segunda-feira, 13 de julho de 2009
Israel: "Todos somos judeus"
A significativa resolução judicial do Supremo Tribunal teve como raiz um recurso extraordinário interposto pelo movimento reformista em razão da negativa do Ministério de Absorção de subvencionar atividades realizadas pela corrente religiosa para a educação de pessoas interessadas em se converter ao judaísmo, quando esse mesmo tipo de atividades realizadas pelos setores religiosos ortodoxos tem pleno apoio econômico do Ministério citado.
A Suprema Corte estabeleceu que o apoio exclusivo do Estado ao Instituto de preparação para a conversão judaica, de orientação religiosa ortodoxa, viola o principio de igualdade perante a lei e a obrigação do Estado de permitir a existência de matizes diversos de idéias sobre a herança religiosa judaica, de acordo com os princípios fundamentais que devem orientar um Estado democrático.
A presidente do Tribunal, a juíza Dorit Beinish, estabeleceu assim mesmo que a obrigação do Estado para com o principio do pluralismo religioso não se reduz somente a uma obrigação passiva. Tal obrigação tem uma face ativa que estabelece a obrigação do Estado de apoiar todas as correntes religiosas dentro do judaísmo se por acaso o Estado decidir apoiar economicamente uma dessas correntes.
A recente resolução do Supremo Tribunal estabelece um importante precedente pelo fato de que até agora as correntes religiosas liberais, reformistas e conservadoras, recebiam subvenções estatais somente para atividades que não tinham caráter propriamente religioso, sendo elas ligadas ao campo educacional ou de ajuda social a novos imigrantes. Esta é a primeira vez que se estabelece a obrigação do Estado de apoiar economicamente um trabalho de caráter religioso realizado por esses movimentos não ortodoxos, como neste caso é a preparação de pessoas interessadas em se converter a fé judaica.
Os movimentos religiosos judaicos liberais, que aglutinam a maioria das comunidades judias da diáspora, começaram a atuar em Israel há várias décadas e sua presença se exterioriza atualmente numa ampla rede de congregações distribuídas nas principais cidades do país, vários kibutzim, dois importantes centros acadêmicos – o Hebrew Union College e o Instituto Schechter de Estudos Judaicos – com fortes sistemas administrativos com seus respectivos conselhos rabínicos. Apesar de que ambos os movimentos liberais constituem ainda numericamente uma modesta minoria no seio da população geral, eles possuem, contudo um efeito multiplicador na vida intelectual, educativa e social do país.
Anos atrás, os mais destacados escritores e acadêmicos, dentre os quais se encontravam A.B.Yehoshúa, Amos Oz, Shulamit Aloni, David Grosman, Sami Mijael e outros, fizeram uma chamada publica a população para se filiar a esses movimentos religiosos liberais como uma maneira de exteriorizar a solidariedade com a luta pelo pluralismo religioso em Israel, e ao mesmo tempo o repudio a coerção religiosa impulsionada pelos setores ortodoxos amparados em posições de poder político. Esses grupos religiosos fundamentalistas conscientes do crescente fortalecimento dos movimentos liberais em Israel, costumam aumentar as pressões sobre os aliados políticos do momento nos Governos de coalizão que se sucedem, para impedir qualquer reconhecimento ou apoio oficial das correntes reformista e conservadora. O enfrentamento da ortodoxia contra as correntes religiosas liberais reconhece diferenças teológicas, de rituais e ideológicas, mas também se baseia em interesses políticos e econômicos centrados na defesa de milhares de cargos públicos ocupados por membros da elite ortodoxa frente à qualificada “competência” de rabinos e educadores liberais, assim como também pela firme defesa de privilégios possuídos por esses grupos como resultado do “monopólio do judaísmo” que os grupos ortodoxos detém no moderno Estado de Israel. Essa situação, precisamente, é a que poderia começar a mudar como resultado da recente resolução judicial do Supremo Tribunal de Justiça, mencionado acima.
O estabelecimento por parte da Suprema Corte do precedente jurisprudencial que consagra a existência de uma obrigação “ativa” por parte do Estado para assegurar a igualdade das diversas correntes religiosas dentro do judaísmo, pode abrir a porta a outras demandas igualitárias.
Nesse sentido, os movimentos religiosos liberais poderiam demandar o reconhecimento pleno dos rabinos reformistas e conservadores para a celebração de casamentos religiosos, autorização de conversões ao judaísmo, integração de conselhos religiosos municipais, estabelecimento de partidas orçamentárias para cobrir salários de rabinos liberais e outras medidas que tendem a igualar a situação entre as três correntes religiosas.
O monopólio da religião judaica que o Estado de Israel tem concedido a vertente ortodoxa torna muitas vezes, paradoxalmente, menos judia a sociedade israelense atual, provocando o afastamento das novas gerações com respeito à tradição judaica. Daí que o fortalecimento do pluralismo religioso seja o único caminho possível para revitalizar a herança tradicional judia em Israel. Nesse sentido vale lembrar que no Talmud está escrito que quando um martelo bate na pedra saem muitas faíscas, daí que toda a tradição religiosa judia é suscetível a diversas interpretações, sendo cada uma delas legitimas por igual. Quando essas faíscas pretendem ser apagadas pela intolerância e descriminação, definitivamente tem menos luz, menos Torá, menos religião, menos judaísmo e por conseqüência, menos judeus.
Divulgado pelo IRAC - Israel Religious Action Center
sábado, 11 de julho de 2009
A Colônia Murici estaria morrendo?
Há uma semana, no último sábado, a jornalista Aline Peres, publicou uma interessante reportagem sobre a Colônia Murici, localizada no munícipio de São José dos Pinhais, nos arredores de Curitiba, no jornal Gazeta do Povo.
Com o título "Novos tempos na colônia Murici", a reportagem fala sobre o desencanto das novas gerações com suas raízes. Ela começa por contabilizar a população local. "No local moram 737 pessoas com idade entre 15 e 25 anos, que representam 19% da população do entorno, que chega a pouco mais de 3 mil pessoas. Os dados obtidos pelo pesquisador e etnógrafo da região Valdir Holtman são de 2008 e incluem os moradores de pequenas colônias vizinhas.", escreve Peres.
