quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Brasileiro na Polônia - 1

Há 3 anos atrás, o Consulado Honorário do Brasil, em Cracóvia, estimava que havia cerca de 30 brasileiros vivendo na cidade, entre estudantes bolsistas, ex-estudantes e esposas e/ou maridos de polacas(os). Na mesma época, a Embaixada Brasileira informava que extra-oficialmente deveria existir do país em torno de 150 brasileiros, sendo a maioria estudantes e religiosos.
Na atualidade, com a desativação do Consulado Honorário de Cracóvia (em vista da morte do então cônsul Paweł Świderski) e a chegada de mais estudantes e alguns brasileiros com contrato de trabalho, além de outros que vieram para aqui só para se casar, este número é uma incógnita. Muitos dos estudantes voltaram formados, outros não conseguiram vencer o "banzo", a depressão e o frio e desistiram no meio da caminhada, outros o casamento não lhes deu o que esperava, ou seja a cidadania e o passaporte polaco. Estes arrumaram as malas e voltaram para algum país da União Europeia. 
O blog JAROSINSKI do Brasil quer apresentar estes brasileiros que vivem aqui. Deseja saber o que os impactou na Polônia, saber de seus gostos e desgostos na terra de João Paulo II. A opinião de cada um está sendo filtrada através de um questionário padrão. A primeira a responder foi a estudante Denise Formicki Beganskas, uma paulista, que há dois anos e meio chegou aqui para fazer o curso de "Estudos de Gestão Internacional" na Universidade Iaguielônia de Cracóvia. As perguntas são as mesmas para todos e os escolhidos, o são, porque de alguma forma mantêm algum contato comigo, ou com o blog, mas está explicitamente aberto a outros que oficialmente tem "zameldowania", ou seja realmente residem na Polônia. Basta copiar as perguntas, responder e enviar pelo email, iarochinski@gmail.com , com uma foto retrato (rosto), ou que o identifique como estando na Polônia.

JAROSINSKI do Brasil - Por que você veio parar Polônia?

Denise - Tudo aconteceu por acaso, queria vir pra Polônia no curso de idioma de verão, quando o cônsul foi mais longe me perguntando se eu não gostaria de fazer uma faculdade aqui. Não tinha nada a perder, já que não estava em condições de estudar no Brasil.

JAROSINSKI do Brasil - O que você mais gosta da Polônia?

Denise - Da liberdade de poder andar na rua tranquilamente, sem ter medo da violência, como em São Paulo.

JAROSINSKI do Brasil - O que você não gosta da Polônia?

Denise - Não gosto da frieza das pessoas e principalmente das "tias" que trabalham em mercados. Quando você vai pedir presunto, elas vem com aquela cara emburrada e perguntam bem de mal-humor “Co dla Pani”? Isso é terrivel!!!

JAROSINSKI do Brasil - Quais as maiores dificuldades que encontrou na Polônia?

Denise - Adaptação com a cultura do País.

JAROSINSKI do Brasil - O idioma é assim tão difícil como se orgulham os polacos?

Denise - É! Mas não é impossível de se estudar e de aprender. O Idioma polaco não e difícil de falar, nem de entender, mas a gramática deles e todas as declinações, prefixos e sufixos dos verbos são terríveis. Quando comecei a aprender polaco, minhas professoras vinham com as regras, na verdade tinha uma regra e uma lista de centenas de exceções. Costumava dizer que a única regra da gramática é que não tem regra nenhuma, tudo e exceção. Hoje em dia, acho um dos idiomas mais bonitos.

JAROSINSKI do Brasil - É possível viver aqui sem aprender o idioma polaco?

Denise - Acredito que não, vir pra cá mesmo como turista é difícil, não existem placas em inglês, principalmente nos pontos turísticos. Ponto de informação nas estações de trem não tem uma pessoa que fale inglês. Nos trens é engracado porque, as placas de instruções de emergência estão nos idiomas: Polaco, Alemão, Francês e Russo. Inglês não tem. Acho isso uma comédia. Quando cheguei aqui, no comeco era muito difícil sem falar polaco, qualquer coisa que precise resolver, como na prefeitura, ou seguro saúde, sem o idioma é uma tarefa quase impossível.

JAROSINSKI do Brasil - A Polônia que você encontrou é diferente daquela cultuada pelos descendentes de imigrantes no Brasil?

Denise - Os costumes continuam praticamente os mesmos. A comida não muda, é a mesma desde sempre, nem um tempero diferente eles experimentam. Aquela coisa da tradição é muito forte por aqui. Eles nunca desistem de suas tradições e religiosidades.

JAROSINSKI do Brasil - Você acredita que a Polônia já se libertou de seu passado comunista?

Denise - Não sei responder.

JAROSINSKI do Brasil - Como você define a juventude polaca?

Denise - Diferentemente de nós brasileiros, eles não tem malícia. Se você disser para um deles que é sim, será sim, não será não, para eles não existe meio termo.

JAROSINSKI do Brasil - Qual sua opinião sobre os idosos polacos?

Denise - Não tenho muito contato com idosos aqui, mas como em qualquer lugar do mundo, alguns são amáveis, outros nem tanto. É legal quando estou no ônibus e algum deles puxa conversa, mas infelizmente isso raramente acontece.

JAROSINSKI do Brasil - Que nomes famosos polacos você cita sem muito esforço?

Denise - Sou péssima pra nomes, ainda mais em polaco.

JAROSINSKI do Brasil - Qual o prato da cozinha polaca que você mais gosta?

Denise - Pierogi, mas tem um detalhe, gosto mais do pierogi que é feito no Brasil.

JAROSINSKI do Brasil - Qual prato da cozinha polaca você sabe preparar?

Denise - Batatas! Não tem segredo.

JAROSINSKI do Brasil - Beber aqui é um prazer, ou uma imposição ditada pela tradição?

Denise - Acredito que seja um pouco de imposição. É aquela velha estória, você está no meio dos amigos e se você não bebe é o careta da turma. Mas acredito que eles bebem tanto quanto nos demais países, por exemplo, o Brasil. 

JAROSINSKI do Brasil - Com que frase você define a Polônia?

