terça-feira, 7 de julho de 2015

A culpa da crise grega é militarismo

Texto: Finian Cunningham
Strategic Culture Foundation



Se a história do militarismo na Grécia tiver algo a ensinar, uma crise da dívida ao estilo grego aguarda os países bálticos, a Polônia e a Escandinávia.

Uma consequência importante do conflito na Ucrânia e do crescente clima de confronto entre o Ocidente e a Rússia é o aumento dramático dos gastos militares em vários países europeus.

A militarização sem precedentes de muitas economias da Europa é o prenúncio de um futuro desastroso e dívidas impagáveis, à moda grega, para esses países. Em maior risco de uma ressaca por excesso de gastos militares nos próximos anos estão os Estados bálticos, a Polônia e os países escandinavos.

Este cenário pode de fato explicar por que Washington e seus aliados mais próximos da OTAN embarcaram no que parece ser um confronto geopolítico imprudente com a Rússia.
A tensão alimentada – principalmente por Washington – pela suposta ameaça russa leva, por sua vez, à lucrativa venda de armas ao Pentágono e seu complexo militar-industrial.

O Secretário Geral da OTAN Jens Stoltenberg garantiu recentemente que a aliança militar liderada pelos Estados Unidos "não seria arrastada para uma corrida armamentista com a Rússia". Mas é exatamente o que parece estar em curso, pelo menos entre os membros ou parceiros da OTAN do Leste europeu e da Escandinávia.

A agenda de confronto – articulada com particular veemência por Washington – não é tanto para instigar uma guerra total entre a OTAN e a Rússia.
O ex-embaixador americano na Rússia Michael McFaul afirmou na semana passada que "só um tolo invadiria a Rússia". Esta afirmação pode dar a medida exata dos cálculos de Washington.
Apesar da atual postura militar agressiva liderada pelos Estados Unidos contra a Rússia, o objetivo real pode não ser, na verdade, uma guerra com Moscou, mas a criação de um clima de medo e insegurança em relação a uma suposta ameaça russa para impulsionar os gastos militares dos membros da OTAN já mencionados.
Em seu último relatório sobre gastos militares na Europa, o Stockholm International Peace Research Institute (SIPRI) observa: "A crise política e militar na Ucrânia levou a uma importante reavaliação das percepções de ameaças e das estratégias militares em grande parte da Europa. O aumento da percepção de ameaça elevou os gastos militares na Europa, levando à renovação por membros da OTAN do compromisso em destinar pelo menos 2% do seu PIB a este setor".

Entre os crescentes orçamentos militares para 2015, em comparação com o ano anterior, estão: República Tcheca (3,7%), Estônia (7,3%), Letônia (15%), Lituânia (50%), Noruega (5,6%), Polônia (20%), Romênia (4,9%), Eslováquia (7%), e Suécia, que não é membro da OTAN (5,3%).

Sintomaticamente, a maioria dos membros da OTAN da Europa ocidental está reduzindo ou congelando suas despesas militares. É o caso da Grã-Bretanha, França, Alemanha, Itália, Portugal, Dinamarca e Espanha.

Entre os que aumentaram seus gastos militares, a Polônia tem a maior despesa, de cerca 35 bilhões de dólares até 2022.
Em comparação, os Estados bálticos da Lituânia, Letônia e Estônia têm gastos muito menores em termos absolutos. Mas o que importa aqui é o gasto em relação a economias bem menores.

Como nota o relatório do SIPRI: "Em médio e longo prazo, o aumento de 80% ou mais em gastos militares, exigido por alguns Estados membros para atingir a meta de 2%, não tem precedentes entre os membros da OTAN em tempos de paz. Desde o fim da Guerra da Coreia (1950-1953), a tendência dos orçamentos militares de quase todos os membros da OTAN, em termos de percentagem do PIB, tem sido de baixa ou estável, mesmo nos períodos de maior tensão com a União Soviética”.

Os Estados Unidos, o maior exportador mundial de armas, tem muito a ganhar com o crescimento dos orçamentos e a ampliação do mercado europeu, através da venda de sistemas de mísseis, tanques, navios de guerra e aviões de combate. O bônus adicional para o FMI (dominado por Washington) é que, se o aumento das despesas militares levar ao endividamento destes países, sua futura fragilidade econômica permitirá a expropriação destas economias através de políticas de austeridade em benefício do capital financeiro global. O processo não é muito diferente do que ocorreu com a Grécia.

No dilúvio de reportagens da mídia ocidental sobre a crise da dívida grega, um aspecto fundamental continua estranhamente escondido: o fato de que grande parte do peso da dívida da Grécia, de 320 bilhões de dólares, é resultado de décadas de militarismo exorbitante. Algumas estimativas atribuem quase metade do total da dívida – mais de 150 bilhões de dólares – a gastos militares.

Antes do início da atual crise da dívida, em 2010, a Grécia alocava cerca de 7% do seu PIB em despesas militares, enquanto muitos outros países europeus destinavam ao setor cerca de 2% do PIB.
Mesmo agora, cinco anos após o colapso econômico, a Grécia ainda é o país com maior gasto militar na União Europeia – com 2.2% do PIB. Dos 28 membros da aliança militar da OTAN, a Grécia é o país com maior gasto proporcionalmente, depois apenas dos Estados Unidos, que destinam cerca de 3,8% do PIB às despesas militares.

O governo grego de Alexis Tsipras e os credores institucionais entre a União Europeia, Banco Central Europeu e do FMI têm cuidadosamente ignorado uma opção óbvia para ajudar a equilibrar as contas da Grécia: um corte importante no investimento militar.

