quinta-feira, 8 de março de 2018

A luta das polacas numa Polônia invadida

Dizendo Não às Crianças, à Cozinha, à Igreja:
As Pioneiras dos Direitos das Mulheres na Polônia

Sufragistas demonstrando como ganhar dinheiro com esfregões e vassouras - Varsóvia, 1938. Foto: FoKa / Forum
Muitas heroínas importantes lutaram contra "mulheres sendo sacrificadas à mercê de potes e vassouras". Mas sua história ainda tem uma triste marca: muitas de suas demandas ainda não são atendidas até hoje.

Isto foi na segunda metade do século dezenove. A sociedade polaca vivia dividida em três territórios ocupados por monarquias estrangeiras, e as leis em cada um destes três territórios invadidos (Rússia, Áustria e Prússia - Alemanha) era muito opressiva contra as mulheres. Na parte alemã, havia umaa regra expressa por "Kinder, Küche, Kirche" ("Crianças, Cozinha, Igreja"), e na Rússia tzarista, as mulheres eram de fato, sujeitas aos seus maridos e pais.

As mulheres não tinham direito de votar nem frequentar escolas em nenhum dos territórios ocupados. Na Galícia austríaca (província no Sudeste polaco) elas também não podiam se filiar a partidos políticos. Ao mesmo tempo, as derrotas nas várias revoltas polacas contra as ocupações naquele período levaram a uma espécie de matriarquia.

Muitos homens polacos morreram combatendo os inimigos externos. Muitos foram forçados a emigrar ou foram exilados compulsoriamente na Sibéria. Assim, as mulheres tiveram que assumir os papéis tradicionalmente reservados aos homens na sociedade polaca. Foi nesse contexto que o movimento feminista floresceu em terras polacas.

* (sufragista = aquela que defende a extensão dos votos a todos, sem distinção de raça, sexo, poder econômico, origem etc.)

IRMÃS E ENTUSIASTAS

Retrato de Klementyna Hoffmanowa, 1834 - Foto: POLONA / www.polona.pl
Klementyna Hoffmanowa é a figura que geralmente está no início de qualquer história sobre o feminismo polaco.
É verdade que ela era uma mulher independente, que vivia apenas de sua profissão de escritora e atividade pedagógica, o que convenhamos naqueles dias, era certamente algo muito raro para uma mulher.
Mas ela era feminista?
Klementyna popularizou a educação das moças, mas seus trabalhos revelavam a antiga distribuição tradicional de papéis diferenciados para homens e mulheres.


Narcyza Żmichowska. Foto: Piotr Mecik / Fórum
O verdadeiro "motim feminista" na Polônia foi fomentado por suas alunas, principalmente uma delas: Narcyza Żmichowska.

Depois de se formar no Instituto das Governantas, em Varsóvia, a ex-aluna se tornou professora particular da família Zamoyski, em Paris.

Enquanto se ocupava das crianças da mansão, Narcyza entrou em contato com o movimento democrático francês e absorveu as ideias da primeira onda de feminismo daquele país. Esta participação acabou causando a perda do emprego na casa dos milionários polacos.


Dia de lavanderia: imagem humorística de 1901 - Foto: Roger-Viollet / East News
Narcyza voltou para a Polônia uma mulher mudada. Ela se envolveu em manifestações educacionais e públicas (ela até ficou presa algum tempo por causa disso), e chocou as pessoas com seu "estilo de vida masculino" (montando cavalos e fumando charutos).

Narcyza reuniu um círculo de apoiadoras que criou um grupo informal chamado "Entuzjastki" ("As entusiastas"). Seu objetivo era aumentar a influência feminina na vida pública e garantir a igualdade de acesso à educação.

Aquelas polacas promoveram ideias de autorrealização e independência econômica. Żmichowska escreveu: "Estude se você puder. Aprenda, se puder, e considere ganhar o suficiente para cuidar de si mesma. Porque, em caso de necessidade, ninguém a sustentará com apoio e cuidado".


Os textos de Żmichowska foram publicados na Pierwiosnek (prímula). Descrita como "uma revista composta apenas de textos de senhoras", foi a primeira publicação em idioma polaco feita estritamente por mulheres.

As atividades do grupo, baseavam-se na ideia de Żmichowska de "Posiestrzenie" (literalmente "irmandade"), ou seja, de uma afirmação das amizades platônicas entre mulheres. Aquelas mulheres se opuseram a casamentos arranjados sem amor, que elas alegavam serem simplesmente contratos financeiros entre famílias.

Outras membros do grupo Entuzjastki incluíam Eleonora Ziemięcka (a primeira filósofa feminina polaca) e Bibiana Moraczewska, escritora e ativista envolvida em questões ligadas à sociedade e à independência e uma conspiradora atrevida.

As ideias do Entuzjastki floresceram nas próximas gerações. Emergindo também deste período estava Ewelina Porczyńska, mãe de Paulina Kuczalska-Reinschmit, que foi apelidada de "hetman do feminismo polaco", e Wanda Grabowska, mais tarde Żeleńska, mãe de Tadeusz Boy-Żeleński, o homem que foi o principal feminista da Segunda República polaca.

*(hetman = condestável, ou maior posto militar do reino só superado pelo rei)

EXIGINDO DIREITOS HUMANOS


Maria Dulębianka em cartão postal pré-guerra - Foto: www.cyfroteka.pl
Entre as muitas demandas do movimento sufragista durante o período das ocupações estrangeiras na Polônia, duas delas vieram fortemente à tona: direitos políticos e igual acesso à educação.

A ação que causou a maior agitação (hoje, podemos chamá-la de "performance") foi quando Maria Dulębianka, uma companheira muito próxima da escritora Maria Konopnicka (escreveu o clássico da literatura polaca "Pan Balcer w Brazylii" - O Senhor Balcer no Brasil), participou da eleição para o Sejm (Câmara dos Deputados) da Galícia austríaca, em 1908.

Dulębianka recebeu mais de 400 votos (dos homens, naturalmente). Contudo, apesar desse resultado respeitável, sua inscrição como candidata foi rejeitada "devido a questões formais".

* O romance "Pan Balcer no Brasil" descreve a adaptação dos imigrantes polacos nas colônias de Curitiba e Sul do Paraná. Konopnicka procurou retratar a vida do engenhoso ferreiro Sr.Balcer. A obra apresenta a vida de Jósef Balcerzak, que imigrou para o Brasil, mas, desiludido com a “Nova Polônia” ultramar, onde encontrou “um país maravilhoso, porém hostil” (SIEWIERSKI, 2000, p. 113), decidiu retornar ao seu país de origem.
*“Nova Polônia”...Assim era chamado o Paraná, na imprensa polaca da época. 

Sufragistas britânicas em 1913 - Foto: AKG / East News
As sufragistas polacas não foram presas ou espancadas como suas colegas britânicas, mas seus slogans foram tratados por muitos com aversão e escárnio.

A imprensa imprimiu caricaturas condenatórias e comentários sobre elas, criticando seu compromisso com "assuntos triviais", enquanto a Polônia era mantida em cativeiro. "Uma mulher está por fora da sua própria nação?", Retrucou Dulębianka.

Rosa Luxemburg durante um discurso em Stuttgart, 1907 - Foto: East News
Mesmo o espectro político mais a esquerda sempre sabotou suas ações. Em seu livro "Damy, Rycerze i Feministki" ("Damas, Cavaleiros e Feministas"), Sławomira Walczewska escreveu que "os socialistas ofereciam palavras de apoio aos sufragistas durante seus comícios, mas ao mesmo tempo proibiam seus membros de participar de reuniões de sufragistas".

Nascida na bela cidade polaca de Zamość (atualmente no Leste da Polônia), Rosa Luxemburg escreveu que as mulheres burguesas que "saboreiam os frutos prontos da dominação das classes", acrescentam "um traço burlesco" ao movimento sufragista. Na opinião de Rosa, a emancipação das mulheres teria que acompanhar uma revolução social:

"As mulheres proletárias, as mais pobres dos pobres, as mais privadas daqueles que não têm direitos: venham lutar pela libertação das mulheres e da humanidade contra as atrocidades da dominação capitalista".

O movimento das mulheres se declarou apolítico, mas não conseguiu superar as divisões da nação. As tentativas de estabelecer cooperação entre ativistas polacos, judeus ou rutenos (os atuais ucranianos) muitas vezes se desmoronaram devido a antagonismos nacionalistas. Esta situação continuou mesmo depois que a Polônia recuperou a independência, em 11 de novembro de 1918, depois de 127 anos de ocupação estrangeira. Período em que a Polônia foi apagada do mapa do mundo.

Emancipadas em 1912, Berlim - foto: AKG-Images / East News
É impossível escrever sobre o movimento das mulheres no século 20 sem mencionar Paulina Kuczalska-Reinschmit, fundadora da Związek Równouprawnienia Kobiet Polskich (A Associação Polaca da Igualdade das Mulheres) e editora-chefe da revista Ster.

Ster deveria ser uma plataforma para troca de informações entre sufragistas espalhadas pelos três territórios invadidos e ocupados na Polônia. Ela publicou não apenas textos humorísticos, mas peças literárias de Orzeszkowa, Konopnicka e Żeromski, e tentou atrair um público maior com uma coluna regular de Ludwika Ćwierczakiewiczowa, autora de livros de culinária e guias para donas de casa, que eram muito populares na época.

MULHERES FORTES
Membros da Sociedade Lublin para a Promoção da Educação "Światło" da cidade de Nałęczów: Faustyna Morzycka, Stefan Żeromski, Gustaw Daniłowski, Przemysław Rudzki, Helena Dulęba, Kazimierz Dulęba, Felicja Sulkowska, 1906.
Foto: POLONA / www.polona.pl
A maioria das sufragistas estava envolvida em atividades educacionais, especialmente para aqueles excluídos ou privados de acesso à educação. Foram estabelecidas iniciativas, muitas delas ilegais, como as salas de leitura para mulheres, "Universidades de Vôo" e "Kobiece Koła Oświaty Ludowej" (Círculos educativos para mulheres).

Figuras importantes estavam incluídas nestas atividades como: Faustyna Morzycka, organizadora de grupos educacionais e membro do PPS - Partido Socialista Polaco, que inspirou o escritor também polaco, Żeromski, a escrever a história da Siłaczka (Mulher forte), Filipina Płaskowicka, fundadora da Koło Gospodyń Wiejskich (A Associação das Mulheres Rurais) e Stefania Sempołowska, que diziam ter "participado de tudo o que aconteceu na Polônia durante seus 50 anos de vida ativa".

