segunda-feira, 29 de março de 2021
Tesco vai embora da Polônia
quinta-feira, 11 de março de 2021
Polônia e Bielorrúsia expulsam cônsules de ambos países
A Bielorrúsia anunciou nesta terça-feira (9) a expulsão de um cônsul polaco e protestou "fortemente" por sua participação em uma manifestação que homenageou os soldados polacos que na Segunda Guerra Mundial lutaram contra a ocupação alemã e soviética.
O texto, explica sua decisão de expulsar o cônsul polaco em Brest (sudoeste), Jerzy Timofejuk.
Na Polônia, o Dia dos "Soldados Amaldiçoados" é comemorado todo dia 1º de março desde 2011.
De acordo com o comunicado da diplomacia bielorrussa, uma manifestação "informal" dedicada a este dia e organizada por organizações relacionadas com a Polônia aconteceu em Brest, uma cidade situada na fronteira com a Polônia, no dia 28 de fevereiro com a participação de Timofejuk.
Na terça-feira, o encarregado de relações exteriores polaco, no país, foi convocado ao Ministério das Relações Exteriores, que "protestou fortemente" contra a participação de Timofejuk nesta reunião.
"No nosso país, o incitamento ao ódio racial, nacional, religioso (...) e a reabilitação do nazismo é um crime", ressalta o comunicado.
Segundo o lado bielorrusso, ao participar neste evento, o cônsul polaco violou gravemente o direito internacional, em particular a Convenção de Viena sobre Relações Consulares.
A Polônia foi presenteada com uma nota em que o cônsul Jerzy Timofejuk foi convidado a deixar o território da Bielorrússia.
A Bielorrússia tinha, no dia anterior, considerado o cônsul polaco, em Brest, "persona non grata" por participar de homenagem aos "soldados amaldiçoados" polacos que lutaram contra a ocupação alemã e soviética.
"Em reação às medidas hostis e infundadas das autoridades bielorrussas, a Polônia reconheceu como persona non grata, um diplomata da embaixada do país vizinho, em Varsóvia", tuitou o vice-ministro das Relações Exteriores da Polônia, Marcin Przydacz, sem maiores detalhes.
Os "soldados amaldiçoados", batalhões de resistência formados para lutar contra os ocupantes alemães na Segunda Guerra Mundial, também lutaram contra a ocupação soviética. Os "soldados amaldiçoados" ou "soldados condenados" (Żołnierze Wyklęci) é o nome dado a membros de organizações clandestinas anti-soviéticas e anticomunistas formadas na Polônia no final da Segunda Guerra Mundial.
segunda-feira, 8 de março de 2021
Igreja Católica diminui na Polônia
Segundo o relatório, diminuíram os jovens que atuam na Igreja local. Em cerca de 30 anos, sua participação caiu para a metade. No país, os jovens praticantes são cerca de 30%, os menos praticantes são pouco mais de 20% e os não praticantes 18,5%. Por outro lado, mais de 50% dos estudantes acham que a Igreja não tem autoridade.
Na Polônia, segundo o relatório da KAI, os que se consideram católicos representam 90% da população, enquanto quase 10% são ortodoxos e os restantes dizem não pertencer a nenhuma religião.
Em 2019, 32.461.000 fiéis informaram pertencer à Igreja Católica, distribuídos em mais de 10 mil paróquias: uma taxa de religiosidade entre as mais altas da Europa, pois quase 37% dos católicos vão à Missa aos domingos. No entanto, diminui o número dos que aceitam os ensinamentos da Igreja sobre questões morais, sobretudo no âmbito da ética sexual.
A pandemia Covid-19, segundo um comunicado do setor de Comunicações Estrangeiras da Conferência Episcopal da Polônia, contribuiu para uma diminuição das práticas religiosas comunitárias e os contatos com a paróquia; mas, levou a aumentar os vínculos familiares e religiosos, a busca do transcendente e de respostas para as necessidades espirituais.
Quanto às estruturas da Igreja Católica, na Polônia existem 1050 Santuários, dos quais 793 marianos: o mais importante continua sendo o de Jasna Góra (Montes Claros), que registrou mais de 4 milhões de peregrinos em 2019; o Santuário da Divina Misericórdia, ligado às aparições de Jesus a Santa Faustina Kowalska, registra anualmente cerca de 2 milhões de peregrinos, provenientes de 90 países.
