Para compreender como a Polônia ultrapassou outros países para se tornar um raio de esperança num continente consumido pela melancolia, é bom visitar esta cidade, que ficava às margens de uma estrada sulcada e esburacada entre Berlim e Varsóvia.
Agora, a autoestrada lisinha, concluída em junho, ainda é tão nova que muitas paradas para descanso e abastecer o carro ainda não têm as entradas de acesso.
Situada entre as duas capitais, Poznan, que ao longo dos séculos trocou de mãos diversas vezes entre Alemanha e Polônia, é a principal beneficiária das relações melhoradas entre os países. A fronteira aberta facilitou o comércio, e as regras da União Europeia incentivaram o investimento, cumprindo o compromisso de afiliação antes de o bloco ser tomado pela crise da dívida soberana.
Um arco-íris de brilhantes ônibus novos à espera de testes rodoviários na sede da Solaris Bus and Coach, em Bolechowo, nos arredores da cidade, explica o sucesso das exportações. Ônibus brancos e rosa choque seguirão para Monchengladbach, na Alemanha, os brancos e azuis para Vasteras, na Suécia, e os amarelos para Aarhus, na Dinamarca.
Corporações estrangeiras, como Volkswagen, Bridgestone e GlaxoSmith-Kline, têm operações dentro ou nos arredores de Poznan, cidade com mais de meio milhão de habitantes. Segundo dados do governo polaco, em maio de 2010, Poznan estava empatada com Varsóvia com a mais baixa taxa de desemprego do país, na casa dos 4%.
Ainda assim, Poznan também exemplifica as ameaças apresentadas à história de sucesso da Polônia, sem falar nas economias mais enfraquecidas da Europa. O tipo de infraestrutura monetária da União Europeia que ajudou a construir a autoestrada está sendo desativado. Cofres estatais vazios nos países afetados, em conjunto com a ênfase na austeridade em vez de estímulos à economia, ameaçam comprometer o crescimento polaco.
– Em 2008, 2009, não sentimos a crise financeira – disse Malgorzata Olszewska, diretora de vendas e marketing da Solaris. Após um ano recorde para a empresa em 2011, com receita superior a US$ 450 milhões, as vendas se reduziram, enquanto Grécia, Espanha e Portugal praticamente pararam de fazer compras, e a Itália se tornou muito mais cautelosa.– Os três primeiros são mercados que desapareceram completamente. Não estamos exatamente pessimistas, mas mais cuidadosos – declarou Olszewska.
Os polacos têm bom motivo para esperar que possam nadar novamente contra a maré. A economia do país foi a única que não encolheu em 2009, ano em que a crise financeira foi mais profunda. Embora longe dos 6,8% conquistados em 2007, o crescimento deve atingir 2,7% este ano, o maior do bloco, depois de aumentar 15,8% entre 2008 e 2011.
Depois da recém-terminada Eurocopa, organizada em conjunto pela Polônia e Ucrânia, muitos polacos começaram a avaliar o progresso da nação e um bom humor incomum tomou conta do país. – Foi uma prova de como nós mudamos – disse Bazyli Glowacki, 36 anos, em frente ao shopping center de luxo Stary Browar, batizado com o nome da antiga cervejaria do local. – As lojas são mais bacanas. As pessoas se vestem melhor. Há peças melhores em cartaz.
Outro morador de Poznan, Stanislaw Skrzypczak, citou uma velha expressão polonesa relacionada ao sucesso inesperado para descrever as melhorias recentes: "A Polônia agarrou Deus pelas pernas".
Não se trata de um golpe de sorte, no entanto, mas do resultado de decisões lógicas tomadas em Varsóvia. André Sapir, pesquisador sênior e economista da Bruegel, organização política de Bruxelas especializada na integração europeia, avaliou que o sucesso polaco era resultado de boa gestão monetária e da política fiscal, mantendo dívida reduzida e flexibilidade da taxa de câmbio.
Conforme Sapir, a Polônia exerceu uma forte supervisão financeira, impedindo o tipo de explosão do empréstimo ao consumidor em moedas estrangeiras que saiu do controle na Hungria.
O grande mercado doméstico, uma das vantagens polacas, não pôde ser reproduzido pelos vizinhos do país. Com quase 40 milhões de habitantes (mais do que República Checa, Eslováquia e Hungria juntos), as empresas polonesas dependem menos das exportações do que outros países europeus.
– Gosto de comprar de empresas polonesas porque o dinheiro fica aqui – declarou Tomasz Niespodziany, 22 anos.
Ele e a namorada procuravam alianças numa filial da rede de joalherias polacas Apart, que projeta e produz suas peças dentro e nos arredores de Poznan e as vende em 180 lojas de toda a nação.
A partir de 1997, a cidade comprou bondes usados alemães das décadas de 50 e 60, apelidados de Helmut por causa do corpulento ex-chanceler Helmut Kohl. Hoje em dia, dividem as ruas com os bondes de última geração da Solaris.
– Esse é um dos nossos – disse Olszewska, empolgada, ao apontar um bonde verde e amarelo da linha 16, deslizando em frente ao belo prédio de pedra que abriga a filarmônica local.
Empresa familiar, a Solaris exemplifica os laços históricos e comerciais entre Alemanha e Polônia. Os pais de Olszewska deixaram a Polônia depois que a lei marcial foi declarada em 1981, estabelecendo-se em Berlim Ocidental. Eles voltaram e fundaram a Solaris, que emprega 2,2 mil pessoas no país e outras 200 no Exterior.
NEW YORK TIMES