Reprodução: U Źródeł Kwestii Kobiecej Fonte da questão das Mulheres) por Kazimiera Bujwidowa, 1910, Cracóvia; Czy Kobieta Powinna Mieć Te Same Prawa Co Mężczyzna? (As mulheres devem ter os mesmos direitos que os homens?), 1909, Cracóvia; e um retrato de Kazimiera Bujwidowa - Foto: POLONA / www.polona.pl
Kazimiera Bujwidowa, fundadora da primeira escola secundária para meninas na Polônia, foi incansável em sua luta pelas mulheres terem igual acesso à educação.

Em sua escola, as alunas podiam fazer um exame final, que era o primeiro passo para se candidatar a uma vaga na universidade, algo inédito até então para as mulheres.

Bujwidowa também iniciou uma campanha para que as mulheres se candidatassem à Universidade Iaguielônica (a mais antiga e prestigiada universidade polaca, de 1364). Instituição que se tornou a primeira no país a aceitar estudantes do sexo feminino, em 1897.

Outra questão importante impulsionada pelas sufragistas foi o direito dos trabalhadores. A desproporção entre os salários entre os sexos era enorme e as mulheres eram muitas vezes despedidas quando se casavam ou ficavam grávidas.

O tráfico de seres humanos também era um grande problema social. Nas cidades e aldeias da Europa Centro-Oriental, muitos criminosos enganavam as mulheres não privilegiadas, oferecendo-lhes empregos lucrativos, apenas para colocá-las em bordéis.

A máfia judia Izvi Migdal, que atuava em Varsóvia, Rio de Janeiro e Buenos Aires traficou para o Brasil e Argentina várias moças eslavas de origem judaica para serem vendidas no Largo da Carioca e na Boca bonairense. Estes mafiosos judeus se casavam com moças nas pequenas vilas da Europa Oriental e depois vendiam as jovens esposas na América do Sul como mercadoria. Uma das repercussões desta prática foi o termo "polaca" ser associado no Brasil à prostitutas cariocas e obrigar a elite polaca curitibana a criar o termo "polonês". A tentativa de fugir do preconceito ao longo dos anos se revelou também preconceituoso por discriminar o correto gentílico em língua portuguesa: "polaco". (O Brasil é o uníco dos 8 países lusófonos a não usar a palavra "polaco" em referência à etnia). O termo "polonês" usado no Brasil foi criado em 1927, em Curitiba. Em 1880, o Imperador D. Pedro II expulsou 20 destes cafetões judeus do Brasil acusados de tráfico de mulheres.

Ativistas polacas lutaram contra este tráfico organizando missões nas estações de trem, onde abordavam à revelia de seus "maridos" aquelas pobres mulheres de origem judaica que chegavam. As ativistas procuravam lhes dar trabalho e providenciavam acomodações, ou quando não, ajudavam-nas a encontrar um emprego.

"QUEREMOS UMA VIDA COMPLETA!"
Uma apresentação de "Casa de Mulher" de Zofia Nałkowska no Teatro Polaco, em Varsóvia, 1930. A foto inclui o escritor e as atrizes. Sentado a partir da esquerda: Maria Przybyłko-Potocka, Zofia Nałkowska, Stanisława Słubicka, Wanda Barszczewska e Honorata Leszczyńska. Da esquerda: Karolina Lubieńska, Wanda Siemaszkowa, Mila Kamińska e Janina Muncklingrowa. Foto: Narodowe Archiwum Cyfrowe / www.audiovis.nac.gov.pl
A geração feminista mais jovem, que, parafraseando Zofia Nałkowska, já sabia que elas "têm o direito de ter direitos", era algo a mais do que ter direito à voto ou acesso à educação, mas sobre mudar costumes rígidos e hipócritas. Izabela Moszczeńska escreveu em seu artigo de 1904, Cnota Kobieca (Virtudes das Mulheres):

"Conceder às mulheres o direito de estabelecer e romper relacionamentos românticos, sem limites, sem escrúpulos, sem remorsos, está muito além das fronteiras da visão de mundo atual (...) Este tipo de moral degrada as mulheres e as reduz ao papel de vaca bem comprada e bem protegida".

Moszczeńska alertava para tópicos de uma moralidade considerada audaciosa naquele período, e que por isso mesmo, ultrapassou não apenas a opinião pública, mas também dividiu a comunidade feminista. O discurso de Nałkowska, Uwagi o Etycznych Zadaniach Ruchu Kobiecego (Observações sobre as tarefas éticas do movimento das mulheres), no Encontro da Mulher Polaca (Zjazd Kobiet Polskich) em 1907, terminou em grande escândalo. Houve tentativas de interromper a leitura. Solidárias a Moszczeńska, Konopnicka e Dulębianka deixaram a sala indignadas com tantas interrupções. O discurso de Nałkowska incluiu o seguinte:

"Nosso objetivo é reavaliar completamente a ética governante de hoje. A divisão das mulheres seja moral ou imoral, baseia-se no ponto de vista masculino. Nossa libertação deve nos dar um novo critério de classificação, um novo censo ético. Nem nossas qualidades eróticas, nem nossa atitude em relação aos homens devem ditar nossa moralidade".

A escritora terminou seu discurso com uma frase marcante: "Queremos uma vida completa!".

Ela escreveu em seu diário:

"Um homem pode conhecer a plenitude da vida, porque ele vive como homem e como ser humano. Mas para uma mulher, há apenas uma fração de vida - ela deve escolher entre ser uma mulher ou um ser humano".

É possível que conclusões semelhantes tenham influenciado a sua rival, Maria Komornicka, jovem poeta a mudar suas posições e adotar um pseudônimo e modo de ser.

Em 1907, Komornicka queimou publicamente sua roupa, vestiu roupas masculinas e começou a se apresentar como Piotr Odmieniec Włast. Sua família pensou que ela tinha ficado louca e a colocou em uma instituição psiquiátrica.

TORNANDO-SE CIDADÃS


Aleksandra Piłsudska em 1930 - Foto: POLONA / www.polona.pl

Em 1903, Paulina Kuczalska-Reinschmit escreveu:

"Ao longo da história, em todos os períodos em que as sociedades floresceram ou tiveram graves turbulências as mulheres foram levadas à luz. Um escravo passivo que sempre participa de revoltas momentâneas, uma vez que a era pacífica retorna, é novamente deixado nas sombras da casa - sem ter sua recompensa pelas realizações conjuntas".

Quando a Polônia estava à beira da independência do jugo estrangeiro, tornar a legislação igual para ambos os sexos não era uma questão proeminente. O primeiro rascunho da Constituição, em 1917, não considerou o tema em absoluto.

O marechal Józef Piłsudski, era um daqueles que não estava convencido e pensava que as mulheres eram conservadoras por natureza e suscetíveis à manipulação.

No entanto, em 28 de novembro de 1918, um grupo de sufragistas se reuniu fora de sua casa no bairro de Mokotów, em Varsóvia e se manifestaram pela igualdade dos sexos numa nova Polônia liberta. Os guarda-chuvas que elas costumavam bater nas janelas logo se tornaram símbolo do movimento.

O marechal as manteve esperando por várias horas na chuva e congelando no frio, lá fora, mas finalmente se deu por vencido.

Uma das razões para sua capitulação foi certamente Aleksandra Piłsudska, sua esposa na época, que também era ativista feminista. A Constituição foi, portanto, alterada para se tornar os sexos iguais em direitos e deveres e incluiu o direito das mulheres de votar no país recém-reformado.

Jozef Piłsudski é recebido em uma estação de trem em Varsóvia após o seu regresso da prisão em Magdeburg, 11 de novembro de 1918 - Foto: Piotr Mecik / Forum
Depois que a declaração foi escrita no papel sobre a igualdade de gênero, muitas ativistas passaram a um ativismo social mais amplo: queriam agora elevar os padrões da educação, melhorar as condições das mães e fazer campanhas contra o alcoolismo.

Mas outros viram isso como um movimento apenas simbólico e não real, por isso não aceitaram que a luta acabasse apenas nos artigos da Constituição.

As mulheres finalmente ganharam direitos eleitorais naquele 28 de novembro de 1918 pelo decreto do Chefe de Estado Provisório Józef Piłsudski.

O decreto em relação à lei eleitoral estipulava que para o Sejm (Congresso Legislativo) "todas as cidadãs são eleitoras nas eleições para o Sejm" (artigo 1) e "Nas eleições para o Sejm todos o são, os cidadãos do país com direito eleitoral ativo" (artigo 7 ). Essas disposições foram mantidas pela Constituição de março.

As primeiras mulheres polacas a tomar assento no parlamento polaco foram Gabriela Balicka, Jadwiga Dziubińska, Irena Kosmowska, Maria Moczydłowska, Zofia Moraczewska, Anna Piasecka, Zofia Sokolnicka e Franciszka Wilczkowiak.

* Por sua vez, a mulher brasileira só viria a conquistar seu direito ao voto mais de uma década depois. No código eleitoral Provisório (Decreto 21076), de 24 de fevereiro de 1932, durante o governo de Getúlio Vargas, o voto feminino no Brasil foi assegurado, após intensa campanha nacional pelo direito das mulheres ao voto.

TEMAS DE "GÊNERO" NA SEGUNDA REPÚBLICA POLACA


Maria Pawlikowska-Jasnorzewska em seu apartamento em Cracóvia.
Foto: Narodowe Archiwum Cyfrowe / www.audiovis.nac.gov.pl
Apesar de ser uma letra apenas temática na Polônia de hoje, a letra ''G" não foi usada comumente durante o período entreguerras.

Muitos dos debates ideológicos de então, tinham muitas semelhanças com as disputas atuais. Um dos temas mais interessantes era a lei anti-aborto que recomendava punição de até cinco anos de prisão. Escrevendo na década de 1930, Justyna Budzińska-Tylicka comentou:

"Quando uma mulher não quer, ou não pode dar à luz; Quando ela se encolhe com o pensamento de dar à luz uma criança indesejável, ela é forçada a dar à luz, contra a vontade dela, uma criança cuja chegada poderia trazer um destino trágico para a mãe - então essa mulher é submetida ao antigo, a uma legislação masculina não realista e rigorosa em nosso código penal que a obriga a dar à luz, que exige a maternidade forçada. Um código que grita com uma voz desumana: mulher, você deve dar à luz"!

Budzińska-Tylicka, cujo trabalho ligou práticas médicas com atividades feministas e socialistas, contribuiu para a fundação da primeira Clínica de Maternidade Consciente da Polônia, voltada para mulheres de classes sociais mais baixas.

