quinta-feira, 9 de julho de 2020

A ambicionada cidadania polaca

A Karta Polaka, ou Cartão Polaco está em vigor desde 14 de julho de 2019, quando foi publicado o decreto sancionado pelo presidente da República da LEI de 16 de maio de 2019, sobre a alteração da lei relativa ao Cartão Polaco, Artigo 1, na Lei de 7 de Setembro de 2007 sobre o Cartão Polaco (Diário das Leis de 2018, números 1272 e 1669).

Antes disso, ninguém escreveu mais se empenhou no Brasil para a existência da Karta Polaka também para os descendentes brasileiros de imigrantes polacos que... Ulisses Iarochinski.

O empenho de Iarochinski para a existência de um documento que reconhecesse a descendência dos brasileiros de origem polaca começaram quando teve sua solicitação de cidadania, negada pelo departamento de emigração da Voivodia da Mazóvia, em 2005, depois de três anos de espera por um resultado positivo.

Indignado, Iarochinski foi pessoalmente a Varsóvia conversar com a diretora do Departamento que analisava os pedidos do mundo inteiro. Ouviu dela, que a confirmação não era possível, porque o avô Bolesław Jarosiński tinha saído do território da Polônia, ocupado pelo Reino da Rússia, antes de 1918.

Iarochinski argumentou que esta alegação não estava na Lei de Concessão de Cidadania Polaca. A diretora concordou, mas afirmou que era uma questão de interpretação da lei.

Se o sr. Bolesław não possuía nenhum documento que provasse sua cidadania polaca, o descendente não poderia receber o diploma de cidadão, pois o que o avô possuía era, provavelmente, a cidadania  e documentos do invasor russo. Portanto, a cidadania polaca não era possível, embora ele tivesse nome, sobrenome, falasse polaco, comesse pierogi, fosse loiro, tivesse olhos azuis e tivesse nascido na Vila Helenów, Cidade de Wojcieszków, sub-província de Łuków, província de Siedlce, fosse polaco de origem, ele não tinha documentos, nem cidadania, porque a Polônia não existia em 1905, ano de nascimento do sr. Bolesław 

Passados cerca de dois anos, Iarochinski conseguiu obter o visto permanente de residência e trabalho na Polônia. Não era cidadania, mas já podia ter pelo menos uma carteira de identidade polaca, o chamado "Stałego Pobytu" (Visto permanente).

Um ano mais tarde, de posse do "Stałego", deu entrada em nova solicitação de cidadania, desta vez, através do departamento de imigração da Voivodia da Małopolska (Pequena Polônia).

Carteira de Identidade da Polônia

Foi exigida a certidão de nascimento brasileira traduzia em juramentado para o idioma polaco, o que permitiu a expedição pelo Cartório do Registro Cívil da cidade de Cracóvia, da certidão polaca necessária para o processo de obtenção da cidadania polaca.

Certidão de Nascimento Polaca

Mais uma vez, a demora numa confirmação, fez Iarochinski buscar o  apoio de um deputado do mesmo partido do Presidente e do Primeiro-Ministro da Polônia, o PiS - Partido do Direito e Justiça, Deputado Adam Abramowic.

Abramowic foi decisivo, em duas semanas a sonhada cidadania polaca para Ulisses iarochinski foi concedida.

Passaporte polaco
O deputado, sensível, aos reclamos de Iarochinski, chegou a ter conversações no Departamento da Voivodia da Mazóvia e a encaminhar um projeto no Sejm (Câmara dos Deputados) para que fosse revista a interpretação da Lei por parte dos funcionários do governo polaco encarregados de analisar os pedidos de descendentes de emigrantes que saíram do território ocupado da Polônia antes de 1918.

As ações do deputado não chegaram a dar resultados. Mas sua preocupação com a causa dos descendentes continuou. Há pouco mais de dois atrás, o agora diretor da Associação Nacional dos Pequenos e Médios Empresários da Polônia começou uma campanha para tornar a Karta Polaca sancionada em 2007 para polacos do Leste Europeu, estendida para os descendentes do resto do mundo.

