quarta-feira, 1 de abril de 2009

Judeus desde sempre na Polônia

A mais antiga referência sobre a presença de judeus na Polônia data do século nove. Falam sobre mercadores vindos da Espanha. No início, o assentamento permanente dos judeus na Polônia está ligado às atitudes hostis contra os judeus na Saxônia e na Bohemia. As cruzadas de 1096 e 1147 coincidem com a primeira grande onda de imigração judaica para a Polônia. Neste período o assentamento regular de judeus se concentrou na Silésia, onde em meados do século 14, eles viviam em 35 cidades. Dados sugerem que os judeus foram assentados em Płock em 1237, em Kalisz em 1287, em Cracóvia em 1304, em Lwów em 1356, em Sandomierz em 1367 e em meados do século 14 em Lublin. Os judeus no final do século 15 já eram 6% da população da Polônia, ou cerca de 24 mil habitantes vivendo em 85 cidades.

Kazimierz Dolny - Foto: Ulisses Iarochinski

Os judeus chamavam a Polônia de "Polin", que de acordo com uma etimologia específica era interpretada como "Onde eu passarei o resto de meus dias". Na coleção "Polin" editada pela "The Littman Library of Jewish Civilization", logo nas primeiras páginas se faz referência a Polônia como a "Polin" da Torah. "Nós não sabemos, mas nossos pais nos disseram, como desde o exílio de Israel chegar a terra de Polin. Quando Israel viu como o sofrimento era constantemente renovado, a opressão aumentava, as perseguições se multiplicavam e como autoridades diabólicas pilhavam e em seguida expulsavam, então quando já não havia mais como escapar dos inimigos de Israel, sairam para a estrada em busca de resposta para o caminho para algum lugar do mundo, qual seria a estrada correta para encontrar o que lhes restava de alma. Então um pedaço de papel caiu dos céus e nele estava escrito: Vá para a Polaniya (Polônia)."


Antiga sinagoga de Chełm - Foto: Ulisses Iarochinski

Em 1264, o príncipe Bolesław Pobożny (Boleslau - o Piedoso) editou o chamado Kalisian Statutes, onde os Judeus receberam leis próprias separadas e certos privilégios para viverem na Polônia. Depois da unificação da Polônia, pelo rei Casimiro - o Grande estas leis foram confirmadas para o total dos territórios da Polônia .

Antigo Rynek (praça central) de Lublin - Foto: Ulisses Iarochinski

A partir do século 16, o número de judeus vivendo na Polônia cresceu bastante. Em meados do século 17, eles já eram estimados em 500 mil habitantes, ou 5% da população. No período em que a Polônia foi dividida e ocupada pela Rússia, Prússia (depois Alemanha) e Áustria, a situação dos judeus passou a depender das autoridades invasoras. Quando o nazismo invadiu a Polônia em 1939, a população judia da Polônia era a maior entre todos os países do mundo, com mais de 3,5 milhões de habitantes.

Antigo Rynek (praça central) de Zamość - Foto: Ulisses Iarochinski

Em 1968, o governo comunista fez um espurgo dos judeus que sobreviveram aos horrores da segunda guerra mundial e restou bem pouco deles no território polaco. Depois da queda do comunismo, estimava-se que 15 mil pessoas de origem judaica estariam vivendo na Polônia. Atualmente não existe uma estatística, ou pelos menos não é divulgada, mas a verdade é que crescem os empreendimentos judaicos em várias cidades da Polônia.


Sandomierz - Foto: Ulisses Iarochinski

A região Leste, cuja principal cidade é Lublin congregou durante todos estes séculos uma maior presença judaica do que outras regiões da Polônia. Lublin e Chełm se destacam neste cenário pelo alto percentual de moradores de origem judaica. Antes da segunda guerra Chełm chegou a ter quase 19 mil habitantes de origem judaica entre seus 38 mil moradores. Alguns dos mais emitentes judeus da história contemporãnea nasceram nesta região, como os escritores Israel Joshua Singer e Itzkhak Baszevis Singer (Biłgoraj), Itskhak Leybush Perec (Zamość) o violinista e compositor Henryk Wieniawski (Lublin), a ativista política Roża Luksemburg (Zamość) e Hanka Sawicka (Lublin).

Sinagoga de Szczebrzeszyn - Foto: MaKa

As cidades da região que ainda guardam um passado judeu são: Lublin, Krasnystaw, Isbica, Zamość, Szczebrzeszyn, Zwierzyniec, Józefów Biłgorajski, Tarnogród, Biłgoraj, Frampol, Wojsławice, Tomaszów Lubelski, Łaszczów, Bełżec, Łęczna, Włodawa, Chełm, Biskupice, Piaski, Kock, Sobibór, Markuszów, Kazimierz Dolny, Annopol, Zaklików, Lipa (aqui nasceu o polaco-judeu Samuel Klein - dono das Casas Bahia - maior rede de lojas do Brasil), Modliborzyce, Kraśnik (aqui nasceu a atriz de telenovelas da Globo Ida Szczepanski Gomes), Bychawa, Byway, Bobowniki, Puławy, Lubartów, Wohyń, Parczew e Międzyrzec Podlaski.

