quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Na veia, o traço polaco

Na cena editorial e artística, a paranaense Márcia Széliga dispensa maiores apresentações. Para quem não a conhece, é uma das mais admiradas ilustradoras do Brasil, polaca que me concedeu a honra de ilustrar o livro que estarei lançando na noite de hoje na Casa Romário Martins (Largo da Ordem). Nesta Banda Polaca, Márcia escreveu os textos que acompanham as ilustrações. Este é um deles, por exemplo:
Foi assim que começou a história de ilustrar esse livro. Eu desenhei no passado algo que o Dante me pediria no futuro, agora presente em A Banda Polaca - Humor do Imigrante no Brasil Meridional.
Márcia Széliga conta: "Entrei num túnel do tempo e fui parar na Polônia, em Cracóvia, lápis e papel na mão, desenhos safra 1989. Tudo bem que outros são vinhos frescos, recém-saídos dos barris de carvalho da imaginação (ou seriam provenientes de butelkas de vódka?).
Importa é que fui estudar Desenho Animado na Academia de Belas Artes de Cracóvia, e chegar lá em 89 ou 40, 50, 60 anos atrás dá tudo na mesma.
Foi um tempo de antes, de costumes distantes no espaço, de figuras interessantes, caricatas, umas sisudas, outras carismáticas, no silêncio polonês. Lá entendi minhas raízes, lá entendi Curitiba.
E nesse traço quieto, na captura da expressão de cada rosto, da velha com seu gato manso à Romiseta levando um louco, esse é o sangue polaco que trago na veia."

Dante Mendonça [26/09/2007]

Repercussão da Banda Polaca


Desenho de Márcia Széliga

Este livro do Dante tem vários méritos, inclusive o literário. Enquanto idéia e motivo intelectual, me agrada a atitude de cultivar a alma curitibana e discutir o universo polaco, inclusive ao polemizar e revisar o uso da palavra maldita. Aceitar o termo polaco, limpo de estigmas, significa aceitar a liberdade de um povo e a dívida que nós, outras etnias, temos com ele.
Prosador maduro moldado pela lida diária do jornalismo, Dante tenta e consegue, como compromisso básico, estabelecer uma demanda para o humor, coluna mestra deste glossário de piadas sobre polacos e afins.
Não fosse ele um cartunista de plantão 24 horas por dia. Méritos também para a narrativa que funciona como memória de uma cidade petrificada pelo ascetismo e rigidez das culturas imigrantes, na medida em que rir de si mesmo é a melhor sugestão no receituário tropical. Como bem proclama o autor fazendo uma síntese da querela internacional: O Polaco é nosso!
Toninho Vaz
(Autor de “O Bandido que Sabia Latim” - biografia de Paulo Leminski, “Pra Mim Chega”– biografia de Torquato Neto e “Edwiges, a Santa Libertária”)

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Deco é brasileiro, sim senhor!!!!

A imprensa brasileira está divulgando em seus portais de Internet, matéria sobre 7 brasileiros indicados como candidatos a fazer parte do time ideal da temporada 2006/2007 da Federação Internacional dos Jogadores Profissionais de Futebol (FifPro). Listam alí, Dida (BRA/Milan), Daniel Alves (BRA/Sevilla), Roberto Carlos (BRA/Fenerbahce), Lúcio (BRA/Bayern de Munique), Kaká (BRA/Milan), Ronaldinho Gaúcho (BRA/Barcelona) e Ronaldo (BRA/Milan). Todos estes nasceram no Brasil, tem carteira de identidade e passaporte brasileiro. Porém Dida também tem cidadania italiana, e Ronaldo, Ronaldinho e Roberto Carlos têm cidadania espanhola.
A pergunta é: porque Deco - Anderson Luiz de Sousa, nascido em São Bernardo do Campo - SP, com carteira de identidade e passaporte brasileiro está listado como Deco (POR/Barcelona), ou seja como português?
Qual é a diferença? A imprensa brasileira se tornou braço do Ministério da Justiça (Polícia Federal) e das secretarias de Segurança Pública dos Estados? Sim, porque Deco é tão ou mais brasileiro que Dida, Ronaldo, Ronaldinho e Roberto Carlos. Sim, Deco não fez farra, nem se entregou em campo para os afagos de Zidane, nos campos da Alemanha em 2006.
Deco deveria processar estes jornalistas presunçosos por lhe terem subtraido a cidadania brasileira. E não venham com a ladainha de que foi o sindicato que fez o anúncio. Corrija-se então o assessor de imprensa do sindicato europeu (sim porque esse sindicato não é mundial).
Deco é o maior meio campista brasileiro depois da geração de Telê. Só não vê quem recebe propina da Nike, Adidas e etc. para endeusar os Rs e os Kakas.

