quarta-feira, 24 de junho de 2009

"Possibilidades" de Wisława Szymborska

Prefiro cinema.
Prefiro os gatos.
Prefiro os carvalhos nas margens do
Warta.
Prefiro Dickens a Dostoievski.
Prefiro-me gostando dos homens
em vez de estar amando a humanidade.
Prefiro ter uma agulha preparada
com a linha.
Prefiro a cor verde.
Prefiro não afirmar que a razão é culpada de tudo.
Prefiro as exceções.
Prefiro sair mais cedo.
Prefiro conversar com os médicos sobre outra coisa.
Prefiro as velhas ilustrações listradas.
Prefiro o ridículo de escrever poemas
ao ridículo de não os escrever.
No amor prefiro os aniversários não redondos
para serem comemorados cada dia.
Prefiro os moralistas, que não me prometem nada.
Prefiro a bondade esperta à bondade ingênua demais.
Prefiro a terra à paisana.
Prefiro os países conquistados aos países
conquistadores.
Prefiro ter objeções.
Prefiro o inferno do caos ao inferno da ordem.
Prefiro os contos de fada de Grimm às manchetes de jornais.
Prefiro as folhas sem flores às flores sem
folhas.
Prefiro os cães com o rabo não cortado.
Prefiro os olhos claros porque os tenho
escuros.
Prefiro as gavetas.
Prefiro muitas coisas que aqui não disse,
a outras tantas não mencionadas aqui.
Prefiro os zeros à solta
a tê-los numa fila junto ao algarismo.
Prefiro o tempo dos insetos ao tempo das
estrelas.
Prefiro isolar.
Prefiro não perguntar quanto tempo ainda
e quando.
Prefiro levar em consideração até a
possibilidade
do ser ter a sua razão.


Tradução de Aleksandar Jovanovic e Henryk Siewierski

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