segunda-feira, 5 de setembro de 2022

GOVERNO DA POLÔNIA QUER 1,3 DE EUROS DE REPARAÇÃO

Varsóvia completamente destruída pelos alemães,
enquanto russos e ucranianos assistiam do outro lado do rio Vístula

Governo da Polônia quer 1,3 trilhão de Euros da Alemanha pela ocupação nazista
O anúncio foi feito nesta quinta-feira (01/09) pelo vice-primeiro-ministro polaco, Jarosław Kaczyński, do Partido Direito e Justiça (PiS), no dia em que se completam 83 anos do início da invasão da Polônia pelos alemães nazistas.

Kaczyński fez a declaração no lançamento de um relatório há muito esperado sobre o custo para o país dos anos da ocupação alemã nazista. Por cinco anos, uma equipe de cerca de 30 economistas, historiadores e outros especialistas trabalhou no documento.

"Não apenas preparamos o relatório, mas também tomamos a decisão sobre os próximos passos. Vamos pedir à Alemanha para abrir negociações sobre as indenizações", disse Kaczyński, admitindo que será "um longo e difícil caminho", mas que está otimista.

O governo polaco argumenta que o país foi a primeira vítima da guerra e nunca foi totalmente compensado pela vizinha Alemanha, que é, agora, um dos seus principais parceiros na União Europeia.

Segundo Kaczyński, é uma soma com a qual a economia alemã pode "lidar perfeitamente". Ele ressaltou que dezenas de países em todo o mundo receberam compensação da Alemanha e que "não há razão para que a Polônia fique isenta dessa regra".

"Os alemães invadiram a Polônia e nos causaram enormes danos. A ocupação foi incrivelmente criminosa, incrivelmente cruel e teve repercussões que em muitos casos continuam até hoje", disse Kaczyński. Durante a cerimônia, o presidente polaco, Andrzej Duda, afirmou que a Segunda Guerra Mundial foi "uma das tragédias mais terríveis da nossa história".

O governo federal alemão não vê nenhuma base legal para o pedido de reparação da Polônia. Berlim argumenta que a então liderança comunista polaca renunciou às reparações alemãs em 1953.

"A posição do governo federal permanece inalterada, a questão das reparações foi esclarecida", escreveu um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores em e-mail obtido pela agência de notícias Reuters.

"Há muito tempo, em 1953, a Polônia renunciou a outras reparações e confirmou essa renúncia várias vezes. Esta é uma pedra angular da ordem europeia de hoje. A Alemanha mantém sua responsabilidade política e moral pela Segunda Guerra Mundial", continua o e-mail.

O governo da Polônia, no que lhe concerne, rejeita a declaração de 1953, feita pelos então líderes comunistas do país sob pressão da União Soviética.

Berlim também justifica que todas as reivindicações relativas a crimes alemães na Segunda Guerra Mundial perderam a validade, o mais tardar, com a assinatura do Tratado Dois-Mais-Quatro, em 1990, o qual vale como "ponto final na questão da reparação".

O tratado foi assinado pela República Federal da Alemanha, a República Democrática Alemã e as quatro potências que ocuparam a Alemanha desde o fim da Segunda Guerra Mundial: Estados Unidos, França, Grã-Bretanha e União Soviética e foi a base para a reunificação alemã.

O responsável do governo da Alemanha para a cooperação teuto-polaca, Dietmar Nietan, disse, em comunicado, que a data de início da Segunda Guerra Mundial "continua a ser um dia de culpa e vergonha para a Alemanha", e trata-se do "capítulo mais sombrio" da história do país.

CRÍTICAS DA OPOSIÇÃO POLACA

Antes da apresentação do relatório, o líder da oposição polaca e ex-presidente do Conselho da União Europeia (UE), Donald Tusk, criticou o projeto. Para ele, o PiS não está preocupado com o pagamento de indenizações, mas com uma campanha política doméstica.

"O líder do PiS, Jarosław Kaczyński, não esconde que quer construir apoio ao partido no poder com esta campanha anti-alemã", disse.

O deputado da oposição Grzegorz Schetyna também considera que o relatório é apenas um "jogo na política interna", argumentando que o seu país precisa "construir boas relações com Berlim".

Em 1º de setembro de 1939, a Alemanha nazista invadiu a Polônia. Dos cerca de 35 milhões de habitantes do país na época, cerca de 6 milhões foram mortos - entre eles cerca de 2,7 milhões de polacos de origem judaica.

A capital, Varsóvia, foi praticamente toda arrasada, grande parte do país foi saqueada e destruída.

P.S. E Jarosław Kaczyński não vai pedir indenização à Rússia e a Ucrânia? Os dois países também causaram muitos prejuízos humanos e materiais à Polônia.

Fontes: (DPA, AFP, Reuters, Lusa, ots)

terça-feira, 16 de agosto de 2022

TERRAS DA POLÔNIA - O NOVO LIVRO DE IAROCHINSKI

O escritor paranaense publica seu quarto livro, dos escritos durante o período da pandemia da Covid-19. Iarochinski vem há anos planejando escrever um livro sobre a História da Polônia em português. “Chegou a hora”, diz ele.

Começou com uma série de nove reportagens de página inteira no, então, Jornal do Estado, de Curitiba. Foi anos de estudos e pesquisas sobre a nação de seus ancestrais polacos. Embora não tenha no título a palavra “história”, “Terras da Polônia”, é, sim, o primeiro livro em língua portuguesa sobre a história desta nação que virou Estado em 966 d.C. com a criação do Reino da Polônia.


A capa remete à lenda dos três irmãos eslavos Lech, Rus e Czech, que encontram o grande ninho da Águia Branca. Lech resolve ficar ao pé da árvore de “Gnieszno” e fundar seu país. Rus vai para o Leste e Czech para o Sul. A águia branca se torna o símbolo da nação. Mas segundo o escritor não foi fácil manter a unidade de suas terras, “o Estado polaco ao longo de sua atribulada história teve, territórios de várias extensões e formatos diferentes. Suas terras foram invadidas, ocupadas, doadas, distribuídas, redistribuídas, recuperadas, reconquistadas e perdidas. Da república que cobria as terras europeias entre os mares Báltico e Negro ficou reduzida a 312 mil km² após 1947. Teve um pequeno ganho, em 2002, com a volta de algumas centenas de hectares devolvidos pela República Tcheca e pela União Soviética".




Publicação luxuosa com 330 páginas, coloridas, no formato 17 x 23 cm e capa dura, “Terras da Polônia” traz vários mapas mostrando a evolução e a involução dos territórios da nação polaca desde os tempos pré-históricos, passando pelas diferentes estruturas de Estado como reino, ducados e três repúblicas.

