Recebi e-mail de uma amiga de origens portuguesas, matogrossense, que vive em Florianópolis fazendo arte. Trazia ela, uma triste notícia para o jornalismo cultural deste país, área que meu amigo criou para o lúdico de todos nós. Reynaldo Jardim era esposo, na época que o conheci, da jornalista paulistana-curitibana, Marilu Silveira, que me dirigia no grupo teatral Gil Vicente. Eu era ator e declamador e Jardim era a figura que da platéia e da coxia orientava Marilu e a todos nós. Depois da segunda temporada, por sugestão do Jardim, Jair Brito, então diretor da Rádio Cidade de Curitiba, comprou o espetáculo para ser o especial daquele natal da rádio de 1981. Semanas mais tarde estavámos nós no estúdio de gravação do Camargo, ali no Juvevê. Jair Brito, Marilu, Cláudia Paciornik e Jardim do outro lado do imenso vidro do estúdio. Encerrada a gravação... saímos nós, os atores, do estúdio e Jardim colocando a mão no meu ombro disse ao Jair: contrata este rapaz como locutor da tua rádio, ele leva jeito.
E Jair me perguntou: quer trabalhar em rádio? Fiz que sim com a cabeça. Ele então completou: Aparece amanhã lá na rádio para um teste. Jardim me deu um abraço e parabenizou. Dia seguinte fui na rádio. Aprovado, comecei a trabalhar com um mestre do rádio, indicado por outro mestre, este da poesia e do jornalismo cultural.
E Jair me perguntou: quer trabalhar em rádio? Fiz que sim com a cabeça. Ele então completou: Aparece amanhã lá na rádio para um teste. Jardim me deu um abraço e parabenizou. Dia seguinte fui na rádio. Aprovado, comecei a trabalhar com um mestre do rádio, indicado por outro mestre, este da poesia e do jornalismo cultural.
Anos mais tarde, depois de deixar o emprego na TV Iguaçu, fui direto ao Jornal do Estado, onde Jardim estava começando um grande e novo projeto, uma revolução do jornalismo do Paraná. Contei a ele que havia me desentendido com o Jamur Júnior na TV e precisava de emprego. Jardim me perguntou qualquer coisa se eu estava disposto a trabalhar imediatamente. Falou que eu deveria ter vindo dois meses atrás, quando ele estava formando a equipe e agora não via outro jeito senão este e disse mais alguma coisa, que, confesso não entendi direito.
Como a sucursal da Editora Abril ficava nas emediações, entendi que ele tinha me dito, que se eu aceitava trabalhar na Revista Visão. Disse que sim! Então, em vez de sair do prédio do jornal, ele me levou até uma sala, abriu a porta, e disse às duas pessoas que estavam lá dentro. Olha este rapaz... é o Ulisses, ele é o novo colega de vocês. Então, virou-se para mim e disse: pode começar a trabalhar, sente-se e revise.
Bem, não era na Revista Visão, mas na revisão do jornal. Duas horas atrás, eu era chefe de jornalismo do SBT no Paraná... e agora sentava-se para ser revisor de textos no jornal que o Jardim tinha inventado... Mais um dos tantos que ele inventou, desde antes do Caderno B do Jornal do Brasil e do Anexo do jornal Diário do Paraná.
Como a sucursal da Editora Abril ficava nas emediações, entendi que ele tinha me dito, que se eu aceitava trabalhar na Revista Visão. Disse que sim! Então, em vez de sair do prédio do jornal, ele me levou até uma sala, abriu a porta, e disse às duas pessoas que estavam lá dentro. Olha este rapaz... é o Ulisses, ele é o novo colega de vocês. Então, virou-se para mim e disse: pode começar a trabalhar, sente-se e revise.
Bem, não era na Revista Visão, mas na revisão do jornal. Duas horas atrás, eu era chefe de jornalismo do SBT no Paraná... e agora sentava-se para ser revisor de textos no jornal que o Jardim tinha inventado... Mais um dos tantos que ele inventou, desde antes do Caderno B do Jornal do Brasil e do Anexo do jornal Diário do Paraná.
Entretanto, acho que o texto abaixo, enviado pela minha amiga Márcia conta melhor das coisas do Jardim e de seus últimos momentos como "encarnado" na Terra. Saudades do mestre, indicador, amigo e e e.....
Ferreira Gullar, Lygia Pape, Theon Spanúdis, Lygia Clark e Reynaldo Jardim |
Desculpem a repetição do tema triste, mas o faço por uma obrigação imperial, ou ordens do Rey, para afastar a tal da tristeza pungente, que a meia noite me fez chorar um pouquinho e baixinho abraçado à Maria.
Pois agora sorrio e me perco em o que dizer nessa hora. Por isso a repetição do tema: essa noite o Rey morreu. Tenho tantas histórias dele para festejar. Algumas nossas. Poucas minhas sobre ele. De Reynaldo Jardim, devo quase tudo de bom que me aconteceu nos últimos tempos. E como nunca fomos tão piegas, deixo a última história que presenciei em sua casa, na sexta feira passada, dia 28 de janeiro, como uma maneira de dizer "até breve".
Estávamos em um jantar na casa de Reynaldo e Elaina, junto do ilustre poeta e diretor da Biblioteca Nacional, Antônio Miranda. Acho que ele já tinha ido embora quando o Rey nos parou na sala, pediu que ficássemos mais um pouco e contou de uma ligação inusitada que havia recebido há poucos dias.
Um homem ligou para Reynaldo dizendo que morava em São Paulo, que achou seu telefone na internet e que estava ligando por causa de sua mãe. Disse que eles foram amigos no colégio, quando Rey Jardim havia completado pouco mais de 20 anos. Pediu então, permissão para que a mãe, uma senhora de seus 80 e poucos, pudesse ligar para o desconfiado poeta.
