domingo, 17 de abril de 2016

As sete cidades mais polacas fora da Polônia

Estima-se que os números da diáspora polaca seja de 20 milhões de pessoas, o que significa mais de metade da população da Polônia.
Pessoas de origem polaca vivem em todo o mundo, às vezes formando um grande e influente segmento da população nestas cidades estrangeiras, como Chicago ou Curitiba.


CHICAGO

Na verdade, Chicago não é a "maior cidade polaca fora da Polônia", mas é a que possui a maior concentração de uma comunidade polaca numa mesma cidade.
A área metropolitana de Chicago (não só o município) é habitada por aproximadamente 1,5 milhões de pessoas de ascendência polaca.
Há um bairro chamado "Little Poland" (Pequena Polônia) iniciado no século 19, com muitos restaurantes e lojas polacas, bem como o Centro Copérnico, um edifício remodelado para se assemelhar ao Castelo Real de Varsóvia.
A primeira grande onda de imigrantes da Polônia chegou à "cidade dos ventos", na década de 1850.
Os irmãos polacos de origem judaica Leonard e Phillip Chess (Lejzor e Fiszel Czyz) nascidos em Motol, na então Polônia, chegaram a Chicago em 1928, onde criaram o lendário estúdio de gravação "Chess Records", em 1950. Este selo musical foi o responsável pelos lançamentos de artistas célebres como Muddy Waters e Chuck Berry.

CURITIBA

A capital do estado brasileiro do Paraná é o lar de mais de 400 mil pessoas com raízes polacas. A esse número, soma-se outros 300 mil, na sua região metropolitana composta por 29 municípios.
A cidade possui uma quantidade bastante grande de vestígios da influência polaca que tem sido percebida desde a segunda metade do século 19, quando os polacos começaram a chegar em 1853 (Hieronim Durski e outros 13 polacos). Curitiba tem um grande parque em homenagem ao São Papa João Paulo II (polaco de Wadowice) e conhecidas barracas gastronômicas especializadas em pierogi, bigos e sonho, chamadas "Tadeu Rei do Pierogi" e "Pierogi do Miro", abertas a cada  noite em diferentes ruas da cidade.

PARIS
Foto: Marta Darowska
Muitos polacos ilustres, como Maria Skłodowska-Curie, Fryderyk Chopin e Adam Mickiewicz, têm fortes laços com Paris.
A vencedora duas vezes do prêmio Nobel (casada com um parisiense), repousa em um túmulo do Panthéon e o gênio da composição para piano viveu 18 anos de sua curta vida ali, e está enterrado no famoso cemitério Père-Lachaise.
A cidade, tornou-se um "hotspot Polishness" (Centro de Acesso da Polonidade) na década de 1830, quando uma onda maciça de imigrantes das regiões invadidas e ocupadas da Polônia fugiram de lá, após a "Revolta de Novembro" ter sido liquidada (famosa rebelião polaca contra o domínio russo, no século 19).
Ao longo dos anos, os polacos deixaram sua marca na cidade: há uma escola polaca em Batignolles e uma expressiva biblioteca polaca. Cerca de 300 mil pessoas com raízes polacas vivem atualmente na cidade.

NOVA IORQUE
Foto: Andrzej Bogacz
Com mais de 218 mil habitantes com raízes na Terra no Vístula, a "Big Apple" é muitas vezes chamada de cidade mais polaca dos Estados Unidos, juntamente com Chicago.
Um dos bairros da cidade, "Greenpoint", é chamado de Pequena-Polônia, devido à forte presença polaca, que começou a se estabelecer ali, no final do século 19.
Há muitas lojas de alimentos e restaurantes polacos e um "Greenpoint Arts Block Festival" temático polaco.
Michał Wojnicz, descobridor do famoso "Manuscrito Voynich", veio morar em Nova Iorque pouco antes da Primeira Guerra Mundial trazendo seu achado lendário com ele.  O precioso manuscrito se tornou propriedade norte-americana.

TORONTO
Foto: Andrzej Grabowski
Imigrantes polacos começaram a chegar a Toronto em números significativos na década de 1870.
Hoje a comunidade polaca da cidade conta com cerca de 200 mil pessoas, muitas das quais vivem no bairro Ronscevalles.
Esta área está repleta de estabelecimentos polacos como o lendário "Café Polonez", onde você pode saborear o "barszcz" tradicional e os "pierogi".
Uma vez por ano, a Ronscevalles Avenue é fechada para o Festival Polaco Ronscevalles, que apresenta performances, música e danças folclóricas.
Geddy Lee, membro da famosa banda Rush de rock canadense, nasceu em Toronto, descendente imigrantes polacos de origem judaica.

LONDRES
Foto: Piotr Małecki
Num certo sentido, Londres foi a capital da Polônia durante quase meio século. De 1940 a 1989 foi a sede do governo polaco no exílio, a continuação legítima do governo da Segunda República Polaca, que foi abolida pela Alemanha nazista e pela União Soviética, em 1939.
Após a queda do regime comunista imposta a Polônia, uma das consequências da Segunda Guerra Mundial, o governo no exílio devolveu sua insígnia à Pátria, mostrando simbolicamente que a verdadeira independência tinha sido finalmente recuperada.
Por causa da guerra muitos polacos emigraram para Londres, entre eles, Jan Pieńkowski, que se tornou um notável ilustrador de livros das crianças inglesas. Hoje, muitos dos cerca de 185 mil polacos que vivem na cidade são imigrantes recentes.

VILNO
Foto: Cezary Aszkielowicz
A Polônia e a Lituânia formaram uma união do final do século 14 ao final do século 18.
Os laços entre os dois países eram tão fortes que o poema épico nacional polaco "Pan Tadeusz" começa com as palavras "Lituânia, o meu país!".
A significativa influência polaca sobre Vilno remonta aos tempos de Władysław Jagiełło, duque lituano que se tornou rei da Polônia e Lituânia, em 1385. Ele levou para Vilno muitos artistas, comerciantes e artesãos de Cracóvia.
Hoje há cerca de 87 mil polacos que vivem em Vilno, a maioria dos quais residem ali desde que nasceram. Isso, mesmo com a perda do território polaco para os lituanos depois da segunda guerra mundial.
A cidade conserva a casa em que o grande poeta e dramaturgo polaco Juliusz Słowacki viveu em sua juventude, e uma Casa de Cultura Polaca.

Texto original: Culture.pl
Tradução: Ulisses Iarochinski

terça-feira, 5 de abril de 2016

Dieta diária dos proto-polacos

Foto: Marcin Stępień
Séculos atrás, o menu diário, típico, das tribos eslavas no território da moderna Polônia consistia de ervas e cogumelos. Eles consumiam uma grande quantidade de grãos, e quantidades modestas de carne e legumes, bem como a ancestral da sopa de beterraba, conhecida como barszcz. Não é exatamente uma dieta paleo, mas certamente é uma dieta polaca e modernos foodies preocupados com a saúde fariam bem em dar-lhe uma olhada.

Os historiadores postulam que as tribos eslavas chegaram à Europa Central em torno do 6º século a.C. Começaram a ser chamados polacos sob o domínio do príncipe Mieszko I no século 10, considerado como o primeiro chefe de Estado polaco.

As práticas culinárias descritas datam daquela época até o século 13, quando as coroas lituana e polaca eram unidas. Embora alguns desses costumes venham de muito longe, alguns ainda são observáveis ​​na culinária polaca contemporânea. Por exemplo, sopas com verduras (como a azeda ou com folhas de beterraba) são ainda muito populares.

Cogumelos para sobreviver
Foto: Daniel Pach
Então, o que os primeiros polacos e seus antepassados ​​comiam?

Normalmente, um monte de ervas e cogumelos (variedades não-alucinógenas). Ervas como endro, alho, mostarda e coentro eram usadas em sopas e para adicionar sabor a outros alimentos (não havia pimenta, ou mesmo açúcar naquela época). Cogumelos silvestres foram um importante complemento das refeições quando era necessário completar o estoque de alimentos agrícolas com forragens. Cogumelos secos eram conservados para os longos invernos.