Se a Grécia reduzisse seu gasto militar pela metade, para cerca de 1% do PIB, mesma fatia destinada ao setor pela Itália, Bélgica, Espanha ou Alemanha, haveria uma economia de dois bilhões de dólares, o que atenderia às demandas imediatas do FMI e poderia atenuar as drásticas medidas de austeridade exigida pela Troika.

Mas há um bom motivo para que a Troika venha ignorando essa opção. A extravagância militar da Grécia dos últimos anos tem sido uma mina de ouro para a indústria de armas alemã, francesa e americana. Dos 150 bilhões de dólares em despesa militar da Grécia até 2010, 25% foram para a Alemanha, 13% para a França e 42% para os EUA, de acordo com dados do SIPRI.

Não é por acaso que os maiores credores institucionais da Grécia são os governos alemão e francês – aos dois juntos, a Grécia deve 100 bilhões de dólares. Grande parte do capital emprestado por estes países foi, em seguida, aplicado na compra de armas alemãs e francesas, como tanques Leopard e caças Mirage, além de F-16 americanos.

Em entrevista ao The Guardian, em abril de 2012, o parlamentar grego Dimitris Papadimoulis acusou Berlim e Paris de hipocrisia: "Bem depois do início da crise econômica (em 2010), Alemanha e França tentavam selar acordos lucrativos de vendas de armas enquanto nos pressionavam a fazer severos cortes em áreas como a saúde”.

Assim, Berlim e Paris inflacionavam intencionalmente a dívida da Grécia, um grande mercado para suas indústrias de defesa. Essa roda financeira também girava com a força da corrupção.
Em outubro de 2013, Akis Tsochatsopoulous, ex-ministro da defesa da Grécia no governo PASOK, foi condenado a 20 anos de prisão por participação em um caso de suborno de 75 milhões de dólares envolvendo dezenas de outros membros do governo.
A empresa alemã Ferrostaal também foi obrigada a pagar 150 milhões de dólares por seu papel no caso de contrabando de armas que, entre outras coisas, garantiu a venda de quatro submarinos da Class 214 para a Grécia, por cerca três bilhões de dólares.

O conveniente bicho-papão no cenário grego foi a Turquia, que invadiu o Chipre em 1975, e era retratada como uma ameaça permanente à segurança da Grécia. Washington, Berlim e Paris, junto com políticos corruptos em Atenas, davam ênfase à ameaça turca para pôr em marcha a máquina de empréstimos e compras militares. O triste fim desta história é a crise da dívida grega, que se desdobrou no estupro econômico do país, liderado pelo FMI e os poderosos da União Europeia, principalmente Berlim e Paris.

Outra ironia nesta tragédia grega moderna é que a alegada ameaça, tão enfatizada por Washington e seus aliados europeus, que levou à intensa militarização da Grécia, era um aliado da OTAN, a Turquia. O que será que aconteceu com o Artigo 5 do Tratado da OTAN, sobre segurança coletiva, durante todos esses anos de insegurança?

Como é fácil, então, para Washington e seus aliados da OTAN, apresentar a Rússia com os mesmos velhos estereótipos da Guerra Fria, como uma ameaça de segurança para a Europa Oriental e Escandinávia!

A julgar pelo aumento dos gastos militares por países da Europa do Leste e da Escandinávia, a estratégia está funcionando. O complexo industrial-militar dos EUA e seus homólogos alemães, franceses e britânicos têm bilhões de dólares a lucrar nos próximos anos com os menores membros da OTAN, que estão tola e convenientemente apavorados com o "fantasma russo".

Se a história do militarismo na Grécia tiver algo a ensinar, uma crise da dívida ao estilo grego aguarda os países bálticos, a Polônia e a Escandinávia.

Proteção da OTAN? O mais correto seria chamar de armação da OTAN.

Tradução de Clarisse Meireles

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Exposição: "Como um polaco construiu ferrovias no Brasil"


Acontece hoje, dia 6 de julho, às 20 horas, a abertura da exposição: "História da Família Wierzbowski",  na sede da Casa da Cultura Polônia Brasil, Rua Ébano Pereira, 502 - Curitiba/PR.
A exposição conta com o apoio do Consulado Geral da República da Polônia em Curitiba, Casa da Cultura Polônia Brasil, Sociedade Polono-Brasileira Tadeusz Kosciuszko, Braspol e Sociedade Polono-Brasileira Marechal Pilsudski.

A exposição fica aberta à visitação até 17 de julho de 2015.

História da família Wierzbowski
Como um polaco construiu ferrovias no Brasil...

