Governantes da Polônia, no centenário da recuperação da independência do país marcham à frente de grupos de extrema-direita nas comemorações nas ruas da capital Varsóvia.
O objetivo do presidente Andrzej Duda era promover a unidade e celebrar os sacrifícios das gerações passadas na criação da moderna nação polaca. Mas depois de dias de disputas e controvérsias, a comemoração do Dia da Independência do país, neste domingo, acabou destacando as profundas divisões da Polônia.
O presidente Duda e ministros caminharam na frente de uma manifestação patrocinada pelo governo nacional, pelas ruas de Varsóvia, atrás de uma enorme faixa vermelha e branca com a inscrição “Para você, Polônia”.
E Duda disse à multidão que "esta marcha deveria unir todos os polacos", acrescentando: "Que esta marcha seja para todos".
O presidente Andrzej Duda, ao centro, disse que a marcha "deve unir todos os polacos", mas a manifestação de Varsóvia escancarou as divisões do país. Foto: Agata Grzybowska/Agencja Gazeta/ Reuters |
Mas alguns metros atrás dos funcionários do PiS - Partido Direito e da Justiça, pertido do governo no poder estavam ativistas de extrema-direita conhecidos por promover slogans racistas, homofóbicos e supremacistas brancos.
Alguns exibiram mensagens a favor de uma Europa branca, contra refugiados e bandeiras da União Europeia foram queimadas. De um modo geral, porém, o grau de radicalização foi menor do que em anos anteriores, pois fora Varsóvia e Gdańsk onde três neonazistas foram presos, as demais cidades contaram apenas com a participação do povo que só desfilou e cantou os hinos e canções nacionais polacas, num ambiente de festa.
Apenas em Varsóvia, incetivados pela atitude descabida do presidente da república, centenas de fascistas encobertos em uma névoa vermelha provocada por chamas de sinalizadores, gritavam: "Use uma foice, use um martelo, esmague a ralé vermelha". Outros gritavam: "Polônia Branca".
Os neonazistas marcharam segurando uma bandeira polaca com o slogan "Deus, Honra, Pátria" e centenas de bandeirinhas da Polônia. Alguns usavam balaclavas e agitavam as bandeiras verdes do grupo ultranacionalista Revival Nacionalistas da Polônia. Também foram visíveis as bandeiras do Forza Nuova, um grupo neofascista italiano.
As faixas e bandeiras do extremistas de direita - Foto: |
A passeata seguiu dias de turbulência judicial depois que a prefeita de Varsóvia baniu a Marcha da Independência organizada todos os anos por grupos de extrema direita. Entre eles estão o Campo Radical Nacional, que ativistas dos direitos humanos há anos afirmam que deveriam ser ilegais.
Enquanto a Polônia festejava seu centenário particular, em Paris, mais de 60 mandatários mundiais comemoravam o mesmo 11 de novembro, mas com outro significado: o fim da primeira guerra mundial.
A marcha polaca, que nos anos anteriores envolveu confrontos violentos com a polícia, ganhou as manchetes internacionais no ano passado, quando os manifestantes gritavam: “Polônia pura, Polônia branca” e “refugiados saiam!”
Um pequeno grupo fascista carregava banners com o slogan “Europa Branca das nações fraternas”.
Os organizadores da passeata fascista do ano passado contestaram a proibição da prefeita Hanna Beata Gronkiewicz-Waltz, e um tribunal de Varsóvia atendendo pedido do presidente da república tomou partido, chamando a decisão de “censura preventiva” da prefeita.
Antes dessa decisão, porém, as autoridades decidiram realizar uma passeata promovida pelo governo central no lugar da Marcha da Independência, provocando mais raiva dos nacionalistas.
Mas depois da raiva, grupos de extrema-direita e o governo acabaram concordando em caminhar juntos em uma manifestação dividida em duas partes - uma para os funcionários públicos e outra para os extremistas de extrema-direita.
Apesar das preocupações anteriores, a marcha de domingo foi até pacífica. Mas Andrzej Rychard, sociólogo da Academia Polaca de Ciências, denominou a situação de "mau sinal".
O governo de extrema-direita no poder, disse ele, agora se vê preso pelos grupos radicais depois de anos "flertar com eles".
"Como cidadão, estou indignado com o fato das autoridades terem sido incapazes de forçar os neonazistas a desistirem de suas próprias bandeiras e se ater apenas às bandeiras polacas", disse Rychard. "Eu também não entendo como aconteceu que estes - nacionalistas - que são politicamente irrelevantes, se tornaram um parceiro para o governo."
Enquanto a Polônia festejava seu centenário particular, em Paris, mais de 60 mandatários mundiais comemoravam o mesmo 11 de novembro, mas com outro significado: o fim da primeira guerra mundial.