Depois da publicação do último livro “O Brasil de 1342 – descoberto por Sancho Brandão” e da invasão russa na Ucrânia, Iarochinski se viu impelido a escrever sobre as terras da Polônia. Pelo que constatou durante seus quase dez anos residindo em Cracóvia, a Polônia “é uma nação que ainda sonha com a devolução de suas regiões centenares da Volínia e da Podólia. Terras que abrigam as importantes cidades de Lwów, Tarnopol e Stanisławów, entre outras, culturalmente polacas,” assinala, Iarochinski.

O escritor lembra de uma das epígrafes de seu primeiro livro “Saga dos Polacos – a Polônia e seus
emigrantes no Brasil”
, escrita por Carl Jung:


“Pensar que o homem nasceu sem uma história dentro de si próprio é uma doença. É absolutamente anormal, porque o homem não nasceu da noite para o dia. Nasceu num contexto histórico específico e, portanto, só é completo quando tem relações com essas coisas. Se um indivíduo cresce sem ligação com o passado, é como se tivesse nascido sem olhos nem ouvidos e tentasse perceber o mundo exterior com exatidão. É o mesmo que mutilá-lo.”
Do pensamento junguiano, Iarochinski procura explicar o porquê publicou de seus dois últimos livros. Segundo ele, “quis homenagear minhas origens portuguesas-mineiras e polacas-paranaenses".



E para conectar seu livro com a atualidade, o escritor, assinala a opinião do professor doutor canadense Mikhail A. Molchanov:

 
“A antiga União Soviética se baseava na colaboração dos eslavos orientais. Com a criação da união Rússia-Bielorrússia, a forma e as perspectivas da ordem pós-soviética dependeram em grande parte da posição da Ucrânia. Enquanto a reabsorção da Ucrânia pela Rússia significaria a ruína do sonho de independência do país, uma Ucrânia independente, intrinsecamente hostil ao seu vizinho oriental e apoiada nessa hostilidade pelo Ocidente, semeia discórdia entre a Rússia cada vez mais ressentida e o resto da Europa. A posição anti-russa da Ucrânia poderia realmente fortalecer aqueles que apoiam a criação de um Estado russo xenófobo, antidemocrático e internacionalmente revisionista. (MOLCHANOV. 2002, p. 4)”



Para Iarochinski, a publicação do livro, agora, pode parecer polêmica, mas é importante para se reconhecer o papel da Polônia no contexto histórico dos últimos quatrocentos anos, na Europa Central. “A solidariedade polaca que a livrou da União Soviética, em 1990, fez-se presente desde fevereiro deste ano, quando se transformou no principal refúgio dos ucranianos fugidos da invasão russa. “Solidarność” é a palavra que passou a significar Polônia”, conclui.

O livro “Terras da Polônia” está disponível para venda no site da amazon.com em:

sexta-feira, 5 de agosto de 2022

POLACO É IDIOMA OFICIAL DE ÁUREA

Cidade de Áurea

Áurea, no Rio Grande do Sul, reconheceu o idioma polaco como língua oficial do município. Conforme a lei, a língua polaca deve ser usada durante cerimônias oficiais e eventos culturais. Os desdobramentos da lei municipal incluem inventário e desenvolvimento do funcionamento da língua polaca como patrimônio cultural imaterial do Brasil.

A ideia da medida partiu do arqueólogo e professor doutor Fabrício José Nazzari Vicroski, descendente de imigrantes italianos e polacos, que chegaram no Rio Grande do Sul, no final do século XIX. Sempre preocupado com suas origens étnicas, Fabrício foi estudar o idioma polaco e iniciou os estudos de arqueologia e história, em Wrocław e Cracóvia, na Polônia.

Ele diz que após voltar da Polônia, sua preocupação com a preservação do jeito de ser dos habitantes de sua cidade Natal – Áurea – aumentou. “Entrei em contato com o prof. dr. Maciej Eder, diretor do Instytut Języka Polskiego em Kraków (Instituto de Idioma Polaco da Universidade Iaguielônica de Cracóvia). Apresentei a ideia e pedi uma carta de apoio. Ele levou o assunto ao conselho científico da instituição. Resultado: votaram uma moção de apoio aprovada de forma unânime”, ressalta Vicroski (Wichrowski, no original polaco).



Tradução: O CONSELHO CIENTÍFICO do Instituto de Língua Polaca da Academia Polaca de Ciências de Cracóvia. RESOLUÇÃO n.º 5 / III / 2022 DO INSTITUTO DO CONSELHO CIENTÍFICO DA LÍNGUA POLACA DO PAN DE 29 DE JUNHO DE 2022 em apoiar os esforços da comunidade polaca no Brasil para reconhecer a coordenação da língua polaca na comunidade de Áurea no Brasil. O Conselho Científico do Pan, em Cracóvia, aprovou a resolução n.º 5/III/2022, em votação aberta para apoiar os esforços da diáspora polaca no Brasil, reconhecendo a coordenação da língua polaca no município de Áurea no Brasil. A resolução entra em vigor no dia da sua aprovação. Presidente do Conselho Científico do IJP PAN. dr hab. Halszka Górny, prof. IJP PAN.

Também a Stowarzyszenia “Wspólnota Polska” (Associações da Comunidade Polaca) enviou carta de apoio ao projeto de Vicroski, nos seguintes termos:

"... A dinâmica da atividade destas organizações fez com que hoje possamos observar e admirar o forte apego às raízes dos descendentes de emigrantes polacos, ainda que muitos deles já não falem polaco. ... Em meu nome e dos membros da Associação " Comunidade Polaca ", gostaria de expressar meu apreço pelo trabalho realizado para a diáspora polaca no município de Áurea estabelecendo a coordenação da língua polaca na cidade de Áurea no Estado do Rio Grande do Sul, juntamente com o português, língua oficial da República Federativa do Brasil, é uma expressão de reconhecimento ao seu trabalho e empenho. ... Desejo-lhe sucesso ... Por Dariusz Piotr Bonisławski. Presidente da Wspólnota Polska. Varsóvia, 11 de julho de 2022 "

Fabrício José Nazzari Vicroski

Tais apoios importantes vindos da Polônia incentivaram o professor a apresentar sua proposição à Câmara Municipal de Áurea. A iniciativa contou com o apoio entusiasmado do assessor legislativo da Câmara de Vereadores, o advogado Djonathan Waczuk que não mediu esforços para que Vicroski fosse convidado para justificar o projeto de Lei n.º XX/2022, que dispões sobre a oficialização da língua polaca no Município de Áurea, Estado do Rio Grande do Sul. Durante todo o processo de aprovação e de sanção da lei, o advogado acompanhou a tramitação. Na oportunidade concedida, o autor da proposta, entre outras palavras, salientou:


“A multiplicidade etnocultural e plurilinguística figura dentre as principais características do Brasil. Dentre os diversos povos nativos e estrangeiros que integram a Nação Brasileira, figuram os polacos, cuja diáspora é atualmente estimada em 5 milhões de pessoas. … A implantação da estrada de ferro e a criação da Colônia Erechim alavancaram a colonização na região do Alto Uruguai no início do século XX, resultando na chegada de milhares de polacos à região, originando – dentre outras localidades – o hodierno município de Áurea, no Estado do Rio Grande do Sul. … Atualmente as marcas e expressões da colonização polaca estão presentes em vários aspectos do cotidiano, perpassando pela gastronomia, arquitetura, folclore, religiosidade, artesanato, dentre outros costumes e tradições, e, obviamente, através da manutenção e transmissão do idioma trazido pelos imigrantes, bem como pelo peculiar sotaque que essa herança linguística impõe ao português atualmente falado pelos descendentes de imigrantes polacos. … o uso do idioma polaco ficasse predominantemente restrito ao ambiente familiar e privado, promovendo não somente o medo, mas também o progressivo abandono e esquecimento desse idioma. À esses fatores negativos, somam- se também a quase completa perda da capacidade de leitura em polaco – mesmo dentre os falantes do idioma – bem como recorrentes erros de grafias de sobrenomes polacos em atos notariais e de registros, resultando em grafias distintas e equivocadas mesmo dentre membros de um mesmo núcleo familiar. A cooficialização da língua polaca em Áurea se apresenta como uma oportunidade de ratificar simbolicamente a valorização e o reconhecimento do conhecimento linguístico trazido pelos imigrantes, constituindo ainda uma forma de justiça social que visa corrigir a violência linguística do passado, enaltecendo todas as formas de conhecimento, crenças e saberes populares relacionados com o idioma polaco no Brasil. Face ao exposto, anseio encarecidamente o solene recebimento e apreciação da presente demanda no plenário desta nobre casa legislativa, bem como a sua plena aprovação pelos seus representantes democraticamente eleitos pelo povo.”

Entre os artigos do projeto de lei consta do primeiro:

“Art. 1° Fica estabelecida a cooficialização do idioma polaco no município de Áurea-RS, ao lado da língua portuguesa, idioma oficial da República Federativa do Brasil. Parágrafo único: A cooficialização ocorre sem prejuízos à língua portuguesa, em consonância com os direitos linguísticos assegurados pela Constituição Federal Brasileira, em especial o disposto no Artigo 216, visando assim o reconhecimento, valorização e promoção do idioma polaco, herança linguística e patrimônio cultural imaterial relacionado com a imigração polaca no Brasil.”

Aprovado por unanimidade, o projeto de lei foi sancionado pelo prefeito Antônio Jorge Slussarek, no dia 22 de julho de 2022.


Imediatamente começou a repercussão internacional do feito. A TV Vilnius da Lituânia noticiou que naquele país “a língua polaca não tem status legal oficial, mas os polacos podem usá-la em várias situações oficiais, por exemplo, em governos locais em Vilno e na região da capital. Os opositores da validação da língua polaca na Lituânia afirmam ser uma ameaça ao Estado lituano. No entanto, as boas relações polaco-lituanas atuais criam condições para ações semelhantes às do Brasil. O idioma polaco também tem um status especial em Zaolzie, na República Tcheca. Os polacos e seus descendentes locais podem usá-lo nas repartições públicas.”

Fabrício Vicroski apresenta as cartas de apoio recebidas da Polônia, na Câmara Municipal

A TVP INFO canal de notícias da Telewizja Polska, em Varsóvia, depois da chamada “Polaco como língua oficial no Brasil” noticiou que “a língua polaca passou a integrar o grupo de idiomas oficiais do município de Áurea, no Estado do Rio Grande do Sul, ao lado do português, língua oficial da República Federal do Brasil.”

O site de notícias Enews da Nigéria disse que a Wspólnota Polska de Varsóvia informou sobre a Lei de Áurea no Brasil que a língua polaca como idioma oficial no município faz parte de uma “iniciativa maior que visa reconhecer a língua polaca como patrimônio imaterial do Brasil e, consequentemente, incluí-la na lista nacional brasileira do patrimônio cultural imaterial”.

A igreja dos polacos dedicada a padroeira da Polônia Matki Bożej Jasnogórskiej (Nossa Senhora de Monte Claro)
é a principal atração turística de Áurea

Segundo Fabrício Vicroski, autor da proposta, “A gestação do projeto de lei para a cooficialização do idioma polaco, iniciou-se em 2020, no âmbito das atividades promovidas pelo Colegiado Setorial da Diversidade Linguística do Rio Grande do Sul, estância consultiva da Secretaria Estadual de Cultura. O Colegiado conta com membros da sociedade civil representantes da língua polaca, dentre outros idiomas.”

Ouvido pelo blog iarochinski.blogspot. com, Vicroski disse que a sanção da lei em Áurea é apenas uma das etapas previstas, “que abarca também o encaminhamento de projetos similares para outros municípios brasileiros com expressivo número de habitantes com ascendência polaca”.

E conclui dizendo do simbolismo da iniciativa:

“Além da importância simbólica que o ato representa, um dos principais méritos da iniciativa deve-se ao fato de que a lei confere maior amparo legal para o desenvolvimento de ações de valorização e promoção do idioma polaco. Trata-se de conferir um suporte oficial e jurídico para tais ações. A lei pode ainda facilitar a captação de recursos públicos que podem subsidiar as ações de valorização do idioma. A iniciativa também integra um projeto maior que almeja viabilizar o tombamento da língua polaca como patrimônio cultural imaterial do Brasil, através de sua inclusão no Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC) do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Tal reconhecimento traz consigo a necessidade de viabilizar políticas públicas de preservação e promoção do idioma.”

ÁUREA
O povoamento do município de Áurea iniciou em 1906, com a vinda de imigrantes polacos. Foi inicialmente chamada de "Rio Marcelino". Em 1918, mudou o nome para "Treze de Maio". Vinte anos depois, tornou-se "Princesa Isabel", em homenagem à princesa Isabel. Em 1944 passou a se chamar "Vila Áurea", devido da Lei de libertação dos escravos negros. A Assembleia Legislativa assinou a lei estadual nº 8419, de 24 de novembro de 1987, criando o município de Áurea.