Em outro trecho da reportagem, a jornalista detecta a insatisfação dos jovens com as poucas oportunidades de um meio que favorece apenas a agricultura. "Muitos sonham em deixar o local e morar na “cidade grande” – na verdade, segundo o relato dos moradores, boa parte já saiu da Murici, embora não existam estatísticas que comprovem essa tendência. Os irmãos Fontes estão entre os que usam a Colônia apenas para dormir. O estudante de Sistemas de Informação Aloir Lucas Fontes Júnior, 19 anos, trabalha na prefeitura de São José dos Pinhais. Ele sonha em se mudar para o Canadá e se especializar em sua área. O caminho de saída já foi seguido por muitos colegas – ele calcula que 80% dos seus amigos já foram ou estão indo embora. E poucos voltam para aplicar o que aprenderam fora na Colônia, segundo o irmão Lucas, 24 anos, que trabalha em uma mineradora, também no município da região metropolitana de Curitiba. “A cultura polonesa, infelizmente, tende a acabar aqui”, fala. Para ele, o motivo é que os jovens não se sentem confortáveis para expressar suas tradições. “Os pais passam a cultura, mas falta a sensação de fazer parte do lugar.” Fontes é exceção entre os jovens da comunidade – ele integra o Grupo Folclórico, composto por 17 pessoas."
A jornalista da Gazeta do Povo recorre a uma historiadora para buscar explicações para esta crise de identidade com a colônia. "Frente a essas impressões da juventude da Colônia Murici, a historiadora e escritora Maria Angélica Marochi acredita que a falta do sentimento de pertencimento ao local é um dos fatores que propiciam ao jovem o desejo de buscar fora aquilo que não encontram lá."
Porém, em algumas informações históricas, Aline Peres comete alguns equívocos. Talvez por falta de uma compreensão e conhecimento da história da Polônia.
Ela erra quando diz, que "Em abril de 1878, a colônia foi fundada por família polonesas vindas da Galícia e da Prússia Oriental (região da Cracóvia)." O que ela chama de Prússia Oriental, não existiu e muito menos estava localizada na região de Cracóvia.
Isto porque o Reino da Prússia que daria lugar a atual Alemanha ficava na Pomerânia, ou seja, no Norte da Polônia e não no Oriente (Leste). Na outra região ocupada pelos saxônicos (prussos) estavam as Baixa Silésia (capital Wrocław) e Silésia (capital Katowice). E estas estavam no Sudoeste (Ocidente) e não no Sul, onde está localizada Cracóvia, que é a eterna capital da MałoPolska (ou Pequena Polônia.
Quanto à Galicia, esta era uma província do Império Austro-húngaro e ocupava as terras da Polônia, onde estão hoje a Voivodia Podkarpacie (cuja capital é Rzeszów) e que fica no Sudeste da Polônia e a Oblast de Lviv, na Ucrânia (a capital Lwów estava na Voivodia da Volinia e da Podolia pertencente há séculos ao Reino da Polônia e ocupada pelos austro-húngaros e só desde 1990, em território da Ucrânia).
Na parte Central e Oriental da Polônia estava a ocupação Russa e não Prussa. Russos são eslavos e prussos são saxônicos (germânicos, alemães). Aline erra também no intertítulo "Filhos da Cracóvia" e erra duas vezes, na localização dos imigrantes, pois não eram de Cracóvia, e na construção gramatical, pois não é "DA" mais sim "DE" , ou "EM" Cracóvia. Interessante, mas Aline não é a única brasileira a cometer este erro, "DA CRACÓVIA". Ninguém fala "Filhos DA São Paulo", mas sim filhos DE São Paulo.
Este absurdo não se repete nos outros sete países de língua portuguesa. Aquela senhora não tinha consciência de que estava sendo discricionária. Se ela pensava que poderia me processar pela Lei Afonso Arinos, eu também poderia, ainda porque, na série de 27 lançamentos do livro que fiz nos 4 Estados do Sul, fui agredido fisicamente pelo título do meu livro. Em Erechim e em São Paulo levei murros no ombro e fui taxado de burro por usar a palavra polaco. Santa Ignorância!!
sexta-feira, 10 de julho de 2009
Restauradas casas do Memorial Polaco
A restauração da Capela de Nossa Senhora de Czestochowa, no Bosque do Papa João Paulo II, realizada pela Secretaria do Meio Ambiente e Fundação Cultural de Curitiba foi entregue no último domingo com pompa e solenidade. Dom Pedro Fedalto, arcebispo emérito de Curitiba, abençoou e cortou as fitas juntamente com a a representante da Missão Católica Polaca no Brasil, Danuta Abreu Lisinski.
quinta-feira, 9 de julho de 2009
Kwaśniewska: não sou candidata
O principal jornal do país revelou que a mulher do ex-presidente Aleksander Kwaśniewski, venceria o atual primeiro-ministro Donald Tusk num segundo segundo turno nas próximas eleições presidenciais.
Kwaśniewska não só derrrotaria Tusk com 57% contra 43% dos votos, como também daria uma surra no atual Presidente Lech Kaczynski com 75% a 25%.
Apesar da excelente reputação junto ao eleitorado Kwaśniewska, diz ter decidido há muito tempo não concorrer as eleições. "Não sou um membro de qualquer partido político. Isto não é a minha história", disse ela, hoje, para a televisão TVN24.
quarta-feira, 8 de julho de 2009
Eu sou polaco!!!
Marek tem 16 anos de idade. É campeão junior polaco. Mas há vários anos, ele tem vivido ilegalmente na Polônia. Os funcionários da imigração não permitem que ele seja um cidadão nacional polaco.