A marcha polaca, que nos anos anteriores envolveu confrontos violentos com a polícia, ganhou as manchetes internacionais no ano passado, quando os manifestantes gritavam: “Polônia pura, Polônia branca” e “refugiados saiam!”
Um pequeno grupo fascista carregava banners com o slogan “Europa Branca das nações fraternas”.
Os organizadores da passeata fascista do ano passado contestaram a proibição da prefeita Hanna Beata Gronkiewicz-Waltz, e um tribunal de Varsóvia atendendo pedido do presidente da república tomou partido, chamando a decisão de “censura preventiva” da prefeita.
Antes dessa decisão, porém, as autoridades decidiram realizar uma passeata promovida pelo governo central no lugar da Marcha da Independência, provocando mais raiva dos nacionalistas.
Mas depois da raiva, grupos de extrema-direita e o governo acabaram concordando em caminhar juntos em uma manifestação dividida em duas partes - uma para os funcionários públicos e outra para os extremistas de extrema-direita.
Apesar das preocupações anteriores, a marcha de domingo foi até pacífica. Mas Andrzej Rychard, sociólogo da Academia Polaca de Ciências, denominou a situação de "mau sinal".
O governo de extrema-direita no poder, disse ele, agora se vê preso pelos grupos radicais depois de anos "flertar com eles".
"Como cidadão, estou indignado com o fato das autoridades terem sido incapazes de forçar os neonazistas a desistirem de suas próprias bandeiras e se ater apenas às bandeiras polacas", disse Rychard. "Eu também não entendo como aconteceu que estes - nacionalistas - que são politicamente irrelevantes, se tornaram um parceiro para o governo."
O cada vez mais eurocético partido do governo, que se desentendeu com a União Europeia pelas tentativas do partido de assumir o controle do Judiciário independente da Polônia, tornou-se o primeiro membro do bloco a iniciar um processo que poderá fazer com que o país perca seus direitos de voto nas instâncias da UE.
As divisões políticas também prejudicaram a cerimônia oficial no domingo, na Praça Pilsudski, em Varsóvia, batizada em homenagem ao general Józef Pilsudski, um dos pais da independência da Polônia, com a inauguração de uma estátua do Presidente da II República, Ignacy Mościcki, que governou o país de 1929 a 1939.
A principal delegação do evento foi liderada pelo presidente Andrzej Duda, pelo primeiro-ministro Mateusz Morawiecki e pelo líder do PiS - Partido Direito e Justiça, Jarosław Kaczyński.
Mas Donald Tusk - o presidente do Conselho Europeu, ex-primeiro-ministro da Polônia e feroz oponente do atual governo - estava na parte de trás, pouco visível, aparentemente se distanciando dos políticos do partido conservador do governo disse: “Eu sei que muitas vezes discutimos sobre a forma do nosso país. Eu sei que às vezes fazemos isso intensamente”, disse Tusk enquanto se dirigia à multidão e pedindo: “Perdoe-nos, Polônia.”
Krystyna Skarzynska, professora de psicologia da Universidade de Varsóvia, disse que a dinâmica da cerimônia reflete "mesquinharia e hipocrisia" nos comentários dos principais líderes políticos.
"Eles têm nos falado até a morte sobre essa necessidade de união, mas eles não receberam nem mesmo Donald Tusk durante a cerimônia", disse ela em uma entrevista.
"Eles não mencionaram Lech Wałęsa, que desempenhou um grande papel na independência da Polônia."
Wałęsa (pronuncia-se vauensa), ex-presidente e líder icônico do movimento social Solidariedade, tem sido durante anos um fervoroso crítico do Partido Direito e Justiça e se recusou a celebrar este aniversário com o atual governo.
Vídeo do jornal Gazeta Wyborcza marcando hora a hora as manifestações do dia e principalmente das manifestações dos neonazistas que ocorrem após às 15 horas:
Vídeo do jornal Gazeta Wyborcza marcando hora a hora as manifestações do dia e principalmente das manifestações dos neonazistas que ocorrem após às 15 horas:
MANIFESTAÇÕES NO RESTO DO PAÍS
Nas demais cidades, grandes, médias e pequenas a participação dos grupos de extrema-direita apoiados pelo presidente da República e pelo Primeiro-Ministro foi praticamente inexistente.
O povo polaco foi para as ruas manifestar sua alegria pela comemoração dos cem anos de recuperação de uma República que se consagrou na história como a primeira do mundo moderno, sendo instituída muito antes da francesa (1777) e da americana (1776).