Havia uma inscrição acima da porta da frente da clinica com os dizeres: "Não interrompemos a gravidez aqui - nós a impedimos". Mas os jornais em todo seu espectro político desconsideraram suas intenções e, em vez disso, escreveram extensivamente sobre como esses tipos de clínicas se inspiravam em elementos estrangeiros e por isso acabariam por levar o país ao despovoamento.

Além de sua preocupação com as mulheres, a campanha para a paternidade consciente também foi motivada pelas teorias da eugenia que eram populares na época. Na literatura, o poema Prawo Nieurodzonych (Direitos dos não-nascidos) de Maria Pawlikowska-Jasnorzewska era resumido assim:

(...) Não queremos subterrâneos sombrios, As maldições de um pai, um machado levantado, canções de ninar feitas de matadouros e gritos! 


Irena Krzywicka em seu uniforme masculino, 1914. Foto: POLONA / www.polona.pl
Dois dos outros fundadores da Clínica Consciente foram Tadeusz Boy-Żeleński e sua companheira de longa data, Irena Krzywicka.

Considerada uma das pessoas mais escandalosas do período entreguerras, Krzywicka proclamou que "o crepúsculo da civilização masculina" estava próximo e lutou por questões consideradas tabu naquela época, como direitos para minorias sexuais e o poliamor.

Ela lutou contra o aborto forçado nos subterrâneos e exigiu garantias de que as mulheres recebessem três dias de folga durante a menstruação.

Além disso, ela teve uma relação aberta com seu marido, Jerzy Krzywicki, e não escondeu ter um caso com Tadeusz Boy-Żeleński. Fato que apenas confirmava a opinião das pessoas que a declaravam como a corrupta da moralidade.

Sufragistas britânicas em 1910. Foto: East News
Em última análise, as mulheres polacas apresentadas aqui são apenas a ponta do iceberg entre centenas de mulheres esquecidas que desafiaram os estereótipos.

Todas elas são válidas de serem lembradas no dia Internacional da Mulher, isto porque, o passado não é apenas "história", mas também é "a história delas".

Fonte: Culture.pl
Texto: Patryk Zakrzewski
Tradução e adaptação: Ulisses Iarochinski

terça-feira, 6 de março de 2018

Alunos da Escola Ruy Barbosa de Varsóvia no Brasil


Vinte estudantes polacos de ensino médio da Escola Liceu Ruy Barbosa de Varsóvia - Liceum Ogólnokształcące Imienia Ruy Barbosy - (Polônia) acabam de chegar ao Brasil para fazer intercâmbio com o colégio brasileiro Liceu Jardim, localizado em Santo André (SP) até o dia 17 de março. Eles estão acompanhados pelo diretor da escola, Piotr Cacko, e da professora de língua portuguesa, Grażyna Misiorowska.

Os polacos vêm ao Brasil em um ano muito importante para eles: 2018 marca o 110º aniversário da escola polaca e o 95º ano de morte do patrono que dá nome à instituição, o diplomata e escritor brasileiro Rui Barbosa.

No dia 08 de março, o vice-cônsul polaco fará visita ao Colégio Liceu Jardim, oficializando assim a parceria entre as escolas.

Hospedados por alunos do Liceu Jardim em suas casas, os visitantes realizarão atividades culturais e educacionais diversas elaboradas pelas famílias anfitriãs, e algumas programadas pela escola, como uma visita ao Museu da Imigração; aula especial de “Capoeira”; aula especial de “Samba”; visita ao SESC Santo André; e visita à Universidade Federal do ABC e Universidade de São Paulo - USP.

Os polacos farão ainda uma apresentação para os alunos do Liceu Jardim no auditório da escola, falando dos aspectos geográficos, educacionais e culturais de seu país, promovendo uma rica troca de informações e experiências entre os estudantes.

O projeto, inédito no Brasil, é fruto das visitas do diretor geral do colégio, Prof. Daniel Contro, a países europeus e está em sua terceira edição. Seu início foi em abril de 2016, quando o Liceu Jardim foi escolhido pelas autoridades finlandesas para participar do “Brazil – Finland Exchange”, comprovando seu prestígio internacional conquistado devido ao alto padrão de ensino e posição de destaque nos últimos rankings do ENEM (40º lugar no país entre as escolas privadas com mais de 80 alunos participantes).

Liceum Ogólnokształcące Imienia Ruy Barbosy



A escola está equipada com modernos equipamentos de informática, instalados em muitos laboratórios. Como os laboratórios químico, biológico, físico, linguístico e ginásio.

Cada aluno tem seu próprio armário no vestiário. A escola mantém contato regular com a Embaixada do Brasil e diversas universidades e fundações.

Organizam viagens de aperfeiçoamento para a Alemanha, Portugal e Brasil. Nos meses de setembro e outubro organizam viagens de integração de classes ao Rio Vístula. Atividades adicionais são: voleibol, basquete, círculo de naturalistas do programa GLOBE, grupo de apoio de pessoas com mobilidade reduzida, projetos e pesquisa permanente do meio ambiente dentro do Programa Internacional de Educação e Pesquisa GLOBE.

Os jovens participam do tema Olimpíadas e várias competições. A escola implementa programas educacionais e preventivos relacionados à prevenção de dependência (alcoolismo, abuso de drogas) e a segurança do aluno na escola (cooperação com a polícia).

A construção da escola é adaptada à educação dos jovens com deficiência. Graças a uma equipe pedagógica e psicológica experiente, são organizadas diversas oficinas para desenvolver habilidades psicológicas e pedagógicas.

Em 3 de dezembro de cada ano, organizamos o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência.

A missão da escola é: "Formação de uma pessoa dedicada e sensível às necessidades dos outros".

Em 1908, foi criada a escola particular de Helena Rzeszotarska. Era uma escola secundária de quatro anos letivos (progimnazjum) na Ulica (rua) Nowostalowa, nrº 6.

Em 1909, Helena Rzeszotarska abriu turmas de primeiro grau, com pré-primário, primário e ginásio. Desta forma, todo o período de ensino na escola passou a ser de 7 anos.

Em 1915, a escola mudou sua sede para um edifício na ulica Konopacka, nrº 4.

Ao longo desta década, a primeira guerra mundial causa dificuldades financeiras e força sua proprietária e todos que estavam comprometidos com o destino da escola, a criar um Círculo Escolar.

A ideia do Círculo era fornecer assistência financeira, bem como trabalhar para o desenvolvimento cultural das crianças e o esclarecimento de seus pais.

Até 1919, ao lado da escola primária e ginasial, Helena Rzeszotarska administra uma Escola de Formação Profissional com cursos de dois anos nas áreas de alfaiataria e lingerie.

Em 1923, Helena Rzeszotarska abre o quinto ano do ensino médio. Nos anos seguintes, é criado o oitavo ano. Na Ulica Konopacka, nrº 4 funciona um ginásio completo de oito anos.


O prédio da escola já não comporta o crescimento da escola. É necessário construir um novo edifício. Uma Associação dos Amigos da Escola é criada para este fim.

Em 1929, a associação comprou um terreno na Ulica Strzelecka. Enquanto não se arruma recursos suficientes para a construção, o terreno serve como campo de atividades.

A reforma escolar do ministro Jędrzejewicz altera o caráter da escola Rzeszotarska. Escola feminina privada de Helena Rzeszotarska consistiu em: uma escola geral de seis anos letivos, um segundo grau de quatro anos letivos e uma escola secundária de duas classes. Na Polônia as escolas são reconhecidas também por números do Ministério da Educação. O Liceu Ruy Barbosa tem o número 130.

Após o final da Segunda Guerra Mundial, passou a funcionar em três níveis de ensino. Como a escola privada feminina, escola fundamental e ensino médio.

As autoridades estatais, em 1949, decidiram estatizar a escola. Nesta lei ela passou a se chamar  Escola Primária e Secundária Nº 17.

Helena Rzeszotarska deixou de ser a proprietária da escola que criou. Em 1958, as autoridades decidiram premiar Helena Rzeszotarska com a Cruz do Oficial da Ordem da Polonia Restituta - a mais alta condecoração da nação polaca.

Um ano depois, em junho de 1959, a escola foi transferida para um novo prédio localizado na Ulica (rua) Burdzinskiego e manteve a condição de Escola de Ensino Médio. A nova diretora empossado foi Alodia Łoniewska.
No centro, a diretora Alodia Łoniewska
Em 1º de setembro de 1959, a escola passou a ser chamada de Ruy Barbosa, advogado brasileiro, lutador das liberdades democráticas. Nesta ocasião, no novo prédio da escola, ocorreu a cerimônia de nomeação do patrono brasileiro. Com a participação do Ministro da Educação e do Embaixador do Brasil, foi inaugurada uma placa comemorativa. No mesmo ano, a escola estabeleceu contatos com uma escola brasileira no Rio de Janeiro, a "Polônia".


Em 6 de maio de 1967, a Escola Secundária recebeu na presença do Primeiro Secretário da Embaixada do Brasil e do representante do Ministério da Educação um painel financiado pela Comissão dos Pais e pelos trabalhadores locais do bairro de Praga, em Varsóvia.

Dois anos depois, no dia 5 de novembro, a escola se tornou um lugar de celebração extraordinária - as celebrações do 100º aniversário da emigração polaca para Curitiba.

Em 1976, Helena Rzeszotarska morreu depois de ter vivido 97 anos.

Em 1985, aconteceu dois eventos importantes para a escola. O primeiro foi a despedida da diretora de Alodia Łoniewska, diretora sem interrupção desde 1959. Andrzej Dubielak tornou-se o novo diretor a partir de setembro daquele ano. A função de vice-diretor é confiada a Irena Chmiel. O segundo evento importante foi a inauguração do monumento do patrono da escola com a participação do embaixador do Brasil.

Em fevereiro, os alunos da escola foram a Alemanha Ocidental com o convite das autoridades da cidade e da administração da escola em Hexter. É a primeira vez que a escola promoveu uma excursão ao exterior.

11 de março marca a celebração dos oitenta anos de existência escolar. Nesta ocasião, ocorre uma reunião de formados e funcionários da escola de Helena Rzeszotarska, da Escola secundária nº 17 e do Liceu.

Em 1992, o diretor Andrzej Dubielak assumiu o  esforço de reconstruir a escola. Um segundo andar é acrescentado, e todo o interior foi modernizado e adaptado para jovens com deficiência. O Liceu se tornava uma escola de integração. Atualmente a Escola está localizada na rua Wenantego Burdzińskiego, nrº 4, código postal 03-480, em Warsóvia. Telefone: +48 22 619 23 71

O consenso em nome do brasileiro Ruy Barbosa para nome e patrono da escola foi por ele ter defendido vários fóruns internacionais a Indepedência da Polônia.