Denise - Terra que meu avô amava.

JAROSINSKI do Brasil - Qual teu conselho para quem vem para visitar a Polônia?

Denise - Se vier no inverno se prepare pro frio. Se for possível aprenda o idioma, pelo menos as frases básicas, pra não passar aperto e estude bem um roteiro, pesquise bem antes de vir os lugares e como chegar lá, porque como eu disse antes, aqui e difícil encontrar placas de informações em inglês.

JAROSINSKI do Brasil - Volta para o Brasil com saudades do que viveu na Polônia?

Denise - Sem dúvida. Tenho amigos aqui, bons amigos. Conheci muita gente boa que me ajudou. Todos os momentos, bons e ruins, ficarão marcados pra sempre. A experiência de voltar pra terra dos meus avôs não tem como explicar em palavras, só mesmo vivendo pra saber.

Szymborska recitando novos versos


Wbrew wiedzy i naukom geologów,
kpiąc sobie z ich magnesów wykresów i map
sen w ułamku sekundy piętrzy przed nami góry tak bardzo kamienne,
jakby stały na jawie

Estes são os primeiros versos de uma das poesias do livro que foi lançado no último mês, em Cracóvia, com o título de "Tutaj". A própria autora recitou o verso nesta última terça-feira, na Ópera de Cracóvia.
Wisława Szymborska, a poeta polaca Prêmio Nobel de Literatura de 1996 continua poetando e recitando. Este é o terceiro livro dela desde a premiação pela Academia de Estocolmo. Em 2002, foi "Chwila" e em 2006, "Dwukropek". E o novo livro com poucos dias nas livrarias está se tornando o mais novo "best-seller" da Polônia.
A apresentação na Ópera Krakowska começou as 19 horas junto com Mariana Stali e Tomasz Stańko e foi em comemoração aos 50 anos da Editora Znak, que desde 1959 publica livros de autores como Karol Wojtyła, Joseph Ratzinger, Czesław Miłosz, Leszk Kołakowski, ks. Józef Tischner, Norman Davies, Umberto Eco, Josif Brodski e Ryszard Kapuściński, além é claro da expoente cracoviana Wisława Szymborska.


A capa do novo livro de poesias que está custando 26,00 złotych ( algo em torno de 18,50 reais) e abaixo a poesia "Sen" no próprio manuscrito da grande poeta:

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Vitória para enfartar polacos

Foto: Oleg Popov - Reuters

A seleção de handebol da Polônia está na semifinal do Campeonato Mundial da modalidade. A passagem para a disputa inédita aconteceu nos últimos segundos para partida contra a Noruega, na noite de ontem, na Croácia.
O tiro que deu a vitória por 31 a 30 foi dado 14 segundos antes do apito final deixando a torcida polaca na quadra e os milhões de espectadores na Polônia em um estudo de euforia como há muito o país não sentia. E a emoção tem tudo para se repetir amanhã, quando enfrentar os donos da casa, a Croácia, pensando na final. Na outra semifinal jogarão França e Dinamarca. A final será domingo no moderno ginásio da cidade de Porec.
Estava empatado em 30 a 30 quando os técnicos pediram tempo. O treinador da Polônia, Bogdan Wenta gritou à sua equipe: "Temos 15 segundos, eles tiraram o goleiro,colocaram o sétimo jogador! É preciso impedí-lo e a trave fica vazia!" E repetiu:"É preciso impedí-lo e a trave fica vazia! Tranquilos temos muito tempo".
Os heróis do jogo dramático foram Sławomir Szmal, Adam Malcher - Artur Siódmiak 3, Bartłomiej Jaszka 1, Krzysztof Lijewski 1, Patryk Kuchczyński 4, Karol Bielecki 5, Bartosz Jurecki 3, Mariusz Jurasik 4, Michał Jurecki, Tomasz Tłuczyński 3, Marcin Lijewski 4, Rafał Gliński 1, Damian Wleklak 2. (os números são os gols que cada um fez).

Com 11 gols de Felipe Borges, a Seleção Brasileira derrotou o Kwait por 27 a 24 (13 a 12) e ficou com a 21ª colocação do Mundial de Handebol Masculino da Croácia, em jogo realizado no Ginásio Jatica, na cidade de Porec.

O portal brasileiro handsport.com.br que está fazendo excelente cobertura do mundial em nenhum momento acreditou nas possibilidades na Polônia. Seus comentaristas o tempo todo falaram na Suécia, França e outros como favoritos. A enquete promovida pelo sítio dá como campeã a Croácia, França, Brasil ou Alemanha. Os polacos de Wenta (não é do verbo ventar nem vender) conseguiram dos internautas apenas 2,2% das intenções e estão na sétima posição entre 12 seleções.

Acusado é retirado do Nasza-Klasa



A página de abertura do portal Nasza-klasa.pl diz que mais de 11 milhões de pessoas estão registradas em sua base de dados, que mantêm mais de meio milhão de fotografias atuais e arquivadas e mais de um milhão de recados sendo enviados pelos seus registrados.
Mas um destes "logados" (de login), ou seja, registrados foi retirado do portal atendendo pedido da polícia da cidade de Kłodzki. Patryk G., de 16 anos, é acusado de matar a colega de escola Daniela de 15 anos de idade e por isto teve ser perfil apagado da base de dados do servidor do portal.
Patryk matou a adolescente batendo com um martelo na cabeça da vítima, na última sexta-feira, na localidade de Lądki-Zdrowy, munícipio de Kłodzki. Os colegas de escolas estão chocados com a tragédia.
No perfil de Patryk, no portal Nasza-klasa, começou desde então, aparecer comentários vulgares a respeito do acusado pelo crime. Alguns internautas declararam que irão matar o acusado.
Bartek Szambelan, um dos administradores do portal Nasza-klasa.pl, informou que "a conta foi removida nesta terça-feira atendendo o pedido da polícia. A causa da remoção foi por injurias e ofensas e cada vez, que tais instituições nos comuniquem e façam semelhante pedido acataremos".
Os estudantes, onde estavam matriculados o matador e a vítima, tiveram ontem, uma reunião com psicólogos e a polícia.
Daria Sługocka do Comando de Polícia do munícipio de Kłodzki está convicta que um portal de Internet não é lugar para se exprimir emoções negativas, rancores e frustrações sobre si mesmo ou sobre outros.
O juiz ainda não decidiu, se o adolescente responderá ao processo como menor ou adulto. Até o final da questão judicial, o adoslescente ficará recolhido na Casa de Detenção para Menores.