Quanto ao clero, no país os cardeais são 2, os arcebispos 29, os bispos 123, dos quais 4 de rito bizantino-ucraniano, os sacerdotes 33.600, dos quais 24.700 diocesanos e 8.900 religiosos, e cerca de 1.200 os consagrados de 59 Congregações, inclusive os Institutos de Vida contemplativa.
Por outro lado, mais de 2,5 milhões de fiéis leigos prestam serviço em paróquias ou comunidades eclesiais. Em 2020, os seminaristas eram 2.556 e 55%, por ano, os que deixaram o sacerdócio. No âmbito ecumênico, a Igreja católica local conta com órgãos intereclesiais e comissões bilaterais de diálogo com as Igrejas Ortodoxa, Luterana e Adventista.
A Conferência Episcopal Polaca adotou diretrizes e aplicou as normas do “Motu Proprio” do Papa Francisco, para a defesa dos abusos contra menores. Em 2019, a Conferência Episcopal nomeou um delegado para a defesa de menores e instituiu uma Fundação para a proteção dos menores e prevenção das vítimas de abusos.
Na Polônia, a Igreja conta com órgãos, como a Caritas diocesana, Associações e organizações; oferece educação católica em escolas e universidades, inclusive de Teologia, nas principais cidades. Ainda no campo cultural, a Igreja local mantém, aproximadamente, 13 mil igrejas e cerca de 100 museus diocesanos, religiosos e paroquiais.
No que se refere à mídia católica, o setor que mais cresce é o dos portais católicos na Internet. Mas, um papel importante, em nível nacional, é desempenhado pela Agência Católica de Informação (KAI), da Conferência Episcopal da Polônia, e pela Fundação Opoka, portal a serviço da Igreja Católica para a criação de sistemas de intercâmbio de informação.
Fonte: Vatican News Service - TC
sábado, 13 de fevereiro de 2021
Arcebispos salvaram polacos-judeus no Holocausto
Em 1941, o arcebispo de Vilno pediu para esconder os fugitivos do gueto nas ordens religiosas. Ele enviou professores judeus da Universidade de Stefan Batory - Michael Reicher e Julian Abramovich - para o convento das Irmãs de Nazaré.
Além dos bispos diocesanos mencionados, havia outros bispos que, permanecendo fora de suas dioceses, se empenhavam em ajudar a população judaica. Karol Radoński, bispo de Włocławek, por exemplo, condenou as atrocidades alemãs contra os judeus, em seu discurso, em 14 de dezembro de 1942, na rádio de Londres.
Naquela época, no entanto, o bispo Sokołowski foi transferido de sua residência por ocupantes alemães e estava hospedado em uma antiga paróquia ortodoxa (na ulica Sienkiewicz 37).
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021
Historiadores condenados na Polônia
O processo causou polêmica tanto na Polônia quanto em Israel.
O tribunal declarou que os pesquisadores Barbara Engelking, diretora do Conselho Internacional de Auschwitz na Polônia, e Jan Grabowski, da Universidade de Ottawa, devem se desculpar com Edward Malinowski por terem citado no livro Dalej jest noc (Assim é a noite, em tradução livre), de 2018, que o então prefeito do vilarejo de Malinowo entregou judeus a alemães nazistas.
A justiça, no entanto, não acatou o pedido de pagamento de uma indenização de 100 mil złotys – o equivalente a cerca de R$ 145 mil.
O processo partiu de uma sobrinha de Malinowski, Filomena Leszczyńska, de 81 anos, que considerou que a memória do tio havia sido difamada. A ação foi financiada pela Liga Polaca Contra a Difamação, organização que se opõe à existência de envolvimento de polacos no assassinato de judeus durante a Segunda Guerra Mundial.
A advogada de Leszczyńska, Monika Brzozowska-Pasieka, alegou que Engelking e Grabowski não seguiram a metodologia correta de pesquisa no livro. "Filomena está extremamente satisfeita com este veredicto", disse Brzozowska-Pasieka após o julgamento. "A questão da compensação desde o início foi secundária", completou.
O livro menciona que o ex-prefeito pode ter participado de um massacre local de judeus por soldados alemães. No entanto, Leszczyńska diz que seu falecido tio, na verdade, ajudou judeus. Para ela, houve "omissões" e "erros metodológicos" que fazem seu tio parecer alguém que traiu judeus.
De acordo com o livro, Malinowski permitiu que uma mulher judia sobrevivesse ao ajudá-la a se passar por não-judia. No entanto, em depoimento, a sobrevivente afirmou que ele foi cúmplice na morte de dezenas de judeus.