Durante 127 anos, a República das Duas Nações Polônia Lituânia esteve desaparecida do mapa das nações do mundo, invadida que pelos reinos absolutistas da Rússia, Áustria e Prússia (Alemanha).

Em uma de suas defesas da Polônia Independente, Ruy Barbosa se manifestou na conferência de Petrópolis, em 17 de março de 1917 dizendo: “Os polacos eram um povo que havia conquistado as sympathias do mundo pelas injustiças políticas que, ha mais de um século, os governos autocratas da Russia, da Allemanha e da Austria faziam cair sobre a sua cabeça”.


Helena Rzeszotarska

A fundadora Helena Rzeszotarska

Ela nasceu 4 de outubro de 1879, em São Petersburgo, Rússia, filha do magnata polaco Alfons Rzeszotarski e de Maria Michalina Iwanowska. Alfons é considerado um herói da pátria polaca e por isso tem seu próprio brasão.

A sua família era de Klwatka Szlachecka, vila da atual cidade de Radom, no município Jedlińsk, na voivodia da Mazóvia.

Como toda família magnata polaca possuía um brasão. O dela era do clã Janosza. A freira franciscana professora Helena faleceu em Varsóvia,  em 11 de agosto de 1976.


Em 1904, ela chegou a Varsóvia, trabalhando inicialmente em uma das escolas de Powiśl e depois se instalou no Praga Norte, bairro com quem sua vida estaria relacionada para sempre.

Ela conseguiu um emprego em uma escola de duas séries, a S. Gostomska, que em 1908 ela comprou e transformou em um ginásio feminino de 4 séries.

Foi após a revolução de 1905, pelo que o tzar russo (ocupante da Polônia) concordou com a existência de escolas polacas privadas. Foi uma concessão significativa, porque praticamente significou o consentimento para um avanço jurídico no sistema escolar que o uniformizou.

A própria proprietária trabalhou como professora na escola, ensinando os idiomas polaco, francês e também naturalidades, matemática e religião. Ela vivia com o salários das aulas e não tinha outros rendimentos da escola por ser proprietária.  As taxas de matrícula eram fixadas em preços bastante baixo para que as meninas de famílias pobres que estavam predominavam no bairro de Praga pudessem estudar lá.

Na Rússia tczarista não havia obrigatoriedade de ensino, assim cabia aos pais a decisão de educar as crianças que, afinal de contas, consideravam sua situação material.

Na Polônia independente, Rzeszotarska adaptou a escola aos regulamentos gerais, transformando-os primeiro em um ginásio de 8 séries (que terminava com um exame final) e após a reforma, do ministro da educação Jędrzejewicz na década de 1930 - virou o complexo escolar nº 130: composta da escola primária feminina de seis sérires, escola primária feminina privada de quatro séries e dois anos de escola secundária privada feminina.

Naquela época, a dona da escola se tornou uma irmã agregada da Ordem dos Missionários Franciscanos de Maria. Durante a ocupação nazista, a escola existiu como uma instituição preparatória para escolas vocacionais. A própria Rzeszotarska era membro da Armia Krajowej - Exército do Povo, no momento do Levante de Varsóvia de 1944, no bairro varsoviano de Praga, onde gerenciou o posto sanitário na Ulica (rua) Brest.

Depois que os alemães foram expulsos do bairro de Praga, a escola retomou sua atividade em outubro de 1944 como Escola Feminina Privada, Escola Primária e Escola Secundária. A fundadora da escola foi aposenta em 1953.

Ela morreu em Varsóvia eestá enterrada no Cemitério Powązki.

Túmulo da Família Rzeszotarski na quadra 28, linha 4, nrº 16,17


Textos da história da escola e sua fundadora com tradução e redação em português de Ulisses Iarochinski
e mais, informações do site ABC do ABC de Dione Nègre

quinta-feira, 1 de março de 2018

Nacionalismo põe em risco a Polônia na UE

O Jornal de New York Times publicou e o Estado de São Paulo - Estadão - traduziu e republicou no Brasil.
O texto é dos jornalistas Steven Erlanger e Marc Santora, The New York Times.

Foto: Maciek Nabrdalik - The New York Times

A União Europeia acusa a Polônia, que recentemente criou uma lei para punir quem supor que o país foi responsável pelos campos de concentração e extermínio alemão nazista em território polaco, de representar um grave risco aos valores democráticos defendidos pelo bloco.

O jovem prefeito de Sniadowo, pequena cidade no leste da Polônia, está extremamente orgulhoso do novo caminhão dos bombeiros de fabricação italiana, todo reluzente, que está ao lado daquele da era soviética. Ali perto, o diretor da escola elementar exibe novas salas de aula e um novo ginásio.


Tudo isso - mais as estradas, os painéis solares e a reforma dos sistemas de tratamento de água e esgotos, bem como os recursos para os produtores de leite - foi pago em grande parte pela União Europeia (UE), que financia cerca de 60% dos investimentos públicos polacos. Nos últimos meses, porém, o país está relutando diante do que considera ingerência política da União.

A UE acusou a Polônia de representar um grave risco para os valores democráticos, alegando que o país está enfraquecendo o princípio da legalidade ao encher os tribunais de legalistas. Os líderes ocidentais também criticaram o partido governista polaco por afastar todas as vozes que criticam a mídia estatal e restringir a liberdade de expressão com sua lei mais recente, que criminaliza toda sugestão de que a nação polaca teve parte da responsabilidade nas mortes de cidadãos polacos de origem judaica.

Uma lei polaca que limita o discurso sobre o assunto foi condenada.

A Polônia, uma nação grande, rica, militarmente poderosa e importante em termos geoestratégicos, definirá se o persistente esforço da União Europeia para absorver o antigo bloco soviético terá sucesso ou fracassará. O crescente conflito entre os países-membros originais e os integrantes mais novos da Europa Central e do Leste constitui a principal ameaça à coesão e à sobrevivência da UE.

"Aderir à Europa, sim, ma, que Europa?", perguntou Michał Baranowski, diretor do escritório de Varsóvia do Fundo Marshall para a Alemanha, observando que o apoio da Polônia ao ingresso na União Europeia é grande, mas que não existe uma profunda ligação com o Continente.

O governo polaco, que é dominado pelo Partido Direito e Justiça, por sua vez dominado pelo líder do partido, Jarosław Kaczyński, parece ter sua própria resposta à pergunta. Ele é favorável ao apoio econômico da União Europeia, mas teme que a parte que cabe à Polônia seja ameaçada caso as nações-membros usem o orçamento para pressioná-la a adotar certas reformas. O país deveria receber cerca de 9% do orçamento da UE de 2014 a 2020, aproximadamente 85 bilhões de euros, ou US$ 105 bilhões.

No entanto, as vagas ameaças de uma suspensão da ajuda monetária dificilmente levarão o governo de Kaczyński a mudar. Ele respondeu às críticas acusando Bruxelas de ditar as condições para o ingresso de novos membros.

O Partido Direito e Justiça é o maior da Polônia. Ele cresceu de quase 38% dos votos nas eleições de 2015, para cerca de 47% nas recentes pesquisas de opinião. Em grande parte, este sucesso é atribuído ao seu investimento no campo, mais pobre, e a principal parcela dos recursos para este investimento é atribuída ao apoio à União Europeia e ao acesso aos seus mercados e empregos.

Mais do que pelo dinheiro, o partido prospera graças à sua política cultural e de identidade. O partido contrapôs a Polônia católica e conservadora e seus valores da família a uma Europa Ocidental ateia e de pensamento livre.

O município de Sniadowo, um grupo de aldeias com cerca de 5.500 habitantes, reflete este apoio. Embora a população anterior à Segunda Guerra Mundial fosse constituída por 40% de polacos de origem judaica, hoje, ela é profundamente católica. As pessoas vão à igreja várias vezes por semana para ouvir apaixonados sermões políticos, e as mídias estatal e da igreja dão uma versão partidária dos acontecimentos. Em 2015, cerca de 70% dos eleitores da região apoiaram o Direito e Justiça - PiS.

"A Polônia é um país tradicionalmente católico que respeita as outras religiões", afirmou Rafał Pstragowski, 37, prefeito sem partido de Sniadowo."A população teme que o secularismo ocidental seja uma ameaça para nossa cultura tradicional", acrescentou. "Se a situação na Europa continuar caminhando na mesma direção, as pessoas acham que a crise de migração e os ataques terroristas poderão começar aqui também".

Em geral, a prioridade de Kaczyński é interna, "e para controlar o Judiciário, ele está disposto a pagar qualquer preço", disse Piotr Buras, diretor do escritório de Varsóvia do Conselho Europeu para as Relações Internacionais. "Lentamente, ele vai utilizando meios em geral democráticos, e está acumulando tanto poder que a posição do partido é inatacável".

A União Europeia advertiu oficialmente a Polônia, acusando Varsóvia de correr o risco de "provocar um rompimento grave" de seu compromisso de respeitar os valores da liberal democracia e do princípio da legitimidade. Alguns acreditam que Varsóvia e Bruxelas chegarão a um consenso. Mas isso é algo difícil de prever.

Tal fato preocupa Agnieszka Walczuk, 45, diretora da escola de ensino fundamental de Sniadowo, que lembra a escassez de suas escolhas na época do comunismo, e de seus temores pelo futuro da filha de 16 anos e do filho de 12.
"Tenho medo de que este conflito com Bruxelas possa limitar o direito de meus filhos de trabalhar e de viajar pela Europa", afirmou.
"Sei que eles não se dão conta de que não têm nada, de que deveriam poder opinar, reivindicar os seus direitos, e isso me preocupa".

Wiesława Baranowska em sala de aula recém-construída da escola primária de Sniadowo e financiada pela União Europeia. Foto: Maciek Nabrdalik - The New York Times

Fontes: NYT, Estadão
Texto: Steven Erlanger e Marc Santora
Tradução: Redação do Estadão
Adaptação de texto: Ulisses Iarochinski

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Juiz decreta detenção temporária da brasileira suspeita de matar o filho, na Polônia

Foto: Łukasz Antczak
"O juiz regional confirmou nosso pedido de prisão temporária da mulher. A prisão será cumprida na ala cirúrgica do Centro de Detenção da cidade de Bydgoszcz. A suspeito será transportada para lá quando os médicos de Przemyśl permitirem. Provavelmente acontecerá nos próximos dias. Tudo depende da saúde da mulher", disse Marta Pętkowska, porta-voz da Promotoria do Ministério Público Regional de Przemyśl.