P.S. 1 = Semanas atrás apresentei neste blog, o portal Nasza-Klasa como um instrumento para descendentes de imigrantes polacos, ao redor do mundo, tentarem encontrar familiares na Polônia. A sugestão continua válida. Eu mesmo já me fiz amigo de 50 pessoas com meu sobrenome e já estou conectado a uma comunidade que possui outras 457 pessoas com meu sobrenome. Tenho enviado recados e pedidos de "enlace" com todos e tem buscado nossas origens em comum.

P.S. 2 = Alguns de meus textos no blog têm suscitado comentários de visitantes e leitores, o que é muito bom e bem vindo.
Mas alguns deles, por conterem palavras agressivas e ofensivas, não estão sendo publicados e não serão. Tenho o mesmo entendimento da comandante de polícia, Daria Sługocka, de Kłodzki.
Os pontos de vista diferentes são muito bem vindos, mas todos aqueles que contiverem palavras ofensivas e injuriosas contra quem quer que seja não serão aceitos. Não se defende um ponto de vista chamando aqueles que são citados nos textos com palavras de baixo calão.
Esta moderação ocorre em todos os portais e sítios da Internet e o "Blogger" permite este controle.
Não é um instrumento antidemocrático, muito pelo contrário, pois aquele que não consegue defender suas idéias de forma amistosa, não é bem vindo aqui e em nenhum lugar. 

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Aniversário da Braspol


Ilha das Flores - Ancoradouro e hospedarias dos imigrantes - 1911

A Braspol - Representação Central da Comunidade Brasileiro-Polonesa No Brasil está comemorando nesta terça-feira, 19 anos de fundação. Para tanto estará acontecendo um jantar de Confraternização no Restaurante Veneza, Av. Manoel Ribas, nº 6860, no Bairro de Santa Felicidade em Curitiba. Também será dado início às comemorações dos 140 anos do grupo de imigrantes polacos que chegou a Brusque, Santa Catarina, em 1869.
Grupo considerado por alguns historiadores como o marco inicial da imigração polaca no Brasil, embora outros grupos significativos tenham chegado ao Brasil, bem antes, em 1853 e 1847, no Espírito Santo. 
Novos estudos e pesquisas apontam também que o marechal Krzysztof Arciszewski não teria sido o primeiro polaco a pisar em terras brasileiras em 1629, mas sim Kacper (conhecido como Gaspar da Gama, por ter trabalhado como intérprete nas expedições de Vasco da Gama) um polaco nascido em 1444, em Poznan, que era um dos três emissários intérpretes de Pedro Alvares Cabral a pisar nas areias de Porto Seguro para o primeiro contato com os indios no descobrimento do Brasil em 1500, os outros eram Nicolau Coelho e um africano por seus conhecimentos de vários idiomas.
As comemorações foram iniciadas no último domingo, com uma Missa em Ação de Graças na Igreja Santo Estanislau, na Rua Emiliano Perneta, 463 em Curitiba. A frente das comemorações Rízio Wachowicz, presidente da Braspol. Confirmações pelo telefone 41 3233-1032.

A "violência" de Cracóvia

Foto: Piotr R.

Cracóvia, como de resto as cidades polacas, em geral é muito calma e tranquila. A violência praticamente não existe. O policiamento é ostensivo através dos corpos da polícia e da guarda municipal.
Multas de trânsito, multa por falta de bilhetes nos ônibus e bondes;  multa por portar bebida alcólica nas ruas e praças são as mais comuns. Sendo polaco, a multa vai pelo correio. Sendo estrangeiro o pagamento da multa é no ato. Negar a pagar é meio caminho para a delegacia de polícia.
Nas noites de fim de semana quando as festas acontecem em vários bares e discotecas ao redor do Rynek e bairro do Kazimierz, as ruas ficam cheias de jovens alegres movidos pelo álcool e o desejo de conquista amorosa. Mas nada disso aparece nos jornais. Só quem frequenta bares e discotecas têm a percepção exata deste clima nas noitadas cracovianas.
Quando algo anormal ocorre, aí sim, ganha as páginas dos jornais e emissões de telejornais. Mas é tão raro, que o que aconteceu na noite de ontem, no bairro boêmio do Kazimierz está sendo tratado como uma notícia de grande violência.
Próximo da ulica Skawińska uma patrulha da policia notou a presença de três homens embriagados. Quando os policiais os abordaram, um dos "etílicos" começou a ofender com palavras a autoridade. Os policiais pediram que ele se contivesse. Porém, neste momento, saíram várias pessoas da discoteca em frente, que vendo a discussão entre policiais e bêbados, começaram a jogar garrafas contra os policiais.
Com a confusão estabelecida uma segunda patrulha chegou de reforço. Muitos dos atiradores de garrafas fugiram. Mas cinco foram detidos. São todos polacos moradores de Cracóvia, que têm entre 18 e 20 anos. Dois são estudantes e um é técnico formado. Foram colocados à disposição da Promotoria Regional e serão indiciados por atacarem os policiais. As penas em casos de agressão ocorridos nas ruas são de dois anos de prisão. 

