Alex Corsini
Sucursal da União Europeia.
Varsóvia - A Romênia transferiu para 2020 sua integração à Zona do Euro, seguindo o exemplo das Bulgária, Hungria, República Tcheca e Lituânia, já a Polônia adotou atenta posição de compasso de espera, enquanto a Letônia é a única que mostra-se disposta a integrar-se à Zona do Euro.
Há um década, o euro era sinônimo de fácil e barato endividamento, mas, simultaneamente, passagem para participar do "núcleo duro" da propalada complementação europeia.
Hoje, esta participação do encanto transformou-se em pavor, não só por causa do alto, até proibitivo, custo político de gerenciamento governamental, mas, principalmente, pela incerteza com relação ao futuro da moeda comum europeia.
A disposição de Letônia em integrar-se à Zona do Euro explica-se pela sua pequena dimensão geográfica e pela insegurança que provoca a vizinhança com a Rússia presente nos três países bálticos. Além disso, o governo de Riga tem sido submetido à mais cruel receita de saneamento fiscal pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), em comparação com Hungria e Romênia, e não tem nada pior a temer.
O verdadeiro barômetro para o futuro da Zona do Euro, assim como para o destino da complementação européia, será - ao que tudo indica - a posição da Polônia, que já é considerada, atualmente, o mais importante parceiro da Alemanha e - avalia-se na França - como a força emergente que permite à Alemanha desdenhar hoje a França - seu parceiro de décadas - na estrutura europeia.
Já a Polônia, que há alguns anos era o mais importante esteio dos EUA no Velho Continente e que foi o parceiro que por pouco não inviabilizou a formalização do Acordo de Lisboa, ao denunciar o acordo para o gasoduto Northstream, terá no futuro incentivos políticos, principalmente, para integrar-se à Zona do Euro e entrincheirar sua posição como grande força, igual à França, mais forte do que as despedaçadas pela frugalidade alemã Espanha e Itália.
Posição forte
A integração da Polônia à Zona do Euro significa, simultaneamente, certificação de continuação do processo da complementação européia mesmo sob severos preceitos alemães, algo que tudo menos fundamento pode ser considerado hoje.
A ironia da história é grande: durante a Reunião de Cúpula de Nice, em dezembro de 2000, Chirac e Jospin entraram em choque com Köhl para imporem a equivalência de votos da Polônia e da Espanha com os da Alemanha, França e Itália, em um esforço para controlarem a influência do governo de Berlim, uma indulgência da França retirada alguns anos depois, quando foi formalizada a Convenção de Lisboa.
Aliás, havia sido antecedido, também, o tripartite esquema de consultas Berlim-Varsóvia-Paris, por intermédio do qual o governo francês esperava equilibrar a Alemanha em nível de cooperação periférica.
Hoje, a Polônia surge como contrapeso ao Sul europeu, não só como exemplo de adequação à complementação européia, mas também, caso integre a Zona do Euro, como fator que fará com que a Europa Central adquira, por causa de dimensão da Polônia, a massa crítica de opção alternativa.
Se - e quando - a Polônia integrar-se à Zona do Euro, seguramente, arrastará todos os demais países da região, isto é, poderá influenciar, decisivamente, a composição da Europa alemã e poderá negociar com a Alemanha de uma posição muito melhor do que a França de hoje.
Petros Panayotídis
Sucursal dos Bálcãs.
Política para periferia é típica de corsários do passado
Atenas - Não faz muito tempo, desde quando os países imperialistas que objetivavam a punição ou a destruição total de seus adversários econômicos, ou buscavam a pilhagem dos recursos de outros países, atingiam o objetivo desejado com a forma "natural": participavam de bloqueios marítimos, ordenavam o desembarque de fuzileiros navais para derrubarem o governo local ou realizavam, então, invasão direta.
Já os líderes muçulmanos das regiões do Império Otomano na África do Norte incrementavam suas riquezas empregando bárbaros corsários para atacar e pilhar os navios mercantes.
Na atual euroneoliberal União Europeia (UE), dominada pelo IV Reich da Alemanha, a pilhagem da riqueza dos países da periferia europeia pelo núcleo duro da Zona do Euro ocorre com uma pura e sem mistérios fórmula econômica, isto é, sem o uso de violência física, por intermédio das políticas dos bail-outs ("socorro") e, agora dos, voluntariamente, escolhidos bail-ins.