No dia 28 de julho do ano 2005, a Biblioteca Silesiana na Polônia recebeu solenemente um presente especial: o patrimônio da família Wierzbowski. A coleção única do seu gênero, doada pelos herdeiros Jerzy Łuka e Ewa Sońska, consiste em diversos documentos da família, arquivos fotográficos e mapas feitos a mão. Ilustra a incrível história da família Wierzbowski, primeiramente ligada às terras polacas sob ocupação russa, depois à Silésia Maior, e finalmente, sua vida no país distante, no Brasil.
Demostra a persistente luta pela polonidade e um patriotismo inabalável. Os documentos mais antigos da coleção datam da primeira metade do século XIX, entre eles, um diploma de 1847 „Heroldya do Reino Polaco” confirmando o título de nobreza de Tomasz Wierzbowski, com brasão de Lubicz.
Porém, os mais curiosos e raros são os materiais referentes à emigração de Teofil Witold Wierzbowski para o Brasil; engenheiro e construtor de ferrovias no Brasil.
As imagens registradas por ele formam um testemunho único do processo da construção de ferrovias no Paraná entre os anos 1909 e 1914.
Não menos interessante é um mapa do Estado, feito em próprio punho por Teofil Witold Wierzbowski. E finalmente, temos os interessantes documentos da Silésia Maior, onde a família se estabeleceu nas décadas entre guerras.
O herdeiro e doador da coleção, Jerzy Łuka, mora ali até os dias de hoje. Sua mãe, Sra. Zofia Łuka (de solteira: Wierzbowska), filha do construtor, que ainda lembra os tempos da emigração, mora hoje em Rzeszów.
Esta coleção foi cuidadosamente organizada, e os manuscritos, as fotografias e mapas enriqueceram o acervo da Biblioteca Silesiana.
Hoje apresentamos uma parte especial dessa coleção, na exposição sob o título: “Como um polaco construiu ferrovias no Brasil...”, contendo as fotos tiradas na selva brasileira por um imigrante e engenheiro polaco, construtor de ferrovias no Brasil, Teofil Witold Wierzbowski.
Graças à sua paixão por fotografia, podemos nos transportar no tempo e espaço de um país distante. Em cor sépia podemos admirar as incríveis paisagens do início do século XX e as pessoas, encarando com bravura a natureza selvagem. Essa viagem é de fato incrível e fascinante ....

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Kaczyńki se retira da corrida para chefe de governo

O líder do partido de oposição polaco Direito e Justiça, Jarosław Kaczyński, (pronuncia-se iaróssuaf catchínhsqui) retirou-se da corrida pelo cargo de primeiro-ministro nas eleições parlamentares deste ano, e nomeou para o seu lugar uma parlamentar que considera menos polêmica.
Depois de mais de duas décadas à frente da política polaca, Kaczyński disse que não o colocaria no centro da campanha deste ano, e lançou seu apoio a Beata Szydło.
Em uma convenção do partido, neste sábado, Kaczyński disse que Szydło era "honesta" e "trabalhadora". Ela tem experiência no governo local e no parlamento e atualmente é chefe da campanha eleitoral do partido.
A Szydło é creditada a suavização da imagem do partido conservador e, como chefe da campanha, ajudou Andrzej Duda a garantir um mandato de cinco anos nas eleições presidenciais de maio. Ele venceu a recente eleição presidencial e assumirá o cargo em 6 de agosto.
Beata Szydło foi eleita pela primeira vez para o Sejm (Câmara dos Deputados) em 25 de Setembro de 2005 com 14.447 votos em 12, no distrito de Chrzanów, candidata pelas listas do partido Prawo i Sprawiedliwość.
Beata nasceu 15 de abril de 1963 (52 anos), Oświęcim, Polônia.

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Escritores estrangeiros que escreveram em polaco

São, o idioma polaco e literatura polaca, periférica ou universal?
E quais são as suas perspectivas?
Estas são perguntas que muitos desses escritores se perguntavam e que poderia lhes fazer ainda hoje.
Aqui está uma lista de alguns dos autores mais surpreendentes do mundo que (você não sabe) também escreveram suas obras em polaco.
Alguns deles, mais tarde se tornaram clássicos da literatura em outros idiomas, e alguns produziram em um tipo altamente peculiar de idioma polaco.
Para outros, a escolha da língua era uma manifestação da identidade política e nacional, para outros, um beco sem saída.
Por toda a sua complexidade e contraste, esta lista atesta a grande força de atração e influência da cultura e da literatura polaca, teve em escritores através épocas e geografias.
Uma coisa é certa, cada um deles conta uma história diferente sobre a cultura polaca. Apresentamos aqui dez destes renomados escritores

Jakub Frank (1726-1791)
O escritor ficou estava por detrás do maior cisma na história do judaísmo na Polônia. Em meados do século 18, ele levou milhares de judeus a se converterem ao cristianismo, estabelecendo efetivamente uma nova religião que ficou conhecida como Frankismo.
Jakub Frank nasceu em Korołówka (atualmente na Ucrânia), na região da Podólia em 1726 e morreu em 1791, em Offenbach am Main, no Sacro-Império Germânico (atual Alemanha).
Mas apenas um ano depois, após a acusação de aderir uma seita Sabbatian, toda sua família deixou a Polônia e se estabeleceram em Valáquia, na Romênia, então parte do Império Otomano. 
Mas quando Frank retornou à Polônia, em 1755, este líder carismático da seita Sabbataian (cristãos sabáticos), provavelmente, não tinha qualquer conhecimento do idioma polaco (e tampouco do iídiche).
No momento da seu retorno a Podólia, Frank era fluente em ladino e turco, já que ele tinha sido criado no Império Otomano. Mas não falava nenhuma das línguas locais.
Foi apenas, durante os 13 anos de seu confinamento no monastério de Jasna Góra (onde ele foi mantido em cativeiro como um herege potencialmente perigoso pelas autoridades católicas), que Frank aprendeu o idioma polaco.
Suas palestras esotéricas, dadas mais tarde aos seus discípulos em Brunn, na Morávia, e publicadas como "As Palavras do Senhor", são o mais notável testemunho da variedade altamente não ortodoxa e bizarra de Frank do vernáculo polaco.