Grãos preciosos
Kutia - Foto: East News
Grãos também foram importantes no cardápio. As culturas de grãos do período incluia milho, cevada, trigo e aveia. Foram usados ​​para uma refeição popular chamada bryjka. Este prato simples era feito a partir de grãos triturados e cozidos como mingau. Pode ser servido doce, com frutas e às vezes mel. Ou salgado, com ervas, sal e banha animal ou cogumelos. Frutas cultivadas incluíam maçãs, pêras e pêssegos, ameixas, cerejas e frutas vermelhas também eram consumidas.

Nada de galinhas
Encenação de uma cerimônia eslava nas margens do Rio Warta - Foto: Marcin Stępień
"Eles não comem as galinhas, porque eles acreditam que eles causam uma perda de força e uma erupção vermelha. Eles comem a carne de vacas e gansos, porque isso lhes faz bem". Estas palavras de Abraham Ben Jakub, viajante judeu que visitou territórios eslavos no século 10, descreve os hábitos de comer carne dos ancestrais dos polacos. Naquela época, proto-polacos também se mantinham com carne de porco, peixe e caça. A carne foi muitas vezes preservada pelo fumo.

Vegetais, raízes e sopa
Foto: Marszull - Fotonova/ East News
Sopas eram comumente feitas a partir de plantas e vegetais como cenoura e nabo. Uma certa sopa azeda era preparada com grãos azedos de centeio e era chamada de barszcz. O nome também era utilizado para designar várias outras sopas de plantas e vegetais. O Barszcz está vivo e bem, na Polônia, ainda assim, com muitas variedades disponíveis durante todo o ano: barszcz vermelho, barszcz branco ou borstch ucraniano.
Outra sopa estranha com raízes antigas é Żurek, caldo feito com farinha de centeio fermentado. Acredita-se que esta remonta a várias sopas à base de farinha, preparados por essas tribos eslava.

Bétula
Foto: Taida Tarabula

Para acompanhar suas refeições, os primeiros polacos e seus antepassados ​​bebiam seiva de bétulas, colhidas de árvores durante a primavera.
Outras bebidas não alcoólicas incluídas eram água natural e leite. Se queriam algo mais forte, tomavam piwo (cerveja), hidromel e kwaś, uma bebida de baixa fermentaçao feita a partir de água, pão integral, fermento e mel.
Se desejas um gole do passado, seiva de bétula, chamado de suco de bétula, ou kwaś, é possível encontrar nas prateleiras de uma loja polaca - elas ainda são populares!

Autor: Marek Kępa. Fontes: Kuchnia słowian czyli o poszukiwaniu dawnych smaków / culinária eslava ou na busca para o gosto de idade por Hanna e Paweł Lis, entrevista com Joanna Lurynowicz pela Rádio polaca em 26 de abril de 2015.

domingo, 20 de março de 2016

Dez pratos tradicionais da Páscoa polaca

Foto: Krzysztof Kuczyk
Sopa de centeio, salsicha branca, bolos com sementes de papoula ou requeijão: as inúmeras iguarias tradicionais da Páscoa na Polônia são surpreendentes, sofisticadas e inspiradas pela Primavera.
A páscoa é uma festa com carnes defumadas, salames, linguiças e presuntos, onde biała kiełbasa toma o lugar central.

Biała kiełbasa (pronuncia-se bia-ú-a kie-ú-bassa) - salsicha branca
Foto: Adam Kulesza
Biała kiełbasa - salsicha branca - é uma salsicha de carne de porco picada (com a adição de carne bovina) coberto por uma fina camada de tripas de porco e temperada com sal, pimenta, alho e manjerona. Se é na sopa Żurek ou entre as amostras de alimentos contidas na cesta de Páscoa, a salsicha branca é servida cozida, às vezes com rábano (rabanete), mostarda, ou ćwikła (pronuncia-se tchwicúa - salada picante de rabanete).

Żurek (jú-rék) - Sopa de farinha de centeio fermentada
Foto: Katarzyna Klich
Żurek ou żur (pronuncia-se jur) é uma sopa feita de farinha de centeio fermentada. Está guarnecido com salsicha branca fervida e metades de ovos cozidos.
Em tempos antigos, a Żurek e o arenque eram as principais iguarias pré-Páscoa, no período de jejum da Quaresma. Até o Sábado de Aleluia, as pessoas cansadas de tomarem esta sopa, davam-lhe um enterro festivo. Um pote com a sopa era enterrado ou derramado na terra. Quando não é um componente do funeral festivo, o Żurek é consumido durante todo o ano.

Jajko (pronuncia-se iáico) - Ovos
Foto: Marian Zubrzycki / Fotorzepa
O ovo simboliza a nova vida e a ressureição de Cristo. Tradições relacionadas com o ovo polaco incluem a coloração deles, a benção na igreja como parte da cesta de Páscoa, compartilhando-os ovos uns com os outros, desejando tudo de bom para o próximo ano e finalmente comendo-os com diferentes temperos.
Eles são servidos cozidos, recheados, fritos ou "crus". O ovo decorado (pisanka) é um ovo cozido muito apimentado, recheado com uma mistura de gemas, maionese, mostarda, cebola e creme de raiz-forte.

Śledź (chlédj) - Arenque
Foto: Adam Kulesza
Este peixe é tão popular na Polônia, como na Suécia, Holanda, ou Dinamarca. Ele está presente nas festividades, no Natal e na Páscoa. O peixe é servido eviscerado e descabeçado, em pedaços que foram marinados em vinagre, óleo, com ou sem legumes, geralmente envoltos com cebola crua picada.

Chrzan (rrêhjan) - raiz-forte
Foto: Roman Lipczyński
Ralar raiz-forte produz vapores pungentes e faz os olhos ficarem cheios da água, sejam brancas ou vermelhas ambas raízes-fortes vão bem com uma variedade de frios.
O tipo vermelho é chamado ćwikła e a sua cor é devida à adição de beterraba.

Mazurek (Ma-zú-rék) Bolo "pequena Mazúria"
Foto: Bartosz Krupa
O primeiro dos bolos a de fazer é o mazurek. Considera-se que a receita tenha chegado na Poland vinda da Turquia por volta do século 17. O bolo pode ser feito de diferentes tipos de massas e coberturas, como por exemplo de marmelada, chocolate, frutas secas ou nozes. O céu é o limite.

Sernik (Sér-nik) - torta de requeijão
Foto: Piotr Jedzura
O sernik é uma deliciosa torta de requeijão. Pode-se tentar substituir o queijo exclusivamente polaco chamado twaróg (pronuncia-se tvárug) por requeijão ou ricota, mas não vai ser a mesma coisa.
O queijo twaróg é mais denso, doce e menos úmido do que os queijos e menos suave do que ricota. Algumas fontes dizem que o sernik remonta à Grécia antiga e Roma. A Igreja Ortodoxa tem um equivalente à base de tvorog - em forma Paskha (é um doce de queijo em forma de pirâmide).

Babka (Báb-cá) - vovó
Foto: Piotr Wojnarowski
O airado da Páscoa - babka  - é um bolo de levedura não amassado e cozido em uma bandeja de Bundt (bundt é um bolo assado em uma forma bundt, assumindo uma forma anelar. Sugere-se que o nome "bundt" é derivado do Bundkuchen alemão, que é um bolo em formato de anel). Ele pode ser misturado com xarope de rum e regado com crosta de gelo, mas o costume dita que ele não tenha recheio. O nome deriva da palavra "babka (vovó)" e, provavelmente, refere-se à sua forma ampla da saia plissada de uma avó.

Makowiec (Má-co-viets) - bolo de recheio de semente de papoula
Foto: Lubomir Lipov
Entre a riqueza de bolos de Páscoa é o makowiec, um rocambole de semente de papoula, o mais polaco de todos. O ingrediente principal são sementes de papoula e usa-se o mesmo tipo de massa do Babka. A textura é crocante e de nozes, e às vezes é coberta com açúcar de confeiteiro.