Kanał Elbląski: quinta maravilha da Polônia

A cidade de Elbląg (elb long) está localizada na margem Oeste no delta do rio Wisła (vissua - vístula). O panorama desta região realmente é digno de ser chamado de maravilha. O rio Elbląg por sua vez está à esquerda da cidade, mas é controlado contra as cheias pelos canais. Um destes é o Kanał Jagielloński (canau iaguielonhsqui), que permite chegar a Gdańsk (gdanhsk) pelo rio Nogat. Já a considerada quinta maravilha da Polonia pelos internautas do jornal "Rzeczpospolita" (jetchpospolita), o Kanał Elbląski (canau elb lonsqui) liga o lago Drużno (drujino) com o rio Drwęca (drventssa) e o lago Jeziorak (iejiorak). O porto fluvial de Elbląg é de pouco calado, tendo mais ou menos 1.5 m de profundidade. A área de manobra tem apenas 120 m diâmetro. Mas ele, apesar disto, é considerado um porto auxiliar ao de Gdańsk. A palavra Elbląg etimologicamente deriva da germânica Elbing, a qual foi dada pelos cavaleiros teutônicos que haviam invadido a região polaca da Pomerânia e começaram a mudar os nomes dos acidentes gerográficos que estavam em polaco para alemão (ou prusso antigo). A cidade portanto, foi fundada, em 1237, pelos cruzados germânicos, ao lado do rio Ilfing, ou em latim Elbingo, como era denominado em 890 d.C pelas tribos eslavas. Com as sucessivas mudanças de comando o nome da cidade também foi se alterando, assim em 1239 era Elbingo, em 1242 era Elbing, em 1258 era Elbyngo, em 1389 era Elvingo, em 1410 era Elwing, em 1634 era Elbiągowi, e quase 30 anos mais tarde, em 1661, o atual termo de Elbląg. Na época do Império Romano a região era chamada de Truso e foi com esse nome que o anglo-saxão Wulfstan of Hedeby às ordens do Rei Alfredo - O Grande da Inglaterra, que navegando pelo Mar Báltico chegou a este delta de rios e lagos em 890.
Após a batalha de Grunwald, a cidade passou para o Reinado de Władysław Jagiello (vualdissuaf iaguielo - Ladislau), da Polônia, em 22 de julho de 1410. Quarenta e quatro anos depois, em 1454, a cidade foi agraciada com uma lei do Rei Kazimierz Jagiellończyki (cajimiej iaguielontchiqui - Casimiro) aumentando os poderes da administração local, além de uma lei para o controle da pesca. Até 1772, a cidade de Elbląg fez parte do reino Polaco, mas com a invasão e a partilha da Polônia, mais uma vez os polacos foram retirados dali à força e substituídos novamente por prussianos. A história voltaria a se repetir 170 anos depois, com o fim da Segunda Guerra Mundial. Desta os expulsos foram os alemães e em seguida re-habitada por polacos expulsos pelos russos das terras polacas do Sudeste (onde hoje é território ucraniano). Na Segunda Guerra Mundial, a cidade teve o mesmo destino de Varsóvia e foi totalmente bombardeada. A reconstrução foi trabalho árduo dos polacos no começo dos anos comunistas.
É muito provável que é daqui a mais antiga cerveja da Europa. Os cônegos dos cruzados teutônicos que fundaram a cidade, começaram a produzir uma bebida fermentada no ano de 1336. Logo eram 159 mestres cervejeiros na cidade. A cerveja EB no fim do século 16 custava 72,9 centavos de prata a garrafa. Em 1872, a Associação Elbląg que havia comprado ações da Fábrica Cervejeira da prefeitura da cidade, vendeu suas ações para ingleses, grandes importadores durante os últimos séculos da famosa EB. A Estland Company havia comprado grandes extesões de terra na cidade em 1580. Esta empresa permaneceu na cidade durante todo este tempo com o nome de Browar Angielski Zdrój (brovar anguielsqui zdrui - cervejaria fonte inglesa). Assim após sucessivas caídas das ações da Associação de Acionistas da Elbląg, a cerveja EB passou a ser propriedade dos importadores. E o fabricante da EB passou a ter até 1945 a denominação de Brauerei English Brunnen. Durante o período comunista a fábrica produziu as cervejas Zdrój, Zdrój Extra, Specjal, Angielski Zdrój, Marcowe, Jasne Pełne, Pełne. Com a queda do comunismo, em 17 de abril de 1991, foi firmado em cartório uma sociedade com o nome de Elbrewery Company Limited, dos quais 51% das ações passava para o controle da empresa australiana Brewpole PTY e 49% em mãos da empresa polaca Zakłady Piwowarskie w Elblągu. (zacuadi pivovarsquie v elb longu) Após uma produção recorde de 1.930.00 hl, em 1997, uma companhia cervejeira do Sul da Polônia, Grupo Żywiec (detentor da cerveja de mesmo nome) comprou a fábrica da EB. Enquanto a EB é a mais popular cerveja no Norte da Polônia, no Sul quem manda no gosto do povo é a Żywiec.
P.S. Em 2005, as 65 cervejarias da Polônias produziram juntas 30.270.000hl (1 hl é a medida de cem litros - portanto é só fazer as contas... mais de 300 milhões de litros.