Yitskhok Leybush Peretz (1852-1915)

Antes de se tornar o pai da moderna literatura iídiche, Peretz tentou escrever tanto em polaco quanto hebraico.
O polaco foi realmente a língua em que ele escreveu alguns de seus primeiros poemas em 1874.
Peretz iria começar a escrever em iídiche só muito mais tarde, quando da publicação de seu primeiro livro, em 1888, que coincidiu com a sua mudança para Varsóvia, em 1889, na época a maior cidade judaica cidade do mundo. Pouco tempo depois, seu apartamento na ulica (rua) Ceglana, tornou-se centro da vida literária iídiche na Polônia.
Embora mais tarde, viesse a considerar sua jovem produção poética polaca como artisticamente falha e ideologicamente errada e nunca voltar a escrever em polaco, Peretz fez questão de acompanhar as últimas tendências da literatura e da imprensa polaca, engajou-se em polêmicas com escritores e jornalistas polacos.

Joseph Conrad (1857 -1924)

Na história da literatura, Joseph Conrad é conhecido principalmente como um escritor inglês. E corretamente é assim... Mas para Józef Teodor Konrad-Korzeniowski que é seu nome real, a língua de todas as suas obras literárias, a inglesa, era na verdade a terceira que ele aprendeu.
Nascido em uma família nobre polaca muito patriótica em Berdyczów (situada na atual Ucrânia) Conrad começou a escrever com 11 anos de idade.
Suas primeiras peças de teatro foram escritos em seu polaco nativo. Entretanto, naquele momento, ele também sabia francês, idioma que ele havia aprendido com sua governanta francesa.
Ele aprendeu inglês só muito mais tarde, quando era um jovem marinheiro a bordo de navios franceses e britânicos. E foi justamente esta língua que ele escolheu para sua escrita. Publicou seu romance de estréia "Almayer’s Folly", em 1895.
Até o fim de sua vida, Conrad falou uma bela e pura variante do idioma polaco de Kresy (Um das partes orientais da Comunidade Polaca-Lituana), que ao contrário de sua pronúncia em inglês, foi relatada como particularmente sem sotaque e clara.

Ivan Franko (1856-1916)
Um dos mais proeminentes e prolíficos escritores ucranianos era basicamente um escritor trilíngue, pois era fluente em ucraniano, polaco e alemão.
Ele nasceu em Nahujowice, uma pequena aldeia na região de Drohobycki.
Foi em Drohobycki, que Franko participou de um ginásio onde aprendeu alemão e polaco. Após a reforma de 1867, muitas escolas da Galícia foram alternando a língua de ensino de Alemão para Polaco.
Na verdade, como um de seus professores de escola lembrava, os textos em idioma polaco de Franko eram melhores do que os de seus colegas polacos.
Em um de seus artigos escolares contém uma ácida polêmica sobre a poesia do poeta romântico polaco Adam Mickiewicz.  A crítica foi recebida com uma resposta muito rigorosa a funcionários da escola, e também foi o início de uma relação muito conturbada com o poeta polaco, que perdurou por toda a vida de Franko.
O escritor se tornou um grande admirador e especialista de literatura polaca e, como Yaroslav Hrycak observa, a certa altura ele foi mesmo considerado um poeta polaco.
Em idioma polaco, Franko escreveu numerosos artigos, e pelo menos, dois romances.

Rosa Luxemburg (1871-1919)
Assim como Y.L. Peretz, Rosa Luxemburgo nasceu em Zamość. E apenas para ficar com toda a família reunida, dois anos depois e se estabeleceu em Varsóvia. Rosa viveria na capital polaca até 1889, quando ao enfrentar uma prisão ordenada pela polícia russa de ocupação, ela partiu para a Suíça.
Embora ela seja conhecida principalmente como uma autora de língua alemã, o idioma polaco era a sua língua nativa (falada pela família Luxemburg em sua casa, na Suíça).
Na verdade, ao longo de toda a sua vida, Rosa manteve uma relação muito emocional com a sua língua materna.
Ela permaneceu uma ávida leitora de Mickiewicz, cujos poemas e literatura polaca ela estudava em aulas secretas em Varsóvia (este foi um momento de intensa russificação de escolas polacas).
Um dos testemunhos mais fascinantes de sua notável atitude para com a língua polaca é a sua correspondência com o marido Leon Jogiches, também um revolucionário marxista como ela, mas ao contrário dela um não falante nativo de Polaco (russo foi sua primeira língua).
Em suas cartas polacas para seu marido, cheias de ternura e profundo apego, muitas vezes ela reclamava da abordagem polaca e seu purismo e hiper-correção da língua polaca de seu marido, sendo, às vezes muito cruel em suas correções.
Em dado momento, Rosa ameaçou Leon com uma surra, devido a baixa qualidade de seu escrito polaco.

Mikalojus Konstantinas Čiurlionis (1875-1915)

O compositor e pintor lituano continua a ser uma das figuras mais marcantes do modernismo europeu na virada dos séculos.
Em uma sinestesia de sua obra, ele é conhecido por sua produtiva criação de pinturas simbolistas (cerca de 300) e composições musicais impressionistas (400), criadas durante o período de 10 anos de sua vida artística.
Muito pouco se sabe sobre sua produção escrita, pois tudo foi escrito em polaco. Čiurlionis nasceu em Stare Orany (atualmente Senoji Varėna, na Lituânia) e como muitos outros lituanos da época foi educado e falava polaco em casa.
Uma de seus maiores fascínios literários, e que também afetou sua arte, era o poeta romântico polaco Juliusz Słowacki (uma das principais influências sobre Čiurlionis foi o longo poema Król-Duch, Espírito do Rei), muitos de cujos poemas Ciurlionis sabia de cor.
Foi somente através de sua noiva Sofija Kymantaitė que Cirlionis começou a melhorar seu lituano. O polaco era a língua de correspondência de Ciurlionis quanto de sua produção literária mais ousada, que, no entanto, não sobreviveu na sua orientação original original polaca.
Como Vytautas Landsbergis aponta, apenas trechos desses diários elaborados e representações sobreviveu. Como os manuscritos polacos originais foram irremediavelmente perdidos, apenas fragmentos sobreviveram na tradução lituana e assim não se sabe que tipo de escritor Ciurlionis poderia ter sido. Conheça mais sobre os escritos polacos de Mikalojus Konstantinas Čiurlionis em www.ciurlionis.eu