Com a explosão da "crise da dívida" na Zona do Euro, decorrência, principalmente, da defeituosa arquitetura da União Monetária Europeia e, em segundo, da irrespirável política seguida pelas autoridades europeias, a Alemanha agarrou a oportunidade para expandir seu predomínio econômico sobre a soberania europeia, seguindo a política que adotou no caso da Alemanha Oriental após a unificação das duas Alemanhas: dissolução da base industrial oriental e sua transformação em satélite do governo de Berlim, no âmbito de uma Alemanha, supostamente, unificada.
Salvação da Turquia
Nos dias atuais, as salvações dos bancos, travestidas em salvações dos países da Zona do Euro, as quais são acompanhadas por insuportáveis medidas de frugalidade para o resgate dos empréstimos de "salvação" e políticas econômicas com alvo a contração do nível de vida, a plena elasticidade no mercado de trabalho e a liquidação dos ativos patrimoniais estatais compõem o âmbito de uma estratégia alemã comum, destinada à pilhagem das economias dos países no Sul europeu.
Não é necessária sequer uma referência sobre o Acordo de Londres, em 1953, quanto a dívida alemã. As circunstâncias hoje são tão diferentes a ponto de não existirem possibilidades realistas para a consecução de um acordo semelhante para a dívida da Grécia.
Mas é possível utilizar o exemplo de salvação da Turquia, em 2001, pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), instituição que - com toda razão - traz a fama de uma força extremamente perigosa no que diz respeito às condições sob as quais oferece financiamento e "ajuda técnica" a países super-endividados ou já falidos, a fim de ser esclarecida a questão da política estratégica que adota hoje a Alemanha contra os países de periferia da Zona do Euro.
O FMI, somente no período 2001-2002, emprestou à Turquia cerca de US$ 20 bilhões, volume de recursos que correspondia a cerca de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) do país.
O resgate dos empréstimos deveria iniciar-se após cinco a seis anos, proporcionando a oportunidade de recuperação da economia turca, oferecida por causa da importância estratégica da Turquia na região do Grande Oriente Médio.
Entretanto, a Turquia continuou recebendo ajuda econômica do FMI até 2008. Em 2013, espera-se que resgatará o saldo dos empréstimos remanescentes que recebeu do FMI desde o final da década de 1990.
Bancos alemães
Estas foram as condições de endividamento da Turquia para serem comparadas com as correspondentes impostas à Grécia por ordem de Angela Merkel e seu ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble.
Três anos mais tarde, com a Grécia a um passo de crise humanitária, enquanto país-membro do bloco econômico mais rico do mundo, a Alemanha recusa-se - de pirraça - a qualquer discussão sobre renegociação da dívida grega.
Mas isto é natural e compreensível, pois a transformação da economia grega em satélite da Alemanha não foi ainda totalmente concluída.
A "salvação" da República de Chipre integra-se à mesma lógica de pilhagem do Sul europeu. Chipre, tendo evoluído a uma economia de prestação de serviços financeiros "excepcionalmente competitivos", constituiu-se, há mais de uma década, em uma "lavanderia" de dinheiro sujo.
A "salvação" da República de Chipre integra-se à mesma lógica de pilhagem do Sul europeu. Chipre, tendo evoluído a uma economia de prestação de serviços financeiros "excepcionalmente competitivos", constituiu-se, há mais de uma década, em uma "lavanderia" de dinheiro sujo.
Com a derrocada do sistema bancário cipriota, a Alemanha conseguiu atingir dois alvos: a garantida desindexação da República de Chipre, da Rússia e o aumento de competitividade dos bancos alemães.
Na Alemanha, já desembarcaram, desde 2011, várias décadas de bilhões de euros provenientes dos super-endividados países do Sul europeu, e esta tendência, seguramente, deverá ser intensificada após a decisão de pilhagem dos depósitos bancários no Chipre.
A política estratégica do IV Reich é tão escancarada que vale a pena questionar: o que mais será necessário para despertarem os "empoados" líderes do Sul europeu?
Fonte: Jornal MONITOR MERCANTIL