O Centro de Deteção para Investigação de Bydgoszcz, está localizado a mais de mais de 630 km da casa da brasileira. Segundo as leis polacas, todo o suspeito é detido por um período inicial de 90 dias (três meses) para que a promotoria e a polícia possam investigar e apresentar ao juiz a acusação. O local Areszt Śledczy (Centro de Detenção) ainda não é a penitenciária (tal como conhecemos no Brasil), pois ali não ficam os já condenados, apenas os acusados sob investigação.

Se findo os três meses de detenção e a promotoria ainda não houver terminado as investigações e apresentado a acusação ao juiz é renovado o período de detenção para mais três meses.

Para o tipo de crime cometido, pelo qual está sob suspeita (em que pese a confissão), a pena é prisão perpétua a ser cumprida numa penitenciária do país.

A promotora e o juiz não informaram o porquê da detenção ser cumprida tão longe de Przemyśl.


Aspecto exterior do Centro de Detenção para Investigação
Andrea Cristina P., brasileira, enfrenta a punição da prisão perpétua. Durante a sessão desta terça-feira da promotoria realizada no próprio hospital, a mulher confessou o assassinato de seu filho, Wiktor, de 2 anos.

"A mulher deu suas explicações, mas, por causa das investigação, não revelamos seu conteúdo. A suspeita também apresentou uma moção para nomear um advogado durante o julgamento", acrescentou a promotora Pętkowska.

Andrea Cristina P. ouviu a acusação do assassinato de seu filho ainda, na segunda-feira. O drama ocorreu no último sábado em Śliwnica, perto de Przemyśl.

A mãe de 35 anos respondeu que desferiu no filho Wiktor oito golpes com uma faca no peito da criança e depois tentou se suicidar. Em seguida, incendiou o quarto onde estavam. A vida do menino não pôde ser salva. Wiktor sangrou até a morte e Andrea Cristina P. foi internada em estado grave. No momento, a vida da mulher não corre mais perigo de morte.

O Ministério Público não revelou por que a mulher matou seu filho. Sabe-se que seu marido, um polaco, não estava em casa no momento do incidente. Estava em exercícios das Forças de Defesa Territorial, nas quais ele é soldado.

O Ministério Público disse ainda que recentemente houve mal-entendidos na família. Andrea Cristina P. vive na Polônia, já há 5 anos. Ela trabalhava em uma conhecida empresa de Przemyśl que produz calçados de marca. Foi a pedido desta empresa que a mulher de 35 anos, mudou-se do Brasil para Przemyśl. Anteriormente, ela trabalhava na sede brasileira da empresa.

Fonte: rzeszow-news.pl
Tradução e redação: Ulisses Iarochinski (jornalista profissional MT-PR 1129)

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Brasileira suspeita de matar o filho na Polônia

Foto: Łukasz Solski
Uma brasileira de 35 anos de idade é suspeita de assassinar o próprio filho de dois anos de idade. A criança teve várias feridas no peito. Foram oito facadas desferidas.

Mãe e filho foram levados ao hospital, após o incêndio que consumiu parte da casa de ambos, na vila de Śliwnica, município de Krasiczyn, nos arredores da cidade de Przemyśl, região Podkarpacka, no Sudeste da Polônia.



A brasileira Andrea Cristina P. vivia com o marido e o filho numa vila pequena de beira de estrada, há 13 km da cidade de Przemyśl, que fica bem próximo da fronteira com a Ucrânia.

O fogo teria sido provocado pela mulher.
De acordo com a porta-voz do Ministério Público da cidade de Przemyśl, Marta Pętkowska, os ferimentos na criança demonstram que foram causados (com alta probabilidade) pela própria mãe do menino.

A brasileira, Andrea Cristina P. (a imprensa polaca não divulga o sobrenome de suspeitos) segundo vizinhos, vive há alguns anos na Polônia. A casa onde estava é de propriedade dos pais do marido.



Andrea Cristina se encontra no hospital. Sua condição foi descrita como bastante grave, mas estável. A mulher tem cortes e outros ferimentos, que teriam sido causados por ela mesma, numa tentativa de cometer suicídio.

A promotora do MP, Pętkowska acrescentou que a brasileira foi formalmente detida. A promotora aguardava, no domingo, consentimento dos médicos para ouvir a suspeita. Interrogatório que foi feito na tarde de segunda-feira. Outras testemunhas estão sendo interrogadas. A autópsia do corpo do menino estava prevista para ontem, segunda-feira.

Foto: Laskar Media
O incêndio na residência ocorreu na noite de sábado (17/Fev) ao redor das 18h40.
Como o porta-voz do Serviço do Corpo de Bombeiros Estatal da região Podkarpacka informou na segunda-feira, Brigadeiro Marcin Betleja, um bombeiro que morava no bairro foi o primeiro a atender o sinistro.

"Em dado momento, a luz se apagou na casa. O homem que colocava os azulejos no piso térreo da casa foi verificar o que estava acontecendo. Ele notou que fumaça estava vindo dos quartos na parte superior da casa. Lá estava a dona da casa e uma criança de dois anos de idade. A porta superior estava trancada. Então, o homem a forçou, derrubou e entrou", contou a promotora Marta Pętkowska.

 Os quartos já estavam muito esfumaçados, mas o homem conseguiu levar a criança para fora.

"Ele imediatamente entrou no prédio e tirou um menino inconsciente de dois anos de idade. Até a chegada da ambulância, o homem tentou a ressuscitação da criança. Os bombeiros chegaram no lugar e tiraram a mãe inconsciente para fora da casa",  disse Betleja.

Durante a ressuscitação da criança, o sangue apareceu na boca e nos cortes de feridas à faca no peito. Havia também cortes e feridas também no corpo da mãe, na caixa toráxica, no pescoço e nas mãos.

A promotora Pętkowska acrescentou que durante o incêndio o pai não estava em casa, pois estaria participando de exercícios das Forças de Defesa Territorial, onde é soldado.

O bombeiro, que foi o primeiro a realizar a operação de resgate, também chegou ao hospital com uma ferida na perna.

Bethleja informou que o fogo que atingiu um quarto no primeiro andar da casa foi rapidamente extinto. 25 bombeiros participaram da operação.  Acorreram ao sinistro, bombeiros das localidades de Krasiczyn, Przemyśl e Bircza. As causas do fogo estão sendo esclarecidas.

Os vizinhos estão em estado de choque.
Poucas horas antes, eles viram a mãe andando com seu filho. "Ele era um menino tão lindo e feliz", contam.

Os vizinhos não sabem dizer o que aconteceu. Eles conhecem pouco a mulher. O idioma é a barreira. Dizem que a brasileira conhece apenas uma dúzia de frases em polaco. "Ela conversa em inglês com o marido. Eles se conheceram no trabalho. Quando o filho Wiktor veio ao mundo, eles se estabeleceram em nossa vila e se casaram", dizem os habitantes.

Segundo os vizinhos, eles pareciam uma família normal e feliz. Quando a tragédia ocorreu, o marido da mulher deveria estar em exercícios das Forças de Defesa Territorial. Ele chegou enquanto acontecia a operação de resgate dos bombeiros. "Salvem meu filho!", gritou o pai desesperadamente para os médicos.

Numa coletiva de imprensa, nesta segunda-feira, a promotora Beata Starzecka-Skrzypiec, disse, em Przemyśl, que as investigações apontam que Andrea Cristina desferiu "oito facadas no menino".

"A versão mais provável é que esses impactos foram dados de uma posição sentada", disse Beata Starzecka - Skrzypiec, promotora adjunta em Przemyśl. "Provavelmente, a mãe segurou a criança no colo para dar as facadas".


Coletiva de imprensa no Ministério Público - Foto: Norbet Ziętal
Ainda na tarde de segunda-feira, o Ministério Público de Przemyśl, ouviu a brasileira Andrea Cristina P. e logo em seguida solicitou ao Tribunal Regional, a detenção da mulher, por 3 meses, que será cumprida imediatamente. O porta-voz do MP informou que durante o interrogatório, a suspeita não respondeu à acusação de homicídio. "Ela não confessou nem negou o crime".

O pai do menino morto também foi ouvido pela promotora. Segundo ele, mal-entendidos na família, vinham ocorrendo desde janeiro deste ano. "Eram mal-entendidos relacionados aos cuidados na criação do filho, como a alimentação e educação", disse a promotora Beata Starzecka-Skrzypiec, procuradora adjunta do distrito em Przemyśl.

O Ministério Público determinou que as demais instituições fossem notificadas, para continuar as investigações sobre as irregularidades apontadas pelo pai na criação do filho cometidas por Andrea Cristina P. O homicídio, nestes casos,  é punido, na Polônia, com prisão perpétua.

Ainda, de acordo com a porta-voz do Ministério Público do distrito em Przemyśl, Marta Pękowska, a mãe fez extensas explicações, cujo conteúdo, devido ao bem da investigação, não pode ser divulgado.


Fontes: Onet Rzeszów, TV24, Mowiny24, Polskie Radio Rzeszów, Echodnia e PAP
Tradução e redação: Ulisses Iarochinski (jornalista profissional MT-PR 1129)

sábado, 17 de fevereiro de 2018

A Balada de Janek Wiśniewski

Cena do filme "O homem de ferro" de Andrzej Wajda
Janek Wiśniewski é um nome fictício dado a uma pessoa real no poema polaco "Balada de Janek Wiśniewski".

O nome inventado por Krzysztof Dowgiałło serviu para simbolizar o trabalhador de dezoito anos assassinado na cidade de Gdańsk pelo exército polaco no dia 17 de dezembro de 1970, durante as revoltas dos trabalhadores contra o regime soviético.

A imagem de um jovem anônimo levado nos ombros através de cordões policiais e tanques inspirou  Dowgiałło a escrever a poesia.

Como o poeta não conhecia o verdadeiro nome daquele jovem anômico, decidiu dar-lhe um nome muito comum na Polônia. Janek, ou Janku são diminutivos carinhosos de João. E Wiśniewski é um dos sobrenomes bastante comuns no país.

Mais tarde se descubriu que Janek era na verdade Zbigniew Godlewski, jovem trabalhador que vivia na cidade vizinha de Elbląg.

Zbigniew Eugeniusz Godlewski nasceu em 3 de agosto de 1952, na cidade de  Zielona Góra (Sudoeste da Polônia), e morreu em 17 de dezembro de 1970, em Gdynia (Norte do país). Ele era um funcionário do Estaleiro Gdynia, antigamente chamado pelo nome de Estaleiro da Comunidade de Paris.