Desacreditar pesquisa
"Este é um caso do Estado polaco contra a liberdade de pesquisa", disse Grabowski, cujo pai era um sobrevivente do Holocausto.
Acadêmicos polacos e organizações judaicas expressaram preocupação de que o julgamento possa minar a liberdade de pesquisa. Para Engelking, o caso é "um esforço" para mostrar aos pesquisadores "que há questões que não deveriam ser abordadas".
O Congresso Judaico Mundial disse, em comunicado, que estava "consternado" com a decisão. O memorial do Holocausto Yad Vashem de Jerusalém afirmou que as acusações "equivalem a um ataque ao esforço para obter um quadro completo e equilibrado da história do Holocausto" e "constitui um sério ataque à pesquisa livre e aberta".
Críticos acusam o atual governo nacionalista da Polônia de tentar encobrir o papel de autoridades polacas no genocídio de judeus durante a ocupação nazista alemã e desencorajar pesquisas acadêmicas sobre casos de colaboração.
Questão delicada
Mais de sete décadas depois do fim da Segunda Guerra Mundial, a contribuição de polacos para o Holocausto continua sendo uma questão política delicada na Polônia. Várias pesquisas mostram que, enquanto milhares de polacos arriscaram suas vidas para ajudar judeus, outros muitos teriam participaram do genocídio.
O partido ultraconservador no poder, o Direito e Justiça (PiS), alega que os estudos que mostram a cumplicidade de polacos no extermínio de judeus pela Alemanha nazista são uma tentativa de desonrar o país, que sofreu imensamente com o conflito.
Em 2018, a Polônia chegou a aprovar uma lei para criminalizar qualquer menção sobre a responsabilidade polaca nos crimes cometidos por alemães durante a ocupação do país na Segunda Guerra Mundial. Após pressão internacional, a lei, que previa uma pena de até três anos de prisão, foi derrubada.
Quase todos os 3,2 milhões de judeus da Polônia morreram durante a Segunda Guerra – cerca da metade do total de judeus que teriam sido vítimas do Holocausto. Outros 3 milhões de polacos de outras religiões morreram durante a ocupação nazista.
Somente em Auschwitz, o maior campo de extermínio nazista, foram assassinados cerca de 1,5 milhão de prisioneiros, a maioria judeus.
Fontes: le/cn (efe, ap, ots)
sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021
Julgamento determinará estudos sobre o Holocausto
Uma intenção legislativa que gerou uma forte disputa diplomática com Israel e que acabou por cair.
O caso que envolve os dois historiadores é de difamação civil, julgado sob uma lei preexistente, mas vários estudiosos acreditam que abrirá um precedente na liberdade de pesquisa sobre o Holocausto.
Barbara Engelking é historiadora no Centro Polaco para a Pesquisa do Holocausto, em Varsóvia, e Jan Grabowski, filho de um judeu polaco sobrevivente, é professor de História na Universidade de Otawa, no Canadá.
Desde que conquistou o poder, em 2015, o partido conservador Direito e Justiça (PiS) tem procurado desencorajar as investigações sobre os delitos polacos durante a ocupação alemã ao longo da Segunda Guerra Mundial, preferindo salientar o heroísmo e sofrimento dos cidadãos do país.
O objetivo é promover o orgulho nacional, mas os críticos do partido no poder entendem que se trata de uma estratégia do Governo para encobrir o fato de alguns polacos, não todos, terem colaborado no extermínio dos judeus.
No centro deste processo está um estudo, de dois volumes e 1.600 páginas em polaco, com o título Dalej jest noc: losy Żydów w wybranych powiatach okupowanej Polski (Noite sem fim: O destino dos judeus em condados selecionados da Polônia ocupada"), co-editado por Barbara Engelking e Jan Grabowski.
Os historiadores veem este caso como uma tentativa de desacreditá-los e de desencorajar outros investigadores a pesquisarem a verdade sobre o extermínio dos judeus na Polônia.
"Este é um caso do Estado polaco contra a liberdade de pesquisa", afirmou Jan Grabowski. O historiador, diz que foi alvo de assédio antissemita, tanto online como nas palestras que deu no Canadá, França e outros países.
Por seu lado, as autoridades polacas, têm argumentado que este é um caso civil, refutando a tese de que representa uma ameaça à liberdade de expressão.