Sobre Gaza

Escrito por José Saramago
e outros intelectuais



Não é uma guerra, não há exércitos se enfrentando. É uma matança.
Não é uma represália, não são os foguetes artesanais que voltaram a cair sobre o território israelense, mas uma campanha eleitoral que desencadeou o ataque.
Não é uma resposta ao fim de uma trégua, porque durante o tempo em que a trégua estava vigente, o exército israelense endureceu ainda mais o bloqueio sobre Gaza e não deixou de levar adiante mortíferas operações com a cínica justificativa de que seu objetivo era atingir membros do Hamas. Por acaso ser membro do Hamas tira a condição humana de um corpo desmembrado pelo impacto de um míssil e o suposto assassinato seletivo da condição de assassinato?
Não é uma violência que fugiu ao controle. É uma ofensiva planificada e anunciada pela potência invasora. Um passo a mais na estratégia de aniquilação da resistência da população palestina, submetida ao inferno cotidiano da ocupação da Cisjordânia e Gaza, assediada pela fome e cujo último episódio é esta carnificina que neste dias ocupa nossos televisores em meio a mensagens amáveis e festivas de ano novo.
Não é um fracasso da diplomacia internacional. É mais uma prova da cumplicidade com Israel. E não se trata somente dos Estados Unidos, que não é referência moral e nem política, mas sim parte de Israel neste conflito; trata-se da Europa, da decepcionante debilidade, ambigüidade e hipocrisia da diplomacia européia.
O mais escandaloso que se passa em Gaza é que tudo isto pode passar sem que nada de mais aconteça. Não se questiona a impunidade de Israel. A violação continuada das leis internacionais, dos termos da Convenção de Genebra e das normas mínimas de humanidade não têm conseqüências.
Mas, muito pelo contrário, tudo indica que se premia Israel, com acordos comerciais, como propostas para a sua entrada na OCSE, e que desta imoralidade resultam frases de alguns políticos dividindo as responsabilidades igualmente entre as partes, entre ocupante e ocupado, entre quem agride e quem é agredido, entre o carrasco e a vítima. Como é indecente esta pretendida eqüidistância, que equipara o oprimido com o opressor. Esta linguagem não é inocente. As palavras não matam, porém ajudam a justificar os crimes e a cometê-los.
Em Gaza está se cometendo um crime. E há tempos está sendo cometido ante os olhos do mundo. E ninguém poderá dizer, como em outros tempos se disse na Europa, que não sabíamos.


José Saramago, Laura Restrepo, Teresa Aranguren, Belén Gopegui, e outros.

Acreditando que a poesia ainda consegue ser lida, ouvida e entendida, Jorge Luiz Borges, o grande poeta argentino, escreveu um belo poema por ocasião da guerra das Malvinas. Fala de dois jovens, o argentino Juan López e o inglês John Ward, arrastados para a morte por “próceres de bronze”. Diante da brutalidade que se abate sobre a terra prometida, vale recitá-lo:

“Tocou-lhes por azar uma época estranha.
O planeta havia sido dividido em distintos países, cada um dotado de lealdades, de queridas memórias, de um passado sem dúvida heróico, de direitos, de agravos, de uma mitologia singular, de próceres de bronze, de aniversários, de demagogos e de símbolos. Essa divisão, cara aos cartógrafos, propiciava guerras.
López nascera na cidade junto ao rio imóvel; Ward, nos arredores da cidade por onde andou Father Brown. Havia estudado castelhano para ler o Dom Quixote.
O outro professava a paixão por Conrad, que lhe havia sido revelado em uma aula na rua Viamonte.
Teriam sido amigos, mas só se viram uma vez, cara a cara, em umas ilhas por demais famosas, e cada um dos dois foi Caim, e cada um, Abel.
Foram enterrados juntos. A neve a corrupção os conhecem.
O caso que lhes conto ocorreu num tempo que não podemos entender”.

Às amizades de sempre

Foto: Ulisses Iarochinski

Tenho notado um aumento considerável no número de pessoas, que inadvertidamente se deixam levar pela ânsia de violência. Pessoas que partilhavam as mesmas idéias, hoje estão distantes, já não pensam como antes.
Não, que evoluíram em seus conceitos rumo a fraternidade. Não!
Na verdade, estão voltando atrás. Mas não para aqueles tempos do comungar das idéias para um mundo melhor, longe das atrocidades e mentiras. Estão voltando para os tempos da bárbarie, dos tempos em que matar era um ato covarde de supremacia militar. Muitos parecem se esquecer, ou talvez nunca souberam realmente o que estava se passando, mas não há como negar a história, quando ela de fato aconteceu.
Assim, dialogar, tem se tornado um ato muito difícil de executar. Não se consegue dialogar com o amigo de ontem, quanto mais com o de hoje. O que não será com o de amanhã?
Acompanho diariamente o que jornalistas escrevem pelo mundo. Não só os jornalistas brasileiros, mas principalmente os polacos, os espanhois, os portugueses, os italianos, os franceses, os ingleses e aqueles tantos outros de diferentes línguas que são traduzidos para alguma destes idiomas citados.
A manipulação da informação, muitas vezes ditadas pela ignorância histórica, pela falta de compreensão da conjuntura e simplesmente porque não se concorda com o fato que se está relatando tem transformado as relações em completos abismos.
A crença de muitos de que a grande imprensa manipula a informação por interesses econômicos, políticos, geoestratégicos não impende que aceitem mentiras como verdades, que duvidem da sinceridade das amizades que apontam outros caminhos, amizades que relembram fatos, que traduzem bloqueios, censuras e preconceitos.
Se num mundo onde ainda os morteiros dos países vizinhos não se voltaram contra nós, as amizades estão se deteriorando por falta de diálogo, parceria e comunhão de idéias, imagine-se o que não pode estar acontecendo nas fronteiras de Gaza, Paquistão, Afeganistão, Sudão, Indonésia?
E quando já não restar mais sentimento será impossível resgatar a amizade. Pois nunca é possível reconstruir, seja o que for, a partir só do que ouve num determinado instante. Temos sempre de lembrar o contexto, e contexto distorcido, a ponto de se tornar irreconhecível é o que está acontecendo, por exemplo em Israel. É fácil dizer que Hamas, Talibãs, ETA, Chechenos, georgianos são terroristas, mas é extremamente díficil aceitar que constituições e exércitos de Espanha, Rússia, Israel, Grã-Bretanha, Estados Unidos são máquinas de matar das mais implacáveis que já existiram na história da humanidade. Estes países, principalmente, cometem terrorismo há décadas, mas nem por isto se ouve aqui e ali que são assassinos. Por que?
Espero poder estar contribuindo para a permanência do diálogo e que se divergir é necessário, também o é o entender.
O dramaturgo, músico e poeta alemão Bertold Brecht em sua luta contra a ascensão de Hitler escreveu um poema, que junto com amigos atores, sob a direção do ator José Maria Santos, encenamos nos palcos do Paraná. Os poemas "Aos que vão nascer" e "O hoje e o jamais" estão nesta sequência do espetáculo "Na Boca dos Poetas" . Os nomes dos "falantes" são aqueles atores da amizade perene:

(BLACK-OUT. MÚSICA: NA BOCA DA NOITE, TOQUINHO. UM ATOR SENTADO NO PROSCÊNIO, ENFORCADO. LUZ VOLTA EM RESISTÊNCIA)

ULISSES:      Apesar de todas as angústias e sofrimentos desta vida. Tudo vale a pena, como dizia Fernando Pessoa, poeta português, quando a alma não é pequena. E apesar da injustiça passear pelas ruas com os passos seguros, como dizia Bertold Brecht, poeta e dramaturgo alemão, nós preferimos a poesia.