Yanka Kupala (1882-1942)

O poeta nacional da Bielorrússia, Yanka Kupala nasceu com o nome de Ivan Daminikavich Lutsevich em Viazynka, região Mińsk, como um sem-terra, numa família nobre empobrecida.
Kupala estreou em 1904 com um poema escrito em polaco, mas já um ano depois, inspirado pelos escritos de patriotas bielorrussos como Bahushevich e Dunin-Marcinkiewicz, começou a publicar em bielorrusso (uma decisão que sua mãe nunca pode entender, pois ela acreditava que a verdadeira poesia só poderia existir em polaco).
Sua poesia precoce pode ser vista como um elo entre a tradição da poesia romântica polaca com o folclore eslavo e o simbolismo russo.
A partir de 1907, Kupala colaborou com o jornal bielorrusso Nasha Niva, com sede em Vilno, tornando-se uma figura-chave do movimento nacional bielorrusso.


Joseph Roth (1894 - 1939)

Este grande escritor austríaco, autor de "Marcha Radetzky", nasceu em 1894, em Brody, uma pequena cidade na Galícia polaca ocidental, habitada por polacos, ucranianos e judeus.
Como Ivan Franko, Roth devia seu conhecimento do polaco para seus dias de escola em Brody, onde estudou num ginásio austríaco que, por sua vez, no entanto, estava se mudando do idioma alemão para o polaco.
Como resultado, Roth estudou algumas discíplinas, como literatura polaca, em diretamente no idioma polaco.
Seus primeiros poemas escolares foram escritos em polaco e alemão (infelizmente apenas um poema polaco sobreviveu).
Em 1913, após seu exame de madureza em Brody, Roth foi matriculado no idioma polaco na Universidade de Lwów (atualmente Lviv, na Ucrânia) que, no entanto, ele deixou apenas dois meses depois, transferido que foi para Viena para estudar literatura alemã e, eventualmente, tornar-se um grande escritor da literatura de língua alemã.
Sobre suas habilidades com língua polaca ele diria mais tarde: "Meu conhecimento da língua polaca alcança a distância de Brody para Cracóvia".


Avrom Sutzkever (1913-2010)

O clássico do século 20 da poesia iídiche Awrom Sutzkever nasceu em Smorgonie (na época território polaco sob ocupação russa, atualmente na Bielorrúsia), passou a maior parte de sua infância na Sibéria.
Em 1921, a família transferida para Vilno, onde Sutzkever estudou o ginásio. Ele viria a se matricular na Universidade Stefan Batory, mais tarde.
Sutzkever, que era um membro do grupo de "avant-garde" Yiddish Jung Vilne, escreveu uma poesia que carregava a influência da poesia russa e polaca, influenciado por Bolesław Leśmian e Cyprian Kamil Norwid, a quem dedicou Sutzkever o poema central de seu livro de estreia, em 1937, "Lider".
Falando sobre este poema, Daniel Katz, o biógrafo de Sutzkever, observou que nele o poeta conseguiu dar a língua iídiche o some a forma Norwidiana.
Durante a guerra, Sutzkever conseguiu fugir do gueto de Vilno e depois de um tempo passado com uma tropa militar judaica fugiu para a União Soviética.
Depois da guerra, ele retornou para a Polônia, apenas para emigrar para Israel em 1947. Foi nos círculos "avant-garde" do pré-guerra em Vilno, que Sutzkever se familiarizou com Czesław Miłosz.
Muitos anos depois, em 1979, quando os poetas fizeram contato novamente, eles usariam o polaco em suas correspondências.
Daniel Katz lembra que mesmo em seus últimos anos, Sutzkever poderia citar de memória os poemas polacos de Leśmian,  e seu ser favorito "Dziewczyna".

Joseph Brodsky (1940-1996)


O poeta russo e vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 1978, pode não ter literalmente escrito em polaco, mas ele era, definitivamente, fascinado com a cultura e a língua polaca.
Esse fascínio remonta a década de 1960 e o Khrushchev Thaw, quando a Polônia se tornou o país mais liberal do bloco soviético.
Naquela época, muitos cidadãos das repúblicas soviéticas percebia a Polônia como uma porta de entrada livre para a cultura sem censura e como uma enorme janela para o Ocidente.
Como resultado, muitos intelectuais soviéticos, como Vladimir Bukowski, Natasha Gorbanevskaya, Tomas Venclova, e Brodsky, aprenderam polaco. Brodsky se traduziu os poetas polacos Gałczyński, Norwid, Harasymowicz, e Miłosz.
Mesmo muito tempo depois, como um dissidente russo e emigrante, Brodsky só se comunicava com seus amigos da Polônia, em idioma polaco, apesar do fato dele não ser fluente na língua.
Ele também tinha a maior admiração pela cultura polaca, pois ele acreditava que o espírito de rebelião polaca foi a principal força por trás do colapso do sistema comunista, um regime que tinha considerado um dos maiores males que já tinha acontecido no mundo.
Em 1993, ao receber um doutorado honorário da Universidade da Silésia, em Katowice, ele disse que tinha aprendido a arte da rebelião e resistência dos polacos e que, nesse sentido, ele se qualificava para o título do Polaco Honorário.