Baranek (báránék) - Cordeiro da Páscoa
Foto: Bartosz Krupa
Feito inteiramente de açúcar e em forma de cordeiro, esta é uma peça central da tradicional cesta de Páscoa polaca. Em algumas regiões ele é feito apenas com manteiga moldada em formato de cordeiro. Muitas vezes tem uma bandeira vermelha em miniatura com uma cruz.

Texto: Marta Jezewska
Tradução: Ulisses Iarochinski

sexta-feira, 11 de março de 2016

Terminações dos sobrenomes polacos

Os sobrenomes polacos são reconhecidos principalmente por suas terminações. E isso, mesmo, entre outros sobrenomes de origem eslava como tcheco, russo, ruteno (atual ucraniano), eslovaco, búlgaro, macedônio, croata, servo, etc.
Explicações para identificá-los e dar significações são várias... polêmicas e inconclusivas. Mas, em geral, aceitam-se como bastante prováveis as que seguem abaixo, começando pelo famoso ski, que naturalmente não guarda relação alguma com tentativas frustradas de comparar com o idioma inglês, o que faria supor ter algo parecido com esquiar, ou céu.

Os sobrenomes mais populares da Polônia

-EWSKI, -OWSKI, -IEŃSKI, -IŃSKI, E -YŃSKIS
O -ski é um sufixo adjetivado, que pode ser adicionado diretamente a um termo base - como "padeiro (Piekarz, em idioma polaco)" - Piekarski, que significa, então: "de padeiro", ou pode ser envolvido a outros sufixos.

Dois caracteres comuns que podem preceder -ski são:
1) -EW- ou -OW- (basicamente a mesma coisa, depende se o radical termina em uma consoante classificada como dura ou suave); e
2) -IN- ou -IEN- ou -YN.
O -YN é adicionado a radicais que terminam em consoantes duras, os outros dois são adicionados em radicais"suaves"; para todas as intenções e propósitos, -IEN- pode ser considerado como uma variante do -IN-, muitas vezes indicando alguma diferença dialetal na pronúncia.

Ambos prefixos têm significado possessivo, de modo que -owski / -ewski e -i [e] ński / -yński significa "do / dos".
Nas combinações, o sufixo -iński e -yński o N é suavizado e pronunciado como o NH em português, e grafado em polaco com acento agudo (-iński e -yński).

Outra ocorrência destes sufixos aparece adicionado aos sobrenomes sem o -SKI, como em Jan "João" - Jański  - "de João" e Janów (plural) que significa "dos Joões", (Como ninguém diz Joães, o natural é dizermos Joões, porque a maior parte dos substantivos terminados em -ão fazem o plural em -ões: barracão, bofetão, botão, cordão, tampão, esfregão, etc.)
Vemos localidades chamadas Janów, o que significa "[lugar] de João." Outros sufixos também podem ser adicionados a esses, como vemos em Janowo, que também significa "[lugar] de João," e Lipiny,"[local] das lipas" (de Lipa, "Tília (espécie de árvore").

Linguistas eslavos têm escrito artigos sobre quando e por que são usados os suficos -ew - / - ow-  adicionados em alguns casos, e -em - / - yn- em outros. Uma vez que um dos conjuntos de sufixos -ow / -ew e -in / -yn foi adicionado a um termo para formar um nome de lugar X, o caracteres em /yn mais -ski podem ser ainda adicionados a eles para dizer, com efeito, "um de X"

Assim o termo kowal é "ferreiro", está presente nos sobrenomes Kowalew ou Kowalewo, que significa "[local] do "ferreiro", e Kowalewski é "uma pessoa do lugar do "ferreiro".
Ou Lipa que é "tília", Lipiny que é "lugar das tílias", e Lipiński é "uma pessoa do lugar das tílias". Aliás, os caracteres -yn / -em são adicionados, às vezes, sem a vogal anterior, obtendo-se sobrenomes como Lipno, que também significa "lugar das tílias"; o nome desta localidade, também, pode aparecer no sobrenome como Lipiński. Estes processos são muito comuns na formação  dos sobrenomes polacos.

Estas aglutinações de sufixo -ewski / -owski e -iński / -yński também podem ser adicionadas diretamente aos substantivos, por vezes, simplesmente para indicar uma ligação.
Assim Łomża (pronuncia-se uomja) que é o nome de uma cidade, na Polônia, tem em łomżyński uma forma adjetiva, cujo significado é "de Łomża", ou melhor "natural de Łomża". Algo como usado, em português, com a terminação ENSE, em paranaense que significa natural "do Paraná").

Também há uma considerável sobreposição de significados entre, Janów ("parentes de", ou "local do João") e Janowski ("parentes de João", ou "de um de lugar de João"].
Às vezes, ambos os sobrenomes são usados, numa mesma família, dependendo do cartorário de plantão. Porém as formas -SKI tendem a predominar; embora entre os mais antigos aparecessem os chamados Janów.
Como acontece com qualquer aspecto da onomástica, não generalize - pois praticamente qualquer coisa que se disser que é correta, na maioria, das vezes pode ter exceções gritantes.

- "Eu sou um -SKI, eu devo ser de origem nobre!"*
Uma e outra vez se ouve "Alguém dizer que sobrenomes que terminam em -ski são pessoas da nobreza.
Será isso verdade?
Apesar da arrogância embutida na expressão,  ainda assim, é uma questão legítima.

Se estes sobrenomes tivessem sido encontrados nos registros de cartórios, ou igrejas do século 14, então sim, os sobrenomes que terminavam em -ński eram designativos de pessoas da nobreza. E que os sobrenomes que terminavam em -owicz ou -ik, ou qualquer outro sufixo não o eram.
Antes de qualquer discussão, basta dizer que não havia essa distinção, pelo simples motivo de que naquela época, todos os sobrenomes eram nobres! Em outras palavras, apenas os nobres utilizavam sobrenomes. Os plebeus não tinham sobrenome...apenas nome.

Os não-nobres, ou plebeus, só começaram a usar sobrenomes regularmente - a partir do século 17. Mas esta não é uma afirmação de todo verdadeira, pelo simples fato de que não se encontram documentos, ou registros de pessoas plebéias antes de 1600 que as mencionasse; não há evidências à respeito de quando a prática de sobrenomes hereditários imutáveis ​​se espalharam para a a plebe dos centros urbanos e para os camponeses. Mas, em geral, a maioria dos estudiosos concorda que os camponeses raramente usavam sobrenomes antes do ano1600; embora existam exceções para cada regra.

Assim, ao mesmo tempo -ski  pode ser indicativo de origem nobre. Mas isso deixou de ser verdade, há uns bons 300-400 anos atrás. Quando o uso de sobrenomes de qualquer natureza, deixou de ser exclusivo dos nobres, bem como as formas dos próprios nomes.

O que significa -SKI?
Na língua polaca é um sufixo adjetivo, significando simplesmente "de, em conexão com, pertencente a." A forma caracteres + ski é uma maneira de dizer que "de alguma forma ele está associado a caracteres precendentes." Assim Warszawa significa "Varsóvia", e Warszawski "de Varsóvia".

Em sobrenomes, onde aparecem um ou dois caracteres seguidos de -ski normalmente indicam alguma ligação estreita com alguém. Assim Piekarski, em geral, pode tanto significar "parentes do padeiro", ou "uma pessoa da localidade do padeiro".
Existem subconjuntos de sobrenomes -SKI que são especialmente propensos a se referir ao lugar de origem como em Bydgoski, que literalmente pode ser considerado como "de Bydgoszcz", e que significaria "uma pessoa de Bydgoszcz,  ou alguém ligado a Bydgoszcz."

A consequência prática disso é que um monte de sobrenomes com -SKI referentes a lugares são ambíguos; eles podem referir-se a um número ilimitado de diferentes localidades com nomes derivados a partir da mesma forma basal. Assim, Warszawski pode não estar se referindo a capital da Polônia. Pois pode haver outro lugar, ou dois, ou mais com nomes começando em Warszaw-.
O sobrenome, por si só, não dá nenhuma pista que se está se referindo a uma determinada localidade. Por exemplo, há uma Warszawa na antiga região da cidade de Zamość; há também uma Warszawice na região da cidade de Siedlce; há uma Warszawiaki na antiga região da cidade de Lublin; e uma Przedmieście Warszawskie na região da cidade de Elbląg. É possível que o sobrenome Warszawski possa estar se referindo a qualquer uma delas.