(RETIRA A CORDA DO PESCOÇO)

Aos que vão nascer – Bertold Brecht

TODOS:  REALMENTE EU VIVO NUM TEMPO SOMBRIO!

ULISSES:      A inocente palavra é um despropósito! Uma fronte sem rugas demonstra                                           insensibilidade.

TÂNIA:          Quem está rindo, é porque não recebeu ainda a notícia terrível.

CLEY:            Que tempo é este, em que uma conversa sobre árvores chega a ser uma falta, pois implica em silenciar sobre tantos crimes?

MARISE:      Esse que vai cruzando a rua calmamente, então já não está ao alcance dos amigos necessitados?

TODOS:        É VERDADE AINDA GANHO O MEU SUSTENTO!

RENE:          Porém, acreditai-me: é mero acaso. Nada do que faço me dá direito a isso, de comer e fartar-me. Por acaso me poupam. Se minha sorte acaba, estou perdido.

CLEY:           Dizem-me: vai comendo e bebendo! Alegra-te pelo que tens!

MARCOS:    Mas como hei de comer e beber, se o que eu como é tirado a quem tem fome e o meu copo d’água falta a quem tem sede?

TODOS:       NO ENTANTO EU COMO E BEBO!

ULISSES:     Eu gostaria bem de ser um sábio. Nos velhos livros está o que é a sabedoria:    Manter-se longe das lidas do mundo e o tempo breve deixar correr sem medo.

CLEY:          Também saber passar sem violência, pagar o mal com o bem, os próprios desejos não realizar e sim esquecer, conta-se como sabedoria.

TODOS:      NÃO POSSO NADA DISSE: REALMENTE, EU VIVO NUM TEMPO SOMBRIO!

SOLANGE:    Às cidades cheguei em tempo de tumulto, com a fome imperando. Junto aos homens cheguei em tempo de desordem e me rebelei com ele.

 TODOS:       ASSIM, PASSOU-SE O TEMPO QUE SOBRE A TERRA ME FOI CONCEDIDO.

 TÂNIA:       Minha comida mastiguei entre as refregas. Para dormir, deitei-me entre assassinos. O amor eu exercia sem cuidado. E olhava sem paciência a natureza,

 TODOS:      ASSIM, PASSOU-SE O TEMPO QUE SOBRE A TERRA ME FOI CONCEDIDO.

 MARCOS:   As ruas do meu tempo iam dar no atoleiro. A fala, denunciava-me ao carrasco. Bem pouco podia eu. Mas os mandões sem mim se achavam mais seguros. Eu esperava.

 TODOS:      ASSIM, PASSOU-SE O TEMPO QUE SOBRE A TERRA ME FOI CONCEDIDO.

 SOLANGE:  Vós, que vireis na crista da maré em que nos afogamos, pensai quando falardes em nossas fraquezas, também no tempo sombrio a que escapastes.

FERNANDO:  Vínhamos nós mudando mais de país do que de sapatos. Em meio às lutas de classes, desesperados, enquanto apenas injustiça havia e revolta, nenhuma.

MARISE:        E entretanto sabíamos: também o ódio a baixeza endurece as feições, também a raiva contra a injustiça, torna mais rouca a voz. Ah!... e nós que pretendíamos preparar o terreno para a amizade, nem bons amigos, nós mesmos pudemos ser.

ULISSES:      Mas vós, quando chegar a ocasião de ser o homem, um parceiro para o homem,

TODOS:         PENSAI EM NÓS COM SIMPATIA!

                       O hoje e o jamais – Bertold Brecht

FERNANDO: A injustiça passeia pelas ruas com passos seguros.

MARISE:        Os dominadores se estabelecem por dez mil anos. Só a força os garante. Tudo ficará como está.

MARCOS:       Nenhuma voz se levanta além da voz dos dominadores.

SOLANGE:     Nos mercados da exploração se diz em voz alta: Agora acaba de começar!  E entre os oprimidos, muitos dizem: Não se realizará jamais o que queremos!

ULISSES:      O que ainda vive, não diga: jamais!

CLEY:            O seguro não é seguro. Como está não ficará. Quando os dominadores falarem. Falarão também os dominados.

ULISSES:       Quem se atreve a dizer: jamais? De quem depende a continuação desse domínio?

TODOS:         DE NÓS!

ULISSES:      De quem depende a sua destruição?

TODOS:        IGUALMENTE DE NÓS!

RENE:          Os caídos que se levantem! Os que estão perdidos que lutem! Quem reconhece a situação como pode se calar? Os vencidos de agora serão os vencedores de amanhã.

TODOS:        E O HOJE NASCERÁ DO JAMAIS!

MARCOS:     Bertold Brecht nasceu em Ausburgo, na Alemanha em 10 de fevereiro de 1898 e faleceu em Berlim em 14 de agosto de 1956. É o mais influente dramaturgo universal do século vinte. A violência em sua poesia é uma constante. Injustiça social, crimes, alcoolismo, nada foi esquecido por ele. Num de seus poemas ele diz: “Eu, Bertold Brecht, sou das negras florestas. Para a cidade minha mãe me trouxe no ventre ainda e o frio das florestas em mim se há de encontrar até eu morrer.” Hoje, podemos dizer que este frio transcendeu a sua morte.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Judeu contra o governo de Israel


Em Abril de 1943 os judeus do Gueto de Varsóvia foram massacrados pela máquina militar do III Reich nazi. Em Dezembro de 2008 os palestinos do Gueto de Gaza são massacrados pela máquina militar do IV Reich nazi-sionista. Ambos os povos exerceram o seu direito inalienável à revolta contra a opressão. Foto: Instituto Judaico de Varsóvia.