Texto: Mikołaj Gliński
Tradução para o português: Ulisses Iarochinski

domingo, 17 de maio de 2015

Polacos duvidam de milagre econômico


Um homem em uma torre vigia seu país.

Jan Krzysztof Bielecki, ex-primeiro-ministro da Polônia durante um ano no tumultuado 1991, senta-se em uma sala dos arranha-céus imponentes Rondo 1. Na terça-feira da semana passada, Varsóvia —a locomotiva econômica da Europa do Leste—, com crescimento de 3,4% previsto para 2015 e crescimento do PIB de 25% desde 2008, viu-se submersa em um mar de nuvens negras.
“Sobre o milagre polaco, estou muito otimista para os próximos sete anos”, explica ele em uma entrevista concedida como chefe do Conselho do Instituto Polaco de Relações Internacionais.
“O crescimento continuou sustentado mesmo durante a turbulência da crise europeia e a guerra na Ucrânia. Diversificamos e nem mesmo o fim dos fundos de coesão europeus em 2020 parece ser um problema: com nossa reconversão, aspiramos a outros subsídios em pesquisa e desenvolvimento".
Bielecki vê fissuras no horizonte de arranha-céus que brotaram de 10 anos para cá ao seu redor, escondendo o Palácio da Cultura e da Ciência estalinista que até então dominava o perfil da cidade. “Até 2025 temos uma demografia muito boa, com jovens dinâmicos e preparados, muito melhores que a geração do Solidariedade, que tinha boas intenções mas nem sempre as desenvolveu”

Sem-tetos em abrigo de Varsóvia
Dinamismo. Juventude. Formação. São os mantras repetidos pelos agentes econômicos polacos. Bielecki, um dos grandes privatizadores dos primeiros anos da democracia, se mostra evasivo quando questionado sobre a desigualdade como ingrediente do milagre econômico do país. “Os salários estão subindo”, afirma.
No recente primeiro turno das eleições presidenciais, as questões de política social tiveram grande importância, dando a vitória ao conservador Andrzej Duda, do partido protecionista Direito e Justiça. O atraso da idade da aposentadoria, a flexibilidade e a precariedade são vitais para os jovens. As más condições de trabalho são precisamente uma das razões que incentivam o declínio demográfico citado por Bielecki.

Desde o lado Oeste ainda é possível visualizar o Palácio da Cultura
Os símbolos de prosperidade são avassaladores. O país mostra uma fé comovente nos centros comerciais e nos restaurantes internacionais. Em velhos bairros industriais de Varsóvia como Powiśle, lojas da Lamborghini surgem entre de luxuosíssimos lofts.
Mas tudo isso parece muito distante no bairro de Praga, onde muitas casas ainda dividem um banheiro. São fáceis de reconhecer: trata-se de edifícios anteriores à guerra com marcas de bala na fachada.
O pessimismo está nas ruas. Não é fácil encontrar um morador que não fale de uma Polônia arruinada, sem indústria nem emprego decente. Uma menina sai suja de um edifício em ruínas.

Praga, o irrecuperado bairro de Varsóvia,
onde Polański não precisou fazer cenários para rodar "Pianista"
Dentro dele, um homem que trabalha em uma pequena reprografia explica que no dia anterior recebeu uma carta avisando que o proprietário anterior à guerra tinha reaparecido e oferecia um realojamento por ter pagado o aluguel durante esses anos. “Mas a maioria das pessoas que vivem aqui não pagavam. São muito pobres”, conta.
No lugar do seu prédio imagina que construirão um como o da calçada em frente, para as novas classes médias e os artistas que estão substituindo a população autóctone desde que o metrô chegou ao bairro.
Apesar desse processo, a maioria das lojas está fechada. Em uma rápida pesquisa eleitoral, Praga confessa votar à direita do Direito e Justiça. As cifras do desemprego polacas são de 11,3%, mas 80% dos trabalhadores ganham abaixo do salário médio (cerca de 2.730 reais, metade do da Espanha).
Um terço dos empregados têm os chamados “contratos lixo”, com poucos direitos sociais. Outro terço são autônomos que trabalham para grandes indústrias (como já aconteceu nos estaleiros).
Stefan Zgliczyński, diretor da editora Książka i Prasa e da versão polaca do Le Monde Diplomatique foi até recentemente um orgulhoso morador do bairro de Praga.
Também fez parte da esquerda anticomunista durante o regime; agora ele se lamenta pela inexistência de alternativas sociais que não sejam a ultranacionalista. “As ruas estão cheias de bons automóveis, mas vivemos de empréstimos. Não temos esse dinheiro”, explica sobre as altíssimas taxas de endividamento das famílias.
Sua sala está forrada de pôsteres da resistência palestina. Ele insiste: “Nós ganhamos um terço do que os europeus. Assim o governo atrai as grandes empresas”.
Casos como a abertura de um centro de logística da Amazon no ano passado alimentam regularmente a polêmica nacional sobre a distribuição da nova riqueza. Os salários oferecidos pela empresa são cinco vezes menores do que os alemães e alguns executivos da empresa congratularam-se inclusive porque apenas 17% dos trabalhadores do país são sindicalizados.
“Todo mundo tem medo de perder o emprego e não se mexe”, explica Zgliczyński. “Ter um emprego é como uma montanha de ouro. E você aceita as condições ou sai”. No bairro de Praga acreditam que, das torres do centro de Varsóvia, não são vistos.