"Se eu tivesse que sair do país, sentiria como estivesse indo para o exílio", diz a mãe de Marek. Lilia Karkocka chegou na Polônia nas grandes enchetes de 1997. Era para ser apenas férias. Mas o destino não foi dos mais felizes. Seu passaporte foi roubado. Seus avôs, exilados políticos polacos que haviam sido expatriados para o Azerbaijão, onde ela, seu pai e seus filhos nasceram. Em todos os documentos que a família possuía neste desterro estava escrito, "nacionalidade: Polaca". No exterior,
a família tentou mudar a nacionalidade para azeri sem sucesso. Mas não foi possível, pois eram considerados polacos, segundo o governo do Azerbaijão. A vinda para a Polônia era além de férias uma busca das origens. Vieram apenas Lilia e seu filho Marek.
Após 12 anos de Polônia, o campeão Marek, filho de Lilia, diz não lembrar do Azerbaijão, "Saímos de lá quando eu tinha três anos. Eu não sabia falar nem russo, nem azeri. Conheço apenas um idioma: polaco".
Sem passaporte, começou o pesadelo da mãe e do filho. Na Polônia, não havia Embaixada do Azerbaijão. Lilia, uma mulher com uma criança de quatro anos foi parar num campo de refugiados na Polônia. Mas nem o status de refugiados conseguiram ali.
Foram para em Otwock e Marek começou a frequentar a escola. "Quando eu tinha 10 anos de idade, começei a treinar levantamento de peso".
E assim a vida do pequeno Marek foi mudando. Logo foi observado atentamente por um treinador. "Ele se tornou um talento", admite o treinador Krzysztof Suchocki. Após muitos treinos, Marek começou a viajar para participar de torneios. Não demorou muito e ganhou todos os campeonatos polacos de juniores. Com o sucesso alcançado em competições internacionais, o treinador pensou em inscrevê-lo em competições internacionais. O calvário voltou e uma coleção de respostas negativas foram obtidas.
Marek e sua mãe Lilia não poderiam estar na Polônia diziamm as autoridades. Embora suas raízes polacas e tempo de permanência na Polônia (mais de cinco anos), mãe e filho ainda não conseguiram receber a cidadania. O que é pior, as autoridades polacas exigem visto deles para que possam permanecer na Polônia. Mas como obter o visto se eles não possuem cidadania? Nem polaca, nem azeri.
"Eu sou polaco. Se eu fosse para o Azerbaijão, o que faria lá? Aqui é o meu lugar. E assim, após 12 anos, sou forçado a aprender na marra que não sou polaco", afirma Marek.
E o treinador diz, "se ele a for embora para o esporte da Polônia será uma perda lamentável. Um talento como ele não aparece de graça todos os dias. Hoje nem representar o Azerbaijão ele pode. Estamos lutando para que ele possa defender as cores de vermelho e branco",diz Suchocki.
segunda-feira, 6 de julho de 2009
Desfile de barcos em Gdynia
Buzek, chefe do Parlamento Europeu
domingo, 5 de julho de 2009
Polônia sob tempestades
Segundo a metereologia as chuvas em Wrocław vão ultrapassar os 20 mm de água por metro quadrado com ventos de 80 km/h.
Também o Norte e Noroeste do país serão atingidos neste domingo por tempestades. Os ventos chegarão a 70 km/h nestas regiões. O alerta é geral em todas em regiões da Polônia.
Nos arredores de Koszalin, Mielnów, Unieśców e Kołobrzeg as chuvas foram tão intensas ao ponto de levar muitos animais próximos aos rios.
Na noite deste sábado caiu 100 litros de água por metro quadrado, em Słubice, na Voivodia Lubuska(região Oeste). No hospital da cidade as águas subiram quase um metro. Na fronteira com a Alemanha, em Frankfurt nad Odra, a tempestade matou uma pessoa e outro ficou ferida depois de serem atingidas por um raio.
sábado, 4 de julho de 2009
As colônias de imigrantes no Paraná
*1847 - Colônia Teresa Cristina, no vale do Rio Ivaí (atual município de Cândido de Abreu) com imigrantes franceses
*1852 - Colônia Superagüí (hoje Guaraqueçaba)
*1860 - Colônia Assunguy (hoje Cerro Azul)
*1869 - Colônia Argelina (hoje bairro do Portão, em Curitiba)
*1874 - arredores de Paranaguá.
Para estas colônias foram trazidos imigrantes argelinos, franceses, suíços, alemães, ingleses e irlandeses. Os imigrantes logo se dispersaram e muitos voltaram para suas nações de origem.
quarta-feira, 1 de julho de 2009
Bakun, centenário de nascimento
Bakun, segundo, o crítico Nelson Luz, "é envolvimento, tensão, adivinhador do caos-logos, ouvinte do mistério. Fez-se em si mesmo. Só humilde, desnudado, alguém pode ser assim".
Mas é a também descendente de imigrantes polacos, como Bakun, a criadora da mostra, a artista plástica Eliane Prolik, que melhor o define Bakun, dizendo que "a singularidade da obra de Miguel Bakun se efetiva no acontecimento pictórico da tela ao utilizar, sobreduto, o recurso de proximidade. Compactadas, as áreas e cores da paisagem se articulam e interpenetram. De modo intimista, essa pintura configura espaçamentos justos e rítmicos da matéria. Seu fazer diminui as distãncis entre o pintor e o motivo, entre o sujeito e a natureza e entre os cvários planos e elementos da paisagem e fazem o espectador se aproximar dessa justeza do quadro para entendê-lo, para enxergá-lo".
Mas quem é este filho de imigrantes polacos, nascido na cidade mais polaca do Paraná, Marechal Mallet?
Considerado o precursor da arte moderna no Paraná, Bakun saiu da sua Mallet, onde nasceu em 1909, para se alistar na Marinha Brasileira em 1926. Na Escola de Grumetes do Rio de Janeiro, em 1928, conhece o jovem marinheiro e artista ainda desconhecido José Pancetti (1902-1958). Estimulado pelo amigo, começa a desenhar, seguindo sua inclinação de infância. Realiza desenhos nos diversos períodos em que precisa ficar de repouso por causa de acidentes. Em 1930, é desligado da Marinha por incapacidade física, em conseqüência de uma queda do mastro do navio. Transfere-se para Curitiba, onde trabalha como fotógrafo ambulante. Logo conhece os pintores Guido Viaro (1897 - 1971) e João Baptista Groff (1897 - 1970), que o incentivam a pintar. Autodidata, dedica-se profissionalmente à pintura até o fim de sua vida.