Abramowic buscou apoio da Associação Nacional dos Empresários e Empregadores da Polônia e do jornalista brasileiro-polaco Ulisses Iarochinski, contemplado com a cidadania polaca em 2008.

As gestões acabaram no lançamento, na sede nacional da Associação Nacional do Empresários da campanha "Vamos trazer os brasileiros" com a presença especial de Iarochinski, via skype no telão, direto de Curitiba.



O passo mais importante tinha sido dado e  com isto a Karta Polaka / Cartão Polaco, com o apoio de todos os empresários da Polônia logo se tornou realidade. Foi aprovada no Sejm, no Senado e sancionada pelo Presidente da República.

E o primeiro brasileiro a receber a Karta Polaka foi o amigo de Iarochinski e ex-colega de doutorado na Universidade Iaguielônica de Cracóvia, Lourival Araújo Filho, em fevereiro de 2020.

Primeiro Cartão Polaco concedida para um brasileiro (frente e verso)

A luta pelo reconhecimento da cidadania dos brasileiros descendentes de imigrantes polacos que chegaram ao Brasil antes de 1918, continua.

Luta que, ao que parece, nunca sensibilizou as associações que se dizem polono-brasileiras. Mas que nunca faltou a Iarochinski, que através deste blog criado em julho de 2005 tem publicado tudo sobre cidadania e Cartão Polaco. Acompanhe nos links abaixo alguns do textos publicados, inclusive com a tradução da Lei de Concessão do Cartão Polaco para brasileiros e outros estrangeiros de origem polaca.








sábado, 27 de junho de 2020

Túmulo do século XVI revela esqueletos de mais de 100 crianças com moedas na boca.

Local do antigo cemitério
Um total de 115 corpos foi descoberto por arqueólogos depois que os trabalhadores da construção em um trecho da auto-estrada S19, que faz parte do projeto Via Carpatia de 700 km de extensão que ligará as voivodias bálticas ao sudeste da Europa, passando pelas regiões da Podláquia, Mazóvia, Lubelsca e Subcarpata descobriram ossos humanos durante o trabalho em Jożowe, perto da cidade de Nisko, na voivodia Subcarpata.

A Diretoria Geral de Estradas e Auto-estradas Nacionais confirmou a descoberta, dizendo que cerca de “70 ou 80 por cento de todos os corpos são de crianças” e que foram encontrados em terreno arenoso em um eixo leste-oeste com suas cabeças voltadas para oeste.

Foto: Arkadia Firma Archeologiczna

Quando os arqueólogos olharam mais de perto os corpos, ficaram surpresos ao descobrir que alguns deles tinham moedas colocadas na boca.

Katarzyna Oleszek, arqueóloga que trabalha no local, disse: “Certamente é um sinal de suas crenças. As moedas são chamadas de ídolos dos mortos ou de Caronte. É uma antiga tradição pré-cristã. Mas é cultivada há muito tempo, mesmo no final do século XIX, e era praticada pelo papa Pio IX. ”

Antropóloga Katarzyna Oleszek
O obol de Charon é um termo para uma moeda colocada na boca de uma pessoa morta antes do enterro. A tradição remonta à Grécia e Roma antigas. A moeda era um pagamento ou suborno para Charon, o barqueiro que transportava almas através do rio que dividia o mundo dos vivos do mundo dos mortos.

Os corpos encontrados em Jeżowe não datam dessa época, no entanto. As moedas encontradas foram cunhadas no período de Sigismundo III Vasa, que foi o rei da Polônia entre 1587 e 1632. Também foram encontradas moedas conhecidas como boratynki, que datam do reinado de João II Casimiro, entre 1648 e 1668.

Moedas do reinado de João II Casimiro
A descoberta confirma as teorias dos arqueólogos e as especulações dos moradores de que crianças foram enterradas em um cemitério em uma área conhecida como Montanha da Igreja.