Fonte: jornal El País
Texto: Jerônimo Andreu

sábado, 16 de maio de 2015

Europa Central se opõe a cotas de refugiados


O governo da Polônia manifestou nesta sexta-feira, 15 de maio, sua oposição a um futuro sistema de cotas fixas para distribuição obrigatória de refugiados pelos países da União Europeia (UE), admitindo, porém, estar disponível para acolher migrantes de forma voluntária. “Não estamos dizendo que deixaremos de acolher migrantes. Estamos dizendo que queremos fazer uma oferta palpável. Como outros parceiros europeus, sou a favor de decisões voluntárias”, afirmou a primeira-ministra da Polônia, Ewa Kopacz.
Em Varsóvia, Ewa Kopacz recordou que o país tem se beneficiado da solidariedade europeia. Acrescentou que, atualmente, “tal solidariedade é indispensável para aqueles que procuram refúgio e que morrem no Mediterrâneo, transformado no maior cemitério marítimo”.
Segundo ela, a Polônia se une a outros países da Europa Central e do Leste contrários ao plano proposto pela Comissão Europeia. República Tcheca, Estônia, Hungria, Letônia, Lituânia e Eslováquia se opõem ao sistema de cotas fixas, mas todos manifestaram disponibilidade para receber refugiados voluntariamente.
“Não existe base legal na União Europeia para introduzir tais cotas”, esclareceu primeiro-ministro tcheco, Bohuslav Sobotka.
“O Conselho Europeu decidiu que qualquer decisão dos países-membros sobre migrantes deve ser voluntária. Por isso, recuso a política de cotas como princípio”, acrescentou o chefe do governo eslovaco, Robert Fico.
Na condição de maior país da Europa Central, a Polônia pode ser obrigada a receber 5,64% do total de refugiados. A Estônia será convidada a receber 1,76% e Portugal 3,89%.
O Reino Unido, que já criticou fortemente o plano, a Irlanda e a Dinamarca poderão ficar de fora do sistema de cotas. A Agenda Europeia da Migração, que integra o sistema de cotas, foi apresentada quarta-feira (13) pela Comissão Europeia em Bruxelas.
A proposta será discutida pelos ministros da Administração Interna da UE em 15 de junho, sendo depois apresentada nesse mesmo mês aos líderes europeus numa cúpula em Bruxelas.
De acordo com dados da Organização Internacional para Migrações (OIM), divulgados dia 7 de maio, mais de 34,5 mil migrantes chegaram ao território italiano este ano.
Em 2015, cerca de 1.770 morreram ou desapareceram no mar, o que representa mais da metade das cerca de 3,3 mil vítimas fatais registadas em 2014.

Fonte: Agência Lusa
Texto: Armando de Araújo Cardoso

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Polônia comemora os 70 anos do fim da II Guerra


Uma cerimônia no monumento de Westerplatte, em Gdańsk, o mesmo lugar onde em 1939 começaram os primeiros combates da Segunda Guerra Mundial, serviu para encerrar nesta quinta-feira os atos comemorativos do 70º aniversário do fim do conflito organizados pela Polônia.
O chefe de Estado da Polônia, Bronisław Komorowski, foi o anfitrião da cerimônia da qual participaram o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, e o presidente do Conselho Europeu, o também polaco Donald Tusk.
Junto a eles estavam os presidentes de Bulgária, Croácia, Chipre, República Tcheca, Estônia, Lituânia, Romênia e Ucrânia, além de representantes de outros países europeus e aliados da OTAN.


O ato, que terminou com uma interpretação do hino europeu, contou com um discurso de Komorowski, que apoiou as aspirações europeístas da Ucrânia e criticou as ações da Rússia, especialmente a anexação da Crimeia.
A Rússia mudou as fronteiras da Europa "e isso não se pratica desde 1939", disse o líder polaco em Westerplatte.
"Estas práticas e atitudes anacrônicas não podem ser consentidas", acrescentou Komorowski.
Os representantes europeus também acenderam velas em frente ao Monumento aos Trabalhadores Caídos em Gdańsk por sua oposição ao regime comunista polaco, já que foi nesta cidade onde nasceu o Movimento Solidariedade e se deram os primeiros passos para o fim do comunismo na Europa oriental.
Os atos organizados pela Polônia centraram a comemoração internacional do fim da guerra, mas o aniversário também será lembrado em outros lugares do mundo entre hoje e amanhã.
Entre esses lugares se destaca Moscou, onde a cada 9 de maio acontece um desfile militar comemorativo ao qual este ano não comparecerão os representantes dos principais países ocidentais em uma demonstração de desaprovação perante a política da Rússia na crise da Ucrânia.

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Pianista "masakra" na Capela Santa Maria

Ao final da audição, esperei na fila de autógrafos para dizer ao artista:
Pan jest masakra na pianinie. Gratuluję! Brawo!
Po portugalsku: "o senhor abusa do piano".
Ele não entendeu, evidentemente, então disse: Pan nadużycie fortepian.

Estou falando do pianista Artur Dutkiewicz, que pela primeira vez tocou no Brasil, na noite de ontem, na Capela Santa Maria, em Curitiba, em comemoração ao 3 de maio - dia da Constituição da Polônia.
A sala de concertos lotou e não apenas com descendentes de polacos, mas também de curitibanos de outras etnias.
O próximo concerto é em Brasília ainda esta semana. Dutkiewicz é simplesmente um dos maiores pianistas jazzistas da Europa.