Ainda na década de 40, trabalhava num ateliê coletivo na Praça Tiradentes. Em texto de 1948, o crítico Sérgio Milliet (1898 - 1966), após visita à cidade, aponta para o espírito van-goghiano de Bakun, ressaltando que lhe falta noção da tela como um todo e há excesso de empastamento. Contudo, conclui sua crítica dizendo: "o entusiasmo do pintor, sua participação intensa na obra tornam, entretanto, simpáticos os seus próprios defeitos".
A partir de então, a comparação com o artista holandês se torna recorrente, tanto com relação à pintura de Bakun quanto por seu temperamento melancólico e depressivo. O próprio artista a aceita, reconhecendo sua admiração por Vincent van Gogh (1853 - 1890), cujos quadros conhecia em reproduções ou pessoalmente. Outro ponto de semelhança entre ambos é uma certa religiosidade mística em conflito com um sentimento de profunda solidão, que de modo e intensidade diversos manifestam-se em suas obras.
Em 1950, pintou murais na residência do governador Moisés Lupion, atual Castelinho do Batel. Sua produção artística ganhou espaço em exposições individuais em 1955 e 1957. Foi premiado no Salão Paranaense de Belas Artes e Belas Artes da Primavera da Sociedade Concórdia.
O polaco Bakun, não suportando uma forte depressão, veio a se suicidar em fevereiro de 1963, em Curitiba, aos 53 anos de idade. No dia 28 de outubro póximo vai se completar o centenário de nascimento deste magnífico artista plástico paranaense-polaco.
terça-feira, 30 de junho de 2009
Festa: fim de semana polaco em Curitiba
Comemorações
segunda-feira, 29 de junho de 2009
O Gralha Azul Polaco
Foto: Arquivo da Família Wieliczka
Há tempos, desde que li pela primeira vez o livro de Hellê Velloso Fernandes, "Monte Alegre - Cidade Papel", que uma pessoa me intriga.
Essa pessoa, o engenheiro florestal, que na década de 40, praticamente criou o Departamento Florestal da Klabin do Paraná, era Zygmunt Wieliczka. Junto com outros seis engenheiros polacos viu na Araucária Angustifolia - o Pinheiro do Paraná, a solução para o papel que iria começar a ser fabricado em Harmonia.
Ele nasceu na Polônia em 25 de setembro de 1890 e segundo seu neto, Cristóvão José Zygmunt Wieliczka, lutou na 1ª. e na 2ª. Guerra Mundial. Desembarcou no Brasil no início dos anos 40 do século passado. Logo após foi contratado pelos lirmãos lituanos Klabin e Lafer para trabalhar nas Indústrias Klabin do Paraná.
Morando em Lagoa, na Fazenda Monte Alegre, de 1944 até 1954, plantou mais de 100 (cem) milhões de pés de araucária. Algum tempo depois de tudo estar plantado, fez novas pesquisas e substituiu o pinheiro pelo pinus e pelo eucalipto. Assim muito daqueles pinheiros balançam seus altos galhos na reserva florestal da Fazenda Monte Alegre.
Antes de se desligar da empresa, naturalizou-se brasileiro, em 30 de maço de 1951. Pela lei das indenizações (anterior ao FGTS) após 9 anos de trabalho na Klabin foi morar no Estado de São Paulo, e assim a partir da década de 50, dividiu residência entre São Paulo e Bragança Paulista. O Engenheiro Wieliczka faleceu em 5 de junho de 1975.
Estou empenhado em resgatar sua trajetória em Monte Alegre e quem sabe mostrar ao Paraná, que enquanto paranaenses e gaúchos gananciosos devastavam o solo desta nossa terra, Wieliczka plantava o simbolo do Estado e de sua capital Curitiba.
Gostaria de contar com a contribuição dos leitores deste blog, no sentido de resgatar informações, história, fotos e dados de Zygmunt Wieliczka. Aqueles que desejarem resgatar essa figura importante não só para o atual município de Telêmaco Borba, mas para a história do Paraná e do meio-ambiente do Brasil. Favor se comunicar através do email iarochinski@gmail.com ou pelo telefone de Curitiba (041) 33364275.
Esta é a placa comemorativa, que amigos entregaram como agradecimento ao trabalho significativo deste polaco Gralha Azul, pois ninguém plantou mais pinheiro no Paraná do que ele.
Sul da Polônia debaixo d´água
Da Silésia a Podkarpacy
Em Nysa, cidade silesiana, quase fronteira com a República Tcheca, a situação é dramática. Muitas casas tiveram que ser evacuadas pela Defesa Civil. Choveu no fim de semana 350 ml por segundo. Na última grande enchente, de 1997, o índice foi de 100 ml por segundo.
domingo, 28 de junho de 2009
Doda, colírio para os olhos
sábado, 27 de junho de 2009
Coral Serduszka em Curitiba
Mais 24 tramwaj para Cracóvia
A empresa MPK deverá investir cerca de 210 milhões de złotych através de fundos da União Europeia. E segundo o Zbigniew Palenica, vice-presidente da MPK, "A primeira fase da licitação terá seu final em setembro próximo. Vamos analisar todas as empresas que atenderem à proposta. Aqueles que cumprirem todos os requisitos serão convidados para a segunda fase, que durará mais dois meses. Mais tardar, no início de novembro, apresentaremos o vencedor da licitação, que deverá fornecer os novos vagos de piso baixo para Cracóvia".
O vencedor da licitação terá 32 meses para cumprir o contrato a ser assinado. As primeiras unidades deverão estar circulando já, em 2011, e o último lote um ano após.