O historiador francês de origem judaica André Noushci, ex-combatente antinazista da France Libre, de 86 anos, ex-professor da Universidade de Tunis e professor honorário da Universidade de Nice, mandou uma carta ao embaixador israelense em Paris durante os bombardeios na Faixa de Gaza dizendo o seguinte: 


3 de janeiro de 2009

Senhor Embaixador:

Para vós é shabat, que devia ser um dia de paz mas que é o da guerra. Para mim, e desde há vários anos, a colonização e o roubo israelense das terras palestinas exasperam-me. Escrevo-vos como francês, judeu de nascimento e artesão dos acordos entre a Universidade de Nice e a de Haifa.

Não é mais possível calar diante da política de assassinatos e de expansão imperialista de Israel.

Vós vos conduzis exatamente como Hitler se conduziu na Europa com a Áustria, a Tchecoslováquia (hoje República Tcheca e Eslováquia). Desprezais as resoluções da ONU tal como ele as da Sociedade das Nações e assassinais impunemente mulheres e crianças; não invoqueis os atentados, a Intifada. Tudo isso resulta da colonização ilegítima e ilegal; o que é roubo.
Vós vos conduzis como ladrões de terras e virais as costas às regras da moral judia. Vergonha para vós! vergonha para Israel!
Cavais a vossa tumba sem vos dar conta. Pois estais condenados a viver com os palestinos e os estados árabes.
Se vos falta esta inteligência política, então sois indigno de fazer política e vossos dirigentes deveriam ir para a cadeia.
Um país que assassina Rabin, que glorifica seu assassino, é um país sem moral e sem honra. Que o céu e que o vosso Deus leve à morte Sharon, o assassino.
Haveis sofrido derrota no Líbano em 2006. Sofrereis outras, espero, e enviais à morte os jovens israelenses porque não tendes a coragem de fazer a paz.
Como os judeus que tanto sofreram podem imitar os seus carrascos hitlerianos? Para mim, desde 1975, a colonização recorda-me velhas lembranças, aquelas do hitlerismo. Não vejo diferença entre vossos dirigentes e os da Alemanha nazi.
Pessoalmente, vou combater-vos com todas as minhas forças como o fiz entre 1938 e 1945 até que a Justiça dos homens destruísse o hitlerismo que está no coração do vosso país.
Vergonha a Israel!!
Espero que o vosso Deus lançará contra os seus dirigentes a vingança que eles merecem. Tenho vergonha como judeu, antigo combatente da II Guerra Mundial, por vós. Que o vosso Deus vos maldiga até o fim dos séculos!
Espero que sejais punidos!

Historiador, 86 anos, originário de Constantine (Argélia). Foi combatente da "France Libre" e é autor de um livro sobre o nível de vida das populações rurais de Constantine durante o período colonial até 1919 (PUF, 1961). Este livro foi saudado na época pelo ministro do Governo Provisório da República Argelina (GPRA) e historiador argelino Ahmed Tafiq al-Madanî como "a gota de água que se oferece ao viajante após a travessia do deserto". Foi professor na Universidade de Tunis e é professor honorário da Universidade de Nice, na França. Seu livro, "Iniciação às Ciências Históricas", foi traduzido para português e editado por Livraria Almedina, em 1986.

Segundo, o jornalista carioca de origem polaco-judaica Mário Augusto Jakobskind, "André Noushci certamente interpreta o sentimento de muitos cidadãos de origem judaica e não judaica que se indignam com a solução final contra os palestinos decretada por um governo extremista como o de Israel, que envergonha a quem tem um mínimo de consciência.".  Jakobskind tem sido alvo de emails e comentários raivosos por parte de judeus e não-judeus de extrema-direita pela sua posição antimassacre de palestinos. A tradução em português da carta de Noushci retirei do mais recente artigo de Jakobskind, "Recado aos fundamentalistas", publicado no sitio "Direto da Redação", mas também está no site francês "Le Post".  