Godlewski foi atingido por um tiro durante os confrontos entre trabalhadores e exército nas imediações da estação de trem da Szybka Koleje Miejskiej Gdynia Stocznia (Trem rápido municipal do Estaleiro de Gdynia).

Seu corpo foi levado pelas ruas ulica Czerwone Kosynierów (hoje rua Morska), através de um túnel sob as plataformas da estação ferroviária Gdynia Główna (Estação Central de Gdynia), pela rua ulica Dworcowa, pela ulica 10 Lutego e pela ulica Świętojańska até a sede do Conselho Nacional da Cidade na ulica Czołgistów (Petroleiros), atual aleja Marszałka Józefa Piłsudskiego.

Em 1970, foram mortas a disparos quarenta e uma pessoas pelo exército nas manifestações dos trabalhadores.

De acordo com fontes oficiais, como resultado da repressão em dezembro de 1970, 41 pessoas foram mortas: 1 em Elbląg, 6 em Gdańsk, 16 em Szczecin e 18 em Gdynia. 1164 pessoas ficaram feridas.

Mas outras fontes dizem que, na verdade, foram algumas centenas de mortos. Como resultado das repressões, cerca de 3.000 pessoas foram presas. Milhares de pessoas foram perseguidas pela polícia por sua participação nos protestos.

Os documentos do IPN - (Sigla para Instituto da Memória Nacional) mostram que os incidentes de dezembro não se limitaram à Costa Báltica. As manifestações e greves também ocorreram em Cracóvia, Wałbrzych e outras cidades.

De acordo com as descobertas dos historiadores, mais de 20 mil pessoas estavam em greve no país naquele momento.

O poema de Krzysztof Dowgiałło e homenagem àquele menino-homem foi popularizado mais tarde na canção "Pieśń o Janku z Gdyni" (Canção de Janek de Gdynia) composta por Mieczysław Cholewa. 

Já a balada tornada famosa em todo o mundo foi interpretada pela atriz Krystyna Janda durante os créditos finais do filme "O homem de Ferro", do cineasta Andrzej Wajda, em 1981.

Janda foi acompanhada por Jacek Kaczmarski e Przemysław Gintrowski e a música passou a ser chamada "Ballada o Janku Wiśniewskim" (A Balada sobre Janek Wiśniewski).

Num outro filme, mais recente, agora, do cineasta Antoni Krauze "Czarny Czwartek" (Quinta-feira negra), de 2011, o cantor de rock Kazik Staszewski foi o intérprete da "Balada sobre Janek Wiśniewski".  O filme de Krauze trata exclusivamente daquela quinta-feira de dezembro de 1970. O diretor Krauze faleceu no último dia 7 de fevereiro de 2018, aos 81 anos de idade.

Um video-clip promovendo o filme de Krause foi feito especialmente para a música.
Kazik Staszewski colocou a música em seu CD "Bar La Curva / Plamy na słońcu", de 2011. Além disso, foi lançado (como uma segunda versão) fazendo parte do CD com a trilha sonora do filme, desta vez, composta por Michał Lorenc.

Depois da queda do socialismo soviético na Polônia, os nomes de Zbigniew Godlewski e de Janek Wiśniewski foram dados a várias ruas do país.

Foto original da marcha com o corpo de Godlewski
* No poema as palavras Grabówka e Chylonia,  referem-se a bairros da cidade de Gdynia.


BALLADA O JANKU WIŚNIEWSKIM
Letra: Krzysztof Dowgiałło
Melodia: Mieczysław Cholewa e Jacek Kaczmarski

Chłopcy z Grabówka, chłopcy z Chyloni
Dzisiaj milicja użyła broni
Dzielnieśmy stali, celnie rzucali
Janek Wiśniewski padł

Na drzwiach ponieśli go Świętojańską
Naprzeciw glinom, naprzeciw tankom
Chłopcy, stoczniowcy, pomścijcie druha
Janek Wiśniewski padł

Huczą petardy, ścielą się gazy
Na robotników sypią się razy
Padają starcy, dzieci, kobiety
Janek Wiśniewski padł

Jeden raniony, drugi zabity
Krew się polała grudniowym świtem
To Partia strzela do robotników
Janek Wiśniewski padł

Krwawy Kociołek to kat Trójmiasta
Przez niego giną dzieci, niewiasty
Poczekaj draniu, my cię dostaniem
Janek Wiśniewski padł

Stoczniowcy Gdyni, stoczniowcy Gdańska
Idźcie do domu, skończona walka
Świat się dowiedział, nic nie powiedział
Janek Wiśniewski padł

Nie płaczcie matki, to nie na darmo
Nad stocznią sztandar z czarną kokardą
Za chleb i wolność, i nową Polskę
Janek Wiśniewski padł



em português....

Meninos de Grabówka, meninos de Chylonia
Hoje, a polícia usou arma
Corajosamente estamos em pé, atiraram com precisão
Janek Wiśniewski caiu

Sobre uma porta o levaram pela Świętojańska
Diante dos policiais, diante dos tanques
Meninos, trabalhadores do estaleiro, vingam o druida
Janek Wiśniewski caiu

Rugem petardos, os gases se espalham
Os trabalhadores, são derrubados de uma só vez
Caem os idosos, crianças e mulheres
Janek Wiśniewski caiu

Um ferido, o segundo morto
O sangue se derrama em dezembro
Este Partido dispara contra os trabalhadores
Janek Wiśniewski caiu

O sanguinário Kociołek é o executor das Três-Cidades
Crianças, mulheres são mortas por ele
Esperai bastardo, vamos pegar você
Janek Wiśniewski caiu

Trabalhadores do estaleiro de Gdynia,
trabalhadores do estaleiro de Gdańsk
Vão para casa, a luta acabou
O mundo ficou sabendo e nada disse
Janek Wiśniewski caiu

Não chore, mãe, nada foi de graça
Sobre o estaleiro, uma bandeira com arco preto
Por pão e liberdade, e uma nova Polônia
Janek Wiśniewski caiu

(Tradução: Ulisses Iarochinski)


Canta Krystyna Janda




Canta Kazik Staszewski em seu video-clip




Kazik
(cantor, poeta e saxofonista) já se apresentou em Curitiba, Campo Largo, Ponta Grossa e outras  cidades do interior do Paraná com seu grupo de então, KULT, no início dos anos 90.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Quem eram os seis milhões

Campo I de Auschwitz

Campo II - Birkenau
Há tempos, principalmente nos meios de comunicação se repetem números errôneos sobre as perdas humanas na Polônia durante a segunda guerra mundial.

Foram 6 milhões, os polacos mortos...e não, seis milhões de judeus como se repete exaustivamente. Os números, a seguir, são baseados em registros alemães e pesquisados por historiadores de vários países (inclusive acadêmicos alemães).

Segundo o historiador polaco Czesław Madejczyk, autor de vários livros sobre a II Guerra Mundial e baseado em arquivos dos próprios alemães nazistas ocupantes foram: 2.700.000 polacos de origem judaica mortos na segunda II Guerra Mundial na Polônia.

Estes 2,7 milhões estão divididos em 500 mil mortos nos guetos da principais cidades, 200 mil em execuções em massa e 2 milhões nos campos de concentração e extermínio alemão.

Madejczyk especifica ainda que destes 2,7 milhões:
1.600.000 foram mortos nos campos de Treblinka, Sobibór, Bełżec, Majdanek e Chełmno.
1.100.000 em Auschwitz e Birkenau.

O Museu de Aschwitz apresenta em um painel de um dos pavilhões do campo I a seguinte estatística: - 1.100.000 polacos de origem judaica,
- 150.000 polacos de origem eslava (entre estes, padres católicos e oficiais do exército polaco),
- 23.000 polacos ciganos,
- 15.000 soldados soviéticos,
- 25.000 prisioneiros de outras etnias.

Destes 1.100.000 de Auscwitz, 100.000 foram mortos pela SS nazista.

Na liberação do campo de Auschwitz, em 27 de janeiro de 1945, foram encontrados ainda vivos:
- 67.012 prisioneiros no campo I (Auschwitz),
- 31.894 no campo II (Birkenau)
- e outros 35.118 em outros sub-campos menores (Monovitz e outros na região da cidade de Oświęcin).

Com os 2.700.000 de polacos de origem judaica (antes da guerra existia uma população de 3.300.000 pessoas polacas de origem judaica - os judeus começaram a chegar a Polônia mil anos antes da II Guerra Mundial) e mais outros 3.300.000 de polacos de origem eslava (coincidência de números com a população polaca de origem judaica) a soma de perdas polacas dá 6 milhões de mortos.
Estes 55% dos mortos eram polacos de origem eslava (católicos romanos, ortodoxos, protestantes e de outras religiões e etnias).

Da população que sobreviveu na Polônia, após o fim da II Guerra Mundial, 530 mil ficaram permanentemente inválidas, sendo que 40.179 delas resultado de experimentos médicos comandados por Józef Mengele, 60 mil ficaram débeis mentais.

Além dos 6 milhões de mortos durante a guerra, outro 1 milhão morreu após, de enfermidades contraídas no nefasto período.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Continuam as reações em Israel a Lei polaca que pune mentira

A revista semanal polaca "Polityka" continua dando cobertura às repercuções, principalmente em Israel, a lei proposta pelo IPN (sigla em polaco para Instituto da Memóra Nacional) sobre quem mentir sobre a verdadeira denominação dos campos de concentração e extermínio alemão nos territórios da Polônia, chamado-os não de alemão, mas de polacos.
Nesta reportagem, a seguir, há um apanhado de declarações dadas a jornais e portais israelenses, por deputados e autoridades de Israel de inclinação direitista e algumas de autoridades outras na França e Estados Unidos.

Até que ponto a Lei é correta e em que medida ela realmente afeta as relações bilaterais entre Polônia e Israel e o que pode fazer o Tribunal Constitucional polaco sobre a questão são as principais questões discutidas até aqui.

Manchete da Polityka:
Reações no exterior após a decisão de Andrzej Duda em relação à Lei sobre o IMN: "Triste Dia"


Apesar da reação moderada do governo israelense, há agitação nos meios de comunicação e nas fileiras de oposição do Knesset.

Pessoas de todo o mundo escrevem sobre o assunto. A decisão de Andrzej Duda sobre a sanção da emenda à Lei sobre o Instituto de Memória Nacional provocou uma avalanche de comentários no exterior. Muito espaço foi dedicado na mídia israelense.

O liberal jornal "Haaretz" avaliou que o discurso do presidente polaco era "equilibrado, delicado e refletiu a complexidade do tema". Mas sua decisão continua a ser crítica e espera que a crise se intensifique entre Israel e Polônia (os países deveriam criar equipes conjuntas para discutir essas questões).

