Para aqueles que pensam existir apenas a Madona do Louvre, a cidade de Cracóvia, apresenta outra. E do mesmo gênio de Leonardo da Vinci. Um dos símbolos gráficos da cidade, a "Madona" do Museu Czartoryski, tem uma história de muitos percalços. Quando vir a Cracóvia, não deixe de ver o quadro, talvez não tão famoso quanto o da Gioconda, mas nem por isso, menos belo e enigmático.
A Madona e o Arminho
Foto: Acervo do Museu Czatoryski
Leonardo da Vinci conheceu Cecília Gallerani, em Milão em 1494 quando ambos estavam vivendo no Castello Sforzesco, o Palácio de Ludovico -O Moro- Sforza. Ela era uma das senhoras da casa do Duque; jovem e bonita (tinha apenas 15 anos), Cecília era música e escrevia poesia. Quando Da Vinci foi comissionado para pintar o retrato de Cecília, em 1496, ele a representou segurando um Arminho qualquer, porque o nome dela, Galle, significa Arminho em grego, ou então, porque o emblema de Ludovico Sforza era um Arminho. Quando Ludovico Sforza se casou com Isabella D'Este, Cecília teve que deixar o Palácio, mas levou o retrato pintado por Da Vinci com ela. O Moro lhe deu um dote e um castelo fora de Milão, onde ela passou o resto de sua vida com o marido Conde Pergamino.
DE ROMA PARA A POLÔNIA
Não havia nenhum rastro do quadro durante quatro séculos até que o filho de Izabela Czartoryska, o nobre polaco Adam Jerzy o adquiriu, em Roma. Não havia inclusive, registro de procedência da obra. Junto ele comprou um auto-retrato de Raphael que pertencia à família de nobre de Veneza, os Giustiniani.
Adam Jerzy Czartoryski
Foto: acervo do Museu Czartoryski
Em 1800, "A Madona e o Arminho" foi levado para o bonito castelo Czartoryski, em Puławy, situado a 160 km a Sudeste de Varsóvia, onde foi exposto no primeiro museu da família, criado por sua mãe. Ao receber a pintura do filho, a princesa Izabela disse sobre o arminho: "Se for um cachorro, é muito feio” e ela denominou o retrato de Cecília Gallerani como "Belle Ferroniere".
Em 1830, depois da revolução de Varsóvia, a tropa russa marchava para Pulawy e a Princesa Izabela foi forçada a guardar “A Madona com o Arminho" e o auto-retrato de Raphael, em seu refúgio de Sieniawa, próximo a Cracóvia, cidade que se encontrava sob ocupação austro-húngara. Apesar da ocupação estrangeira, o quadro estava protegido ali da pilhagem russa.
DA POLÔNIA PARA PARIS -
Em 1843, depois de estar escondido por nove anos em Sieniawa, "A Madona" foi exibida em Paris, no Hotel Lambert, propriedade do Príncipe Adam Jerzy Czartoryski. Em 1871, depois da derrota francesa na guerra Franco-prussiano, "A Madona" foi mantida num cofre, no porão do Hotel Lambert.
DE PARIS PARA A POLÔNIA -
Em 1876, "A Madona e o Arminho" volta orgulhosamente à Polônia e é mantida no novo Museu Czartoryski, de Cracóvia. Em 1894, o Príncipe Adam Ludwik assume o Museu com a morte de seu pai. Em 1914, o Príncipe Adam Ludwik foi intimado pelo Exército austríaco e sua esposa, Princesa Maria Ludwika, temendo pior sorte envia a “Madona" e a maioria das valiosas obras de arte e objetos para Dresden, onde conexões com a família Real da Saxônia dão a devida segurança ao tesouro polaco. Na Alemanha, a coleção é aberta, ao público, dois dias por semana. Depois de anos de negociações com a família real da Saxônia Real, a coleção completa com "A Madona e o Arminho" volta ao Museu de Cracóvia, em 1920. Em 1937, o Príncipe Agustyn assume o Museu com a morte do pai. Com a segunda guerra chegando, na primavera de 1939, "A Madona" e 16 outros objetos preciosos são levados do Museu para o castelo da família em Sieniawa. Apesar de toda proteção, dois meses depois, algumas obras foram pilhadas. Salvou-se a "A Madona", que foi enviada à propriedade de um primo em Pewkinie.
Em janeiro de 1940, "A Madona" e a maioria dos 85 objetos mais importantes foi pilhada e enviada para a Alemanha para formar parte da coleção privada de Hitler. "A Madona" ficou pendurada no apartamento do Dr. Frank, governador alemão de Cracóvia. Quando os alemães fugiram e as tropas soviéticas entraram em Cracóvia, o nazista levou junto "A Madona" e outros objetos para sua casa, em Neuhaus, na Silésia. Depois da prisão do nazista Frank pelos americanos, no dia 4 de maio de 1945, "A Madona" finalmente encontrou seu espaço no Museu Czartoryski de Cracóvia, para onde havia sido levado pelo regime comunista. Em 1946, o Príncipe Agustyn morreu em Sevilha, na Espanha e seu filho, Príncipe Adam Karol que tinha apenas seis anos se tornou o patriarca da Família Czartoryski (Adam Karol é primo em primeiro grau do atual rei da Espanha, Juan Carlos de Bourbon I e portanto também parente da família real brasileira). Após a queda do regime comunista, em 1991, o Supremo Tribunal da Nação Polaca reconheceu o Príncipe Adam Karol como o herdeiro direto e legítimo do Príncipe Agustyn e recebeu de volta o Museu junto a "A Madona" de Da Vinci.
VIAJANDO PELO MUNDO - Em 1992, "A Madona" viajou a Washington D.C. para ser o centro da exibição "Por volta de 1492", em comemoração aos quinhentos anos de descobrimento da América. "A Madona" foi levada também, em 1993, a Malmo e Estocolmo, na Suécia, para ser exibida na exposição dedicada a Leonardo da Vinci. Depois de uma ausência de 200 anos, "A Madona" voltou à Itália, em 1998, para ser exibido em Roma, Milão e Florença, para um público estimado em mais de 300.000 pessoas. Em 2001, "A Madona" foi ser exibida em Kyoto, Nagoya e Yokohama, no Japão, para mais de 669.500 visitantes. "A Madona" esteve também no Milwaukee Arte Museu, em setembro de 2002, e depois em Houston e São Francisco, como parte de uma exibição que celebrava o “Período de Esplendor da Polônia”.