"Opór" ou "Defiance" = Resistência

Foto: Karen Ballard

- Então? Já foi assistir "Opór"?
Perguntei a um jovem universitário polaco sobre o filme que entrou em cartaz nos cinemas da Polônia, na última sexta-feira, e que vem causando polêmica pelo menos há duas semanas por aqui. O filme estrelado pelo atual ator de James Bond - agente 007, Daniel Graig, conta a história de 4 irmãos polacos judeus que durante a Segunda Guerra Mundial defenderam centenas de judeus nas florestas da Polônia do Leste. Embora o filme sugira que ocorreu na Bielorrússia.
- Não, não fui e nem vou. Filme hollywoodiano mentiroso. Este judeu foi um bandido e não herói.
O estudante do curso de "Estudos Europeus", da Universidade Iaguielônia, reflete um pouco o que é a geração pós-comunismo sob o governo fascista de Kaczyński na Polônia. "Não vi, não quero ver e sou contra", parecem bradar a todo instante quando questionados sobre o passado. Não sofreram os horrores da hectacombe provocada pelos direitistas do nazismo, nem passaram pelos anos duros dos esquerdistas do comunismo. Muitos nasceram nos estertores finais da República Popular da Polônia e querem mais é consumir. 
A resposta sobre o filme, portanto, impediu o início de uma conversa cinematográfica-histórica-política. Queria ressaltar para ele, o que tinha assistido e sentido durante a projeção do filme, na sala 5 do Cinema City da Galeria Kazimierz, no último sábado.
Fui porque já tinha lido nos jornais polacos sobre esta produção de Hollywood com o ator do 007. Fui por que li se tratar de judeus combatentes. Fui porque Israel ataca sem piedade os palestinos na Faixa de Gaza. Mas fui principalmente porque gosto de cinema.
Fotografia impecável, atuações muito boas, atrizes muito bonitas. Embora a ação se passe o tempo todo num bosque da atual Lituânia sem grandes variações de cenário.
Fora os figurinos, armas, caminhões, carro e tanque da segunda guerra mundial dá para perceber que a produção não foi assim tão dispendiosa.
Roteiro com nuances de altos e baixos, com momentos de explosões entrecortados por uma calma angustiada.
Direção segura e competente que impele o expectador a vivenciar aqueles 90 minutos (ou mais) de projeção na grande tela da sala escura com muita emoção. Há momentos para risadas contidas, emoção suspendida e de lágrimas que teimam em cair, mesmo depois que as luzes se acendem e as portas se abrem indicando que a sessão terminou.
O filme tem criado polêmica na Polônia por tratar de uma questão que está inserida nas veias ainda quentes dos que morreram na segunda guerra mundial.
Nas minhas leituras antes da projeção, soube que se tratava dos guerrilheiros Bielski - quatro irmãos judeus - que viraram bandoleiros depois que polacos católicos colaboracionistas entregaram os pais deles para os alemães nazistas e se negaram a ir para os guetos e campos de concentração.
O filme já começa com uma patrulha noturna nos arredores de uma cidadezinha do que seria hoje a Bielorrússia (mas na época era Polônia). Os irmãos Bielski falavam polaco e iidich e ao emigrarem depois do fim da guerra, portavam passaportes polacos. Mas voltando á patrulha: Um grupo de polacos judeus conduzidos por um polaco católico é retido por um grupo de policiais polacos à serviço dos alemães nazistas. O policial que comanda a patrulha pergunta se fazem parte dos protegidos de Tewje Bielski. O guia diz não saber quem é este Bielski. Quando tudo parece que vai acabar mal, aparecem guerrilheiros polacos quase que do nada e impedem que o grupo seja detido.
Nas cenas seguintes, Tewje vai até uma casa e atira contra o velho policial da patrulha que estava jantando com a esposa e dois filhos. A esposa implora para ser morta, mas Tewje sai sem matá-la, como se fugisse de si mesmo. O polaco judeu finalmente estava vingando as mortes de seus pais, entregues que foram aos nazistas por aquele polaco católico colaboracionista.
No desenrolar do filme, sempre na mesma floresta, os quatro irmãos vão discutir, brigar entre si, mas sobretudo vão defender um número cada vez maior de judeus que chegam em número cada vez maior pedindo abrigo.
Os irmãos Bielski lutaram ao mesmo tempo contra tropas dos exércitos alemães e russos e contra guerrilheiros ucranianos e bielorussos, além dos polacos da Army Krajowej só para proteger familias polacas judias.
Durante a projeção, ri das ironias, emocionei-me, chorei... E saí do cinema ainda com os olhos lacrimejando. Tentava enxugar os olhos, mas as lágrimas teimavam em cair lendo as frases finais junto com as fotos dos verdadeiros irmãos Bielski. "Eles salvaram 1200 pessoas e nunca lhes foi dado crédito". 

Foto: Karen Ballard

Cinema sempre é uma obra de ficção, seja baseada em livro, fatos, depoimentos, história real. Não fosse ficção seria documentário, mas tem tantos documentários por aí que são pura ficção também, que a gente se pergunta se não está sendo sempre enganado.
Para parte da imprensa polaca, que assistiu o filme, que leu livros, que fez reportagens, considera os irmãos Bielski heróis.
Contudo, para aqueles que não assistiram, nem leram e quando muito, souberam alguma coisa da opinião dos investigadores do IPN - Instituto da Memória Nacional da Polônia de Kaczyński, os judeus Bielski foram apenas bandoleiros, verdadeiras carnificinas ambulantes e assassinos de polacos.
Nos jornais pude ler: "O mais importante é dizer claramente: os guerrilheiros Bielski atiraram nos polacos, mas não nos civis de Naliboków, somente contra os soldados da Armiej Krajowej". 
Em outro li, o que escreveu Piotr Zychowicz do jornal Rzeczpospolita, "o problema nisto é apenas um, o efeito causado pelos Bielski: eles salvaram 1200 pessoas contra 130 que mataram." O título do artigo de Zychowicz foi "Herói na escuridão do crime". Outras frases do jornalista no mesmo artigo puderam esclarecer melhor qual a opinião dele sobre os irmãos judeus:
- "Tewje bebeu, bateu e até matou, mas não violou, porque não foi obrigado."
- "Tewje Bielski bebeu continuamente, depois da vodca (particularmente à luz da lua) se fazia agressivo. Segundo depoimentos salvou muitos da morte - por pouca coisa - pelo menos um de seus agredidos: o especialista de sobrenome Połoniecki."
- "Teve três esposas e incontáveis amantes. No refúgio onde defendeu os seus, também se comportou de modo muito erótico, tendo se relacionado com várias das moças que ali estavam".
Estes comentários, entretanto, foram rebatidos por outro jornalista, mas do outro jornal importante da Polônia, o Gazeta Wyborcza. Marcin Kowalski que lançou um livro com o título de "Odwet. Prawdziwa historia braci Bielskich" (pode ser traduzido como Vingança, ou como Retaliação - a verdadeira história dos irmãos Bielski), fruto de dois anos de pesquisa e entrevistas na região onde a história real de fato aconteceu discorda dasd afirmações apressadas de seu colega de profissão. Kowalski entre outras coisas rebate a posição de amante inveterado colocada em Tewje, "Esta afirmação não é verdadeira, faltam fontes para que se afirme que estas relações amorosas ocorreram naquelas circunstâncias. É verdade que Bielski era jovem, bonito, verdadeira lenda-viva para aquelas mais de mil pessoas, entre homens e mulheres. Sua terceira esposa Lilka, naqueles bosques de Iwy, Lida e Nowogród, muito pouco tempo de carinho experimentou nos braços do Tewje." Sobre o rimão mais velho dos Bielski ter assassinado polacos, Kowalski também apresenta uma explicação: "pelo menos algumas dezenas de membros de Naliboków pertenceram ao mesmo tempo para o Exército Nacional (Army Krajowy) da Polônia, enquanto eram colaboracionistas dos alemães. À luz do dia defendiam a Polônia, na calada da noite entregavam companheiros para os nazistas. Foram estes que morreram nas mãos dos irmãos Bielski." 
No centro da polêmica, o prof. Krzysztof Jasiewicz deu entrevista para o Rzeczpospolita dizendo que "para nós este assunto não tem sentido, se eram guerrilheiros judeus e se pessoalmente os irmãos Bielski mataram muitos polacos em Naliboków, em 8 de maio de 1943, ou se também lutaram ao lado dos soviéticos, ou não." 
Ou seja, a Polônia, ainda não sabe lidar com seus fantasmas. Muitos não querem saber do passado, muitos não leem, muitos não discutem, muitos afirmam o que não sabem. Uma simples obra de ficção cinematográfica (embora baseada em fatos reais) consegue provocar reações quase sempre equivocadas, como as que se estão vendo na Polônia, nesta semana. Cinema é cinema, história é história. Agora falsear a história para dizer que o cinema é mentiroso é pior ainda.