P.S. Estes investimentos faziam parte do compromisso de Cracóvia para sediar a Euro2012. Agora mesmo não sendo sede do evento futebolístico mais importante da Europa, nos próximo anos, Cracóvia segue com seu plano de dotar a cidade de infraestrutura modelo no país.
sexta-feira, 26 de junho de 2009
Curitiba – a Nova Polônia
A Câmara Municipal de Curitiba para facilitar a administração da zona agrícola que formava o cinturão verde da cidade, criou em 1892, o distrito Nova Polônia. O distrito compreendia a região onde hoje são os bairros de Campo Comprido em Curitiba e Ferraria no município de Campo Largo.
A decisão de criar o distrito se deveu ao grande número de imigrantes polacos assentados nas colônias da região. No ano seguinte, 1893, em função do grande número de habitantes, inclusive imigrantes italianos, foi instalado um cartório na antiga Estrada do Mato Grosso (atual rua Eduardo Sprada).
Em que pese a maioria dos sobrenomes do distrito serem polacos como Wisniewski, Homan, Falarz, Gorski, Dembiski, Ainoski, Stacheski, Zaleski, Dronjek, Kloss, Kulik, Sprada, Tchelushniak, Wessoloski, Tokarski, os primeiros registros de nascimentos assentados nos livros do Cartório de José Ferreira da Luz foram de descendentes italianos: Ângelo Bizinelli, filho de Alexandre Bizinelli e Antônia Corchim Bizinelli, em 7 de fevereiro; e Maria Luíza, filha de João e Rosa Olivetti, em 20 de março, daquele mesmo ano.
O distrito de Nova Polônia existiu durante 46 anos, sendo extinto em 1938. Os bairros atuais no círculo Norte-Oeste-Sul do município de Curitiba faziam parte do distrito de Nova Polônia, como Santa Cândida, Barreirinha, Abranches, Pilarzinho, São Brás, Santo Inácio, Órleãns, Campo Comprido e Augusto.
O grupo do PilarzinhoEmbora o Paraná não tenha sido o primeiro Estado a receber os polacos, acabou se tornando a terra de destino da maioria destes imigrantes. A preferência pela terra paranaense se explica, em grande parte, pelas características de solo e clima muito parecidas com a região de origem na Europa central, onde os polacos puderam desenvolver uma agricultura de subsistência, muito parecida com a que possuíam.
A presença expressiva da etnia polaca em terras paranaenses contribuiu para que ao longo do tempo estudiosos considerassem como marco inicial desta imigração no Brasil, o ano de 1869. Para alguns, este início diz respeito ao Brasil, enquanto para outros, apenas ao Estado do Paraná.
A discordância se deve a que um grupo de 16 famílias polacas procedentes da Silésia chegou ao Brasil naquele ano em Santa Catarina, sendo depois transmigrado para o Paraná em 1871.
O grupo de Brusque, comemorado como o marco inicial da imigração polaca no Brasil seria na verdade o quarto e não o primeiro.
O grupo de Brusque chegou ao Porto de Itajaí, Santa Catarina, em agosto de 1869. Eram 164 polacos provenientes da região da Silésia Meridional polaca. Eles vinham de Biała Góra, perto de Siałkowice.
O comandante Redlisch, do navio Victoria, trouxe os colonos desde o porto de Bremen, na Confederação Alemã com escalas em Antuérpia, na Bélgica e no Rio de Janeiro. Ao todo eram 16 famílias e seus chefes eram: Franciszek Pollak, Micolaj Wós, Bonawentura Pollak, Thomasz Szymański, Szymon Purkot, Filip Kokot, Michał Prudło, Szymon Otto, Dominik Stempke, Kacper Gbur, Balcer Gbur, Walenty Weber, Antoni Kania, Franciszek Kania, Andrzej Pampuch e Stefan Kachel.
Os chefes das famílias eram: Fabian Barcik, Grzegorz Chyly, Leonard Fila, Baltazar Gebza, Leopold Jelen, Andrzej Kawicki, Marcin Kempka, Blazej Macioszek, Walenty Otto, Wincenty Pampuch, Paweł Polak Marcin Prudlik, Jozéf Purkot, Jozéf Skroch, Tomasz Szajnowski e August Walder. No total dos dois grupos, somavam-se 164 pessoas.
· 10 junho 1869 - Embarque no porto de Hamburgo no navio Victoria.
· 21 junho 1869 - Nascimento em alto mar de Jan N. Wosch.
· 03 julho 1869 - Nascimento em alto mar de Stefan Sienowski
· 11 agosto 1869 - O navio Victoria aporta em São Francisco do Sul - SC
· 25 agosto 1869 - Batizado de Stefan Sienowski, na Colônia Dom Pedro
· 09 setembro 1869 - O navio Victoria aporta em Itajahy - SC
· 12 novembro 1869 - Nascimento de Izabella Kokot na Colônia D. Pedro
· 06 dezembro 1869 - Anexação da Colônia Dom Pedro à Colônia Itajahy.
· 04 janeiro 1870 - Nascimento de Juliana Gbur
· 29 agosto 1870 - Nascimento de Sofia Motzko
· 11 outubro 1870 - Falecimento de Jan Otto, filho de Symon Otto.
· 26 abril 1871 - Nascimento de Pedro Purkot
· __ julho 1871 - Transmigração de 16 famílias para Curitiba - PR
Apesar de dispostos ao trabalho, a vida destes pioneiros, no entanto, não foi nada fácil em Santa Catarina, cercados por todos os lados por representantes de seus antigos algozes, os alemães.
Sebastian Woś Saporski e o Padre Antoni Zieliński, em vista das crescentes dificuldades dos primeiros imigrantes em Santa Catarina buscaram informações sobre outras terras. Souberam alguma coisa sobre o Paraná.
As intenções de mudança chegaram em breve a Blumenau, onde os chefes, alemães em sua maioria, viam a presença dos polacos, como possibilidade de os transformar em escravos brancos. Quando os dois líderes polacos solicitaram transferência para os campos de Curitiba, receberam sonoro e enérgico não. Apesar disso, Saporski não desanimou.