Heleninha, chamava-se a senhora. Contou ao Rey e a sua esposa, por telefone, que eles tinham sido muito amigos. Enfatizou à Elaina que nunca foram namorados, apenas amigos. Claro que, todos nós que ouvíamos a história, e a própria Elaina, pensávamos: "obviamente, o Rey a comeu!"
Bom, ela falou que o Rey, na época, ainda lhe escrevera um poema. "Comeu, certeza!" afirmamos todos e rimos. Reynaldo Jardim se defendia dizendo que não tinha a mínima idéia de quem era essa tal de Heleninha. Disse que lembra o colégio, mas que havia na sala apenas um outro homem além dele, e o resto era só mulher. "Como poderia me lembrar de todas?"
Enfim, achamos interessante o re-encontro inusitado de 60 anos e comentávamos como troça. Reynaldo cantava as moças desde a tenra idade. Um poema a mais, um a menos...
Mas não é que a Elaina, depois da poeira baixada e já com outros assuntos em pauta enquanto conversávamos, mexia na correspondência do dia e encontrou uma carta! Endereçada ao nobre Rey! Cujo o remetente levava o nome de Helena (não lembro o sobrenome)!!.
Todos abismados e curiosos enquanto ela abria a carta. De lá, tirou dois pedaços de papel. Um bilhete curto que dizia mais ou menos assim (não sei as palavras certas e escrevo de memória, portanto, perdoem qualquer erro, mas afirmo que esse era o teor):
"sou a Heleninha, sua amiga do colégio tal. Não sei se se lembra de mim, mas nunca me esqueci de você. Você me escreveu um poema que, desde aquela época, o tenho usado como uma oração, uma reza mesmo, que evoco nas melhores e piores horas de minha vida. Esse poema faz parte das minhas melhores lembranças e queria que soubesse o quanto de alegria me proporcionou nesses mais de 60 anos, muito obrigada. Sua amiga para sempre, Heleninha".
Elaina desdobrou o outro pedaço de papel e lá havia uma cópia em xerox de um texto em versos. O título era algo com "canto", ou "cântico". Elaina reconheceu a letra na hora. Disse que ainda é a mesma. "A assinatura também é igualzinha, Rey!" exclamou Elaina.
Ela leu em voz alta o poema todo, pois é a única que decifra com desenvoltura a letra de Reynaldo Jardim. No final, a assinatura: Reynaldo Jardim, 8 de outubro de 1948.
Todos ficamos arrepiados e sorrisosos! Não digo que brotaram lágrimas em mim, mas a vi na Maria, na Elaina que ria, no Rey que ouvia.
Reynaldo fez isso com Heleninha. Fez isso comigo também. Fiz-lhe um filme pequeno para homenageá-lo. É meu primeiro filme. Ganhamos a Mostra Brasília, no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro em 2010. Além do Candango, tenho também na estante, um Jabuti, pois ele me deu o que ganhou em 2010, com Sangradas Escrituras (livro antologia). Tenho certeza que nosso premio no cinema também lhe veio como uma homenagem. Reynaldo faz isso com as pessoas. Reynaldo Jardim é gênio criador, artista revolucionário e delirante. Liderou ou influenciou os lideres de todas as grandes revoluções artísticas do século 20, tanto na poesia, como, e principalmente, na imprensa brasileira. Repito: Reynaldo fez isso em Heleninha, em mim e em milhares de outros. Reynaldo faz isso com as pessoas. Ele marca, com uma assinatura funda, nossa pele, nossa forma de pelear, nossas palavras e futuros e histórias e cores e coragens e sorrisos fugazes ou eternos e reticências... Essa noite ele morreu. Viva o Rey!
Alisson Sbrana
O HOMEM CULTURA
Reynaldo Jardim, foi um jornalista e poeta brasileiro nascido em São Paulo, no dia 13 de dezembro de 1926, e falecido em Brasília, em 1º de fevereiro de 2011. Reynaldo Jardim faleceu aos 84 anos de idade, em decorrência de complicações causadas por aneurisma na artéria aorta abdominal. Ele estava internado no Hospital do Coração, de Brasília. Foi redator das revistas O Cruzeiro e Manchete;Exerceu cargos de chefia na Rádio Clube do Brasil, na Rádio Mauá, na Rádio Globo e na Rádio Nacional no Rio de Janeiro e na Rádio Excelsior de São Paulo.
Realizou reformas gráficas em jornais como A Crítica (Manaus), O Liberal (Belém), Diário do Paraná, Correio de Noticias, Jornal do Estado e Gazeta do Povo (Curitiba), Jornal de Brasília (Brasília) e Diário da Manhã (Goiânia).
Em Brasília, foi editor do caderno Aparte, do Correio Braziliense e diretor executivo da Fundação Cultural do Distrito Federal. Participou, nos anos 50, da Reforma do Jornal do Brasil - onde criou o Suplemento Dominical do Jornal do Brasil, o Caderno de Domingo e o Caderno B. O SDJB tornou-se o mais importante suplemento literário de poesia concreta do Brasil, por onde passaram Oliveira Bastos e Mário Faustino.
Ao ser obrigado a deixar o JB, em 1964, devido à repressão militar, Reynaldo Jardim foi diretor da revista Senhor e diretor de telejornalismo da recém-inaugurada TV Globo. Já em 1967, criou o jornal-escola O Sol com textos criativos e projeto gráfico inovador. Viúvo do primeiro casamento, no qual teve dois filhos: Teresa e o filho falecido Joaquim. Estava casado com a jornalista Elaina Maria Daher.