Não sei que título o filme tem ou terá no Brasil, mas no título deste texto já coloquei nas três línguas o que sugere o nome para este filme, dirigido por Edward Zwicki, música original de James Newton Howard e com as participações de Liev Schreiber e Jamie Bell.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Polacos: uma só família

A expressão „Bayer Full" nos anos 80 não possuía qualquer significado. Era 19 de novembro de 1984, quando quatro músicos resolveram denominar seu grupo com estas duas palavras.
Depois de mais 15 discos gravados, mais de 15 milhões de discos vendidos, disco de ouro após 100 mil vendidos, disco de platina após 750 mil vendidos e terem cantado em todos os continentes e se tornado embaixadores da canção polaca, Bayer Full tem um forte significado. É provavelmente o mais popular grupo de música dançante (disco polo) da Polônia. 
Da formação inicial com Sławek Świerzyński, Arek Kamiński, Jacek Łyziński e Tomek Rudziński, restou atualmente apenas o líder Sławek Świerzyński que canta com Beata Matuszewska, Roman Matuszewski, Paweł Opasiński e o filho Sebastian Świerzyński. No vídeo abaixo,  cantam um de seus maiores sucessos e logo mais abaixo a letra da música em polaco e a tradução em português:



Wszyscy Polacy
Todos os Polacos
(tradução livre: Ulisses Iarochinski)

Wieczorem, wieczorem,
À noite, à noite

kiedy gwiazdy mocno lśnią
quando as estrelas fortemente brilham

Wieczorem, wieczorem
zaśpiewajmy razem song
cantamos juntos uma canção

Bo wszyscy Polacy
porque todos os polacos

to jedna rodzina
são uma só família

Starszy czy młodszy,
mais velhos ou mais jovens

chłopak czy dziewczyna
rapaz ou moça

Bo wszyscy Polacy
porque todos os polacos

to jedna rodzina
Starszy czy młodszy,
chłopak czy dziewczyna

Hej , hej bawmy się,
oi, oi brinquemos

hej, hej śmiejmy się
oi, oi sorriamos

Hej , hej bawmy się,
hej, hej śmiejmy się

A nocą, a nocą
e noite, e noite

gdy po pracy w domu śpisz
quando depois do trabalho em casa dormes

A nocą, a nocą
każdy ma szczęśliwe sny
cada um tem felizes sonhos

Bo wszyscy Polacy
to jedna rodzina
Starszy czy młodszy,
chłopak czy dziewczyna

Bo wszyscy Polacy
to jedna rodzina
Starszy czy młodszy,
chłopak czy dziewczyna

Hej , hej bawmy się,
hej, hej śmiejmy się
Hej , hej bawmy się,
hej, hej śmiejmy się

A rano, a rano
e de manhã, e de manhã

kiedy słońce jeszcze śpi
quando o sol ainda dorme

To wtedy, to wtedy
isto então, isto então

zaśpiewamy ja i ty
cantamos eu e você

Bo wszyscy Polacy
to jedna rodzina
Starszy czy młodszy,
chłopak czy dziewczyna

Bo wszyscy Polacy
to jedna rodzina
Starszy czy młodszy,
chłopak czy dziewczyna

Hej , hej bawmy się,
hej, hej śmiejmy się
Hej , hej bawmy się,
hej, hej śmiejmy się

A kiedy, a kiedy
e quando, e quando

z Polski wyjechałeś gdzieś
da Polônia viajas para qualquer lugar

To nawet po latach
e isto até mesmo depois de anos

my rozpoznamy się
nós nos reconhecemos

Bo wszyscy Polacy
to jedna rodzina
Starszy czy młodszy,
chłopak czy dziewczyna
Bo wszyscy Polacy
to jedna rodzina
Starszy czy młodszy,
chłopak czy dziewczyna.

Hej , hej bawmy się,
hej, hej śmiejmy się
Hej , hej bawmy się,
hej, hej śmiejmy się

Corredor de sal em Wielicka

Foto: Ulisses Iarochinski

Não, não é uma foto de neve... Não! Esta é uma das tantas galerias na mina de sal de Wielicka, nos arredores de Cracóvia. Considerada patrimônio da humanidade pela Unesco, desde 1978, a mina produziu sal por mais de 700 anos. Hoje serve apenas como local turístico, não porque o sal acabou, mas por ter sido enserida na lista do organismo da ONU. Mesmo porque, o sal este continua ser explorado a 20 km de distância em uma mina vizinha, em Bochnia.
Uma das atrações turísticas mais visitadas dos arredores de Cracóvia, a mina de sal, recebeu 2006, 1 milhão 65 mil e 857 pessoas, destes 58% estrangeiros. Entre os estrangeitos, os britãnicos com mais de 57 mil foram os que mais visitaram seguidos do alemães com mais 50 mil turistas
A rota turística dentro destes tuneis e galerias de sal tem cerca de 3 km. São 20 câmeras entre 64 a 135 metros de profundidade. O passeio dura cerca de duas horas. Mas a mina é maior que o percurso visitado. Depois de séculos de exploração ela tem aproximadamente 10 km de extensão, 600 a 1500 m de largura e cerca de 400 m de expessura.