Além das moedas, nenhum outro item foi encontrado nas sepulturas. Não havia botões, pregos ou cabos de caixão, o que Oleszek diz sugere que a comunidade que as enterrou era muito pobre.

A área agora está arborizada e não há marcas salientes. Apenas uma pequena capela oferece sinal da antiga igreja.



Oleszek disse: “Sabemos de fontes que, durante uma visita dos bispos de Cracóvia aqui em Jeżowe em 1604, já havia uma grande igreja paroquial, com um jardim, uma reitoria, uma escola e um cemitério. Provavelmente já existia desde 1590. ”

Foto: Arkadia Firma Archeologiczna)
Os corpos foram encontrados em solo arenoso e dispostos em um eixo leste-oeste, todos com cabeças para o oeste nas costas, com as mãos nas laterais. Os túmulos são provavelmente aqueles da seção infantil do cemitério.

Uma sepultura contém os corpos de quatro crianças. Eles estavam em formação fechada, mas não um em cima do outro. Todas as suas cabeças estão descansando para um lado na mesma direção. O quarto esqueleto, na extremidade do grupo, é muito mais jovem que os outros.

“O arranjo dos esqueletos, o estado de sua preservação, mostra que a descoberta é um cemitério da igreja católica, que certamente foi resolvido. Nenhum túmulo foi danificado por outro. Os habitantes sabiam exatamente onde estavam os túmulos e cuidaram deles ”, disse Oleszek.

Foto: Arkadia Firma Archeologiczna)
Os restos dos corpos serão exumados e, depois de estudados por antropólogos, serão repassados ​​para a igreja paroquial local e enterrados novamente no cemitério em Jeżów Pikuła - Podgórze onde se encontravam.

A maioria dos corpos foi enterrada em sepulturas individuais e a ordem e a planificação original das sepulturas serão preservados. O grupo de quatro crianças será novamente enterrado junto.

Foto: Arkadia Firma Archeologiczna

A pequena Jeżowe, pertence à cidade de Nisko e a 45 km da capital da voivodia, Rzeszów. Tem uma população de 5.200 habitantes.

Foto de Domínio Público / Jeżowe visto do alto



Fontes: The First News, Prefeitura de Jeżowe, Socientifica, Aventuras na História

Tradução e adaptação para o português: Ulisses Iarochinski

Polônia escolhe presidente da república amanhã

Meu orientador no mestrado em Ciências da Cultura Internacional pela Universidade Iaguielônica de Cracóvia, Professor doutor habilitado também é um poeta.

Prof. dr hab. Tadeusz Paleczny
Ontem, ele publicou em seu facebook vários epigramas (como ele os chama) sobre as eleições presidenciais na Polônia deste domingo. Sua posição política é a mesma que a minha em relação às causas polacas.

Traduzi e este é o texto e epigramas do Prof. Dr Hab. Tadeusz Paleczny:

"A partir de segunda-feira, a Polônia não será mais a mesma. Será melhor para o pior. E metade reivindica o pior para a parte melhor e patriótica. isso, no entanto, só pode ocorrer após o segundo turno.

É impossível colocar em palavras a bagunça e o lixo que os governos do PiS (Partido do Direito e Justiça) nos levaram. Contudo, estou constantemente enfrentando esta tarefa.

Hoje, pela última vez, estou postando meus epigramas. Um pouco mais do que o habitual, mas é uma tentativa de síntese. Quem concorda comigo, compartilhe-os com outras pessoas. Não é com isso que a Polônia mudará. A mudança ocorrerá, à medida que avançarmos, votarmos e enviarmos essa turma para onde ela pertence: para o Leste."

Tem que ser assim?
O que haveria lá no mundo da peste ou da guerra
Se fosse a Polônia leiteira

Algo de Wyspiański
O que está acontecendo na Polônia é bem parecido
Dança empalhada

Assimetria
Quando os piores avós
Incluem melhores empregos

Reformadores
Mediocridade
E seus pavios jurídicos

Pergunta
Quanta massa ainda pode ser pressionada
Massa escura eleitoral?