O povo polaco foi para as ruas manifestar sua alegria pela comemoração dos cem anos de recuperação de uma República que se consagrou na história como a primeira do mundo moderno, sendo instituída muito antes da francesa (1777) e da americana (1776).
A MARCHA E O ESPETÁCULO DE CRACÓVIA
A Marcha pela manhã - Foto: Jakub Porzycki |
Foto: Jakub Porzycki |
Foto: Jakub Porzycki |
Foto: Jakub Porzycki |
Em Cracóvia, no Rynek Główny (Praça do Mercado Principal) a festa foi o dia inteiro, encerrada com shows no palco armado em frente ao belíssimo prédio renascentista do Sukiennice (Mercado de Tecidos) artistas populares da Polônia.
Foto: Tomasz Kaleta |
A Mazurka de Dąbrowski - Hino Nacional da Polônia - foi tocada ao meio-dia por um clarinetista da Torre da Basílica Mariacka para comemorar o centenário da recuperação da independência da Polônia.
O músico também chamado de Hejnalista (porque de hora em hora ele toca o Hejnal das quatro janelas do torre mais alta da igreja) depois de tocar o hino nacional soou a famosa corneta tradicional com o Hejnal.
Na Praça do Mercado - Rynek Głowny - o hino foi cantado pela multidão de cracovianos e turistas. Eles lotaram não só a Praça, mas também as ruas de acesso e adjacentes. Muitos cercaram o monumento ao poeta Mickiewicz e a parte superior do Palácio dos Tecidos (Sukiennice).
O espetáculo
O prefeito reeleito pela quinta vez, Jacek Majchowski (sem partido) junto com vários artistas abriu o espetáculo da noite.
Lublin comemorou excepcionalmente em alto e bom tom os 100 anos. As autoridades da cidade quiseram chamar a atenção para o papel que Lublin desempenhou no processo de construção de um país livre - aqui, em 7 de novembro de 1918, foi formado o governo de Ignacy Daszyński, o primeiro governo da Polônia independente. E muito antes disso, em 1530, foi assinada nesta cidade a União das duas Nações, Polônia e Lituânia, que formaram conuntamente a primeira República do mundo pós-renascença.
Foto: Jakub Orzechowski |
As principais celebrações ocorreram na Praça do Castelo. No programa, além de tocarem o hino nacional e levantarem a bandeira nacional, houve saudação de honra e desfile de batalhões da cavalaria.
A celebração dos 100º aniversário da recuperação da independência não terminaram neste domingo, em Lublin, isto porque no próximo dia 19 de novembro, haverá o concerto da família "A to własznie Polska!" (com grupo de música e dança 'Lublin' de Wanda Kaniorowa que vai atuar junto com a orquestra filarmônica da cidade) e até 15 de dezembro deverão ocorrer outros encontros comemorativos organizados pela Academia da Independência de Lublin dirigidas a vários grupos etários (pelo Museu de Lublin).
O patrono da rua em um cavalo branco, pássaros com asas de prata, um aviador segurando enormes bandeiras brancas nas mãos e croissants tradicionais de São Martin - o santo padroeiro da cidade. Este foi o ponto alto das comemorações da capital do voivodia da Wielkopolska (Grande Polônia).
Multidões de pessoas comemoraram o 100º aniversário da recuperação da independência da Polônia e também o santo do dia Święty Marcin, na rua com seu nome.
Um colorido desfile partiu da Feira Internacional de Poznań sob o slogan "Louvor da Liberdade". O desfile percorreu a rotatória Kaponiera até o palco montado na Praça Mickiewicz.
Animadores, artistas de rua, músicos, reconstrutores e representantes de organizações não-governamentais participaram do desfile.
POMBOS EM GDAŃSK
Os habitantes de Gdańsk encheram a rua Podwale Staromiejskie, onde começou o desfile. Os organizadores estimam que mais de 30.000 pessoas participaram das cerimônias. A passeata seguiu pelas ruas: Podmlyńska - Wielkie Młyny - Rajska - Jan Heweliusz - Korzenna - Kowalska, e chegou ao monumento de Jan III Sobieski no Mercado de Madeira.
Depois de breves discursos, incluindo o do prefeito de Gdańsk, Paweł Adamowicz, o povo reunido cantou a Mazurka Dąbrowskiego e foram soltos 1100 pombos no céu.
Foto: Dariusz Kula |
O único indidente registrado na cidade foi a prisão de três homens de extrema-direita membros de grupos neonazistas. Em suas casas foram encontrados estiletes e porretes.
Fontes:Deutsche Welle, Reuters, AS/efe/dpa Gazeta Wyborcza e The New York Times (Joanna Berendt)
Tradução e adaptação para o português: Ulisses Iarochinski
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