Aqui uma pequena amostra do talento desse virtuoso, que confessou que quando começou a aprender a tocar com uma professora idosa, num castelo da Polônia, ele aproveitava para improvisar na lição, por não se lembrar corretamente dos acordes e toques ensinados. Mas isso só quando, a professora cochilava, naqueles momentos:

Ditkiewicz interpreta "Woodoo Child" de J. Hendrix

sábado, 25 de abril de 2015

Polônia perde seu último herói


Morre 74 anos após ser libertado do
Campo de Concentração e Extermínio Alemão de Auschwitz,
o herói contemporâneo polaco
Władysław Bartoszewski
"Não sou filósofo, nem teólogo.
Não tenho respostas prontas.
Sou um homem simples,
mas tento pensar!
E pode que em certo momento,
quando já não se é jovem, ou de meia idade,
ter a idéia, de se olhar pra si mesmo no espelho,
sem desgosto?
Isto também pode ser importante,
com quem se termina vagando pela terra."
Władysław Bartoszewski
no livro "Importante ser descente"

Bartoszewski morreu, em Varsóvia, com a idade de 93 anos, neste 24 de abril de 2015. Ele que nasceu em 19 de fevereiro de 1922, na mesma capital polaca.
Foi historiador, professor, jornalista, membro da resistência polaca durante a Segunda Guerra Mundial e recebeu o reconhecimento de "Justo entre as Nações" pelo povo de Israel.
Foi senador e ministro das relações exteriores da Polônia. Estudou na Universidade de Varsóvia.  Quando a guerra estourou Bartoszewski tinha 17 anos. Ele foi detido em 19 de setembro de 1940, em Żoliborz durante um ataque em massa organizada pelos nazistas e foi enviado ao campo de Auschwitz, onde recebeu o número 4427 de prisioneiro.


Foi liberado em 8 de abril de 1941, graças ao trabalho da Cruz Vermelha polaca.
Em agosto de 1942, começou a atuar junto à resistência popular, no Armia Krajowa (Exército Nacional do Povo).
Em setembro de 1942, já participava da Comissão de Ajuda aos Judeus - "Żegota". Em abril de 1943, já ajudava os insurgentes do gueto de Varsóvia.

Com a destruição da cidade, acabou se estabelecendo em Cracóvia.
Após a guerra, foi membro do PSL (União de povo polaco), a única organização política de oposição ao Partido Comunista.

Em 15 de novembro de 1946, foi preso pelos comunistas por espionagem e colocado em uma prisão do Ministério da Segurança. Foi condenado a oito anos, mas acabou liberado devido a sua saúde debilitada, em 1954.

A partir de 1955, dedicou-se ao jornalismo e em 1966, o Instituto Yad Vashem o denominou "Justo entre as Nações".

Também recebeu distinções como "Comandante da Legião de Honra", "Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno", "Ordem do Mérito de Baden-Wuerttemberg", "Ordem da Águia Branca", entre mais de uma centena de honrarias, prêmios, títulos e comendas de vários países.


"Vale à pena ser honesto,
mas nem sempre compensa.
Compensa ser desonesto,
mas não vale à pena."
Władysław Bartoszewski
fonte: rosa "Gali"
12 de novembro de 2007

Bartoszewski foi um homem que podia acalmar as emoções negativas em qualquer situação.
Ele era um homem, que passou por Auschwitz, e ainda assim, deu toda a sua vida em prol da paz.

Bartoszewski em trechos do filme documentário "Auschwitz Birkenau - Cemitério sem Tumbas", produção e direção de Ulisses Iarochinski.
Bartoszewski fala diante do Monumento ao Holocausto, no campo de Birkenau, nas comemorações de 60 anos de liberação do campo de concentração e extermínio alemão, em 27 de janeiro de 2005, em Oświęcim:



terça-feira, 21 de abril de 2015

Diretor do FBI fala bobagens sobre Holocausto

O Ministério de Relações Exteriores da Polônia convocou com urgência o Stephen Mull, neste domingo para "protestar e exigir desculpas".
embaixador dos Estados Unidos,
A medida é uma reação a fala do chefe do FBI, que sugeriu que os polacos foram cúmplices no Holocausto. O diretor do FBI James Comey fez os comentários em um artigo sobre o Holocausto que foi publicado na edição do Washington Post de quinta-feira.
O artigo era uma adaptação de um discurso feito por Comey no Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos.
No artigo, o diretor dizia que "em suas mentes, os assassinos e cúmplices da Alemanha, Polônia, Hungria e muitos, muitos outros lugares, não fizeram nada mau".
diretor do FBI - James Comey
Ele continuou afirmando que tais pessoas "se convenceram de que aquilo era o certo a fazer".
Depois desse infeliz comentário o jornal "The Washington Post" publicou uma versão de seu discurso, onde Comey foi criticado por alguns comentaristas que argumentavam que ele sugeriu que polacos e húngaros compartilharam a responsabilidade em condições de igualdade com os alemães para as atrocidades do Holocausto.
Comey é um republicano que serve a uma administração democrata. Está registrado que Comey doou dinheiro para a campanha do senador norte-americano John McCain na eleição presidencial de 2008 e para a campanha do governador Mitt Romney na eleição presidencial de 2012.

Seu discurso foi também criticado por autoridades polacas e Stephen D. Mull, o embaixador EUA na Polônia, foi chamado para se apresentar no Ministério das Relações Exteriores da Polônia, em Varsóvia.
A primeira-ministra da Polônia, Ewa Kopacz, afirmou que as palavras de Comey eram inaceitáveis ao seu país. "A Polônia não foi uma perpetradora, mas uma vítima da Segunda Guerra Mundial", disse ela.

Depois de encontrar o vice-ministro de Relações Exteriores polaco Leszek Soczewica, o embaixador norte-americano Stephen Mull disse que entraria em contato com o FBI sobre o problema.
Mais cedo, ele havia comentado que as declarações foram "erradas e ofensivas" e que não refletiam a visão do governo norte-americano.

Fontes: Associated Press e Wikipedia