Blog completa dois meses

Provocado pelo cartunista Solda (de Itararé - Curitiba) que publicou um artigo meu sobre o corte do jogador de vôlei Ricardinho da seleção do Bernadinho, acabei criando este blog dois meses atrás. A satisfação tem sido muito grande. Transformou-se num trabalho, embora não assalariado. Os números dos 3 analisadores dizem que já passaram de 4 mil o número de visitas. E é gente de toda parte e de todas as línguas. Se todos entendem português, não sei! Mas desde o Japão, Chile, Canadá, Burkina Fasso, Suécia, Australia aos brasileiros e polacos de todos os cantos há gente acessando o blog. É muita responsabilidade falar pra tanta gente sobre a Polônia, Brasil, Portugal e algumas coisas mais.
4.000

É amanhã o dia da Banda

Banda polaca, o quarto livro de Dante Mendonça
Mara Andrich
Humor e conhecimentos históricos. É a isso que o leitor terá acesso ao conhecer o quarto livro do cartunista e escritor Dante Mendonça, Banda polaca. Depois de conhecer um pouco da história dos polacos em Curitiba, o leitor será convidado a entrar no mundo dos “causos” dessa etnia, que não tem poucos representantes no Sul do País.Mendonça conta que o nome do livro foi dado em função de uma banda “verdadeira” que existia na cidade no período entre 1976 e 1982, da qual ele fazia parte (mas o nome “banda” no livro se refere a “lado” ou “margem”). A banda, chamada de Banda Polaca, tocava músicas de Carnaval. Embora Mendonça não seja polaco (ele é descendente de italianos, nascido em Nova Trento, Santa Catarina), o escritor pretende mesmo contar, com muito bom humor, um pouco da vida dos polacos no Sul do País. “Quem nasceu aqui cresceu ouvindo histórias de polacos, e nunca ninguém pensou em reuni-las em um livro”, comentou. Para escrever o livro, o escritor não só ouviu muitos representantes da etnia, como também fez várias pesquisas históricas sobre o assunto. Na obra, Mendonça aborda as dificuldades dos polacos em se adaptar à nova terra, a língua diferente com a qual tinham que se acostumar e os preconceitos que tiveram que enfrentar. Há 35 trabalhando no jornal O Estado do Paraná, Mendonça faz as charges da publicação e ainda mantém uma coluna. No ramo das charges, ele é um dos pioneiros a publicá-las, em cores, na capa de um jornal. Hoje, dividido entre escrever suas crônicas e fazer charges, Mendonça diz que lê um pouco de tudo, principalmente sobre história, e que não considera ter influências para escrever. “Sou um leitor compulsivo”, comenta. Pai de dois filhos, veio para Curitiba na década de 70, de onde não mais saiu. O livro conta com o apoio do jornalista Ulisses Iarochinski, Roberto Gomes, Nireu Teixeira, Ernani Buchmann, além do posfácio do escritor paranaense Wilson Bueno. A resenha da capa é do jornalista Toninho Vaz. Serviço Lançamento do livro Banda polaca, de Dante Mendonça, dia 26 de setembro, às 18h, na Casa Romário Martins (Rua São Francisco, 30 - Largo da Ordem). Telefone: (41) 3321-3255.


CONVITE DO ISIDÓRIO DUPPA


Também será lançado conjuntamente o CD de músicas do "Polskiego Pochodzenia" que atende pelo nome artístico de Duppa com dois Ps para não confundir com nádegas em polaco.
Este é o convite bem apolacado de Isidório:
"Iéu ta convidando vosse pro lansamento do Livro Banda Polaca do Dante Mendonça, que junto vai çer lansado ieden Cd, com 10 musicanti do Trator envenedado (de uma zioada na capa do Cd no albu de fotograsfia de iéu) Vai ser na Casa Romário Martim, no Largo da Orde nas Curitiba, dia 26 dos setembro a parti das 18 ora da tarde. Yéu vai tar lá pra nóis prosiá, intón, trate de atrelá os cavalo na carossa e vamo junto tomá gasosão vermelha. Recado do Isidório: Veja tambéi o cripe de fizérô do Trator Envenedado nos meus vidio e iéu nem sabia, mais acho bacana pra buro, dizê que já ta a mais de um ano no iotubo e qui nem marido traído, iéu foi urtimo a sabê. Inda mais ... se vosse quizé baxar as música do trator envenenado é só ir na cumunidade “Semo Polaco Non Semo Fraco” que tem um linque pra ponhar as música do teu cumputador.Um Grande abrasso do Isidório. (Zido pros mais chegado)."


segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Katyń: para entender a Polônia de hoje

Finalmente pude assistir ao aguardado filme de Andrzej Wajda (andjei vaida) sobre o massacre de Katyń. Antes de qualquer comentário cinematográfico, ou histórico preciso dizer que muitas de minhas perguntas sem resposta foram, em parte, satisfeitas após a projeção. Perguntas, que sempre fiz aos polacos desde que cheguei a Polônia, há cinco anos. Perguntas sobre o período comunista, sobre a rejeição aos russos e a indiferença aos alemães, sobre a coexistência da igreja católica com o Estado ateu, sobre como foi adaptar-se ao regime capitalista tendo vivido tantos anos sob o socialismo ... E tantas outras. Assim como os polacos, também o Ocidente anticomunista passou décadas desconhecendo esta tragédia que Wajda recorda com seu filme. Quem sabe se o senador Norte-americano Joseph Raymond McCarthy, do alto de sua arrogância, em sua caçada aos comunistas de Hollywood, na década de cinqüenta, fosse suficientemente informado, o que ele não teria usado Katyń como propaganda anticomunista? E como teria se desenrolado nos anos seguintes a Guerra-Fria? Mas o Ocidente fez vistas grossas, ou melhor tinha em Stalin, um parceiro para juntos controlarem o mundo. A hipocrisia de estadunidenses, ingleses, franceses e outros foi usada sempre em detrimento da Polônia. O filme começa com uma cena simbólica para a Polônia daquele início de Segunda Guerra Mundial. Uma ponte de aço, sobre um rio qualquer no Leste do país, tem em cada ponta uma massa de fugitivos. Uns querem fugir dos nazistas que invadiram a nação pelo Ocidente. Outros, aos gritos, alertam para que voltem atrás, pois do Oriente estão vindo os soviéticos, que em sua fúria assassina destroem tudo. A ponte de Wajda, não é apenas um signo metafórico da cena, signo semiótico do diretor, ou do filme, mas é um signo que representa toda a milenar história do povo polaco, marcada por invasões do Oeste, do Leste, do Sul e do Norte. Como uma ilha Católica Apostólica Romana em meio a protestantes, ortodoxos, mulçumanos, a Polônia sofreu ao longo dos séculos ataque de todos os lados. A cena da ponte, embora de poucos minutos, responde à uma série de perguntas sobre o caráter e a índole do povo polaco. Um povo que nunca se entrega, um povo que sofre, mas tem esperança quando canta “Jeszcze Polska nie zginęła, kiedy my żyjemy” (jecztche polsca nie zguineua, quiedi mi jiiemi – ainda a Polônia não desaparecerá, enquanto vivermos), que como Fênix renasce das cinzas.