Reações israelenses à alteração da Lei proposta pelo Instituto da Memória Nacional aconteceram em vários locais, o portal "Times of Israel" cita Efraim Zuroff, rastreador nazista mundialmente famoso, chefe do Centro Szymon Wiesenthal, em Israel: "O caso com a Polônia é realmente a ponta do iceberg. Esta montanha existe há muitos anos ".

Ironicamente, Zuroff pensa que "o governo israelense decidiu denunciar a lei sobre a cumplicidade no Holocausto, mas nunca criticou países como Lituânia, Letônia, Estônia, Ucrânia, Croácia ou Hungria, que desempenharam um papel mais ativo e ajudaram os nazistas no genocídio Judeus durante a Segunda Guerra Mundial, durante décadas negligenciando sua culpa ". Zuroff afirma: "Israel nunca reagiu à distorção do Holocausto".

E essa distorção foi influenciada por duas circunstâncias. Primeiramente, capturar ou minimizar o papel de colaboradores locais. Em segundo lugar, acredita-se que o comunismo é tão ruim quanto o nazismo e que deve ser classificado como genocídio. "Se o comunismo é classificado como genocídio, significa que os judeus cometem o genocídio. (...) É uma ótima estratégia para repelir a crítica de seus crimes, suscitar simpatia com as vítimas de genocídio e silenciar a crítica judaica ".

O jornal "Jerusalem Post" cita o vice-chefe da diplomacia israelense: "Israel explicou ao governo polaco que não aceitaria nenhuma lei que silenciasse a história e apagasse os depoimentos do envolvimento dos polacos no assassinato de judeus durante o Holocausto". Israel continuará a trabalhar através dos canais diplomáticos para introduzir mudanças na lei antes que seja analisada pelo Tribunal Constitucional.

O diretor da Associação dos judeus europeus citado pelo rabino Menachem Margolin anuncia que sua organização iniciará o procedimento legal em resposta às ações do Tribunal polaco. Andrzej Duda foi convidado a conhecer representantes de organizações judaicas, "mas ele decidiu, estranhamente, que não era necessário".
Margolin dirigiu uma carta a todas as instituições da UE com um apelo para criticar a Polônia nesta matéria. "Parece inconcebível que um Estado-Membro da UE reduza a história ao impor uma legislação draconiana que poderia aprisionar por ter uma visão alternativa do que aconteceu nos dias mais sombrios da Europa".

O Dr. Eithan Orkibi, sociólogo e antropólogo da Universidade de Ariel, em um comentário ao "Israel Ha-Jom", aponta que a controvérsia sobre a Lei sobre Holocausto não pode encobrir o precioso trabalho das gerações.
Ele lembra "Ida" e "Nasza Klase", filmes sobre como "a sociedade polaca contemporânea debruçasse ativamente na auto-reflexão dolorosa e tenta lidar com os pecados. Com impressionante abertura, os polacos estão investigando, hoje, a conexão não resolvida entre a identidade polaca e o antissemitismo", acrescenta Orkibi.
"É verdade" - acrescenta - que, na Polônia, ainda existe um vulgar antissemitismo "e é perturbador pensar que algumas elites políticas na Polônia podem ser influenciadas pelo ódio primitivo em relação aos judeus, ou que os esforços legislativos atuais são para servir aos propósitos nacionalistas, inclusive antissemitas".
"Não vamos deixar a controvérsia sobre esta lei obscurecer o fato de que o antissemitismo na Polônia, embora repugnante, é caracterizado por grupos com alto nível de ignorância e populismo, enquanto a maioria dos jovens educados e culturais se distanciam ativamente".

Reações no Knesset para a decisão de Duda sobre a Lei proposta pelo Instituto da Memória Nacional. A decisão do presidente Duda provocou agitação no Knesset.

A chefe de Ha-Bait Ha-Jehudi (Casa Judaica) Szuli Moalem-Rafaeli, anteriormente um guardião do grupo juvenil que visitava campos da morte na Polônia, considera que os diplomatas polacos são persona non grata em Israel. "O Presidente da República da Polônia decidiu manter a atitude infeliz de distorcer os fatos e negar o Holocausto", disse ela. – “Israel não pode ficar em silêncio sobre isso. Devemos imediatamente trazer o embaixador de Israel para a Polônia e expulsar todo o serviço diplomático polaco do país".

O ministro da educação de Israel, Neftali Benett, também pertence à Casa Judaica. Sua visita à Polônia foi cancelada esta semana.

O membro do partido Kulan (Nós todos) Merav Ben-Ari chamou a decisão de Duda de "evidência de vergonha". "É absurdo" - afirma ele - que tal "lei vergonhosa" foi autorizada e, no entanto, "todos sabem que os polacos participaram dos horrores ocorridos durante o Holocausto".
O deputado pensa que "é um insulto (...) acima de tudo para sobreviventes no Holocausto. A lei prepara o caminho para os negadores. O governo polaco é obrigado a se retirar rapidamente e pedir desculpas” - acrescenta.

Por sua vez, o deputado Icik Szmuli, do Ha-Mahane Ha-Cijoni (Campo Sionista), autor da lei israelense que prevê penalidades para minimizar o papel dos colaboradores nazistas, acredita que este é "um dia vergonhoso na história polaca". A Polônia é o primeiro país a aprovar uma lei que nega o Holocausto, enquanto "nenhuma lei vergonhosa apaga a história" - conclui Szlema.

A decisão de Duda é "um dia triste para a Polônia".

O Instituto Yad Vashem reconheceu a decisão do presidente polaco como "infeliz". O Comitê judeu americano disse que era "um dia triste para a Polônia". Agnieszka Markiewicz, diretora do escritório de Varsóvia desta organização, cita o jornal "Jerusalem Post".

Na verdade, a Polônia foi o primeiro país atacado pela Alemanha nazista, e os polacos enfrentaram os invasores e construíram um movimento de resistência, lembra. Entre os mais honrados por Yad Vashem está uma maioria de polacos. No entanto - ela ressalta - "houve atos de antissemitismo, incluindo assassinatos realizados pelos polacos, embora tanto polacos quanto judeus fossem vítimas do Terceiro Reich". Você não pode negar ou proibir a discussão sobre este assunto. Os EUA estão desapontados com a assinatura da Lei do Instituto de Memória Nacional.  A questão da alteração ao texto sancionado causou críticas de Washington.

O secretário de Estado dos EUA, Rex Tillerson, expressou desapontamento e avaliou suas disposições como prejudiciais para a liberdade de expressão e pesquisa. Já na semana passada, os EUA advertiram a Polônia que continuar trabalhando na nova lei poderia prejudicar os interesses estratégicos polacos.

Uma porta-voz do Departamento de Estado estadunidense, Heather Nauert, informou que "negociações diplomáticas privadas" estavam sendo conduzidas. De acordo com o jornal Washington Post, a decisão de Andrzej Duda "provavelmente aumentará as tensões com os Estados Unidos e Israel".

A lei provavelmente entrará em vigor antes que o Tribunal Constitucional emita diretrizes - diz o publicitário Rick Noack. De qualquer forma, "a independência do próprio Tribunal foi questionada desde que o PiS realizou reformas conhecidas como o assassinato do poder judicial". A disputa sobre a Lei não só trouxe críticas internacionais à Polônia, mas também prejudicou as relações com aliados próximos - resume Noack – e causou um debate sobre as questões de cumplicidade no Holocausto que era desconfortável para os nacionalistas polacos.

A decisão, segundo a BBC de Londres ,de enviar a Lei ao Tribunal determina "um gesto em relação a Israel", enquanto a agência Associated Press  qualifica de "movimento atípico", que teoricamente abre o caminho para mudar o conteúdo da lei.

No entanto, "não está claro se o Tribunal Constitucional exigirá quaisquer mudanças porque está sob o controle do partido conservador da Lei e da Justiça na Polônia". A alteração no texto da proposição do IMN - Instituto de Memória Nacional também foi motivo de reações na França. Yean-Yves Le Drian, Ministro das Relações Exterores, chamou-a de "inapropriada" e "digna de condenação".

Ele enfatizou que a história não deveria ser redigida novamente. O que é assumido pela alteração à Lei do IMN introduz pena de prisão de até três anos ou multa por "público e contra fatos" atribuindo responsabilidade à nação ou estado polaco ou co-responsabilidade pelos crimes do Terceiro Reich, outros crimes contra a humanidade, paz e crimes de guerra.

Também deve ser punido por "trivializar grosseiramente a responsabilidade dos perpetradores reais desses crimes". O Sejm (Congresso Nacional da Polônia) aprovou a lei em 26 de janeiro, um dia antes do 73º aniversário e a celebração da libertação do campo de Auschwitz.



Fonte: Revista Polityka
Acesso em 08 fevereiro 2018 - https://www.polityka.pl/tygodnikpolityka/swiat/1737266,1,zagraniczne-reakcje-po-decyzji-andrzeja-dudy-ws-ustawy-o-ipn-smutny-dzien.read

Tradução: Ulisses Iarochinski

domingo, 4 de fevereiro de 2018

Entrevista com o autor de "Cidades da Morte"

Após a aprovação do projeto de Lei, encaminhado ao Congresso Nacional, pelo IPM-Instituto da Memória Nacional (de orientação conservadora de extrema-direita), pelo Senado da República, o debate na própria Polônia acirrou os ânimos.

Jarosław Karpiński, do site "natemat" entrevistou o autor do livro "Miasta śmierci. Sąsiedzkie pogromy Żydów" (Cidades da Morte, vizinhas de pogroms judaicos), Dr. Mirosław Tryczyk, que reconhece a participação de até 500 mil polacos envolvidos na colaboração com os alemães nazistas e  em assassinatos de polacos judeus seus vizinhos.


Mirosław Tryczyk, polaco nascido em 1977, doutor em filosofia e ética, é autor de publicações históricas. Embora não seja historiador é um profundo pesquisador de questões históricas e políticas da Polônia e Europa Central. Autor também do livro "Między imperium a świętą Rosją" (Entre o Império e a Santa Rússia).


"Lembre-se que tivemos um grupo de pessoas, nesta nação polaca terrivelmente devastada, antissemitas que colaboraram com o ocupante por vários motivos e colaboraram no extermínio dos judeus. Não podemos negar isso! Não é algo pequeno! Os pesquisadores de extermínio estimam de 50.000 a meio milhão de pessoas".

Karpiński - Todo mundo já ouviu falar sobre Jedwabne, mas há mais lugares. O senhor escreve sobre isso no livro "Cidades da morte, vizinhas de pogroms judaicos".