Rainha e princesas da festa nacional da Czarnina (sopa de sangue de pato)

A população é composta por descendentes de polacos que representam 92% da população, 5% de descendentes de italianos, 3% de descendentes de alemães e 3% do resultado da miscigenação. Segundo dados do IBGE de 2016, o município tem 3.725 habitantes.

Redação: Ulisses Iarochinski

quarta-feira, 22 de junho de 2022

Lwów protegendo seus bens culturais

                                Lwów no século XV - quadro de de Georg Braun e Frans Hogenberg - 1625 

Como a antiga cidade polaca do Leste está tentando salvar o passado para preservar o futuro. Lwów está protegendo seu patrimônio cultural inestimável de forma decidida.

A cidade dos Leões está cuidando de seus monumentos culturais da agressão russa. Desde que a invasão russa começou na Ucrânia há meses, e os ocupantes russos estão bombardeando cidades e vilarejos ucranianos, para não mencionar os museus ucranianos, as autoridades de Lwów decidiram salvar os inestimáveis monumentos da cidade de serem completamente destruídos.

Foto: Halina Tereshchuk

O bairro armênio de Lwów é um dos mais antigos da região. A catedral armênia dos séculos 14/15 é um monumento inestimável da cultura oriental na Europa. Seus afrescos e vitrais foram restaurados e outras reformas estavam em andamento antes do início da invasão. Hoje, a equipe do museu e os restauradores enfrentam a tarefa de proteger esses tesouros culturais da agressão russa.

No pátio armênio, uma capela de madeira esculpida foi envolta em material especial. No seu interior encontra-se o altar mais antigo não só de Lwów, mas de toda a Ucrânia. Ele é composto por três figuras – Cristo crucificado, a Virgem Maria e Maria Madalena - todas montadas num encosto de madeira. O Cristo foi esculpido no século 15, e as outras duas esculturas datam do século 18. Restauradores já desmontaram o altar e encobriram as figuras.

Pátio armênio protegido de tiros. Foto: Halina Tereshchuk

Enquanto o mundo pondera se deve fechar os céus sobre a Ucrânia, Lwów está encobrindo monumentos do patrimônio mundial, de acordo com Lilia Onyshchenko-Shvets, diretora de Preservação do Ambiente Histórico da Câmara Municipal de Lwów, o velho centro histórico da cidade, uma área central de quase 150 hectares, foi adicionado à Lista do Patrimônio Mundial da UNESCO em 1998.

“Os monumentos aqui datam dos séculos 13 a 20 e representam edifícios de vários períodos, estilos arquitetônicos e a mistura de nacionalidades residentes de Lwów ao longo da história, particularmente armênios, alemães, polacos (católicos e protestantes), polacos de origem judaica e rutenos".diz Lilia Onyshchenko-Shyets, e completa, “Atualmente, estamos protegendo o patrimônio do mundo, não apenas a Ucrânia, mas não podemos ter certeza de que o patrimônio mundial será suficiente para deter o inimigo”.

A Catedral Latina em Lwów protegida de tiros. Foto: Halina Tereshchuk

Nestes tempos de adversidade, Lwów também está tentando salvar centenas de vitrais, cobrindo-os com telas de proteção, alguns estão até sendo derrubados.

A cidade também está garantindo a sobrevivência de preciosas esculturas e grupos escultóricos. Operários cobriram as estátuas de Diana, Netuno, Anfitrite e Adonis que enfeitaram as bacias octogonais das fontes do mercado por três séculos. Os monumentos foram envoltos em tecido à prova de fogo, fibra de vidro e uma película especial, depois cobertos com sacolas feitas sob medida. Onyshchenko-Shyets observa que isso não salvará uma estátua de um ataque direto de mísseis, mas poderia impedir que fortes ondas de choque quebrassem uma escultura em pedacinhos.

Ao lado dessas esculturas famosas fica a Basílica da Assunção da Virgem Maria, dos séculos 14 a 18, também conhecida como a Catedral Latina. Todas as esculturas dos apóstolos ao redor da igreja já foram protegidas e o grupo escultórico do século 17 "A Sepultura do Senhor" foi coberto. Sua figura de Cristo deitado em seu túmulo foi removida durante os tempos da União Soviética e só foi restaurada em seu lugar em meados da década de 1990.

Uma escultura de um Apóstolo da Catedral Latina em Lwów, protegido de bombardeios,
Foto: Halina Tereshchuk

Todo o complexo da Catedral de São Jorge está na Lista do Patrimônio Mundial da UNESCO: a Catedral de São Jorge, o Palácio Metropolitano, o campanário, as casas capitulares e o jardim. Alguns de seus elementos arquitetônicos já receberam coberturas de proteção, mas as obras continuam.

No momento em que a Rússia invadiu a Ucrânia, funcionários de museus, galerias e bibliotecas de Lwów começaram a transferir obras de arte e artefatos para armazenamento seguro. Exposições do Museu Nacional na cidade também foram escondidas, deixando suas paredes vazias. Aliás, a coleção do museu conta com quase 200.000 exposições.

Roman Zilinko, pesquisador do Museu Nacional, descreveu como eles trabalharam dia e noite para remover exposições durante os primeiros dias da guerra. Ele explicou:

"Durante as duas últimas semanas desmontamos, empacotamos e guardamos todas as nossas exposições, deixando o museu praticamente nu. Possíveis riscos para os locais onde tesouros inestimáveis estão sendo armazenados também foram avaliados. As obras de arte devem ser embaladas, o que começamos a embalar assim que as explosões foram ouvidas perto de Lwów. Muito poucas das esculturas da cidade foram escaneadas e digitalizadas. No que diz respeito aos museus ucranianos, embora essa guerra já esteja acontecendo há oito anos, os funcionários do museu foram deixados sozinhos para lidar com tudo. Vários cofres e instalações deveriam ter sido preparados para situações extremas como uma guerra, mas não foram. Estamos simplesmente desmaiando de exaustão."

Todas as paredes dos museus de Lwów foram esvaziadas nas últimas semanas e todas as suas portas estão sendo fechadas neste período de invasão russa.

A Cidade dos Leões possui mais de 2.500 monumentos históricos e arquitetônicos no total. A antiga cidade polaca de Lwów espera que sua herança cultural de séculos passados seja poupada.

Click no link para o youtube para assistir a entrevista:


Autor: Halyna Tereshchuk
(Correspondente do Serviço Ucraniano da RFE/RL. Formada na Franko National University em Lwów, trabalhou como jornalista em jornais e emissoras de TV por muitos anos. Ela se juntou à Radio Liberty em 2000.)