Quem esperava por um filme de guerra, no melhor estilo hollywoodiano se decepciona, quem esperava por um documentário histórico se frustra, pois apesar de contar a verdade sobre uma mentira calada por mais de 50 anos, Wajda é suficientemente genial para se distanciar das bombas e explosões de artefatos e se aproximar das explosões contidas de emoção de seus personagens. O grupo de atores selecionado pelo diretor está entre as caras mais conhecidas da arte de representar da Polônia dos últimos anos. Populares, mas nem por isso “canastrões”. Ao contrário, representam com uma densidade dramática pouco vista nos filmes do resto do mundo. Em seus minutos de atuação, os atores que interpretam os oficiais assassinados pelos russos mereceriam todos, o prêmio de melhor coadjuvante. Já Maja Ostaszewska, atriz de família cracoviana, no papel de Anna, esposa de um dos generais assassinados, comporta-se com uma qualidade artística impressionante. Desde já uma candidata seriíssima aos troféus Palma de Ouro, Urso de Ouro, Leão de Ouro, Globo de Ouro e Oscar de melhor atriz. Não há uma única cena em que ela exagere, ou faça de menos. Tudo nela é preciso e requintado. Ostaszweska esteve entre outros, em “Lista de Schindler” e “Pianista”. A crítica polaca tem feito muitos elogios também a Maja Komorowska (presente em “O Homem de Mármore”) por seu desempenho como a mãe do personagem Oficial Artur. A densidade dramática do filme é conduzida pela música de Krzysztof Penderecki e pela magnífica direção de fotografia de Paweł Edelman. Mas é nos cenários, objetos de cena, figurinos, que o filme transporta a imaginação para a Cracóvia daqueles dias de guerra. A cidade é a mesma de hoje, mas o clima e o cenário são de mais de 60 anos atrás. Perfeito, envolvente. Sobre as respostas buscadas, neste período de Polônia, é necessário dizer que com este filme de Wajda, entende-se a repulsa que os polacos, de hoje, sentem pelos russos. Enquanto inimigos declarados, os alemães foram as piores bestas da civilização humana, mas os falsos russos não ficaram atrás. Pior! (Se é que pode existir coisa pior) Não destruíram e assassinaram polacos apenas em Katyń e no resto da Segunda Guerra Mundial, não! Continuaram destruindo e matando nas décadas seguintes com a imposição do sistema comunista. Transformando suas antigas vítimas em algozes do próprio povo polaco. O personagem do oficial que escapa da morte em Katyń, mas se suicida em plena rua da Cracóvia comunista, após uma série de encontros com familiares que ainda tinham esperanças de que os oficiais retornassem do front de guerra na Rússia, é a resposta a muitas das minhas perguntas. Mas os russos estão atormentando os polacos não apenas nos últimos 60 e tantos anos, não! Os reis, nobres e povo russo ocuparam a Polônia de 1795 a 1918. Caída a Dinastia Romanov, assumiu as rédeas Lenin, Trostki e seus bolcheviques. Estes, iguais aos reis, não tardam em voltar seus olhos para a Polônia. Os comunistas atacaram a Polônia em 1920, mas foram rechaçados espetacularmente pelo marechal Józef Pilsudski. A Polônia é a única nação a infringir derrota aos russos. Ninguém chegou tão longe como Pilsudski. O marechal polaco com suas tropas chegou às portas de Moscou. Uma ousadia que não foi esquecida com certeza. Stalin, após tirar o poder de Lenin e assassinar Trotski volta a sonhar com as planícies polacas. O acordo Ribbentrop-Molotov cela o destino da Polônia. Atacada pelos dois lado, mais uma vez, pelas mais potentes forças armadas da época (alemãs e russas), a Polônia tenta resistir. Realmente a sobrevivência da Polônia e dos polacos, talvez, seja caso único de um povo que se nega a desaparecer. E as perguntas que tanto fiz sobre o modo de agir para sobreviver de uns, o de se deixar aprisionar de outros, ou ainda, de morrer pelo ideal de um Polônia Livre estão também retratadas nesta obra de Wajda. Muitos, submissos à prepotência das forças armadas, da polícia e dos agentes de segurança calaram. Outros enfrentando as determinações do Kremlin estiveram sempre em posição de rebeldia. Assim os Polacos, que sofreram os horrores soviéticos e nazistas, foram divididos e transformados, uns em espiões e dedos-duros e outros em mudos e cegos da realidade. A cena do padre negando a colocação da lápide do piloto assassinado em Katyń, na igreja, responde porquê num Estado ateu e comunista de “esquerda”, muitos polacos, hoje, são conservadores e de direita. As cenas de arquivo (foram filmadas pelos nazistas na época e desacreditadas pelos soviéticos) são suaves se comparadas com o realismo das cenas de assassinatos dos oficiais polacos nos campos de Katyń por Wajda e Edelman. A crueldade do nazista Mengeli, ou a loucura do general alemão, governador de Cracóvia, personagem do filme de Spilberg é equiparada por aqueles soldados russos que disparavam, com pausa para uma baforada, nas cabeças dos soldados polacos à beira da vala comum. Talvez esta seja a cena mais chocante da narrativa "wajdiana"!!!! Ali, na cena, não era Stalin que estava disparando, mas um absurdo e idiota soldado vermelho. Evidentemente que cumprindo ordens do georgiano Josef Vissarionovich Dzhugashvili, ou simplesmente Josef Stalin - o soviético. Mas que aquele soldado estava executando vidas. Isto estava! O soviético Stalin, cultuado por boa parte da esquerda mundial, não fica nada a dever aos horrores perpetrados pelo nazista Hilter. Curiosamente nem um dos dois nasceu nos países que comandaram. Enquanto Hitler nasceu na Áustria e se assenhorou da Alemanha, Stalin saiu da Georgia para cometer os maiores crimes contra a humanidade a partir da Rússia. Tomara este filme possa ser visto em todos os países e em todas as línguas, pois embora não chegue a ser extraordinário e tampouco lembre momentos épicos da cinematografia de Wajda, como “Kanał”, “Homem de Mármore”, “Homem de Ferro”, “Danton” e “Terra Prometida” ele é extremamente poderoso para desmentir meio século de mentiras e opressão. Um passo para isso já foi dado, pois além de sua estréia em todos os cinemas da Polônia, o Ministério da Cultura e o Comitê Nacional de Seleção escolheu, entre 16 filmes produzidos no país, o “Katyń” de Andrzej Wajda, para representar a Polônia no Oscar 2008 de melhor filme estrangeiro.