Numa carta ao representante dos sobreviventes do Holocausto em Israel, o embaixador da Polônia em Israel, Marek Magierowski, expressou a sua preocupação com os insultos antissemitas que surgiram na sequência deste caso.
Por outro lado, Filomena Leszczyńska, sobrinha de um homem da aldeia de Malinowo cujo comportamento durante a guerra é brevemente mencionado no estudo, processou os dois historiadores exigindo 100 mil złotys (cerca de 22.250 euros) e um pedido de desculpa através dos jornais.
De acordo com as provas apresentadas no estudo, Edward Malinowski, contribuiu para salvar uma judia ao ajudá-la a passar por não judia, mas o testemunho da sobrevivente é citado como tendo dito que o homem foi cúmplice da morte de várias dezenas de judeus.
Malinowski foi absolvido de colaboração com os alemães num julgamento pós-guerra e a sobrinha conta com o apoio da Liga Polaca Contra a Difamação, uma organização próxima do Governo polaco.
Para esta Liga, os dois historiadores são culpados de caluniar "o bom nome" de um herói polaco, que dizem não ter tido nenhum papel na morte dos judeus, e, por acréscimo, de prejudicar a dignidade de todos os polacos.
A indignação de Filomena Leszczyńska foi provocada por um fragmento da publicação sobre seu tio Edward Malinowski. A história toda diz respeito a Maria Wiśniewska (também conhecida como Estera Drogicka), que em 1942 salvou sua vida indo trabalhar na Prússia Oriental (Atual Alemanha).
Na sua opinião, os procedimentos contra os dois historiadores de reputação internacional "não são mais do que uma tentativa de usar o sistema legal para amordaçar e intimidar as pesquisas sobre o Holocausto na Polônia".
Fonte: Associated Press e outras
sexta-feira, 22 de janeiro de 2021
Polônia lança versão crítica de "Mein Kampf"
"Para os seus críticos, esta publicação constitui uma ofensa à memória das vítimas do nacional-socialismo. Na minha opinião, é absolutamente o contrário", afirma o professor especialista do período nazista Eugeniusz Krol, que trabalhou quase três anos nesta edição. Edição crítica de "Mein Kampf'" vende 85 mil exemplares em um ano
No mercado polaco existem versões piratas de Mein Kampf (Minha luta, em português), abreviadas, a maioria traduzida do inglês e sem um foco crítico adicional, com um "efeito negativo", disse à AFP.
A edição acadêmica polaca de 'Mein Kampf' tem o título Moja Walka
Em sua opinião, sua edição, “que mostra o original, essa fonte histórica em um contexto mais amplo”, “não pode ser explorada por forças extremistas”.
A edição crítica polaca, a segunda do mundo, é composta por mil páginas, metade delas de anotações. A edição alemã, primeira publicada no mundo em 2016, tem 2.000 páginas e vendeu mais de 100.000 exemplares.
O diretor do museu Auschwitz-Birkenau, Piotr Cywinski, disse ao jornal Rzeczypospolita que "a percebe" como uma edição para fins científicos, mas adverte contra a campanha promocional "que pode estar em conflito" com a legislação que proíbe a promoção do fascismo, com pena de dois anos de prisão.
Zbigniew Czerwinski, diretor da editora Bellona, especializada em textos históricos, procura dissipar esses temores.
A primeira tiragem será de 3.000 exemplares e nenhuma campanha publicitária está planejada. O livro também custa cerca de 150 złotys (33 euros, quase 40 dólares, 217,50 reais), um preço muito alto na Polônia.
“Não queremos que esta publicação seja facilmente acessível e estamos considerando que parte das receitas, se houver, seja doada à Fundação ou ao museu de Auschwitz”, enfatiza.
"Pode ser algo positivo"
Escrito pelo ditador nazista entre 1924 e 1925, enquanto estava preso após um golpe fracassado, este texto fundador do nazismo e do projeto para exterminar os judeus foi publicado sob seu reinado de terror com 11,5 milhões de exemplares.
Na Polônia, onde seis milhões de habitantes, quase metade deles de origem judaica, morreram durante a guerra nas mãos dos nazistas, esta publicação é "importante e necessária", diz Czerwinski.
Havia edições piratas no início de 2000, incluindo a de 2005 a pedido do governo da Baviera (Alemanha), que detinha os direitos antes que se tornassem de domínio público no final de 2015.
Para Czerwinski, o livro é acima de tudo “um aviso de que é possível desmantelar facilmente a democracia e caminhar para um regime totalitário quase invisível”.