Viajou até o Paraná, acompanhado de sua mãe adotiva. Sua intenção era conhecer o local e solicitar diretamente ao Presidente da Província do Paraná a transmigração de seus patrícios para as vizinhanças de Curitiba.
Saporski conversou com o vice-presidente da Província, Ermelino de Leão, em Curitiba que, no entanto, pouco pode fazer, pois o Presidente Venâncio José de Oliveira Lisboa, ao contrário das expectativas, queria fundar uma colônia em Assugüy, bem longe de Curitiba.
Além disso, alguns habitantes da cidade quando souberam das pretensões do polaco, imediatamente de posicionaram contra a chegada de novas pessoas. Começaram a chamá-lo de forasteiro. Por sua vez imigrantes alemães já estabelecidos no Pilarzinho, há alguns anos e ciosos de sua cômoda posição e de seu privilegiado monopólio de serem os únicos fornecedores de produtos hortigranjeiros, temiam a concorrência dos novos colonos e por isso se posicionaram contra.
Eram eles, os Schaffer, os Mueller e os Wolf que quase conseguiram mudar o rumo da história polaca em Curitiba. Saporski voltou frustrado a Santa Catarina, mas nem por isso, menos esperançoso de seus propósitos.
Meses depois, Saporski finalmente conseguiu a aprovação da transmigração. Não foi fácil, mas o governo da província acabou financiando parte das despesas de transporte e assentamento dos polacos de Brusque. Por este feito e outros atos ao longo de sua vida, ele acabou sendo reconhecido como o "Pai da Imigração Polaca no Brasil".
Os primeiros polacos ao chegarem ao Paraná foram inicialmente alojados em algumas das chácaras existentes em Curitiba. Alguns ficaram na Chácara Holleben, outros na Chácara de B., Schmidt e Meister.
O governo do Paraná pagou 725f. enquanto Saporski, outros 48 f. pelas despesas de transporte de Santa Catarina para o Paraná. Não demorou muito para serem assentados na Colônia do Pilarzinho, distante 5 km do centro da cidade. A cada família foi destinado um lote. Tudo feito de conformidade com a Lei e regulamentados pela Câmara Municipal.
Estes imigrantes de cabelo louro, pele rosada e olhos claros foram os primeiros de milhares que no entender de Bento Munhoz da Rocha Netto, ex-governador do Paraná, mudaram a face da terra dos Pinheirais. Munhoz reconhecia na imigração polaca, o elemento que mudou as feições deste pedaço de chão brasileiro. Segundo palavras do próprio ex-governador, depois que esta gente loura e corajosa aqui chegou, o Paraná nunca mais foi o mesmo:
Em nosso planalto frio, de pinheiro, campo e erva-mate, está integrada, como uma realidade iniciada em 1871, a colonização polaca.
A colônia polaca faz parte da paisagem com sua apresentação típica. Com a igreja, o cemitério ao lado e casa do vigário.
O colono polaco adaptou-se. Teve problemas como sempre existem e seria impossível que não existissem na migração de um meio muito diferente do de origem.
Por ser o Paraná, dos três Estados do Sul do Brasil, a região que atraiu, em maior número, o imigrante polaco, quando este Estado amanhecia e se expandia, esboçando e fazendo adivinhar a realidade futura, ainda longínqua, a colônia polaca plantou um marco na evolução desta terra.
Não se pode pensar o Paraná sem a figura do imigrante polaco e as contribuições que ele trouxe. Houve, assim, uma identificação do polaco com o Paraná (...)
Este Estado pensou ter o monopólio dessa imigração. De fato, o Paraná ficou dono do polaco. Podemos dizer aqui: o polaco é nosso.
Confirmando a tese de Gilberto Freyre, da assimilação regional, como caminho para a assimilação nacional, criou o tipo específico do polono-paranaense, como integrante do continente cultural brasileiro. Ao contrário do resto do país, aqui o sobrenome polaco não soa estrangeiro.
Apesar de sua freqüente dificuldade de grafia, o sobrenome de origem polaca é uma versão que se compreende e da qual os paranaenses luso-brasileiros se habituaram e avaliam como sendo coisa genuinamente paranaense (...).
Os recém chegados polacos ao se defrontarem com a selva densa, coberta de robustos pinheiros, acreditaram que tinham chegado ao paraíso. O primeiro ato, ao chegar ao pedaço de terra, foi erguer suas casas com os troncos daquelas belas árvores.
Mas a inexperiência, a desorientação agrícola, o abandono do governo brasileiro foram causa de profundas decepções e frustrações. Toda a dor dos primeiros imigrantes foi relatada em cartas aos parentes da distante Polônia, infelizmente apreendidas e censuradas pelas autoridades russas de ocupação.
Nas décadas seguintes a imigração polaca só fez aumentar. Agora não eram apenas os arredores de Curitiba, mas todo o território paranaense, que naquela época ia dos rios Ribeira e Paranapanema, na divisa com São Paulo, até o rio Uruguai na divisa com o Rio Grande do Sul.
Brody, cidade polaco-judia
Brody é mais uma cidade polaca, que os desmandos do ditador soviético Józef Stalin colocou no território da República Soviética da Ucrânia.
Localizada na voivodia de Lwów, hoje oblast de Lviv, no vale do rio Styr, está a 90 km a Nordeste de Lwów. Em 2004, sua população era de 23.239 habitantes.
Brody foi fundada em 1084 e destruída pelo tártaro Batu Khan, em 1241. Desde 1441, Brody passou a ser propriedade de vários senhores feudais polacos, como Jan Sieniński e Kamieniecki.
Em 1546, foi elevada a categoria de cidade pela Lei de Magdeburg. A partir de então, passou a ser conhecida por Lubicz, denominação do brazão heráldico de Stanisław Żółkiewski. A partir de 1629, a cidade se tronou propriedade de outro magnata polaco, Stanisław Koniecpolski, que ordenou a construção do Castelo de Brody, entre 1630 e 1635.