P.S. Faltaram ainda muitas outras respostas. Mas fica mais evidente que o mundo não pode ser dividido dialeticamente apenas entre esquerda e direita, conservadores e progressistas, bem e mal, céu e inferno. Definitivamente o mundo não é só isso que nos impingem as cartilhas religiosas.

"Sztuczki" vence Festival de Gdynia

Andrzej Jakimowski com o troféu de ouro "Lwami" pelo filme "Sztuczki". Ao seu lado, a rvelação de 11 anos, Damian Ul z Wałbrzycha. O longa-metragem recebeu também o troféu de produtor. foto: Kamil Gozdan / AG

"Sztuczki" (chtuchqui - artimanhas) de Andrzej Jakimowski (andjei iaquimovsqui) mostra uma nova cara do cinema polaco. Um novo tom, mais quente, com um humor irônico, distanciamento e desejos mais próximos da realidade. De todos os filmes participantes, apenas dois são lembranças do estilo social que marcou por décadas o cinema polaco. Fora"Korowodzie" Jerzy Stuhr e "Benku" de Robert Gliński, todos parecem seguir uma tendência para a comédia romântica, thriller, brincadeiras filozóficas e parábolas sobre o bem e o mal. Longe, portanto, dos preceitos da crítica. Tanto que os favoritos dos críticos eram "Ogród Luizy" (ogrud luisi - jardim de Luisa) de Maciej Wojtyszki (matchiei voitychqui), no qual o gangster é um honrado político, e "Wszystko będzie dobrze" (vchistco bendjie dobje - tudo será bom) de Tomasz Wiszniewski (tomach vichnievsqui) sobre pelegrinos que crêem em milagre, que não levaram nada. Assim a vitória do filme e produção de Andrzej Jakimowski surpreende pelo novo estilo ,que mistura o tom pessoal com o universal, que é direto e refinado ao mesmo tempo. O filme é sobre um menino que tenta dirigir a própria realidade, dominar os incidentes, trazer para casa o pai que abandonou a família.
Fonte: jornal Gazeta Wyborcza

Começou o Outono

Nas margens do rio Wisła (vissua - Vistula) e ao fundo a ponte de ferro do Bairro do Kazimierz (cajimieje- Casimiro). É tempo de chuvas e ventos. Sem eles as folhas amareladas pelo verão não cairiam. O espetáculo de cores começa no vermelho do guarda-chuva e vai se abrindo nos dias ensolarados para todos os espectros. (poético, não?)

domingo, 23 de setembro de 2007

Polaco ou polonês?

Reproduzo artigo do colunista Dante Mendonça do jornal "O Estado do Paraná", dante@oestadodoparana.com.br com o título de "Polaco ou polonês?" publicado na edição deste domingo 23/09/2007, em Curitiba.
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Ao começar a escrever o livro A Banda polaca - O humor do imigrante no Brasil Meridional - uma das minhas preocupações foi o adjetivo pátrio: polaco ou polonês? Este gentílico ainda é motivo de muita “briga de ripa” entre os imigrantes, por ter se transformado numa expressão pejorativa. Na língua polaca, é “polak”. No espanhol, é “polaco”. No italiano, é “polacco”. No inglês, é “polish”. No alemão, é “polnisch”. Em bom português, é “polaco”. Na língua francesa é onde encontramos “polonais”. Este galicismo foi sugestão do embaixador da França ao cônsul Gluchowisk, em 1927, como forma de substituir o polêmico “polaco”, usado para ofender os imigrantes e seus descendentes. No prefácio da Banda polaca, o jornalista e historiador paranaense Ulisses Iarochinski defende o uso do gentílico “polaco” e faz questão de assim ser chamado, com muito orgulho:
Creio que seja necessário saudar a ousadia de Dante Mendonça ao utilizar a palavra “polaco”. Desde já alerto que ele pode ter problemas com a comunidade “polonesa”, pois não foi uma nem duas vezes que meu trabalho sofreu censura. Justo pelo uso adequado do termo “polaco” na língua portuguesa. Utilizar “polaco” impediu, por exemplo, a publicação do artigo “A etnia polaca no Brasil”, de meu doutoramento na Universidade Jagiellonski de Cracóvia, em uma revista brasileira de estudos científicos. Não bastasse isso, reportagens produzidas por mim para jornais e televisão do Brasil tiveram, sem meu consentimento, mudados os registros do termo “polaco” para “polonês”.
O termo “polaco” sofre há pelo menos 85 anos campanha sistemática pela sua eliminação da língua falada no País. Alguns chegam a pregar sua total extinção dos dicionários e documentos. As gerações mais antigas simplesmente abominam o termo. Quando escrevia Saga dos polacos, publicado em 2001, o presidente de uma associação étnico-cultural do interior do Paraná interrompeu a entrevista quando ouviu o termo “polaco”. O homem, também descendente de imigrantes da Polônia, afirmou que não prosseguiria a conversa se continuasse a ouvir “polaco”. Ele se sentia terrivelmente agredido com a palavra. Perguntei o porquê da irritação. O polonês-paranaense respondeu que era um termo pejorativo.
- Por que, pejorativo?
- Não sei a razão! Meu pai sempre dizia que não aceitasse ser chamado assim, porque essa palavra era muito feia e que significava burrice e que na verdade estavam nos chamando de filho da puta. Agora chega. O senhor não pode sair por aí falando “polaco, polaco”!
Este incidente seria apenas o primeiro. Na fase de lançamento do livro por 25 cidades brasileiras, houve pelo menos outras três situações delicadas. Uma delas, inclusive, com agressão física. Irritado com o título do livro, um senhor chegou a me esmurrar duas vezes durante a seção de autógrafos.
Os estudiosos da etnia apontam que o preconceito contra a palavra “polaco” teria se iniciado na época da importação de prostitutas européias pelo Império Brasileiro. Como naquele momento a maioria das mulheres no Rio de Janeiro era de escravas africanas, o reino queria “branquear” a população. Como as importadas eram em sua maioria loiras como as “polacas” do Sul do Brasil, a população logo começou a qualificá-las de “polacas”. Num momento imediatamente posterior, a população carioca passou a denominar qualquer prostituta, fosse loira, preta, branca, amarela ou índia, com o termo “polaca”. (Ulisses Iarochinski).