“O que aconteceu depois de 1933 na Alemanha pode acontecer hoje, amanhã, depois de amanhã em várias partes do mundo. Os sinais são facilmente perceptíveis”, acrescenta.
Krol destaca, por sua vez, essa "acusação às elites da época", que subestimou Hitler.
Para o rabino-chefe da Polônia, Michael Schudrich, a questão de publicar ou não Mein Kampf "realmente surgiu 20 anos atrás, mas podemos encontrar tudo isso na internet hoje."
“Uma edição crítica bem feita pode ajudar a compreender de forma muito mais completa e profunda os perigos do nazismo, da mentira e do totalitarismo”, considera. "Na minha opinião, pode ser algo positivo".
"É importante que os cientistas leiam o que Hitler escreveu em Mein Kampf (...). O que ele disse antes de assumir o poder foi exatamente o que fez depois", disse ele.
Para ele, quem quer o livro em versão anotada e quem se opõe a ele procuram, na verdade, a mesma coisa: "Acabar com o fascismo".
Fonte: AFP - Agência France Press
segunda-feira, 23 de novembro de 2020
POLÔNIA CONTRA A ULTRADIREITA
A razão mais imediata desta mobilização é uma sentença recente do Tribunal Constitucional, que se transformou num organismo político que, segundo muitos observadores, não é mais independente do Partido Direito e da Justiça (PiS), o partido de extrema-direita que ocupa o governo há dois mandatos.
A interrupção da gravidez era legal e acessível durante o período do socialismo de Estado posterior a 1956, mas uma lei promulgada, em 1993, o limitou a apenas três casos: quando a gravidez for resultado de um crime (ou seja, de um estupro), quando a vida ou a saúde da mulher estiverem em risco e quando o feto apresentar anomalias graves. Enquanto estavam vigentes estas restrições, o número de procedimentos realizados era escasso: pouco mais de mil abortos anuais feitos pela via legal, em um país com uma população de 38 milhões de habitantes. Além disso, até outubro de 2020, 97% destes procedimentos foram realizados através do pressuposto que acaba de ser proibido.
A consequência disso é que a decisão do Tribunal supõe que, na prática, quase todas as interrupções de gravidez estão proibidas. Naturalmente, as mulheres seguirão fazendo aborto às margens do sistema. Quando, no começo da década de 1990, esse direito foi restringido, as mulheres passaram a buscar procedimentos clandestinos. Atualmente, existem redes de acompanhamento que oferecem às mulheres o financiamento e a informação necessárias para abortar de forma segura no exterior, ou fazê-lo elas mesmas em casa.
A ilegalidade quase total do aborto poderia ter sido prevista no clima político atual da Polônia. O governo não previa, no entanto, uma resposta tão multitudinária contra essa decisão. As últimas medidas tomadas pelo PiS e a resistência frente a elas devem ser analisadas no contexto da guerra corrente contra a “ideologia de gênero e LGBTI+”, que o governo polaco tem lutado nos últimos cinco anos (desde que o Partido Direito e Justiça ganhou pela primeira vez as eleições presidenciais).
Essas são algumas das suas últimas ações claramente contra a igualdade: o ministro da Justiça ameaçou, em julho de 2020, retirar-se de forma oficial do Convênio de Istambul (o instrumento do Conselho da Europa que trata de prevenção e luta contra a violência às mulheres e as violências domésticas) e Andrzej Duda, o presidente da Polônia, em sua campanha pela reeleição recente, afirmou em uma conhecida declaração que “LGBTI+ é uma ideologia, não é gente”. Além disso, as ações do governo têm se agravado com o tempo e, em agosto de 2020, a polícia atacou e prendeu ativistas LGBTI+ de Varsóvia.
Os protestos que estão acontecendo agora são uma resposta ao aumento da perseguição contra os direitos das mulheres e das pessoas LGBTI+, que culminou com a sentença do Tribunal Constitucional, mas são também fruto de mobilizações anteriores da esquerda. Em 2016, a tentativa do Parlamento de restringir o acesso ao aborto legal foi detido por manifestações em massa (conhecidas como o “protesto negro”) e greves de mulheres. E na primavera de 2020, durante o confinamento, uma tentativa parecida foi contra-atacada por bloqueios do trânsito nas maiores cidades, protestos nas sacadas de prédios, reuniões espontâneas e passeios coletivos em espaços públicos.