Obviamente, na maioria das vezes Warszawski remete para a capital da nação. Mas não há garantia de que seja isto! No momento, em que se assumir que, o sobrenome Warszawski tenha vindo de Warszawa, pode-se estar incorrendo em erro, pois este sobrenome em questão pode estar, na verdade, referindo-se a localidade na região de Zamość. E então, as buscas por origens, fica comprometida e difícil. Por isso, os sobrenomes devem ser interpretados à luz da história de uma família específica - é a única maneira de certificar-se de que se está focando no lugar certo.

Claro, também está, que um monte de sobrenomes com -SKI não se referem a lugares. Piekarski pode também estar se referindo ao lugar chamado de Piekary ou algo semelhante; Szczepański normalmente significa "filho ou parente de Szczepan (Estevão)". Nosalski pode significar simplesmente "parentes do grande nariz" (nosal). Este sufixo pode ser adicionado a todos os tipos de raízes, se eles se referem a um lugar de um antepassado, de residência, ou de origem, de sua ocupação, de seu primeiro nome, de sua característica física mais óbvia, e assim por diante.

-SKI versus -SKA
A questão é simples: adjetivos polacos têm diferentes formas para os sexos. Sobrenomes que terminam em -ski são considerados também para refletir o sexo da pessoa. Assim Janowski é a forma nominativa para o masculino e Janowska é a mesma forma só que para o feminino. As terminações diferem nos outros casos declinativos também: "de Janowski" é apresentado com a terminação ego, assim Janowskiego é o mesmo sobrenome só que se referindo a um homem, e com ej  é o mesmo Janowska, apenas que declinado para Janowskiej, ou seka está se referindo a uma mulher.

-CKI e -ZKI
Sobrenomes que terminam em -cki / -cka e -zki / -zka,  essencialmente, são apenas variantes de -ski / -ska. Certas palavras terminam com consoantes que, quando combinadas com o -ski básico final, produzem uma mudança de pronúncia. Assim Zawadzki vem de "Zawada" ("obstrução, fortaleza" +-ski. O -A final em Zawada cai, dando a forma Zawadski. Mas é difícil pronunciar -d- seguido por um -S-, assim se adotou Zawadzki com Z que é a maneira mais precisa de soletrar esse sobrenome.

Mas, só para complicar as coisas, a combinação -dz-, nesse caso, é realmente pronunciada como -ts-, que é como os polacos escrevem quando usam a letra -C-. Então, Zawacki é outra maneira de ortografia que mesmo sobrenome, ou seja, é o mesmo com o -dz, Zawadzki.
De qualquer maneira, Zawadzki ou Zawacki, é pronunciado aproximadamente "zah-vá-ts-qui," e significa apenas "da obstrução ou da fortaleza", ou "pessoa de um lugar chamado Zawada ou Zawady porque, ao mesmo tempo, havia uma barreira, ou uma fortaleza naquele lugar".

-Ski versus -Sky
Muitas pessoas estão sempre perguntando coisas como "Se ele é soletrado com -Sky, então é um sobrenome judeu?" ou "Posso concluir que o meu Jablonsky era de origem tcheca, em vez de polaco?"

Historicamente as grafias de sobrenomes da Europa do Leste variaram muito, o que não permite estabelecer uma regra assertiva para esta dualidade -ski versus -sky.
A regra de ouro, no entanto, é que -ski normalmente é associado aos polacos; e -sky pode ser associado com os tchecos, ucranianos, russos, etc. Há milhões de exceções, mas uma regra básica para se entender, é  apenas isso, com I no final é polaco, com Y os outros eslavos.

Isso porque as regras de ortografia polaca dizem que -K- nunca pode ser seguido por -y, mas apenas por -i.

A religião não é realmente um fator na grafia dos sobrenomes. Os judeus que foram assimilados pela cultura das nações onde se inseriram tendiam a usar qualquer ortografia considerada como correta no lugar onde passaram a viver. O grafia -sky em polaco é incorreto, então, os judeus que viviam entre os polacos normalmente grafavam -ski.

Já os judeus que viviam entre os tchecos grafavam -sky, porque isso era o correto em tcheco. Se eles vivessem no que é hoje a Bielorrússia, ou na Rússia, ou na Ucrânia - como milhões fizeram - seus nomes foram escritos no alfabeto cirílico, e poderiam ser grafados em nosso latino tanto como -ski, como -sky, -skiy, -skyi, -skyj , -skij, e assim por diante.

Na maioria, das vezes, grafava-se como -sky, de modo que a ortografia parecesse predominar entre os imigrantes judeus, no caso dos que foram para os Estados Unidos. Mas houve e há uma abundância de judeus nos Estados Unidos, que grafam seus sobrenomes com -ski, significando que são originários da Polônia.

Parece haver uma tendência entre os falantes alemães e inglês para soletrar o sufixo eslavo como sendo -sky, a tal ponto que até mesmo imigrantes polacos nestes países pararam de lutar contra essa grafia e passaram a aceitar esta ortografia imposta pelo país estrangeiro.

É possível que a influência tcheca tenha orientado alemães e povos de língua inglesa. No -sky tcheco (na verdade, com um acento sobre o y) esta é a ortografia correta. Como, ao longo dos séculos os alemães sempre estiveram às voltas com a nação tcheca, sempre por questões de invasões e ocupações de territórios essa ligação pode tê-los convencido de que -sky fosse correto para grafar esse sufixo para todos os povos eslavos.

-OWICZ Ou -EWICZ
Este sufixo simplesmente significa "filho de". Aqui, também, a diferença entre -owicz e -ewicz não é de grande importância para os não-linguistas; alguns nomes tendem a mostrar-se com um ou outro sufixo, e alguns mostram-se com ambos. Mas o significado da do segmento caracteres + -owicz ou caracteres + -ewicz é  apenas "filho de alguém."

O que aconteceu aqui é que o possessivo final -ow / -ew teve o sufixo -icz orientado para ele. Assim -icz sufixo ou -ycz é para os polacos, "filho de", assim que "filho de Jan" = Janicz ou Janycz; Já "Filho de Kuba (diminutivo de Jakub)" passou a ser Kubicz ou Kubycz. Mas como o tempo passou os poloneses foram influenciadas pela tendência de outros eslavos usar -owicz ou -ewicz vez do -icz simples.

De todos modos, -owicz é apenas a maneira polaca de grafar o sufixo que estão em muitos outros nomes eslavos como -ovich ou -oviĉ (o chamado Hacek em tcheco). A ortografia varia de língua para língua, mas quase sempre significa "filho de".

-Ak - / - EK / -IK / -KA / -Ko /-Uk / -YK
Sufixos com um -K- geralmente aparecem como diminutivos.
Em outras palavras, Jan é a forma polaca de "João", e Janek ou Janko é o "Joãozinho", em português.
Em Portugal, no Brasil e nos demais seis países de língua portuguesa é praticamente inexistente sobrenomes terminados em inho. Em polaco (e outras línguas eslavas) existem centenas deles. A maioria tem um -K- em algum lugar, ou o -K- foi modificado pela adição de novos sufixos (por exemplo: -czak, -czyk). Como regra geral, em sobrenomes ,um sufixo com -K- significa algo como "pouco", "pequeno" ou "filho de".

Assim Jan é "João", Janek ou Janko é "pequeno João, Joãozinho", Jankowicz é "filho do pequeno João", Jankowo é "[o lugar] do pequeno João" (ou "do filho de João"), e Jankowski é "originário do local do pequeno João ou o filho de João".