13 comentários:

Gerson Guelmann zs disse...

Muito bom material, Ulisses. Vou repassá-lo ao meu mailing, em seguida.

sbl disse...

Ulisses, parabéns pela excelente matéria. Meu pai, falecido no passado, nasceu em Chelm. Uma ONG foi criada naquela cidade para tentar restaurar a sinagoga e transformá-la em museu.
Szyja Lorber
Jornal Visão Judaica

Ulisses Iarochinski disse...

Szyja,
Pois estive lá em Chelm semana passada a pedido dos familiares do sr. Icek David Kielmanowicz, de São Paulo e a sinagoga é justamente esta da foto...foi restaurada, mas o proprietário atual colocou este Bar Mackenzee. Ela ficava na rua Kopernika 8 e a casa dos kielmanowicz no lado, no nr. 10.
abraços desde Cracóvia
Ulisses

Unknown disse...

Dindobre panhe (é assim que se escreve?)

É bom vê-lo em em tantas e múltiplas atividades. Qualquer dia passo por ai para buscar notícias dos meus ancestrais. Pelo que sei a grafia do meu nome era Stawicki e foi alterada no Brasil. Vou arranjar algumas pautas para a a Gazeta Mercantil na Europa e vou te visitar para a gente tomar uma Spiritus..

Abs

Norberto Staviski

Ulisses Iarochinski disse...

Oba, Norberto!
Qual é o teu email? o meu acima é iarochinski@hotmail.com.... pois venha mesmo...mas prefiro mum cerveja Okocim, Warka ou Zywiec... spitirus só mesmo louco para beber.hheheh.. desta aí prefiro a Zubrówka

Unknown disse...

Ulisses,

Parabéns pelo excelente trabalho sobre os judeus na Polônia.
Não sabia que estava por aí.
Você faz falta aqui na terra.

Um grande abraço,

Carlos Marassi

Ulisses Iarochinski disse...

Norberto,
esqueci...escreve-se Dzien Dobry Pan

Ulisses Iarochinski disse...

Ola Marassi,
pois já vai fazer quase 7 anos que estou aqui...mas este ano estou voltando para casa....estou terminando o que vim fazer...álias fiz mais do que o planejado.
abraços e obrigado pela visita.
Ulisses

sbl disse...

Prezado Ulsses,

Na pressa em enviar o comentário, empolgado pelo teu trabalho, escrevi que meu pai falecera no passado, quando quis dizer no ano passado.
Além de meu pai, minha mãe também nasceu em Chelm, cidade que tem histórias folclóricas sobre os judeus de lá. Os próprios judeus, com seu humor característico, faziam piadas, mais ou menos como aqui se fazem sobre portugueses. Há até um livro com essas histórias, publicado em Israel, mas que até agora só existe em hebraico.
Quanto à Sinagoga de Chelm, que hoje ostenta o letreiro Saloon Mackenzee, na verdade, não é um bar, mas um salão de festas. Meu pai viajava todo ano para a Polônia, principalmente Varsóvia e Chelm e ia com minha irmã. A Sinagoga mantém a porta e as janelas originais, conforme me disse minha irmã, a Blima, que também é jornalista. E há também um grupo de discussão no Yahoo, formado por descendentes de judeus de Chelm que trocam fotografias, textos, documentos e comentários. Em Israel (Tel Aviv), há ainda um encontro anual de descendentes e nascidos em Chelm, e nos últimos anos meu pai e minha irmã participavam desse evento.

Isqit disse...

Adorei saber que seu blog existe!
meu avô tinha cartório ( nomeado pelo general da Polonia) em Trochenbrod,que era Polonia e hoje faz parte da Ucrania.
Viajo para Varsovia,Cracovia,Kiev etc em agosto.Seria bom obter info com vc.
Legal! POnho-me à disposição tb
abç
Eliana Z.

Unknown disse...

Oi Ulisses,
Sou a Blima, irmã do Szyja, e por vários anos acompanhei meu pai nas viagens à Polônia. Chelm, como meu irmão colocou, é a cidade natal de meus pais e, portanto, muito especial para mim. Percorri todos os lugares por onde eles passaram a infância e parte da juventude,embora muitas construções não mais existam ou tenha sido transformadas, como é o caso da sinagoga.Um dos objetivos da ONG, que reúne profissionais liberais locais, é reavivar a cultura judaica que um dia existiu naquela cidade. Embora a sinagoga agora seja um salão para festas, existe o firme propósito de recomprá-la psra se tornar um museu. Mantenho contato direto com a direção da ONG.
Meu pai conhecia o Sr.Icek Kielmanowicz. Vc perguntaria, por favor, se ele lembra de David Lorber Rolnik?
Um abraço,
Blima

Unknown disse...

Gostaria de saber mais sobre a aldeia (pequena cidade) de Stachow onde meu pai nasceu.
se tiver material

Anônimo disse...

Sou filho de Polonesa ainda viva Ester Golda Schussel Scheiner com 88 anos mas que infelizmente sofre de Alzheimer ha 18 anos. Gostaria de que alguem me ajudasse de me informar como de escreve Eu te amo em Polones. Aguardo noticias