Causa?
A Polônia abusada
Por causa da dor no joelho de um homem

No campo governante
Depois de se levantar de joelhos
Mais e mais há sinais de ansiedade

Pragas Nacionais
Destino culpado pelo mal duas vezes
Do governo do PiS à praga

A maioria dos deputados do PiS na Câmara
Esses corpos
Também são uma pandemia

Velha verdade
Nada além ameaça mais nossa liberdade
Que uma aliança do trono e do altar


P.S. Tudo indica, pelas projeções dos diferentes institutos de pesquisa que as eleições presidenciais, deste domingo, devem levar a um segundo turno.

Embora o atual do presidente da república Andrzej Duda esteja à frente nas pesquisas neste primeiro turno, o candidato da coalização oposicionista prefeito Municipal de Varsóvia, Rafał Trzaskowski, vencerá o segundo turno acabando com o desastroso sob todos aspectos governo de estrema-direita do PiS - Partido do Direito e Justiça.

Duda e Trzaskowski

sexta-feira, 12 de junho de 2020

Arcebispo de Cracóvia fez procissão com 1500 fiéis

Procissão pela ulica Grodzka
O arcebispo metropolitano de Cracóvia, Marek Jędraszewski, conseguiu reunir 1.500 pessoas sem máscaras e sem proteção alguma na procissão que promoveu da Catedral do Castelo de Wawel até a Basílica Santa Maria (Mariacka) na praça central da cidade - o Rynek Główny.

Jędraszewski há cinco dias do feriado de Corpus Christi apelou aos fiéis para participarem das procissões "em grande número".

Enquanto os arcebispos de outras grandes cidades da Polônia pediram aos fiéis católicos para evitar aglomerações e ficarem em casa.

Fiéis no interior da catedral, ao lado de sarcófagos de reis e santos da Polônia - sem máscaras
Embora não seja possível organizar reuniões de mais de 150 pessoas de acordo com os regulamentos sanitários atuais, o governo de utra-direita não impôs as mesmas restrições quanto ao número de fiéis na Igreja Católica. Apoiando a iniciativa do cardeal de Cracóvia.

O presidente da Conferência Episcopal Polaca, Arcebispo Stanisław Gądecki, apelou para uma "aplicação consistente" das regras do regime sanitário e a envidar todos os esforços "para sentir a responsabilidade de nós mesmos e de outros em celebrar com dignidade e segurança os segredos sagrados de nossa fé".

O próprio arcebispo Gądecki ordenou que não acontecessem procissões de rua na arquidiocese de Poznań.

Da mesma forma, na diocese de Varsóvia-Praga, cidade de Płock ou na arquidiocese de Białystok não aconteceram procissões de rua.

Mas em Cracóvia, o substituto do secretário do Papa João Paulo II, Stanisław Dziwisz e do próprio Karol Wojtyła, na cúria metropolitana ,contrariou seus pares. Além da missa, no interior da Catedral de Wawel, que lotou, inclusive com centenas de pessoas nos pátios internos do Wawel, Marek Jędraszewski desfilou com todos os paramentos pela ruas Canoniczna e Grodzka até o Rynek.

Fiéis na porta e no pátio em frente a Catedral - também sem máscaras
Conhecido por suas declarações controversas (especialmente aquelas sobre a "praga do arco-íris"), o irresponsável cardeal permitiu procissões eucarísticas tradicionais. "Encorajo fortemente os fiéis a participarem dos preparativos para a procissão e a participarem delas em grande número", apelou.

Cardeal Arcebispo metropolitano de Cracóvia Marek Jędraszewski 
As paróquias receberam um telefonema para enviar suas delegações ao Wawel.

O arcebispo Jędraszewski disse orar por "fé inequívoca e firme".

"Rejeitar tudo o que o mundo pode nos dizer. Oramos por essa fé por nós mesmos e pelos outros. Ao mesmo tempo, pelo poder que nos fará louvar ao Senhor que nos amou até o fim" , disse o arcebispo Jędraszewski. Havia também referências à situação atual e ideologias "perigosas".