Edyta Geppert: a mais notável

Talvez a mais notável cantora da Polônia. Minha ídola!!! E isso, desde a primeira vez que ela me emocionou num espetáculo no pátio interno do Collegium Maius da Universidade Jagielloński (iaguielonhsqui), em julho de 2000. Foi quando estive pela segunda vez na Polônia. Mas eu já tinha ouvido aquela voz forte cinco anos antes, quanto estive pela primeira vez em Varsóvia. Pouco antes de embarcar de retorno ao Brasil, fui numa das lojas de discos do centro da cidade e pedi ao vendedor que me indicasse duas fitas cassetes, uma do melhor cantor e outra da melhor cantora. O polaco me vendeu então Janusz Jackowski e Edyta Geppert. Passei cinco anos ouvindo aquelas duas vozes. Portanto, quando no espetáculo em 2000, reconheci naquela linda loira cantora, a mesma voz que me acompanhava há cinco anos, naturalmente fui às lágrimas. Na platéia, todos comportados, como num concerto de música clássica. Mas eu não me aguentava e aplaudia e gritava em português: maravilhosa, você é linda, bravíssimo!!!! Até que ela notou minha presença e meus gritos e ao contrário da colega brasileira que não parava de me beliscar para que eu me contivesse, a maravilhosa polaca passou o resto do show cantando e olhando só para mim. É verdade!!! Tanto que ao final do show fui o primeiro a bater na porta do improvisado camarim. Falei diretamente para Edyta que ela era a maior "show-womam" do mundo depois de Elis Regina. Não sei como, mas na hora consegui um CD autografado por ela.

Infelizmente nestes cinco anos que moro em Cracóvia, não tive ainda a oportunidade de voltar a assistir um show ao vivo com Edyta Geppert. Mas posso vê-la no alto de seus 54 anos como um monumento à beleza e ao canto neste vídeo da apresentação no Festival da Canção de Sopot deste ano:



Edyta Geppert, nasceu em 27 de novembro de 1953, em Nowa Ruda. Antes de se formar na Faculdade de Música Frederyk Chopin de Varsóvia, já se apresentava no grupo de Música e dança "Nowa Ruda". É também atriz e pedagoga. Edyta, tornou-se conhecida do público em 1984, quando venceu a VII Mostra da Canção de Atores de Wrocław (vrotssuaf) e o Grande Prêmio do XXI Festival Nacional da Canção Polaca de Opole. Edyta é única cantora polaca a vencer três vezes este festival, nos anos de 1984 com a música "Jaka róża, taki cierń" (iak ruja, taqui tchiérnh - como rosa, tal espinho), que ela canta neste vídeo; em 1986 com "Och, życie kocham cię nad życie" (Orrh, jitchie corram tchien nad jitchie - oh! vida amo te além da vida) e em 1995, com "Idź swoją drogą" (idji svoion drogon - vá por seu caminho).
Edyta Geppert não canta apenas canções suaves, versátil interpreta também "country", "hard-rock", "heavy-metal" e claro "jazz", "blues" e até bossa nova. Mas é reconhecida por seu talento dramático, lírico e poético. Seu portal oficial é http://www.egeppert.com/ . E com certeza quando eu voltar para casa, uma música na voz da "minha monstro sagrado polaca" vai me acompanhar pra lembrar da Polônia, pro resto da minha vida. Clique no link htpp://www.ui.jor.br/pamientasz.mp3 e ouça a canção "Czy pamientasz jak to było" (Tche pamientach iak to biúo - você se lembra como foi)