O uso original desses sufixos era para indicar uma forma diminutiva. Mas também passou a ser utilizada de outras maneiras, o que geralmente significa "associado com, relacionado com, exibindo a qualidade de." Nowak vem de Nowy, "novo" + -ak, para significar "pessoa nova no lugar", e Stasik significa "aquele associado com Staś" = "parentes de Staś", que por sua vez é diminutivo do diminutivo de Stasiu, do nome Stanisław.

Além disso, estes sufixos são adicionados frequentemente a substantivos para servir como um termo para uma pessoa ou objeto relacionado com qualquer que seja a base de uma raiz significativa.
Assim Bartek começou como um diminutivo de Bartłomiej (Bartolomeu), e significava "pequeno Bart, ou filho de Bart." Mas, uma vez que, Bartek passou a existia como um nome, ele pode ser usado como substantivo, que significa também "caipira, camponês, homem do campo, sertanejo".

Isso aconteceu porque as pessoas passaram a entender Bartek como sendo um nome popular entre pessoas das áreas rurais, e por isso passou a ser usado como um substantivo comum para tais pessoas. Ao como Bastião, de Sebastião que passou a ter conotação de gente simples, caipira, em português.

Da mesma forma, sowa que significa "coruja", e sówka, que literalmente é traduzido para "bufo", embora seja um termo para um tipo específico de coruja,  a Athene noctuae. Mas também é usado como um termo para a família Noctuidae de mariposas.
Aparentemente algo sobre essas mariposas lembrou às pessoas os mochos (da família Strigidae, da ordem Strigiformes), e o termo preso. Assim, há que se ter cuidado quando interpretar sobrenomes com estes sufixos diminutivos: o "pequeno X" pode ser vir a ser um termo para algo que não é facilmente perceptível.

-IAK
Essencialmente, o sufixo -iak é a mesma coisa que -ak; ambos são sufixos diminutivos, mas -iak difere apenas na medida em que envolve suavizar ou palatalização da raiz consoante final. Assim, em alguns nomes vemos -ak adicionado diretamente a uma raiz sem palatalização, por exemplo; Nowak, Pawlak e, em outros, temos a palatalização, em Dorota + -iak = Dorociak, Jakub + -iak = Jakubiak, Szymon + -iak = Szymoniak.

O significado básico de -ak / -iak é diminuto, mas especialmente quando aplicado aos primeiros nomes, ele tende a ter um significado patronímico. Assim, "Jakubiak" significa "pequeno Jakub".
No entanto, ele não é usado exclusivamente dessa forma, por exemplo, há um substantivo "Krakowiak", que significa "uma pessoa de Cracóvia". Sufixos polacos raramente têm um único e tão somente um significado.

-ANKA, -ina / -YNA, -OWA / -EWA, -ÓWNA / -EWNA
Finalmente, estes sufixos diferentes dos outros já mencionados em que eles não são partes intrínsecas dos sobrenomes. Jankowski é um nome diferente do Jankowicz; Já Jankowiczowa não é um sobrenome diferente do Jankowicz, mas apenas uma forma especial dele.
Estes sufixos todos marcam versões femininas de sobrenomes que tomam a forma de substantivos, e não de adjetivos terminados em -ski ou -cki ou -zki. Para chegar ao sobrenome base tem-se que remover o sufixo (e às vezes adicionar um final): Jankowiczowa = é a Sra. Jankowicz, ou Kościuszkowa = Sra. Kościuszko.

No polaco padrão -owa ou -ewa indica uma mulher casada, e -ówna / -ewna uma solteira. Jankowiczowa é a Sra Jankowicz, mas Jankowiczówna é senhorita Jankowicz; Kowalewa = Sra. Kowal, Kowalewna = srta. Kowal.

Os sufixos -ina / -yna são adicionados a sobrenomes que terminam em -a substantivo derivado, e geralmente indicam uma mulher casada; a forma correspondente para as mulheres solteiras é -anka ou -ianka (às vezes -onka ou -ionka). Então a Sra. Zareba é a "pani Zarębina", e Srta. Zareba é "panna Zarębianka."

Acrescente-se, porém, que em dialetos regionais, às vezes, há -anka ou -onka adicionado aos adjetivos de sobrenomes, e até mesmo utilizado para a mulher, de modo que a Sra. Kowalski pode aparecer como "Kowalszczanka". Isso não está correto em polaco convencional; mas pode-se usar nos registros de algumas regiões, especialmente do Nordeste e Sudeste da Polônia.

Texto: W. F. Hoffman
Tradução para o protuguês: Ulisses Iarochinski

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Le Monde entrevista Lech Wałęsa

Ex-presidente polaco se mostra preocupado com a situação política na Europa e condena as acusações sobre seu passado.


Lech Wałęsa meio que vive dentro de seu próprio museu. Seus escritórios ficam no novíssimo Centro Europeu de Solidariedade, inaugurado em Gdańsk em 2014, que conta a história do Solidarność. Desde sua segunda derrota em uma eleição presidencial, em 2000, o ex-líder sindical, 72, se retirou da vida política, mas fala com frequência para a mídia polaca.

Em entrevista ao "Le Monde", realizada no dia 5 de fevereiro, ele fala sobre sua preocupação com a Europa e a Polônia desde que chegou ao poder o governo conservador do partido Direito e Justiça (PiS). Ele denuncia os vários ataques feitos pelos conservadores que o acusam de ter colaborado com a polícia política comunista.

Le Monde: Qual foi sua reação ao processo lançado pela Comissão Europeia contra a Polônia?

Lech Wałęsa: Nós pertencemos a um clube em que reinam certas regras que somos obrigados a respeitar. A crise que o continente vem atravessando é muito grave. Devemos entrar em um acordo quanto a um novo fundamento. Em uma época, tínhamos uma Europa cristã. Depois, tivemos as ideologias, comunista ou outras, e agora não há mais nada. Com quais valores criar seus filhos? A outra questão é: qual é a diferença hoje entre esquerda e direita? Houve uma época em que essa divisão era clara, mas não é mais o caso hoje.
Na França, a Frente Nacional chegou muito perto do poder e não é impossível que vença da próxima vez. Muitos países europeus estão atravessando uma crise de legitimidade de sua democracia. A Polônia, com sua bagagem histórica, vê essa crise do projeto europeu, e é por isso que ela está buscando sua própria via, mais à direita.
Quando não há boas soluções para os problemas, então os demônios despertam. Tem gente que sugere que se desconstrua a União Europeia. Se não encontrarmos uma resposta para a crise, é o que acontecerá. A rua dita suas leis, porque os políticos não têm soluções convincentes e estão com falta de argumentos. Os populismos e a demagogia estão chegando ao poder. No fundo, é bom que existam os Le Pen e os Kaczyński, pois eles nos obrigam a nos revisar, a inventar algo de novo.

Le Monde: Qual seria esse novo fundamento?

Lech Wałęsa: Por exemplo, uma pequena Constituição europeia, com dez mandamentos laicos. Um documento não muito grande, mas que não será contestado por ninguém. É preciso definir antes de tudo o que deve ser de competência europeia e o que não deve. É preciso melhorar a eficácia e a inteligência das instituições europeias.

Le Monde: O senhor teme que o governo polaco vá afastar a Polônia da Europa?

Lech Wałęsa: Não, os polacos superaram situações bem mais difíceis, e também nesse caso eles se sairão bem. Só é preciso notar que as massas populares estão descontentes com a situação atual, o que explica a vitória do PiS. Nem 50% dos polacos compareceram às urnas, mas por quê? Parte deles diz: o país está cada vez melhor, a situação está melhorando, não me interesso por política, não conheço nada. E é por causa dessa abstenção que chegamos a esse ponto. O PiS foi eleito por causa de um programa que não está colocando em prática. Eles esconderam todos os elementos mais radicais de que a população não gostava. Se eles tivessem dito logo de início que iriam controlar o Tribunal Constitucional, ninguém os teria eleito.

Le Monde: Ao mesmo tempo, muito poucas pessoas estão protestando...

Lech Wałęsa: Porque o PiS fez muitas promessas populistas. Redução da idade de aposentadoria, abonos familiares... as pessoas foram seduzidas. Mas se começar a faltar dinheiro para o governo, os problemas vão começar. O governo tem um pouco de margem de manobra porque o estado da economia está bom. Mas se a situação vier a piorar, os problemas do PiS começarão e as massas populares se juntarão aos que estão protestando. Por que não propor então um referendo para eleições antecipadas?