"Do lado de fora, do exterior do nosso país, existem ameaças àquelas pessoas e instituições que, verdadeiramente preocupadas com a educação adequada de crianças e jovens, não concordam com ideologias que ofendem a dignidade humana, criadas à imagem de Deus e da semelhança de Deus como mulher e homem", disse o arcebispo Jędraszewski.

Na sua opinião, "essas ideologias (...) encontram eco e multiplicação também em nossa pátria".

"Dói-nos ainda mais porque eles se colocam em clara oposição à tradição cristã de mais de 1050 anos de nossa nação. No entanto, não queremos desistir - ele declarou. - Tratamos as dificuldades e os desafios contemporâneos como um teste de nossa fé e nossa lealdade a Deus", disse ele.

Apesar da epidemia, calcula-se que pelo menos 1,5 mil pessoas atenderam ao chamado do arcebispo. A procissão pela antiga "estrada real" terminou no altar em frente à igreja de Santa Maria.

Fiéis no pátio do Castelo Real de Wawel
PORQUE NÃO SE TORNOU CARDEAL

Desde o início do pontificado do Papa Francisco, uma pequena revolução vem ocorrendo na Igreja.
As reformas do papa podem ser vistas, entre outras na mudança do funcionamento dos escritórios do Vaticano. Os cargos anteriormente ocupados exclusivamente pelo clero são cada vez mais ocupados por leigos.

No Vaticano, o medo de mulheres em cargos públicos diminui. A ruptura com a tradição estabelecida também é vista nas indicações cardinais.

Jędraszewski como cardeal é, portanto, insustentável. Depois de revisar a atual composição do Colégio de Cardeais, a resposta vem a si mesma: a Polônia tem um número suficiente de eleitores - em comparação com outros países - ou seja, cardeais com menos de 80 anos de idade e que podem participar da eleição do papa. E deve-se enfatizar que desde 1978, os polacos estão entre os cardeais da Europa, um dos grupos nacionais mais fortes que têm esse direito.

Mas existe uma tradição que, no posto mais alto da arquidiocese de Cracóvia, uma das mais importantes e mais devotas do país, há sempre um cardeal. Parece que Francisco terminou com essa tradição.

Por quê?

No Vaticano, comenta-se que o papa atual promove hierarquias com visões próximas a ele. Aqueles que estigmatizam abertamente o nacionalismo e o populismo apóiam o diálogo inter-religioso.

Aqueles que são a favor do fortalecimento da União Europeia e se esforçam para abrir o Velho Continente aos migrantes. Você pode descobrir lendo os currículos dos novos cardeais. Entre os cardeais recém-nomeados está, por exemplo, o arcebispo Jean-Claude Hollerich, que chefia a pequena arquidiocese de Luxemburgo.

No entanto, ele ficou famoso como presidente do Comitê de Episcopado da Comunidade Europeia. Ele é a favor do fortalecimento da UE e diz abertamente que a Europa deve estar aberta aos migrantes.

"Eu sei que o Papa está cheio de reconhecimento pela União Europeia como um fator de paz e estabilidade no mundo. É por isso que tudo deve ser feito para que a União Europeia tenha sucesso. Isso não significa que não haja questões políticas sobre as quais haja diferenças entre a União e a Igreja '', disse o arcebispo Hollerich à Rádio Vaticano.

E o Papa Francisco apóia as recomendações da OMS - Organização Mundial da Saúde, que o arcebispo de Cracóvia acaba de contrariar.

Texto: Ulisses Iarochinski
com agências, rádios e jornais da Polônia

quinta-feira, 11 de junho de 2020

Eleições na Polônia marcadas para 28 de junho

Eleições presidenciais sem precedentes em tempos extraordinários.

A votação devia ter acontecido em maio, mas foi adiada para este 28 de junho por causa da emergência sanitária do coronavírus na Polônia As pesquisas de opinião apontam que os opositores do PO - Partido da Plataforma Cívica se beneficiaram do adiamento, mesmo depois de inesperadamente terem mudado de candidato no meio da campanha.