Tradutor: Ulisses iarochinski


domingo, 12 de junho de 2022

Entre os 5 melhores do mundo: Curitiba e Gdańsk

Os cinco melhores aeroportos do mundo segundo a empresa alemã AirHelp, a maior especialista mundial em direitos do passageiro aéreo.

A lista considera 132 aeroportos ao redor do planeta, avaliando três parâmetros: atrasos nas partidas e chegadas, qualidade do serviço e lojas e restaurantes disponíveis.

Entre estes, um é brasileiro e um é polaco (adivinhe quais):

1. Hamad International Airport — Doha, Qatar — 8.39
2. Tokio International Airport — Tóquio, Japão — 8.38
3. Athens International Airport — Atenas, Grécia — 8.38
4. Afonso Pena International Airport — Curitiba, Brasil — 8.37
5. Gdańsk Lech Wałęsa Airport — Gdańsk, Polônia -8.35

CURITIBA


É um caso raro! Aeroportos brasileiros ocupando lugar no Top10 de qualquer ranking internacional de melhores aeroportos do mundo. Entretanto, na avaliação da empresa AirHelp, o Aeroporto Afonso Pena, em Curitiba, chegou ao quarto lugar da lista deste ano.

O local obteve uma pontuação total de 8,37, sendo 8,4 para pontualidade, 8,4 para qualidade do serviço e 8,3 para qualidade do varejo (lojas e alimentação).


Inaugurado em 1944, atualmente o aeroporto de Curitiba tem capacidade de receber cerca de 15 milhões de passageiros por ano.

Em 2018, foi eleito o melhor aeroporto do Brasil, assim como nos dois anos anteriores, em pesquisa realizada entre os usuários e organizada pelo Ministério dos Transportes.

Curitiba é a capital do Estado do Paraná e está localizada a 934 metros de altitude no Primeiro Planalto Paranaense, a mais de 110 quilômetros do Oceano Atlântico, distante 1.386 km ao Sul de Brasília, capital federal.

Curitiba está Com 1.963.726 habitantes.

Em 1668, foi erguido um pelourinho por Gabriel de Lara, no povoado de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais.

Um grupo integrado por dezessete povoadores assistiu ao erguimento do pelourinho.

Alguns, entretanto, atribuem a criação da localidade a Eleodoro Ébano Pereira.

Oficialmente seu aniversário é comemorado em 29 de março, considerando sua elevação ao status de Vila, em 1693.

Mas, segundo Rafael Pires Pardinho, ouvidor-geral da vila em 1721, o ano de criação de Curitiba é, na verdade, 1661, este sim, o ano considerado como oficial.


GDAŃSK


Inaugurado em 1974, o aeroporto de Gdańsk, no norte da Polônia, recebeu o nome oficial, em 2004, em homenagem ao ex-presidente e hoje, chama-se Aeroporto Internacional Lech Wałęsa.

Com pontuação total no ranking da AirHelp, o local conta com apenas uma pista de pouso e decolagem de 2.800 metros, bem longe das maiores pistas do mundo.


O aeroporto de Gdańsk é o terceiro mais movimentado da Polônia.

Gdańsk é uma cidade da voivodia da Pomerânia, no Norte da Polônia, às margens do Mar Báltico, está Localizada na foz do rio Vístula. Atualmente, tem cerca de 460 mil habitantes.

Fundada no século 10 como uma fortaleza polaca, Gdańsk foi um importante porto de pesca e centro comercial do âmbar. Em 13 de novembro de 1308, após o Papa de Roma extinguir os Cavaleiros Cruzados foi ocupada pelos cavaleiros da Ordem Teutônica, que parecem não tinham nada de cristãos, pois massacraram os seus habitantes da cidade.

Após a Batalha contra os Cruzados Teutônicos, em 1454, a cidade foi reintegrada ao Reino da Polônia, e confirmada como tal pelos termos da paz de Toruń, de 1466.

Alguns, a conhecem e insistem por Dantzig, (nome germanizado) após várias invasões e ocupações saxônicas, mas sua alma, apesar disto, permaneceu polaca.

Entre foram os períodos em que a cidade sofreu invasões:

1. Ducado da Polônia — antes de 966 a 1025
2. Reino da Polônia — 1025 a 1226
3. Ocupação dos Cruzados Teutônicos — 1226 a 1525
4. Reino da Polônia - 1525 - 1569
5. República da Polônia Lituânia — 1569 a 1772
6. Ocupação do Reino da Prússia Ocidental — 1772 a 1824
7. Ocupação como Província da Prússia — 1824 a 1878
8. Ocupação do Reino da Prússia Ocidental — 1878 a 1918
9. Cidade Livre de Gdańsk — 1919 a 1939
10. Ocupação da República da Alemanha Nazista — 1939 a 1945
11. República Popular da Polônia — 1949 a 1989
12. República da Polônia — 1990 a …


terça-feira, 17 de maio de 2022

Solidariedade Cracoviana

Refugiadas ucranianas e seus filhos fazem fila no JCC — Centro Comunitário Judaico de Cracóvia esperando pacientemente sua vez para receberem comida, medicamentos, roupas, sapatos, material de higiene pessoal, brinquedos... Tudo gratuito.
O Centro Judaico dá ajuda a todos os refugiados e o faz através de doações dos cracovianos, organizações humanitárias do mundo todo.

Nestas imagens do fotógrafo polaco premiadíssimo Chuck Fishman (4 medalhas de prestígio da World Press Photo Foundation entre outras premiações mundo à fora) está o dia a dia das ucranianas em Cracóvia, na Polônia.

Que desejar ajudar de qualquer parte do mundo pode fazê-lo através deste link: https:www.friendsofjcckrakow.org/ukraine









O JCC - Centro Comunitário Judaico de Cracóvia está localizado na ulica (rua) Miodowa, nº 24, no bairro do Kazimierz, próximo do centro da cidade.

quarta-feira, 4 de maio de 2022

Homenagem da Câmara de Curitiba

A manhã desta quarta-feira, 4 de maio de 2022 foi de muita felicidade para mim. Isto porque, a Câmara Municipal de Curitiba, prestou uma homenagem ao amor que dedico à Polônia e a etnia polaca do Brasil. Recebi um troféu e um diploma, onde se pode ler:


"A Câmara Municipal de Curitiba, Capital do Estado do Paraná, no uso de suas atribuições legais, em conformidade com o Decreto Legislativo nº 08/2020 de 17 de dezembro de 2020, outorga ao Senhor ULISSES IAROCHINSKI o Prêmio "Cultura e Divulgação de Curitiba", pelo destaque alcançado em sua área de atuação por iniciativa do Vereador Tito Zeglin. Palácio Rio Branco, em 29 de março de 2021. Assinado pelo Vereador Tito Zeglin - propositor e pelo presidente da Câmara Vereador Tico Kuzma."