Desde essa época, a cidade era moradia de polacos e rutenos (atuais ucranianos), sendo que um número significante da população era judia (cerca de 70%) e ainda armênios e gregos.
Em 1704, Brody foi comprada pelo magnata polaco Potocki. Trinta anos após, em 1734, Stanisław Potocki, foi atacado por tropas russas e o castelo de Brody foi completamente destruído. Potocki o reconstruiu em estilo Barroco.
Nova invasão ocorreu em 1772, desta vez pelo Império Austro-húngaro e Brody permaneceu assim até o final da primeira guerra mundial.
Segundo o censo Austro-Húngaro, Brody, chegou a ter no ano de 1900, 11.854 pessoas de origem judaica, de uma população total de 16.400 habitantes, ou seja, 72,1%.
A velha sinagoga representada pela ilustração acima de Wilhelm Leopolski foi destruída durante a guerra polaco-soviética de 1920, quando o Presidente Józef Pilsudski, da Polônia conseguiu rechaçar outra invasão russa. Depois desta guerra, Brody passou a fazer parte da Voivodia de Tarnopol.
Mas em setembro de 1939, Brody foi ocupada pelo exército vermelho russo. Entre 26 e 30 de junho de 1941, uma batalha entre alemães do Primeiro Batalhão Panzer e Quinto Batalhão Mecanizado Soviético destruiu muitos edifícios da cidade. Em dezembro de 1942, os alemães prenderam a população judaica dentro do gueto no interior da cidade. A maioria dos 9.000 judeus foi morta em outros campos de concentração, execuções em massa e trabalhos forçados. Durante a guerra fria e já em território da República Socialista Soviética da Ucrânia, Brody foi uma importante base do regimento da Força Aérea Soviética.
quinta-feira, 25 de junho de 2009
Filhas de polacos invadem a cidade
As polaquinhas brejeiras desfilavam por ruas como essas
atraindo olhares maliciosos da aristocracia falida de Curitiba.
Curitiba, sendo o maior centro da etnia polaca na América do Sul, concorreu em grande parte para a disseminação do preconceito contra estes imigrantes. E isto, num momento em que cidade era a capital do Paraná, um Estado que cobria o imenso território entre os Rios Paranapanema e Uruguai. Apenas em 1917, quando do fim da guerra do Contestado, o Estado vizinho de Santa Catarina incorporou as terras abaixo do rio Iguaçu, hoje conhecidas como Oeste catarinense. Natural, portanto, que a influência curitibana se estendesse até o Estado do Rio Grande do Sul, onde se concentra o segundo maior pólo da etnia polaca no Brasil.
Ao estudar a presença da mulher na sociedade paranaense do início do século XX, Etelvina Maria de Castro Trindade relata que na virada do século, era muito comum a cooperação feminina nos empreendimentos familiares dirigidos por imigrantes, como bares, lojas, mercearias, serviços e pequenas indústrias. A imigrante alemã, radicada no centro da cidade era figura habitual nesses ambientes.
Se a presença feminina nas atividades comerciais não era comum na sociedade imperial curitibana, já que os brasileiros mantinham a secular tradição portuguesa de que lugar de mulher é na cozinha, em relação às mulheres alemãs tal presença era consentida.
O mesmo não se dava, porém “com o setor doméstico, onde a discriminação é comum, e particularmente dirigida às –criadas- estrangeiras, sobretudo polacas, não raro retratadas sob o prisma da leviandade, da desonestidade e da permissividade sexual.” Castro Trindade, para sustentar sua tese, fez levantamento de informações publicadas na imprensa da época, onde é registrada essa discriminação contra as polacas:
"Maria ou melhor Mariazinha, como mais a conhecem, era um tipo perfeito de criada sapeca. Abotoando as suas 16 travessas primaveras deixou a casa de seus pais, dois robustos colonos moradores em Abranches, e veio se alugar aqui na cidade [...] Desse momento então é que começa a vida alegre e terrível da sapeca criadinha. De 15 em 15 dias, infalivelmente, mudava de aluguel. É assim de Herodes pra Pilatos correu quase todas as casas desta cidade. Também ninguém a aturava por mais de duas semanas: fazia sociedade no pó de arroz das patroas, nos perfumes e até nos vestuários. Quando à noite ela saía à rua para comprar biscoitos ou outra coisa qualquer o bando de coiós não a deixava. Mas tinha razão, porque a Mariazinha era uma tetéia: toda perfumada, empoada, de chinelinhas na ponta dos pés, muito corada e sadia, tentava mesmo!... Não houve baile durante muito tempo em que ela não estivesse e marca que o seu braço não fosse disputado pela matilha de seus adoradores, muitas vezes com prejuízo de algum nariz arrebentado."
O trabalho de Castro Trindade está mais focado na emancipação da mulher do que no preconceito cultivado contra as polacas, mas ainda assim, ela consegue resgatar notas importantes para o entendimento das origens do preconceito e do pejorativismo em relação ao termo polaco. Segundo ela, “as peculiaridades da mulher imigrante permeiam os textos da época, revelando a estranheza do brasileiro em face das diferenças culturais e mesmo físicas, do elemento colonial”. Os escritores da época sentem um verdadeiro fascínio pelos olhos azuis e cabelos loiros das alemãs e polacas. Expressões românticas em relação às alemãs como, “faces de papoulas amassadas”, “olhar de intenso azul” , contrapõem-se a cobiça reveladas em frase como “polaquinhas travessas e tentadoras” .
Um destes escritores revela, num jornal da época, que visitou uma da comunidade polaca e depois escreveu que, “Nota-se que os representantes do infeliz povo, esmagado pela ambição de governos tirânicos vive feliz nesta terra”. A frase era de certa forma lisonjeira, queria assim justificar sua presença e de outros que lá compareceram: “Foi por isso, sem dúvida, que confundidos com os polacos e polono-brasileiros, vi muitos brasileiros que acorreram a prestigiar com a sua presença o apelo das senhoras polacas” .