A partir de uma perspectiva mais ampla, esses protestos são igualmente consequência, direta e indireta, de todas as mobilizações sociais ocorridas, desde os anos 1990 e início dos anos 2000, pelos direitos das mulheres e LGBTI+, e das recentes greves globais pelo clima. No contexto polaco, além de tudo, podem ser entendidas em linhas gerais como um indicador do fim do domínio cultural e político da Igreja Católica Apostólica Romana e de sua contínua ingerência na esfera pública e no sistema educativo (a religião foi introduzida nos colégios públicos em 1990). Um exemplo disso é que, hoje, a lei do aborto de 1993 é entendida pela população em geral como um “pacto”, feito pelas costas das mulheres, entre os líderes políticos homens e os membros da Igreja católica.
A questão do aborto na Polônia está muito politizada nos últimos 30 anos — e, especialmente, nos últimos cinco. O governo, ao dar sinal verde para uma nova restrição na lei, brincou com fogo. Foi contra a maioria que forma a opinião pública polaca, que se opõe a novas proibições e prefere que os supostos casos de aborto de legal se ampliem, em vez de serem reduzidos.
A sentença do Tribunal chegou em um momento muito difícil para muitos setores da sociedade: com a pandemia de covid-19, o sistema de saúde a ponto de colapsar e previsões de recessão econômica, muitos grupos perderam a confiança em um governo que está distraído, intensificando sua campanha de ódio contra as pessoas LGBTI e mulheres.
Sabemos que, na Polônia, um país onde as organizações de mulheres lutam há mais de duas décadas pelo aborto legal, esta onda de manifestações foi de longe a que mobilizou mais gente. E também foi incomum por muitas outras razões. Em primeiro lugar, porque o ápice foi a raiva das mulheres, sentida de forma massiva, coletiva e transbordante, de forma parecida, por exemplo, ao movimento #MeToo. Essa reação emocional potente poderia ter sido resultado da frustração acumulada pelos contínuos passos do governo para limitar os direitos das mulheres.
Agora, a raiva das mulheres se desatou ao ver como o partido que está no governo proibia a prática de aborto em sua totalidade, sem aparentar qualquer respeito pelo processo democrático — a lei foi modificada sem debate público e isso constitui uma omissão do dito processo — e talvez também devido a que essa proibição é algo muito pessoal para muitas delas, porque se deram conta, mais uma vez, de que suas vidas são tratadas com total desprezo por numerosos homens a frente de cargos políticos.
O cansaço, a ira e a raiva absoluta foram bem refletidas nos slogans. Entre os mais populares, destacam-se “Cai fora” (Wypierdalać) e “vá à merda PiS” (J… PiS). Em todo o país, centenas de milhares de manifestantes, em sua maioria mulheres jovens, tomaram as ruas portando cartazes com dizeres como “Queria poder abortar o governo”, “Isso é guerra” ou “O inferno para as mulheres”.
Além do mais, nos debates políticos do país se produziu uma autêntica mudança quase que da noite para o dia: organizações de mulheres com a All-Poland Women’s Strike, que coorganizou os protestos pelo direito pleno ao aborto, e a Abortion Dream Team, um coletivo de acompanhamento que ajuda as mulheres a abortarem em suas próprias casas, que eram consideradas “muito radicais” até para alguns setores do feminismo, e se converteram em um grande interlocutor nos debates políticos convencionais, e atraíram a atenção dos principais meios de comunicação. Agora já não são vistas como minoria radical ou extremistas que devem ser silenciadas para que as posturas supostamente moderadas do espectro político fiquem onde estão.
Mas o que realmente fez com que os protestos crescessem durante semanas foi a enorme mobilização de jovens e sua determinação. Gente jovem de todos os gêneros celebrou sua subjetividade política nas ruas, gritando palavrões ao governo.
No cartaz preto, “Meu corpo, minhas regras”, a determinação e persistência da juventude são uma novidade e dão o que pensar a todos. Graças a ela, o partido que governa o país aprendeu uma lição amarga sobre o quanto seus métodos e sua retórica nacionalista estão desgastados, e o quanto seu partido está distante dos mais jovens — ou seja, de seu futuro eleitorado.
Mesmo com essa grande onda de protestos de rua chegando ao seu final natural, devido ao puro esgotamento de todas as pessoas envolvidas, os resultados da mobilização ainda estão por vir. Já estamos em 20 de novembro, e o governo ainda não publicou a sentença do Tribunal, o que significa que, na prática, a lei não mudou.