Muito deste prêmio e diploma é por divulgar Curitiba como a terceira maior concentração da etnia polaca no Mundo. Há mais de 35 anos, seja como jornalista, como ator, como poeta, cineasta e escritor coloco os polacos curitibanos descendentes do maior fluxo imigratório do Estado do Paraná na ponta da língua, da caneta, do teclado, seja em reportagens históricas e culturais em jornais, revistas, rádios, televisões e mais recentemente em livros, poemas, declamações, vídeos, blogs, redes sociais, documentários tudo o que aprendo, leio, vejo, rumino e dissemino aos quatro cantos e ventos de forma individual e solitária, sem apoio de entidades, órgãos e autoridades daqui e de lá, pelo simples desejo de fazer conhecer a todos os que vivem neste Brasil de todas as raças e etnias, que os imigrantes da Polônia e seus descendentes também são responsáveis pelo desenvolvimento do país e da nação brasileira.

Vereador Tito Zeglin faz a entrega do troféu e diploma "Cultura e divulgação de Curitiba"

Um amigo artista, Gláucio Karas (Isidorio Duppa) criou a frase "Semo polaco não semo fraco" e a colocou em peças teatrais, livros, paródias musicais e eu a uso como resposta sempre quando me dizem: "Eita! lá vem o fanático pela Polônia. Para o Iarochinski tudo é polaco, tudo é Polônia".

Quando lancei meu primeiro livro de divulgação da cultura polaca, o "Saga dos Polacos - a Polônia e seus emigrantes no Brasil", a TVP-Telewizja Polska, a mais importante e de maior audiência da Polônia, enviou uma equipe a Curitiba para fazer um programa especial sobre o lançamento do meu livro. No final do programa eu disse emocionado para a câmera: "Moje Serca bije po polsku" (meu coração bate em polaco).


Hoje, na Câmara Municipal de Curitiba, uma outra equipe da TVP da Polônia esteve cobrindo a homenagem que recebi. Fui mais uma vez entrevistado e ao final repeti quase a mesma frase: "Jestem brazylijczykiem y też polakiem, teras mam obywatelstwo Polski oraz Moje Serca bije po polsku" (sou brasileiro e também polaco, agora tenho cidadania polaca e meu coração bate em polaco).

Bardzo dziękuje polaco Zeglin, dziękuje polaco Kusma.

"Jestem bardzo, ale bardzo jestem naprawdę szczęśliwy. Bardzo się cieszę za hołd i dziękuję za uznanie dla mojej pracy." ( Sou muito, mas muito estou, de verdade, feliz. Estou muito feliz pela homenagem e agradecido pelo vosso reconhecimento ao meu trabalho)

Foto com os vereadores Tito Zeglin, Indiara Barbosa e Herivelton Oliveira.

segunda-feira, 2 de maio de 2022

DIAS DA POLACADA NO PARANÁ

"Todo dia é dia de polaco" parafraseando os versos de Jorge Ben cantados por Baby Consuelo.
Pelo menos no Paraná, onde se concentra a maior etnia polaca da América Latina é.... Hoje, 2 de maio, e amanhã, 3 de maio, os polacos do Paraná comemoram datas importantes de sua história. 2 de maio é o dia da bandeira da Polônia e do Polaco do Paraná.



DIA ESTADUAL DO POLACO
Comemorado no Estado do Paraná, conforme Lei Nº 14381 de 30 de abril de 2004, autoria do Deputado Neivo Beraldin.

Casa de imigrantes polacos em São Mateus do Sul - PR

Os polacos trouxeram para o Paraná costumes, religiosidade, a casa de tábuas com sarrafos, lambrequins e cerca de ripa; o pierogi (pastéis cozidos), o bigos (sopa de repolho com carnes), o sernik (torta de ricota), chleb (broa) o gołąbki (charuto com folha de repolho ou couve), faworki (cueca virada), piwo domowe (cerveja caseira), zupa (sopa) de kapusta (repolho), ogórek (pepino), ziemniak (batata), grzyb (cogumelos); kapusta kwaśna (repolho azedo) e ogórek kwaśny (pepino azedo).

Trouxe a cultura representada por João Zako, Paulo Leminski e família Morozowicz;

Estátua do Semeador de João Zako, na praça Eufrazio Corrêa, em Curitiba

Na educação trouxe os dois fundadores da primeira universidade do país, Szymon Kossobudzki e Juliusz Szymanski, e na escola primária Zdzislau Zawadzki e Hieronim Durski.

Trouxe e formou descendentes engenheiros, advogados, médicos, cientistas, intelectuais, sacerdotes, atrizes, atores, bailarinos e poetas;

Trouxe também os revolucionários da agricultura com a carroça de roda de raios e puxada à cavalos, o arado e os criadores das primeiras cooperativas agrícolas do Brasil.

Carroção com toldo dos imigrantes polacos de Araucária - PR

Cabe a esta etnia a fundação da oftalmologia paranaense, a implantação da entomologia, geologia, silvicultura, ornitologia, cirurgia e valiosíssimas pesquisas nestas áreas, entre diversas outras contribuições.

DIA E SEMANA DA COLÔNIA POLACA
Comemorados em Curitiba, conforme Lei Municipal nº 11.785, de 01 de junho de 2006, de autoria do vereador Tito Zeglin, sancionada pelo prefeito Carlos Alberto Richa.

A semana da Colônia Polaca é comemorada anualmente na semana que coincida com o dia 2 de maio e passa a fazer parte do calendário escolar e das atividades culturais e turíticas do Município de Curitiba.

LEI ORDINÁRIA No 11.553 de 25 de outubro de 2005 publicada no DOM de 27/10/2005 "Institui o dia 2 de maio como o Dia Municipal da Imigração Polaca.", em Curitiba.


DIA MUNDIAL DOS DESCENDENTES
E DOS POLACOS NO ESTRANGEIRO
O governo da Polônia também comemora esta data de 2 de maio, em homenagem a todos que têm sangue polaco correndo em suas veias em todos os países do mundo, pela vigésima vez.

As descendentes de imigrantes polacos de Contenda-PR, Isabele Wojcik e Julianny Wojcik Haluc


DIA DA BANDEIRA DA POLÔNIA
A bandeira da Polônia foi criada oficialmente, em 8 de novembro de 1831, durante a Revolta de Novembro, quando Sejm (o primeiro parlamento republicano, criado em 1569, do mundo) decidiu que as cores nacionais da Polônia seriam o branco e vermelho.


A 1 de agosto de 1919, o Sejm da Polônia independente criou a bandeira da Polônia na sua forma atual. 