Le Monde: De onde vêm essas divisões tão profundas no país?

Lech Wałęsa: Para governar e se manter no poder, Jarosław Kaczyński precisa de um inimigo. É por isso que o pessoal do PiS está sempre fuçando no passado, caçando os "agentes" comunistas. Eles precisam disso para cimentar suas bases e alimentam a "guerra entre polacos".

Le Monde: O senhor é um desses inimigos?

Lech Wałęsa: Sim, eles precisam desse tipo de inimigos. Eles queriam colocar Lech Kaczyński, o ex-presidente polaco, morto no acidente de avião de Smoleńsk em 2010, no meu lugar e fazer dele o principal símbolo da luta contra o comunismo. Eles queriam fazer de mim um "agente", de preferência a serviço de Moscou.

Le Monde: Como o senhor responde às acusações de ter colaborado com o regime comunista feitas contra o senhor?

Lech Wałęsa: Eu subestimava essas vozes que me acusavam. Eu acreditava sinceramente que o Instituto da Memória Nacional queria saber a verdade sobre esse caso. O problema é que os comunistas destruíram muitos documentos. As agências de inteligência comunistas tinham quase cem volumes de acusações sobre mim e minha luta, que foram quase todos destruídos. O que restou foi o que convinha aos comunistas para minarem meu crédito.
Na época, havia duas abordagens que eram usadas contra os comunistas. A primeira os tratava como inimigos e bandidos com quem era impossível conversar. A segunda era a minha, que os via como doentes que precisavam de um médico, e era preciso conversar com eles, reparar seus erros. Essas duas concepções hoje são irreconciliáveis, e é por isso que meus inimigos não conseguem me perdoar por eu ter decidido conversar com os comunistas, e me acusam de ser um "agente". A verdade é que eu manipulava os serviços secretos comunistas bem mais do que eles me manipulavam.

Le Monde: Qual era o lugar dos irmãos Karczyński na época do Solidarność?

Lech Wałęsa: No início do Solidarność, eles tinham medo de se manifestar muito abertamente, uma vez que seu apoio no sindicato livre era limitado. Eles faziam parte daqueles que queriam lutar pelas vias legais contra o comunismo. Depois eles mudaram e se tornaram mais radicais. Quanto mais se aproximavam da vitória, mas sua coragem aumentava. E como eles eram dois, já acostumados a disputar o seio de sua mãe, eles sempre tinham mais chances de se defenderem mutuamente (risos).
Eles faziam um bom trabalho, mas sempre sob minhas ordens. Eles tinham qualidades que podíamos utilizar com critério, mas eles não eram atores de primeiro plano. Lech Kaczyński sempre foi bem próximo de mim. Quando eu me tornei presidente, fiz dele meu substituto no sindicato. Era muito mais fácil me entender com Lech do que com Jarosław Kaczyński. Eles eram bastante secundários no movimento, ficando à sombra de pessoas mais competentes. Eles apostaram em outras pessoas igualmente marginalizadas e frustradas dentro do Solidarność.
Eram o tipo de pessoas que, em condições normais, não deveriam ter nenhum papel político a exercer. Os Kaczyński representavam uma coalizão de frustrados da Solidarność. Atualmente, o PiS está muito determinado e unido.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Olbiński lançará livro de seus posters

Rafał Olbinski, Aurora dos Deuses, acrílico, óleo sobre tela, 60 x 90 cm
Um livro com os posters de Rafał Olbiński será lançado na próxima primavera do hemisfério Norte, em Nova Iorque.


"Posters não devem ser literais, mas metafóricos", disse Olbiński, pintor, ilustrador e designer de poster, durante encontro no Consulado polaco em Nova Iorque. O artista estava promovendo seu próximo livro - Paixão para com os Posters".

Rafał Olbiński, Tentação Acidental, acrílico, óleo sobre tela, 78 x 60 cm
O livro de 240 páginas inclui cerca de 300 posters de Olbiński, feitos em diferentes períodos de sua obra artística. O livro abre com os primeiros trabalhos do artista nos anos de 1970, quando ele ainda estava à procura de seu próprio estilo. Ele apresenta uma seleção de cartazes  de música, ópera, teatro, cinema, jazz, e de circo, bem como cartazes dedicados a temas sociais e políticos urgentes, como a guerra e a imigração.

Rafał Olbiński, Carmen, acrílico, óleo sobre tela, 45 x 37 cm
Richard Wilde, da School of Visual Arts em Nova Iorque, escreveu a introdução do livro, no qual descreve o artista como um mestre da surpresa, de obras sedutoras, misteriosas, provocantes e mágicas capaz de seduzir milhões de pessoas em todo o mundo. Independentemente do assunto, ele têm a capacidade de chocar e surpreender o público. Wilde acrescentou:

"Indefinição, ambiguidade, paráfrases de motivos, sobretons ao mesmo tempo ameaçador e tentador, referências sexuais, nuances, gosto pela forma feminina, composições clássicas e metamorfose de um objeto em outro, bem como referências para o surrealismo - tudo isso faz com que a demanda  a participação ativa do público pelos trabalhos de Olbiński".


Rafał
 Olbiński, Emulação de Mérito, acrílico, óleo sobre tela, 60 x 56 cm,
"Passion for Posters", é um livro de capa dura publicado pela Bosz em duas edições de idioma - polaco e inglês - será apresentado, em maio de 2016, durante a América BookExpo em Chicago. Supõe-se que se tornará leitura obrigatória na Escola de Artes Visuais, onde Olbiński ensina há 15 anos.

Durante o encontro no Consulado, o artista disse: "Em certo sentido, eu sou a terceira fase da Escola Polaca de Posters, ou pelo menos eu era um naquele início. Todo mundo que estava trabalhando em projeto gráfico industrial (incluindo a mim depois de se formar em arquitetura) queria fazer cartazes. Poster é a parte nobre da atividade de um designer".

Rafał Olbiński, Carta de um amante tímido II, acrílico, óleo sobre tela, 112 x 74 cm
Olbiński comparou os posters como sendo ideais para as grandes pinturas, dizendo que ambos revelam a percepção e o estilo individual do artista, e que eles compartilham uma capacidade similar para impactar o público. Ele acrescentou: Eu crio pinturas, que incluem elementos de posters. Como uma boa pintura, um bom cartaz é facilmente lembrado. Não é apenas uma exclamação. mas também um ponto de interrogação visual. Ele agarra a nossa atenção e, em seguida, faz-nos pensar e se envolver emocionalmente.

Segundo o artista, seus cartazes têm uma vida dupla - sem a mensagem verbal são pinturas. Mais ambivalente e matizado, eles só se tornam cartazes após a adição de legendas e tipografia - e isso é quando eles vendem um produto ou ideia específica.

Olbiński descreve seu próprio estilo como uma metáfora surreal-poético, pintura realista com a sua própria tipografia, que tem um duplo significado. O artista procura por metáforas e analogias que podem enriquecer a sensibilidade, a nossa compreensão de mundo, história e mitologia - uma tarefa bastante difícil, ele admite. De certa forma, ele percebe sua arte com um diálogo com os titãs da eras passadas.

Rafał Olbiński, ocultação de opiniões fixas, acrílico, óleo sobre tela, 29 x 57 cm,
Durante o encontro em Nova Iorque, Olbiński recordou o início de sua carreira artística nos Estados Unidos. Ele também falou da coleção de seus pequenos contos como "História de amor" e "Outros embaraços curiosos", bem como "Virtude da Ambiguidade", e uma retrospectiva de suas pinturas com ensaios de críticos de renome como Robert C. Morgan e Izabela Gabrielson.

Quem é
Rafał Olbiński, ou Józef Rafał Olbiński é o pseudônimo artístico de Józef Rafał Feliks Chałupka. Ele nasceu em 21 de fevereiro de 1943, em Kielce, Polônia.

