando definitivamente deixaram de ser taxados de polacos.

Mas os laços seculares de sangue, tradições e semelhanças étnicas permanecem vivos, ainda que tenham passado a um segundo plano. Prova disto é que os hinos nacionais de Polônia e Ucrânia possuem mais do que versos parecidos: têm temas e origens em comum.
A letra do hino da Ucrânia se inspirou em um poema polaco de 1797. O poeta polaco Józef Wybicki, escreveu a primeira versão da poesia “Jeszcze Polska nie umarła” em 1797, que mais tarde seria decretada oficialmente como hino nacional com modificação de uma palavra, 

“Jeszcze Polska nie zgineła”.
(umarła = morreu, zgineła = pereceu)

Ainda a Polônia não morreu,
Enquanto nós vivermos.
Aquilo que a prepotência estrangeira nos tirou,
Com a espada reconquistaremos.
Marche, marche, Dąbrowski,
Da terra italiana para a Polônia,
Sob a tua liderança
Nos uniremos à Nação.
Cruzaremos o Vístula, cruzaremos o Varta,
Seremos polacos,
Bonaparte deu-nos o exemplo de
Como devemos vencer.
Marche, marche, Dąbrowski...
Como Czarnecki para Poznań
Após a invasão sueca,
Para a salvação da Pátria
Voltaremos pelo mar.
Marche, marche, Dąbrowski...
O pai para a sua Bárbara
Fala chorando:
"Ouça criança, são os nossos
Que batem nos tambores"
Marche, marche, Dąbrowski...

Assim como o poema de Wybicki, o de Czubyński se tornou hino nacional de seu país. O verso “Jeszcze Polska nie umarła” inspirou o ruteno Paweł Czubyński, em 1862, na criação da letra para a música do padre católico ruteno Michał Werbycki.
O poeta ruteno escreveu “Ще не вмерла Українa” (em português: “Ainda a Ucrânia não morreu”).

A Ucrânia ainda não morreu,
Tampouco a sua liberdade,
O destino voltará a nos sorrir, jovens irmãos.
Como o orvalho some com o sol da manhã,
Assim também desaparecerão nossos inimigos,
E também nós, irmãos, governaremos terras que nos pertencem.
Lutaremos com corpo e espírito para obter a nossa liberdade,
E mostraremos, irmãos, que somos uma nação de Cossacos.
Todos juntos lutaremos pela liberdade, desde o Sian até o Don,
Não permitiremos que estranhos dominem a nossa pátria.
O Mar Negro sorrirá e o avô Dniepro se alegrará,
E na nossa Ucrânia a nossa sorte vai vicejar mais uma vez.
A nossa persistência e a nossa sincera labuta será recompensada,
E canções proclamando a liberdade soarão em toda a Ucrânia.
Ecoarão do Cárpatos e retumbarão através das estepes,
A glória da Ucrânia será conhecida em todas as nações.

Como se percebe, uma vez mais as histórias das duas nações se entrelaçam e vão permanecer assim em outras terras e em outros Estados criados. Foi assim que eles chegaram a Cruz Machado, no Paraná, e ali construíram juntos uma nova história comum.
Cruz Machado foi a maior colônia de imigrantes em área territorial da América Latina. A colônia recebeu este nome em homenagem ao senador do Império, o mineiro Antônio Cândido da Cruz Machado, que ao longo de sua vida parlamentar apresentou vários projetos, como a divisão do território brasileiro e, mais do que isto, foi um grande entusiasta da emancipação da Província do Paraná.
Depois de mais de um século no Paraná, polacos e ucranianos tornaram-se a própria identidade deste Estado, legando não só filhos, netos e bisnetos, mas uma cultura que se distingue dos demais Estados brasileiros, podendo ser identificada como eslavo-paranaense. O Pierogi-Peroghe, Pisanki-Pêssankas, Zako-Bakun, Leminski-Kolody são expressões autênticas da cultura do Paraná.
Dos quase 500 mil brasileiros de ascendência ucraniana, cerca de 400 mil residem no Paraná. Apenas em Curitiba, são 55 mil e o maior percentual está em Prudentópolis, onde 75% da população é composta de descendentes de ucranianos.
Já os brasileiros de origem polaca ultrapassam os 3,5 milhões no Brasil. Estão concentrados nos Estados do Paraná e Rio Grande do Sul. Curitiba é considerada a terceira maior cidade da etnia polaca em todo o mundo, perdendo apenas para Chicago nos Estados Unidos e para a capital da Polônia, Varsóvia. Definitivamente o Paraná é a terra mais eslava da América Latina. E isso é legado de polacos e rutenos/ucranianos.