Desde 2004, no dia 2 de maio é celebrado, na Polônia, o Dia da Bandeira.

DIA DA CONSTITUIÇÃO

A primeira Constituição da Europa e a segunda do mundo foi outorgada em, 3 de maio de 1791, quando o general polaco Tadeusz Kościuszko, o herói de dois mundos, Polônia e Estados Unidos (ele comandou tropas na guerra da independência das 13 colônias americanas) e levou para a República da Polônia (a única da Europa de então) cópia da Constituição americana.


Fato que enfureceu as maiores monarquias (russa, austríaca e prussa-alemã) da época, que 4 anos depois invadiram a República da Polônia por 123 anos.

POLACOS NA GUERRA DO CONTESTADO
Os recém-assentados polacos nas colônias de Canoinhas, Lucena, União da Vitória e Cruz Machado foram envolvidos no mais sangrento episódio da história do Paraná - A Guerra do Contestado - onde os paranaenses lutaram contra o exército brasileiro para defender suas terras do norte-americano Percival Farquhar.

Na foto, é visível a cara do colono polaco, no trem que levou posseiros, indíos e imigrantes da zona do conflito para Ponta Grossa.


texto: Ulisses iarochinski

sábado, 23 de abril de 2022

Pisanki - ovos polacos de páscoa

A tradição polaca de fazer "pisanki", ou ovos de Páscoa, tem mais de mil anos. Existem dezenas de variedades regionais, e os exemplares mais destacados são exibidos em museus ou mantidos por colecionadores particulares.

O ovo de páscoa de mil anos
Uma caneta tradicional para fazer ovos de Páscoa - Foto: Wojciech Pacewicz / PAP

Os ovos de Páscoa são chamados de pisanki (pronuncia-se pissanqui), e o termo em idioma polaco vem do verbo pisać, (pissátch - escrever).

É um processo bastante antigo para fazer estes "objetos" coloridos e festivos, usa-se uma uma ponteira de metal de caneta tinteiro com o intuito de se "aplicar", ou escrever, ou desenhar com cera de abelha líquida. Algo como escrever sobre a casca de ovo de galinha (geralmente).

O etnógrafo Kazimierz Moszyński descreve o procedimento – chamado de técnica batik – em seu livro de 1967,  Kultura Ludowa Słowian (Cultura Popular Eslava):


Os ornamentos são desenhados na superfície incolor de um ovo com cera. Em seguida, o ovo que foi inscrito dessa maneira é colocado em uma solução (fria ou quente) de corante. Depois de um tempo, quando o corante tiver tingido bem a casca do ovo, o ovo é retirado e aquecido, para que a cera possa ser removida. Dessa forma, você obtém uma decoração leve em um fundo colorido.


A ponta da caneta, neste processo pode ser uma agulha ou alfinete comum. Também se pode usar um utensílio especial feito de uma pequena vara, com uma ponta estreita feita de uma agulheta de cadarço de metal.

Os corantes são tradicionalmente de origem vegetal: cascas de cebola são usadas para a cor vermelha, brotos de centeio para verde, suco de beterraba para rosa, casca de macieira para amarelo e assim por diante.

Exposições no Museu de Opole Silésia, na imagem você pode ver os ovos de Páscoa do site em Ostrówek
- Foto: Rafał Mielnik / AG


Embora a técnica do batik ainda seja praticada hoje, é a maneira mais antiga da Polônia de decorar os pisanki. Os primeiros ovos de Páscoa existentes decorados e tingidos desta forma – datados entre os séculos X e XIII – foram encontrados por arqueólogos no local da antiga fortaleza eslava medieval de Ostrówek. Os "ovos" deste local, no entanto, não eram de galinha, mas feitos de argila e calcário. Hoje, eles podem ser vistos no Museu de Opole, na Silésia.

Conservar um ovo de Páscoa?
Genowefa Sztukowska, artista folclórica e criadora de ovos de Páscoa, remove a cera de um ovo de Páscoa aquecendo-o
- Foto: Andrzej Sidor / Fórum

Pisanki são feitos de ovos de galinha, pato e ganso. Recentemente, começaram a aparecer os feitos de ovos de avestruz, mas são mais raros.

Os ovos podem ter cuidadosamente esvaziados seu conteúdo, deixando a casca intacta, ou serem cozidos.

Existem também outros ovos de Páscoa artificiais. Estes podem ser feitos de madeira decorada, ou outros materiais como isopor e feltro.

Mas para simplificar, vamos ficar com os ovos de Páscoa feitos de ovos de glinha. Existem várias maneiras tradicionais de decorar pisanki, enraizadas nas tradições folclóricas.

Além da técnica de batik, a técnica de decapagem que envolve o uso de cera. Nesse método, o ovo é primeiro colorido em uma solução e só depois é coberto com um padrão de cera. Depois, é colocado em um líquido de decapagem, que limpa o corante nas manchas deixadas descobertas pela cera. Dessa forma, após a remoção da cera, fica uma decoração colorida em um fundo claro. Tal como acontece com a técnica do batik, este processo pode ser repetido com o mesmo ovo e diferentes corantes para produzir uma pisanka única e multicolorida.

Kroszonka ou um ovo de Páscoa da Silésia feito com a técnica stylus -
foto Edwin Remsburg / VW Pics via Getty Images

Outra maneira de fazer um ovo de Páscoa é riscá-lo levemente com uma caneta:

O próximo grupo são ovos adornados com a técnica de caneta, a maioria dos quais vem da região de Opole Silésia, onde são chamados de 'kroszonki' ['chave-corvo-SHAWN']. Eles são primeiro tingidos […] e depois adornados com padrões meticulosos, geralmente florais, que são delicadamente esculpidos em sua superfície. Esses padrões são frequentemente complementados por inscrições especiais, como 'este ovo é um agradecimento pelo seu doce beijo', etc. 
Do site do Museu Nacional da Agricultura em Szreniawa,

Em torno da cidade de Łowicz, na Polônia Central, é costume colar recortes feitos de papel colorido em ovos esvaziados. Ostentando várias cores vivas, estes são mantidos no estilo decorativo folclórico local, com motivos estilizados de galos e flores.

A colagem também é empregada na região de Kurpie, que fica a cerca de uma hora de carro ao norte de Varsóvia. Nesta área, as partes internas do caule de um junco (branco), bem como os fios (vermelho e verde) são colados em uma casca de ovo para formar padrões ondulados e curvas.