Zamość: sexta maravilha da Polônia

Zamość, classificada em sexto lugar, pelos Internautas do Jornal Rzeczpospolita" (jétchpospolita), entre as 7 Maravilhas da Polônia, foi declarada patrimônio da humanidade pela UNESCO em 1992.
A cidade murada foi construída, em 1580, pelo comandante das legiões polacas daquela região, Jan Zamoyski (ian zamoisqui) em estilo renascentista e por isso mesmo conhecida como a "Pérola do Renascimento". Sua praça central, Rynek Wielki (rinek viélqui - mercado grande) de 100 x 100 metros é realmente uma maravilha. Zamoyski contratou o arquiteto italiano Bernardo Morando, para projetar a cidade segundo uma concepção antropomórfica. A cabeça deveria ser o Palácio de Zamoyski, a coluna vertebral seria a ulica (ulitsa - rua) Grodzka, cruzando a praça central -Rynek Wielki - do oriente para o ocidente na direção do Palácio. Os braços compostos pelas ruas, ulica Solna (ulitssa solna) (ao Norte da praça) e a ulica Bernardo Morando (Ao Sul da praça). Ao longo destas ruas estão outras praças, Rynek Solny e Rynek Wodny (mercado do Sal e Mercado da Água), como se fosses os órgãos internos da cidade. Os Bastiões seriam as mãos e os pés encarregados da defesa da cidade. Esta configuração praticamente existe até os dias de hoje. Infelizmente, durante a ocupação russa, em 1866, foram explodidas e postas abaixo estas defesas. Restou apenas a trincheira VII e fragmentos da muranha. Tudo é muito bonito, mas vale a penas ver os seguintes locais: Ratusz (torre), Edifícios ao redor da praça central, Edificio armênio do século 17, Edifícios Morandowska II, Szczebrzeska e Turobińska do início do século 17 na ulica S. Staszica. No Rynek Solny, está o edifício "Dom Rabina" da metade do século 17 e a catedral renascentista Ressurreição do Senhor e a igreja de São Tomás Apóstolo, do fim do século 16, onde está a cripta do fundador da cidade marechal-de-guerra Jan Zamoyski. Além de outras atrações turísticas como a Akademia Zamojska, o Arsenal, Rotunda Zamojska e a Sinagoga. Esta foi construída em 1620. Durante a segunda guerra mundial, os alemães derrubaram e destruíram tudo o que tinha dentro. No fim de 1967 a prefeitura da cidade terminou a restauração e reconstrução da sinagoga e ali agora funciona a biblioteca pública e o Museu Judaico de Zamość.

Sinagoga Judaica na cidade velha
A cidade é o centro de uma microrregião composta por ela, mais Tomaszów Lubelski, Hrubieszów e Bilgoraj. Região esta, que antes da segunda guerra possuia 510 mil habitantes, dos quais 340 mil eram polacos católicos, 110 mil ucranianos e 60 mil polacos judeus. Nas 4 cidades, os judeus eram praticamente 51% da população urbana. Os judeus sefardis chegaram na cidade em 1588, procedentes da cidade de Lwów. Cinquenta anos mais tarde podiam ser encontrados ali também muitos judeus Asquenazis. Zamość foi o centro do iluminismo judeu Haskalah. Nasceram ali, entre outros, Ludwik Zamenhoff - criador da língua Esperanto - e Rosa de Luxemburgo - a revolucionária socialista. Em 1939, de uma populaçao de 28.873 habitantes, 12.531 eram judeus, ou seja 43% da cidade. Atualmente são 66.802 os moradores.


Edificios renascentistas na Praça Central
Os nazistas ao ocuparem a cidade na segunda guerra estabeleceram um plano de evacuação e de colinização. Queriam recolocar 60 mim pessoas de etnia alemã na área antes do final de 1943. Entre 1941 e 43, durante a operação Wehrwolf Action I e II foram expulsas 110 mil polacos de 297 vilas ao redor. Cerca de 30 mil eram crianças que foram adotadas por famílias alemãs para serem germanizadas no Deutsches Reich. Aqueles que não foram para os campos de concentração, fugiram para as florestas, onde organizaram a resistência, ajudando os expulsos e subornanado alemães para retirarem as crianças adotadas. Até meados de 1943, os nazistas conseguiram assentar 8 mil colonos alemães. Entre estes assentados estavam os pais do atual Presidente da Alemanha Horst Köhler, que nasceu na localidade de Skierbieszów. Se fosse válida a lei brasileira, ele seria considerado polaco.