Ulisses Iarochinski, 
jornalista, mestre em cultura internacional e doutor em história pela Universidade Iaguielônica de Cracóvia. É estudioso dos segredos da imigração eslava.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Orações católicas em idioma polaco


O Pai Nosso certamente é a oração mais repetida diariamente no mundo católico apostólico romano. A oração que Jesus Cristo ensinou para ser um meio de ligação dos homens com Deus.
Os evangelistas que anos mais tarde da morte de Cristo registraram a oração apresentam duas versões. A primeira aparece no Evangelho de Mateus (Mateus 6:9-13), no discurso sobre a ostentação, parte do Sermão do Monte; e a segunda no Evangelho de Lucas (Lucas 11:2-4). A tradição litúrgica da Igreja Católica Apostólica Romana usou sempre o texto de Mateus 6:9-13:13:

 Pai Nosso que estais no Céu,
santificado seja o Vosso Nome,
venha a nós o Vosso reino,
seja feita a Vossa vontade
assim na terra como no céu.
O pão nosso de cada dia nos dai hoje,
perdoai as nossas ofensas
assim como nós perdoamos
a quem nos tem ofendido,
e não nos deixeis cair em tentação,
mas livrai-nos do Mal.
Amém.


No idioma polaco, a versão atual é:

Ojcze nasz,
któryś jest w niebie,
Święci się imię Twoje.
Niech przyjdzie Królestwo Twoje,
Bądź wola Twoja
jako w niebie, tak i na ziemi.
Naszego chleba powszedniego daj nam dzisiaj.
I odpuść nam nasze winy, 
tak jak i my odpuszczamy naszym winowajcom.
I nie wódź nas na pokuszenie,
ale nas zbaw od złego!
[Bo Twoje jest królestwo i potęga, i chwała na wieki.]
Amen!


A mesma oração no latim é:

Pater noster, qui es in cælis,
sanctificetur nomen Tuum;
adveniat regnum Tuum;
fiat voluntas Tua, sicut in cælo et in terra.
Panem nostrum quotidianum da nobis hodie
et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos dimittimus debitoribus nostris.
Et ne nos inducas in tentationem,
sed libera nos a malo.
[Quia Tuum est regnum et potestas,
et gloria in sæcula sæculorum.]
Amen.

As demais orações muito comuns nas igrejas da Polônia são:
AVE MARIA
Pozdrowienie Anielskie
Zdrowaś Marjo łaskiś pełna
Pan z Tobą
błogoławionaś Ty międzi
niewiastami i błogosławiony owoc
żywota Twojego Jezus.
Święta Marjo, Matko Boża
módl się za nami grzesznymi
teraz i w godzinę śmierci naszej.
Amen.

CREDO
Wyznanie wiary
Wierzę w Boga Ojca Wszechmogącego
Stworzyciela nieba i ziemi.
I w Jezusa Chrystusa, Syna Jego Jedynego
Pana naszego, który się począł
z Ducha Świętego,
narodził się z Marji Panny.
Umęczon pod Ponckim Piłatem,
ukrzyżowan, umarł i pogrzebion.
Wstąpił do piekieł,
trzeciego dnia zmartwychwstał.
Wstąpił na niebiosa, siedzi w prawicy
Boga Ojca Wszechmogącego,
stamtąd przyjdzie sądzić
żywych i umarłych.
Wierzę w Ducha Świętego,
święty Kościół powszechny,
świętych obcowanie,
grzechów odpuszczenie,
ciała zmartwychwstanie, żywot wieczny.
Amen. 

SALVE RAINHA
Witaj Królowo
Witaj Królowo! Matko miłosierdia,
życie słodyczy i nadziejo nasza, witaj!
Do Ciebie wołamy wygnańcy, synowie Ewy.
Do Ciebie wzdychamy jęcząc i płacząc
na tym łez padole.
Przeto więc Orędowniczko nasza,
one Twoje miłosierne oczy ku nam zwróć.
A Jezusa błogosławiony owoc zywota Twego,
po tym wygnaniu nam okaż.
O łaskawa, o litościwa,
o słodka Panno Marjo.