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Foto: Fábio Motta |
O jornal Gazeta Wyborcza, em sua publicação desta quarta-feira, traz um artigo assinado por Maciej Stasiński sobre os dados divulgados pelo IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas. Com o título "Brasileiros desistem de raça", o articulista descreve os dados dizendo que "Cada vez mais brasileiros tratam com indiferença sua identidade racial. Eles rejeitam as classificações raciais, e escolhem um critério neutro para a cor da pele".
Na sua edição Online, o jornal faz um enquete sobre o que acham os leitores sobre a posição dos brasileiros. Das três opções oferecidas na enquete, vai vencendo aquela que pergunta: "Eu gosto. Por que as divisões se multiplicam" com 72%. Em seguida vem: "Não gosto. Este é um outro nome para o mesmo problema", com 21% e apenas 7% dizem não se interessar pelo tema. Esta é tradução do artigo de Stasiński:
"Foi detectado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), órgão que realiza censos e pesquisas sociológicas, em pesquisa recente, o que sentem os brasileiros a respeito do pertencimento à uma raça. No questionário foram apresentadas cinco categorias clássicas: branca, preta, mestiça (por exemplo, mulato ou pardo), preto, índio.
Pela primeira vez, um grande grupo de brasileiros deliberadamente negou os conceitos sugeridos de raça pura ou mista, e escolheu um termo neutro, descrevendo a cor da pele como sendo "Moreno". Este grupo de pessoas espontaneamente disseram sentir-se morenos, somando 21% dos respondentes. O conceito de branco foi considerado por 49%, enquanto 10% como sendo negros. Outros 13% como sendo mestiços, 1,5% como sendo Amarelo e 0,4% como índios.
Assim, quase metade dos brasileiros admitem não ter origem branca, sendo determinados não pelo tipo de raças, ou mistura, mas sim de acordo com tom de pele.
É surpreendente que um dos maiores jornais do país "Folha de São Paulo", tenha anunciado que: os brasileiros finalmente rompem as barreiras tradicionais de tempo, mesmo a colonização e a escravidão portuguesa. "Esta é uma grande notícia, porque o termo" pele escura "é neutra e afirmativa, não carrega conotações ideologicamente comprometidas".
O eminente sociólogo Fernando Henrique Cardoso, que foi o primeiro presidente deste país (1995-2002) a admitir que o racismo existe no Brasil, disse: "- No Brasil, somos todos de pele escura. Basta olhar para mim."
O resultado do teste do IBGE não significa, é claro, que o racismo tenha desaparecido no Brasil. Ao mesmo tempo, porque quase 64%, acredita que a cor da pele e afiliação racial afetam suas vidas. Mais: as questões de oportunidades e condições de trabalho são consideradas por 71% como reflexo a condição da cor da pele para terem sucesso; as relações com o judiciário e da polícia afetam a 68%, relacionamentos conjugais e a escola (59%) .
Estas respostas confirmam a crença comum de que o pior no Brasil é carregado por pessoas determinadas pelos três "P" - Putas, pretos e pobres (.., negros e pobres) - porque muitas vezes os desempregados são considerados como tal, e acabam na prisão.
Para o ex-relator especial da ONU, o senegalês, Doudou Diene, a discriminação, - No Brasil, co-existe em um mesmo país, dois mundos diferentes. O primeiro é a rua - multicultural, vibrante, quente. O segundo é um mundo de estruturas de poder e mídia, o que absolutamente não reflete essa diversidade. Mais: esconde a existência de comunidades de ascendência africano e indígena. E isto em um país que adotou 40% de todos os escravos negros. Quando eu olho nas ruas, e depois vejo a televisão, parece-me que é mostrado o espaço e não nas ruas.
Diane, no relatório sobre o Brasil, disse que, com exceção da comunidade japonesa em São Paulo, os negros, índios, mulatos e mestiços ainda se queixam de preconceito e discriminação racial. Mas chama a atenção para o fato de que nos últimos anos o Brasil luta com o racismo. - Até hoje, muitos políticos em tentativas estaduais e federal para minimizar o significado do racismo ou mesmo negá-lo, usam o argumento de "democracia racial" - diz Diane. O argumento é de tal ordem que o Brasil é o símbolo nacional da mulata erótica com formas exuberantes.
De fato, muitos brasileiros se orgulham do fato de que os colonizadores portugueses, ao contrário dos espanhóis ingleses, holandeses, com muito mais probabilidade se misturaram racialmente aos negros ou índios. Já um historiador proeminente como Gilberto Freyre descreveu - para o constrangimento dos racistas do século XX no Brasil - que no mundo da comunidade senhorial e patriarcal nos dias de escravidão (foi abolida apenas em 1888) os produtores de cana-de-branca não se envergonhavam de seus filhos com escravas negras.
Estudiosos modernos não são tão ingênuos a ponto de afirmar que a mistura de colonos com os escravos estão livres do racismo, e provam que sua paixão pelo negro e pela Mulatinha signifique que a falta de preconceitos sexuais possam esconder a violência racial e de classe existente.
Hoje, aparentemente de forma independente, os brasileiros estão começando a reconhecer que a raça é uma relíquia antiga. E os economistas acrescentam que para superar o racismo e estabelecer a igualdade real o Brasil depende disto para seu crescente poder no século XXI, tornar-se de verdade uma potência.