TRYCZYK - Somente no contexto do ano de 1941, pode-se falar de dezenas de cidades onde ocorreram incidentes antissemitas, pogroms em larga escala e dezenas de assassinatos, em que morreram mais de 100 pessoas. O conhecimento sobre a onda de pogroms que varreu as antigas fronteiras do Leste após o exército alemão entrando nelas era conhecido pelos historiadores polacos. Os documentos foram arquivados a partir do ano de 45 e eram relacionados aos processos que se seguiram diante dos tribunais polacos contra esses pogroms e testemunhos encontrados nos arquivos de, entre outros, Instituto Histórico Judaico em Varsóvia e outros espalhados pelo mundo. Escrevi no livro sobre 15 lugares, entre eles, Radziłów, Szczuczyn, Jedwabne, Wąsosz, Jasionówce, Suchowola ...

Karpiński - Também sobre o assassinato de judeus em Bzury

TRYCZYK - Este crime foi uma consequência do pogrom em Szczuczyn. Quando os alemães ocuparam a região da Podlaska durante a ofensiva da URSS em 1941, eles não estabeleceram sua administração imediatamente, assim um vácuo ocupacional foi criado, os soviéticos já haviam fugido e a administração alemã ainda não estava lá. Os guardas dos cidadãos locais, os comitês de autodefesa foram estabelecidos naquele momento e passaram a assassinar seus vizinhos judeus, às vezes de inspiração alemã, às vezes completamente por autodefesa. Smarzowski em uma cena famosa do filme "Volínia" mostrou uma situação semelhante, apesar da presença de tropas alemãs, os ucranianos assassinaram polacos. No gueto de Szczuczyn, cerca de 2.000 judeus viviam lá antes que os alemães chegassem em 20 de julho de 1941, e encontraram apenas algo próximo a 370 polacos de origem judaica. A primeira questão que surgiu foi: O que aconteceu com os outros?

Mais tarde, prisioneiros do gueto foram levados para trabalhar em fazendas próximas. Jovens jovens que, após a guerra, admitiram pertencer à Democracia Nacional, chegaram a uma das fazendas de Bzury, e levaram 20 moças para a floresta, onde foram estupradas e assassinadas. Os promotores comunistas na década de 1970, no entanto, determinaram que a execução desse crime tinha sido obra alemã. Unicamente em 2001 foi comprovado que o crime foi levado a cabo por polacos católico e o Ministério Público com Instituto da Memória Nacional, referiu-se a eles como crimes de "razões raciais". Nos lugares que descrevi, nenhuma seleção foi feita, todos os polacos de origem judaica foram capturados, incluindo mulheres, idosos e crianças, foram mortos sem exceção.

Capa do Livro: Cidades da Morte, vizinhas de progroms judaicos 
Karpiński - Um monumento foi erguido no lugar dos judeus assassinados. Mas por que aconteceram nos pogroms, porque provavelmente não aconteceram só por inspiração alemã, não? e quem estava por trás deles?

TRYCZYK - As causas devem ser buscadas no trabalho ideológico realizado pelos setores nacionalistas amplamente compreendido, que semeou propaganda antissemita, principalmente na década de 1930, pouco antes do início da Segunda Guerra Mundial. Também participou desta campanha, o clero católico, especialmente nas regiões mais orientais do país. No geral, houve um clima bem grande contra. Já nos relatos do governador de Białystok, em Varsóvia, em 1936, há mais de 800 incidentes antissemitas, espancamentos e homicídios na destruição de propriedade. Em 1937, o mesmo.

Depois que os comunistas entraram através da fronteira em 17 de setembro de 1939, começou um julgamento de classe com os kułaków (culaques – termo pejorativo russo para camponeses relativamente ricos com grandes fazendas e que faziam uso de trabalho assalariado), com apoiantes dos democratas nacionais, dos clérigos, dos proprietários de terra (senhores feudais), mas também com pessoas do judaísmo. Lembre-se de que também havia uma ala judaica de direita. Os bolcheviques deportaram não só empresários ou comerciantes judeus, mas também membros de partidos religiosos e da direita judaica. Mas disso não se lembram nos territórios orientais da Polônia. Recorde-se que alguns polacos de origem judaica cooperaram com os bolcheviques quando deportavam patriotas polacos para o leste, o que, é claro, é verdade, mas apenas em pequena medida. De qualquer forma, esta campanha antissemita fortemente presente na Polônia desde a década de 1930 foi endereçada para as pessoas comuns mais afetadas pelo terror bolchevique e por isso mesmo, causou eventos muito trágicos.

Karpiński - O deputado Jakubiak, do movimento de Kukiz, disse: "Mostre-me pelo menos um paco salvo por um judeu. O holocausto polaco não era muito menor do que o judeu." Como o senhor se refere a essas palavras dele?

TRYCZYK - Essas palavras são extremamente tolas. Em primeiro lugar, é difícil mostrar judeus salvando polacos de uma situação em que estes mesmos judeus se encontravam escondidos e sendo perseguidos. Dizer algo neste sentido é algum tipo de aberração intelectual. É um pouco dizer como, mostre-me um ucraniano que foi salvo pelos polacos durante o massacre da Volínia. Talvez o deputado não saiba, mas os judeus foram assassinados e exterminados de uma maneira que em nenhuma outra nação, na história do mundo e da humanidade jamais ocorreu.

Família judia de Szczucin - Józef Guststein / Foto: Tryczyk M.

Na região da Podlaska, muitas vezes ouço conversas de pessoas mais velhas lembrando a guerra de que "a vida de um judeu era como uma vida de uma mosca, todos podiam vencê-la". Analogia contemporânea. Matam, hoje, pessoas em Varsóvia, na rua, querem matar, a multidão está assistindo, dezenas de pessoas dessa multidão que se juntam para bater nas outras, a maioria é passiva, outras tentam ajudar a bater e intervêm, e o deputado Jakubiak provavelmente perguntaria se a vítima da surra próxima da morte, nesta situação, tem ajuda alguém?

Além disso, não sabemos quantas vezes no cotidiano um judeu ajudou um polaco católico durante a ocupação. Há muitos exemplos de amor que nasceram entre os polacos de origem judaica que se esconderam e os polacos de outras origens, e certamente houve muitas situações durante a ocupação alemã, em que salvaram a vida uns dos outros, mas não é a única coisa a dizer, agora. Estas comparações não cabem em nenhum lugar. E é só isso. No entanto, o deputado Jakubiak tem razão nisto, de que a nação polaca também sofreu muito e sofreu enormes perdas material e de população durante a guerra. É difícil pesar o sofrimento humano, mas ninguém nega o sofrimento dos polacos. O extermínio da nação polaca também foi parte do plano para destruir as nações étnicas conquistadas.

Karpiński - Mas também havia aqueles polacos ruins, quais são as estimativas quanto a eles?

TRYCZYK - Sim, lembre-se de que tínhamos um grupo nesta nação polaca terrivelmente devastada de pessoas antissemitas que colaboraram com o invasor por diversas razões e que também colaboraram no extermínio dos polacos judeus. Não podemos negar isso. Não eram poucas. Os pesquisadores de extermínio estimam de 50.000 a meio milhão de pessoas (numa população de 35 milhões de habitantes). Em várias etapas do extermínio, porque também houve uma terceira etapa do Holocausto nos anos de 1942 e 43, que consistiu em chantagem, publicações judaicas, assassinatos e etc.. Lembramos também os infames exemplos de guerrilheiros, sob diferentes bandeiras que discutiram com judeus assim que se conheceram, escondidos nas florestas. Claro está, que você nunca pode falar sobre responsabilidade coletiva! Você não pode falar sobre nação polaca, mas apenas sobre pessoas específicas com seus nomes idetificados. O Estado polaco, no entanto, é responsável pela propaganda antissemita da década de 1930.

Karpiński - A nova lei proposta IPN-Instituto da Memória fecha a boca de pesquisadores como você?

TRYCZYK - Estou convencido de que esta lei será capaz de amordaçar a boca e os cientistas terão que pensar duas vezes antes de escreverem algo. Vou dar um exemplo. Um pogrom ocorreu em Szczuczyn. As vítimas do pogrom foram enterradas em covas da morte, onde hoje existe um prado e as vacas pastam nele. Se a comunidade em Szczuczyn quiser cercar este lugar ou colocar um monumento às vítimas ali, então, sob a nova lei, o prefeito e os moradores estariam sendo ameaçados com três anos de prisão. Uma vez que alguém do Instituto da Memória Nacional possa estar disposto a montar um monumento às vítimas do pogrom por ter destruído descaradamente os crimes nazistas. Os moradores de Szczuczyn, cujos antepassados ​​cometeram crimes, não são cientistas e artistas, e assim eles cumprem todos os requisitos para o entendimento de tenha havido crime. Tal absurdo está previsto por esta lei. A lei não atenta contra cidadãos de países estrangeiros, mas sim e, principalmente, contra polacos. O Estado polaco, proíbe-os de falar sobre o que aconteceu com suas famílias, em suas vilas e cidades, para combater o trauma que vem desses terríveis acontecimentos e que continua por gerações.

Karpiński - Por que o Senhor está tratando desse assunto?

TRYCZYK - Eu não sou judeu. Minha família vem da Podlaska. Meu avô era fortemente orientado para o nacionalismo, era um antissemita e um membro local do Partido Nacional. Conheço suas cartas, eu sei quais livros ele leu. Ele costumava ler, por exemplo, "Cavaleiro da Imaculada" ("Rycerzu Niepokalanej”). Na minha família há cartas obescuras relacionadas ao seu antissemitismo. Este foi o único motivo que me levou a tratar dos temas desse assunto.

Karpiński - Após a publicação do teu livro, o senhor foi hostilizado?

Eu conheci muito ódio na internet. Sempre acontecem situações difíceis em reuniões com leitores, às vezes, as pessoas que me atacam agressivamente aparecem. Eu fui chamado de szabes-goj (não-judeu que trabalha no sábado), um traidor para a pátria, e caluniador de seu próprio ninho. Mas desde que o livro foi lançado se realizou muitas reuniões com leitores em cidades onde existiram pogroms, também houve muitos efeitos sociais positivos. As pessoas falam sobre o que aconteceu, elas estão menos envergonhadas. Graças a isso, conseguimos encontrar, por exemplo, o túmulo de meninas judias em Bzury.

Entrevistador: Jarosław Karpiński
Tradutor: Ulisses Iarochinski

Fonte: Acesso em 4 fevereiro 2018: http://natemat.pl/228947,ilu-bylo-polskich-szmalcownikow-miroslaw-tryczyk-zbadal-pogromy-zydow