Pintor polaco, artista gráfico e criador de cartazes é um dos representantes da chamada escola cartaz polaco.

Emigrou para os Estados Unidos em 1981, onde se tornou mundialmente conhecido.

Filho de Józef e Janina Chałupa, é o mais velho de sete irmãos. Estudou na Escola Stefan Żeromski, em Kielce. Após o ensino médio, cursou na Universidade de Tecnologia de Varsóvia, arquitetura, onde se formou em 1969.

Começou a trabalhar colaborando com a revista "Jazz Forum", onde atuou como editor gráfico. Em 1981, ele foi a Paris, onde um ano mais tarde, emigrou para Nova Iorque. A volta para seu país foi impedida ela introdução da lei marcial comunista.

Em 1985, ele aceitou emprego como professor na Escola de Artes Visuais de Nova Iorque. Os trabalhos Rafał Olbiński são exibidos em inúmeras galerias e museus. A Biblioteca do Congresso dos EUA, o Museu de Arte Moderna de Toyama e da Fundação Carnegie, em Nova Iorque, além do Poster Museum.

Seus cartazes fazem parte também de coleções de colecionadores particulares em todo o mundo. Ele também colabora com "The New York Times", "Newsweek", "BusinessWeek" e "Der Spiegel".

Seu trabalho é amplamente recompensado em várias competições internacionais. Em 1995, ele recebeu o primeiro prêmio no concurso "New York City Capital of the World” - um cartaz que promove Nova York como a capital do mundo. Em 1994, ele foi premiado com o chamado Oscar Internacional do cartaz na mais memorável competição "Prix Savignac" em Paris, e em 1976 o primeiro prêmio no concurso do Instituto de Direitos Humanos em Estrasburgo. Até meados dos anos 90, ele tinha acumulado mais de 100 prêmios.

Fonte: PAP - Polska Agencja Prasowa SA
Tradução Ulisses Iarochinski

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

75 anos da deportação polaca para a URSS

Deportações em massa de polacos para a União Soviética durante a Segunda Guerra Mundial foram planejadas e executadas pelas autoridades soviéticas.

A primeira deportação foi realizada na noite de 09 para 10 fevereiro de 1940. A quarta e última terminou apenas alguns dias antes do ataque alemão à União Soviética em junho de 1941.

No total para o Cazaquistão, Uzbequistão e Sibéria foram deportados para cerca de 330 mil cidadãos polacos - entre católicos, judeus, bielorrussos e ucranianos.

Muitos deportados, como resultado das condições precárias e dos maus-tratos das autoridades da URSS não sobreviveram à viagem ou seu exílio na Sibéria ou no Cazaquistão.

A União Soviética tinha deixado de reconhecer o Estado polaco no início da invasão nazista. Os russos detiveram e prenderam cerca de 500.000 polacos antes de Junho de 1941 (quando a Alemanha de Hitler invadiu a União Soviética), incluindo funcionários civis, militares e outros "inimigos do povo", como o clero e professores: cerca de um em cada homem adulto.

Grandes grupos de cidadãos polacos no pré-guerra, principalmente pessoas de origem judaica e, em menor medida, os camponeses ucranianos, pensaram que a invasão soviética era uma oportunidade para participar de atividade política e social comunista fora do seu ambiente étnico e cultural tradicional. O entusiasmo desvaneceu com o tempo, quando se tornou claro que as repressões soviéticas eram destinadas a todos os grupos de igual forma, independentemente de sua posição ideológica.

Estima-se que cerca de 150.000 cidadãos polacos morreram durante a ocupação soviética

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Um Da Vinci em Wawel

No castelo de Cracóvia, "A Dama e o Arminho" é hoje a estrela. Uma pintura tão bela que teve de ser recuperada pela Polônia aos nazis em 1945.
A Dama e o Arminho - Leonardo Da Vinci / Cracóvia
A pequena sala está meio escura, o habitual para proteger pinturas sensíveis, com séculos. Tirando o vigilante, ninguém por perto e todo o tempo do mundo para olhar A Dama e o Arminho, uma das obras-primas de Leonardo Da Vinci. Desde 2012, está no Castelo Real de Wawel, em Cracóvia. Por coincidência, numa chuvosa manhã de inverno, época de poucos visitantes, pôde ser vista sem centenas de turistas a tirar selfies à volta, como acontece no Louvre, onde está a Mona Lisa. Um verdadeiro luxo na antiga capital da Polônia, milagrosamente poupada à destruição durante a Segunda Guerra Mundial.

"A mais bela pintura da Polônia, no mais belo castelo da Polônia, na mais bela cidade da Polônia. Faz todo o sentido", diz Elżbieta Pytlarz, historiadora de arte e apaixonada pela cidade que a UNESCO considera patrimônio da humanidade.

A Dama e o Arminho voltará, porém, ao Museu Czartoryski, também em Cracóvia, assim que lá forem concluídas as obras de renovação. É um dos tesouros de uma coleção fundada há dois séculos por uma família magnata polaca e "tem uma história atribulada", como sublinha Pytlarz. No filme "Os Caçadores de Tesouros", com George Clooney, o quadro é uma das grandes obras roubadas pelos nazis.

O que torna esta pintura tão especial? Primeiro que tudo a beleza da figura feminina, que se acredita ser Cecília Gallerani, amante de Ludovico Sforza, Il Moro, duque de Milão. Depois o próprio animal no colo, que um estudo recente afirma ter sido acrescentado por Da Vinci num segundo momento. E além disso toda a fábula criada em redor do magistral óleo. Sabe-se que terá sido criado em 1490, durante o longo período em que o pintor italiano esteve ao serviço do nobre milanês. Pouco depois, Leonardo criará "A Última Ceia", ainda hoje visitável em Milão, na igreja de Santa Maria delle Grazie, e que com o quadro de Cracóvia e a Mona Lisa em Paris constituem a trilogia magna do pintor.

"Apenas vi o quadro de Leonardo da Vinci uma vez. Provocou-me uma sensação muito sensual antes ainda de eu ficar a conhecer o seu simbolismo escondido. Cecilia Gallerani e o príncipe Ludovico Sforza viveram um romance secreto em pleno oficialismo da vida da aristocracia do final do século XV. O que apaixona mais: a dinâmica corporal da jovem mulher que acaricia um animal pouco comum? A beleza do seu rosto? O fato de o animal no seu colo esconder a sua gravidez avançada, e já agora ser o arminho, um símbolo da maternidade? Não sei dizer. Um fato importante é que o quadro de Da Vinci pertence à família do príncipe Czartoryski, o que mostra o significado da contribuição da aristocracia na nossa herança cultural", afirma Bronisław Misztal, embaixador da Polônia em Lisboa e professor na Iaguelônica, uma universidade fundada no século XIV e outro dos tesouros de Cracóvia.

Tudo na história do quadro acrescenta ao seu poder de atração. Foi comprado em 1798 pelo príncipe Adam Jerzy Czartoryski, durante uma viagem a Itália. Serviu de oferta à mãe, Izabela, que na sua propriedade em Puławi, a sudeste de Varsóvia, se preparava para abrir o primeiro museu público na Polónia.

Catedral e Castelo Real de Wawel - Cracóvia
Uma história atribulada
De início não havia certeza de que era um Da Vinci e até a figura dava ensejo a especulações, chegando-se a pensar que seria uma amante de Francisco I de França. "Mas peritos polacos, há mais de cem anos, sugeriam já que fosse Cecília Gallerani e uma famosa pintura desaparecida", explica Pytlarz. Hoje, as dúvidas dissiparam-se e "A Dama e o Arminho" é reconhecida como uma das poucas pinturas de Da Vinci (15?) que chegaram até nós.