Castro Trindade vislumbra nestes textos um traço de preconceito e que justamente contribui para que a discriminação contra a etnia polaca só aumentasse. No que ela concorda com Perrot. Este senhor, ao falar dos excluídos, contempla também as carroceiras polacas de Curitiba. O desejo transforma as jovens trabalhadoras em objeto, os homens da sociedade local, obrigados a fazer a corte em saraus e encontros sociais, tem agora a sua disposição a própria rua para satisfazer suas ansiedades.
Pois em Curitiba, não há carroças, nem carroceiros, nem burros de carroça. Há “charretes” simples e toscas, puxadas a cavalos e conduzidas por moçoilas, lindas, colonas de faces rosadas que são elas e, não marmanjos, que distribuem o pão, o leite, as frutas, as verduras, carne, peixe etc. [...] A cidade em que a gente amanhece sorrindo, recebendo, com o pão e os legumes, os “bons dias” de carinhas brejeiras e ..."
Para o historiador de origem polaca, Ruy Christovão Wachowicz, as razões identificadas entre os próprios representantes da etnia para a negativa da ascendência “Polaca”, por essa época e também nos dias atuais, estava relacionada com a própria vocação agrícola dos primeiros imigrantes. “Polaco” passou a ser um termo que se identificava de imediato, na sociedade local, com a agricultura. Ser de origem “polaca” era admitir “ips facto“ que se pertencia a uma camada mais baixa da sociedade. Isto fez com que o “Polaco” com baixo nível de instrução, muitas vezes sentisse vergonha de sua própria origem e acabasse por rejeitar sua origem étnica. Apresentava-se na sociedade como alemão, austríaco ou russo, de acordo com as regiões de ocupação onde viviam seus ancestrais. E isto era terrível, pois se "bandeava" para o lado dos invasores e assassinos de seu próprio povo. Quando inquiridos sobre suas origens, respondiam: - “Não sei! Pelo menos era o que constava no passaporte do meu avô!”. Como se sabe a maioria dos passaportes dos imigrantes polacos eram expedidos sob a nacionalidade da potência de ocupação.
"Era sobremaneira doloroso o tratamento dispensado aos nossos colonos. Chamavam-nos de – polaco burro -. As causas desse trato pejorativo residiam em várias razões. Os primeiros imigrantes compunham-se de elementos paupérrimos oriundo de aldeias; muitos viveram sob regime senhorial. Embarcaram para o Brasil, pois a viagem não lhes custava nada [...] Os plantadores de café viam no polonês (palavra empregada pelo tradutor) recém-liberto da – escravidão senhorial -, na região ocupada pela Rússia, um excelente trabalhador. [...] os abandonado que não tinham nenhuma condição vieram ao nosso país. Não é de estranhar que aqui eles foram explorados e tratados como escravos. Os consulados fizeram ouvidos moucos aos reclames do imigrante, uma vez que isto pouco importava aos países dominantes. Esses, entre outros, são os fatos responsáveis pela difusão da expressão: -polaco burro".
Os estereótipos levaram alguns descendentes de polacos a adquirirem complexo de inferioridade em relação à sua origem étnica. A constatação disto ocorria, sobretudo, em camadas sociais intermediárias, localizadas entre o camponês e o indivíduo urbanizado. O camponês mesmo, não o possuía, porque os descendentes continuavam na própria classe de origem de seus antepassados.
Segundo Andrade Kersten, o camponês polaco difere dos demais pares brasileiros justamente pelo contexto histórico e social da região de Curitiba, “que faz com que o colono polaco seja visto na prática ideologicamente distinto, como categoria diferenciada do brasileiro e dos demais imigrantes”.
Os antagonismos existentes entre o brasileiro e o colono-polaco não se esgotam em sua condição étnica, apesar de que é por essas características que se reconhece e distingue o “polaco” dos demais. O “polaco” é o colono, o trabalhador, o proprietário, o professor, o “batateiro”. São figuras distintas que tem em comum sua origem étnica e também sua condição de colono, de imigrante, que confunde-se na conjuntura do processo imigratório em que assentam-se os núcleos coloniais no Brasil. A variável étnica é importante, mas ela só esclarece a situação do polonês transformado em “polaco”.
Aqui, Kersten inverte os termos e diz que foi o polonês que se transformou no Polaco, quando tudo afirma o contrário. Também a alcunha de “batateiro” se liga imediatamente ao polaco de Contenda, Araucária, Muricy, Guajuvira. Não para exaltá-lo como um fecundo produtor agrícola, mas para mais uma vez discriminá-lo. Kersten recolhe citação nos “Anais da comunidade Brasileiro-Polonesa”, para afirmar que a luta dos colonos polacos no Paraná é antiga: “vós, estúpidos poloneses, deveis cultivar a terra que recebestes; a nós cabe ditar-vos as leis”. Os organizadores dos Anais por sua vez recolheram a citação do jornal “Gazeta Polska” , não sem antes alterar o termo polacos para poloneses.
De acordo com Kersten este indivíduo, parte de um grupo de pioneiros muito pobres eram originários da agricultura e expulsos de aldeias que haviam sido regidas pelo sistema feudalista da idade média. Nesta condição ele embarcava para o Brasil. Aqui o indivíduo analisado por Kersten, “capta a realidade vivenciada, cria representações próprias das coisas e elabora todo um sistema correlativo de noções que capta e fixa o aspecto fenomênico da realidade”. Mais adiante ela afirma que é justamente desta “situação enfrentada que emerge o –polaco-, enquanto uma categoria estereotipada, através de avaliações negativas, tais como: alcoólatras, analfabetos, excessivo zelo religioso
Sessão Solene alusiva às comemorações dos 140 Anos da Imigração Polaca de Brusque acontece amanhã, 26 de junho, sexta-feira, às 20h00, na Câmara Municipal de Curitiba, R. Barão do Rio Branco, 720. A sessão é uma proposição do vereador Tito Zeglin, descendente de polacos.