O livro, na verdade uma tese de mestrado do jornalista de Foz de Iguaçu, Lucius Flavius de Mello conta não só a saga dos refugiados judeus no Brasil, mas também a de famílias alemãs, judias e cristãs, que fundaram a cidade de Rolândia.

"Uma de minhas maiores diversões na primeira infância era ouvir as histórias que minha avó materna, Maria, contava sobre sua vida. Ela e meu avô Jaon, que aqui virou João, eram poloneses e se conheceram numa frente de batalha durante a Primeira Guerra Mundial. Meu avô, estudante de medicina, havia sido convocado para trabalhar como médico e minha avó servia como enfermeira voluntária. Com o fim da guerra, eles se casaram e foram viver na cidade de Puliny, na Ucrânia, então parte da Rússia, onde meu avô passou a integrar o batalhão da Czarina. E foi lá que nasceu minha mãe, Juze, em 1921. Era a filha mais velha dos quatro que eles teriam. Depois da Revolução Comunista e com a subida de Stalin ao poder, em 1924, os oficiais que serviam ao Czar começaram a ser capturados e degolados, e meus avós foram obrigados a fugir para a Polônia. Meu avô arrumou uma carroça e um cavalo, deixou crescer a barba, vestiu as roupas pelo avesso a fim de parecer um pobretão e saiu da Ucrânia em direção à Polônia com minha avó e as quatro crianças. Muitas vezes não tinham o que comer, então arrancavam o capim da estrada e faziam sopa de capim para não morrer de fome. Apesar das dificuldades, conseguiram voltar à Polônia, onde meu bisavô possuía algumas terras, mas acabaram não ficando lá por muito tempo. Resolveram emigrar para a América, fizeram novamente as malas e partiram em direção ao porto de Hamburgo, na Alemanha, onde encontraram duas filas de emigração: uma para o Canadá, outra para o Brasil.... Vieram e desembarcaram no porto de Santos no ano de 1928, com as malas recheadas de rublos. O problema é que aqui a moeda russa não valia absolutamente nada e eles tiveram de recomeçar a vida com uma mão na frente e outra atrás. De Santos partiram para São Paulo, onde meu avô começou a trabalhar com madeira e minha avó, em uma confecção. Eram essas aventuras que minha avó vivia contando e tanto me fascinavam quando eu era pequeno. Ela morreu aos 98 anos e, mesmo quando já estava bem velhinha. Foi por intermédio dela que entrei em contato com Deus pela primeira vez, num centro espírita em São Paulo, onde ela me levou quando eu tinha uns dez anos. Minha mãe chegou a São Paulo com oito anos de idade e aos 18 conheceu meu pai no Instituto de Ciências e Letras de São Paulo, onde os dois faziam o ginásio. Finalmente ficaram noivos e se casaram, em 1943. Meu pai também é filho de imigrantes, mas italianos. Meu avô, Paschoal Fittipaldi, veio da Itália para o Brasil ainda bebê, em 1885."
O nome do avô João, de Emerson, era JAN e não Jaon, pois assim que se escreve em polaco, o nome João. Nesta frase “Apesar das dificuldades, conseguiram voltar à Polônia, onde meu bisavô possuía algumas terras”, Emerson, talvez sem perceber, admite que o avô era polaco e que voltou a Polônia, onde tinha uma pequena fazenda e sua mãe, portanto, apesar da cidadania russa (pois em 1921, PULIN, fazia parte da Rússia), era polaca de origem. Assim, os jornalistas polacos não estão totalmente errados quando afirmam que Kubica (pronuncia-se cubitssa), não é o primeiro piloto polaco na Fórmula 1. E Emerson Fittipaldi apesar do sobrenome italiano, da cidadania e do fato de ter nascido no Brasil, portanto brasileiro... Também é polaco!!!!
Placas nas estradas polacas informando a sintonia da emissora do Padre Rydzyk
Foi desta estação que os emigrantes polacos e rutenos embarcaram com destino aos navios que os levaram ao Brasil.
Para que não reste dúvida da descendência polaca e não de austríaco, ou ucraniano, basta saber que até 1838, a Igreja da Ressurreição de Złoczów foi católica apostólica romana, quando foi tomada pelos ortodoxos gregos. Esta igreja foi mandada construir, em 1604, por Marek Sobieski, na época governador da região de Lublin e avô do Rei Jan Sobieski III da Polônia. Foram os invasores austriacos que tiraram dos católicos a igreja para dar aos ortodoxos, os quais mudaram o nome para igreja de São Nicolau. Provavelmente esta igreja é a edificação mais antiga de Złoczów ainda de pé.
Atualmente o idioma oficial da cidade é ucraniano e com alfabeto cirílico, mas nos arquivos da igreja (que provavelmente se encontram na arquidiocese de Lviv), porque lá agora a igreja é ortodoxa, estão os documentos de familiares de brasileiros descendentes de polacos. Se não estiverem... Então devem estar no Arquivo Nacional da Polônia, em Varsóvia.
A cidade fica de carro umas 3 horas de Cracóvia, pois é só passar a fronteira em Przemyśl e mais uma meia hora se está lá. Brasileiro precisa ter uma carta-convite de alguém de lá para poder fazer o visto e entrar na Ucrânia.
Foto: Rodrigo Kurek
No almoço, com estudantes brasileiros na "Willa Decius". Fui pegado justo no flagra, quando levava à boca uma colherada de "Pierogi ruskie". Ao lado está a colega gaúcha, Gicele Rakowski, de Dom Feliciano-RS, maestranda em Marketing na "Uniwersytet Jagielloński", que no momento estava desejando "Zdrowa", com taça de vinho búlgaro. Na foto, a também brasileira, Franciele Balin, que está comendo morangos. Ao fundo ainda se vê, o polaco que casou com uma pianista chinesa. Esta toca maravilhosamente todas as músicas de Villa Lobos e o "Brasileirinho". E por isso é sempre convidada para os encontros de Brasileiros em Cracóvia.
Largo da Ordem em Curitiba