Com as atribulações políticas na Polônia, o quadro até foi transferido para uma mansão dos Czartoryski em Paris. Depois, com a agitação na França, regressou à Polônia, sendo exposto em Cracóvia a partir de 1876. Quando se iniciou a Primeira Guerra Mundial, e com Cracóvia parte do Império Austríaco, o quadro foi transferido para longe da linha da frente, para Dresden. Voltaria a Cracóvia, agora cidade de uma Polônia renascida das cinzas e novamente independente a partir de 1918. Mas a história não deixou de voltar a assombrar "A Dama e o Arminho", cobiçada por Hitler para o museu que pretendia construir na sua Linz natal. Depois de decorar os aposentos do governador nazista de Cracóvia, acabou na Alemanha, com a Polônia conseguindo recuperá-lo em 1945. Mas a propriedade pelos Czartoryski só seria reconhecida em 1991, já depois do fim do regime comunista.

Alojada no castelo vizinho da catedral onde repousam os monarcas do país, e logo (!) numa sala que foi aposento de uma Sforza rainha polaca, "A Dama e o Arminho" teve no ano passado 160 705 pessoas a comprar o bilhete para vê-la", segundo Sabina Potaczek, chefe de comunicação do Castelo de Wawel, o qual deve o nome à colina onde foi erguido, com vista para o Vístula, o rio que atravessa a Polônia e deságua no Báltico. Como o castelo recebeu milhão e meio de visitantes, isto significa que só um em dez por cento respondeu ao apelo de Da Vinci, se bem que, alerta Potaczek, "existe limite no número diário de visitas", pelo que no verão não só pode ser difícil ter uns minutos a sós com a pintura como nem ser possível vê-la.

Antes de se instalar no Wawel, "A Dama e o Arminho" foi exibida em Londres, Madrid e Berlim. A passagem pela Alemanha foi a mais polêmica, com setores da sociedade polaca a relembrar como os nazistas tinham tentado ficar com o quadro. E na verdade, desses tempos da Segunda Guerra Mundial, "faltou o Retrato de um Jovem, de Rafael", nota a historiadora de arte Pylartz. Também pertencia à coleção da família Czartoryski. Curiosamente, no filme de 2014, parece ser incendiado pelos alemães. Mas Frank Stokes, o militar americano encarnado por Clooney, surge quase no final, depois de mostrar a imagem de "A Dama e o Arminho", a exibir ao presidente Truman a foto da pintura de Rafael e a pedir autorização para procurá-la. Onde estará? "Ninguém sabe", lamenta Pytlarz.

Artista: Leonardo da Vinci
Dimensões: 54 cm x 39 cm
Material: Tinta a óleo
Período: Alta Renascença
Criação: 1489–1490
Localização: Castelo Real de Wawel, Museu Czartoryski

Texto: Leonídio Paulo Ferreira
Jornal Diário de Notícias, Lisboa

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

A Polônia do Partido Direito e Justiça

prof. Jan Zielonka

Para o acadêmico polaco Jan Zielonka, professor de Políticas Europeias em Oxford, o PiS de hoje é diferente daquele dos gêmeos Kaczyński, muito devido a líderes como Duda e Szydło.
A informação é do jornalista português Leonídio Paulo Ferreira, que entrevistou o professor para o jornal Diário de Notícias, de Lisboa.


A entrevista:

LPF - Como descreve a ideologia do Partido Direito e Justiça (PiS)? Faz sentido descrevê-lo como nacionalista, ou conservador, ou ainda populista? Ou na realidade é impossível descrevê-lo e estas etiquetas não se aplicam à força política que atualmente governa a Polônia?

JZ - Esses termos são demasiado vagos e imprecisos. Sobretudo não refletem a situação na Polônia. O PiS chama a si mesmo conservador e patriótico. Na realidade, é mais conservador no que diz respeitos aos assuntos morais e muito mais "progressista" no que se relaciona com os temas socioeconômicos.

LPF - O PiS de hoje é muito diferente do PiS que há uma década ganhou o governo e a presidência?

JZ - Sim, é um partido diferente. Há uma década, o PiS era liderado pelos gêmeos Kaczyński e agora é encabeçado apenas pelo gêmeo sobrevivente Jarosław Kaczyński e tem, agora, dois líderes mais jovens e provavelmente muito mais moderados: Andrzej Duda e Beata Szydło. Jarosław Kaczyński até pode ter o partido ainda debaixo do seu controle, mas Duda e Szydło têm os mandatos eleitorais e conseguem também resultados bem melhores nas pesquisas de opinião. Além disso, muitos dos líderes tradicionais do PiS morreram no acidente de avião em Smoleńsk, em 2010, que matou o presidente Lech Kaczyński, e foram substituídos por um novo grupo de políticos de qualidade e características mistas e incertas.

LPF - Qual é a força do sentimento pró-União Europeia entre os polacos passados quase 12 anos da sua adesão?

JZ - As pesquisas mostram sempre um forte apoio à União Europeia, mas não em questões importantes como a adesão ao euro, a moeda única ou o sistema de imigração.

LPF - O êxito da economia polaca nos últimos anos, com o país passando ao largo da crise financeira, tem servido para construir uma sociedade mais justa?

JZ - Deve-se sublinhar que as desigualdades na Polônia são menos pronunciadas do que, por exemplo, a dos países da Europa do Sul. Mas não deixam de ser importantes. E na realidade, uma das várias razões por trás do sucesso eleitoral do PiS tem que ver com a sua promessa de justiça social.

LPF - Têm sido feitas comparações entre a Polônia do PiS e a Hungria de Viktor Orban. Concorda? Vê algum padrão?

JZ - Kaczyński e Orban encontraram-se recentemente, mas os dois nunca foram amigos próximos nestes anos recentes, mais não seja por causa dos estreitos laços entre o líder húngaro e a Rússia de Vladimir Putin. Os políticos do PiS estudaram e ocasionalmente admiraram as políticas domésticas do Fidesz, mas a Polônia é um país muito diferente da Hungria. A Polônia, ao contrário da Hungria, não enfrentou uma crise econômica na última década. Em vez disso, a economia da Polônia cresceu mais de 20%. Também não há um partido fascista no Parlamento polaco semelhante ao húngaro Jobbik e os políticos polacos não fazem reivindicações territoriais como alguns dos seus colegas húngaros. Por último, mas não menos importante, a Polônia, ao contrário da Hungria, possui uma vibrante sociedade civil que tem exigido dos seus governantes respeito pelos princípios básicos de justiça e democracia.

LPF - Refere-se às recentes manifestações contra o PiS?

JZ - Sim, a recente vaga de protestos de rua um pouco por toda a Polônia comprova a força da sociedade civil.

Jan Zielonka
Nasceu em Czarnowąsy, na Polônia em 23 de fevereiro de 1955. Estudou Direito na Universidade de Wrocław, e obteve seu doutorado em Ciência Política da Universidade de Varsóvia. Como acadêmico, ele ocupou cargos na Universidade de Leiden, na Holanda, no Instituto Universitário Europeu, em Florença, Itália, no Instituto Holandês para a Estudos Avançados em Ciências Humanas e Sociais, e na universidade de Oxford.
Ele tem publicado muitas textos no campo da política comparada, principalmente na área Soviética e Estudos do Leste Europeu, a história da filosofia política, relações internacionais, direitos humano e segurança.
É professor de Política Europeia, na Universidade de Oxford, desde janeiro de 2004. E também na Ralf Dahrendorf Fellow, na faculdade St. Antony em Oxford.
Zielonka em suas publicações mais recentes têm detalhado sobre a natureza mutável da União Europeia, principalmente na ampliação da União em direção ao Leste, desde 2004, e as suas ramificações para a Europa no todo.
Zielonka em seus primeiros trabalhos reflete interesse particular na convulsão na Europa Oriental durante a Década de 1990, incluindo a investigação significativa na sua terra natal, a Polônia. Como um colega no Instituto de Estudos Avançados em Ciências Humanas e Sociais, na Holanda, ele fez estudos comparativos sobre a Polônia concentrando-se em três questões principais: a evolução do sistema político na Polônia, resistência social não violenta e consequências internacionais da crise na Polônia. A partir de suas pesquisas, Zielonka publicou o livro "1989 - Ideias Políticas na Polônia Contemporânea".


Fonte: Jornal Diário de Notícias, Lisboa.

P.S. texto adaptado para o português do Brasil.