Existe uma oficina de criação de ovos de Páscoa, no Museu da Cultura Popular da Pomerânia ,em Swołowo – colando um caule de junco em uma casca de ovo - Foto: Gerard / Repórter / East News

Perto da cidade de Chełm, no leste da Polônia, os ovos de Páscoa são frequentemente adornados com motivos em forma de palmeiras, ramos de abeto e cruzes – com amarelo, verde e rosa entre os tons mais populares. Então, novamente, os pisanki das regiões de Opoczno, na Polônia Central, geralmente exibem linhas retas ou onduladas, bem como moinhos de vento. Estes são mantidos em um esquema de cores duplas, com decorações claras em fundos escuros. Existem dezenas dessas variações regionais.

Claro, também existem métodos menos tradicionais de criar pisanki, como pintá-los com tinta acrílica. Outros optam por um visual mais elaborado, adornando seus ovos de Páscoa com joias de âmbar. Alguns sentem o desejo de usar a alta tecnologia e com uma broca de precisão fazem os ovos de Páscoa a céu aberto, meticulosamente trabalhados. O número de variedades só mostra a popularidade que os pisanki desfrutam na Polônia.

A árvore da Vida
Ovos de Páscoa estilo Łowicz - Foto: Michał Tuliński / Fórum

Curiosamente, as origens dos ovos de Páscoa são anteriores à própria Páscoa. Já nos tempos pré-cristãos, as pessoas tingiam ovos no início da primavera para celebrar o despertar da natureza após seu longo sono de inverno. O ovo, símbolo da vida futura, era adornado com decorações que lembravam a fertilidade da natureza, como motivos vegetais ou solares.

Com o tempo, a tradição antiga e sua estética, tornaram-se parte do feriado mais importante do cristianismo, girando em torno da superação da morte por Jesus.

Veja como o site Brama Grodzka – NN Theatre dedicado à cultura descreve os enfeites tradicionais de pisanki:

Notam-se motivos vegetais: ramos, pequenas árvores, flores, assim como representações astromórficas – estrelas, mas também várias formas de símbolos solares […]. Todos eles se baseiam em significados cosmogônicos (a árvore da vida) e apontam para o papel simbólico do ovo na restauração da vida após a fase de inverno da morte.

Certas propriedades mágicas também já foram atribuídas aos ovos de Páscoa. Por exemplo, acreditava-se que, lavar-se com a água em que foram fervidos, garantiria uma boa saúde. Uma pisanka também pode ser colocada na fundação de um edifício para o proteger contra as forças do mal.

Brincando com ovos pintados
"Chełmskie" de Oskar Kolberg, pt. 1 - Foto: reprodução Dagmara Smolna


A menção mais antiga de ovos de Páscoa na literatura polaca vem da Chronica Polonorum, uma História da Polônia, do século 13, escrita por Wincenty Kadłubek. O texto fala de um curioso jogo com pisanki – e também do caráter supostamente caprichoso dos próprios polacos:

Desde os tempos antigos, os polacos sempre foram invejosos e brincavam com seus senhores como se fossem ovos pintados.

O etnógrafo Oskar Kolberg explica a natureza deste jogo em seu livro de 1890,  Chełmskie (A região de Chełm):

À tarde, no dia da Páscoa, os meninos e as meninas passeiam pela aldeia, gabando-se da beleza dos seus ovos de Páscoa (estes são ovos cozidos em tinta e habilmente enfeitados com várias cores). Em seguida, eles os tiram dos bolsos e verificam qual ovo é mais forte. Eles batem um no outro, virando-os de cabeça para baixo, e o dono do ovo mais forte pode pegar o mais fraco e rachado.

Justyna Goleń apresentando seus ovos de Páscoa a céu aberto na cidade de Poniatowa.
- Foto: Wojciech Pacewicz / PAP

Considerando que o jogo descrito era coeducacional, a criação de ovos de páscoa era de domínio das mulheres. Para evitar dar azar, os homens não tinham permissão nem para entrar na sala onde os pisanki estavam sendo preparados. Quando uma moça encontrava um solteiro, em particular, digno de interesse, no entanto, ela o informava lhe dando um belo ovo pintado na segunda-feira de Páscoa.


Obras-primas em miniatura
Ovos de Páscoa adornados com joias de Jan Kaliński, de uma exposição na CH Manufaktura, Łódź.
Foto: Michał Kazmierczak / Fórum

No período entre as duas grandes guerras mundiais, os costumes e crenças deixaram de ser praticados. Mas isso não significa que os próprios pisanki foram esquecidos. A sua vivacidade persistente é evidenciada, entre outras coisas, pelo grande número de eventos culturais a que permanecem ligados na Polônia.

Em 2017, o Museu da Cultura Kurpie em Ostrołęka organizou uma Oficina sobre como fazer um ovo de Páscoa tradicional usando a técnica batik.

No mês que antecede a Páscoa, o Museu Nacional da Agricultura em Szreniawa hospeda uma exposição anual para mostrar sua impressionante coleção de 600 pisanki, a maioria tradicional.

Uma visão um pouco mais moderna sobre o assunto é apresentada, também anualmente antes do feriado de Páscoa, no centro comercial Manufaktura em Łódź. Pode-se ver exposições de ovos de Páscoa de avestruz criados por artistas famosos como a escultora Magdalena Abakanowicz ou Jan Kaliński, que adorna seus pisanki com joias retrô que fazem referência aos famosos ovos Fabergé.

A coleção de ovos de Páscoa de Danuta Kamińska - Foto: Romuald Kępa

Os ovos de Páscoa também podem ser encontrados em várias famílias polonesas, onde ajudam a criar uma atmosfera de férias. Alguns, como a empresária de Varsóvia, Danuta Kamińska, têm coleções inteiras, quase de nível de museu. Ela compartilha:

Todos os anos, antes das férias, são realizadas feiras de Páscoa e, a cada ano, não consigo me conter e compro novos itens para minha coleção. Tenho bem mais de 100 ovos de Páscoa, e não há dois iguais, embora as técnicas de decoração se repitam. A maioria deles são verdadeiras obras-primas em miniatura; eles são realmente lindos e exigem muito esforço para serem feitos – é por isso que eu os coleciono. Além disso, eles são muito delicados, já que a maioria deles são feitos de ovos estourados. Antes da Páscoa, coloco-os em pratos grandes e eles servem como parte da decoração natalina da casa.

Pisanki de Beata Mozolewska – Galeria de Imagens







A cada Páscoa, os pisanki complementam as mesas das casas no feriado Cristão em torno das quais muitas famílias polacas se reúnem. Não é apenas um elemento característico do feriado, os pisanki polacos fazem parte de uma longa tradição milenar – uma que só continua e cresce.

Autor: Marek Kepa
Tradução: Ulisses Iarochinski