O candidato Rafał Trzaskowski é presidente da Câmara de Varsóvia. "Será uma presidência forte e independente se vencermos. E ao ver esta mobilização, acho que ganhamos!", declarou no meio de uma ação de campanha.

Foto - Jakub Kaminski
De forma a conseguir colocar o nome de Trzaskowski no boletim de voto à última da hora, o Plataforma Cívica teve de recolher 100 mil assinaturas no espaço de uma semana.

Outros partidos têm algumas preocupações. "Esperamos que as eleições decorram de uma forma democrática e universal, que todos os que querem votar tenham essa oportunidade, especialmente os expatriados. Em maio estavam impedidos de o fazer", explicou Jerzy Meysztowicz, do Partido Moderno.

Sobre os resultados, o analista Bartosz Brzyski, do Clube Jaguelônico diz que "é difícil prever o resultado porque o presidente em exercício parece estar em queda e o principal opositor, Rafał Trzaskowski, que se encontra no pico de uma onda de entusiasmo, ao juntar-se à corrida presidencial no último minuto, continua em ascensão."

Os estudos de opinião mostram quem são os favoritos na primeira volta.

Andrej Duda: 43%
Rafal Trzaskowski: 26%
Szymon Holownia: 12%

Szymon Hołownia / Foto: Marcin Obara

Um segundo turno está agendado para meados de julho. É estimada uma grande afluência de votantes, embora o voto não seja obrigatório na Polônia.

O presidente em exercício, Andrzej Duda, entretanto, ainda é o principal favorito.

Foto: Grazyna Marks / Agencja Gazeta/td>
"Estou na corrida porque não quero que nos façam retroceder 5 anos. Estou na corrida para impedir quem quer que seja que pretenda barrar o desenvolvimento e que provoque conflitos e discussões," declarou Duda, num comício.

De direita, contra o aborto, eutanásia ou casamento homossexual, Władysław Kosiniak-Kamysz concorre pelo Partido Popular Polaco. "A questão é: ainda queremos esta guerra de polacos contra polacos? Aqueles dois lados apenas afinam os machados de guerra, de campanha em campanha? Um dia dizem «vamos todos unidos», e em seguida declaram: «vamos massacrar aqueles lobos!» O cenário é esse e a questão é saber se os polacos querem continuar a ter uma Polônia assim", argumenta.

Foto - Beata Zawrzel

DUDA CONTRA OS LGBTs

O presidente, Andrzej Duda, que caiu nas recentes pesquisas, por outro lado aumentou a retórica contra a população LGBT da Polônia. Espera angariar maior apoio da parcela conservadora da população. Pesquisas eleitorais mostram um resultado apertado num segundo turno entre Duda e Trzaskowski.

Nesta quarta-feira, 10, o presidente Duda disse que casamento entre pessoas do mesmo sexo ou adoção de crianças por casais LGBTs (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros) fazem parte de uma “ideologia estrangeira” importada.

A Polônia é um país majoritariamente católico, cerca de 97% da população se declara católica apostólica romana e seguidora do Santo Papa João Paulo II.

O partido ultra-direitista ao qual Duda é filiado, Direito e Justiça (PiS), categoriza a população LGBT como um bando que ataca a família tradicional.

“O pacote de leis que pretende aprovar o candidato da situação é um documento radical que divide a sociedade polaca, e que inclui normas remanescentes de um dos períodos mais brutais da história polaca e europeia”, disse Robert Biedron, o candidato à Presidência por um partido esquerda e o político abertamente gay mais conhecido no país, à agência de notícias estatal PAP.

Foto - Piotr Molecki
Em 2019, um terço das cidades do país se declarou como zonas livres de LGBTs” após Trzaskowski ter se colocado publicamente à favor do direito das minorias.

Leszek Kablak, repórter da TV de notícias europeia Euronews, afirma haver "um sentimento de que esta eleição vai ser diferente por causa da pandemia de coronavirus. Mas o resultado deverá ser o mesmo, ou seja, a continuidade dos 15 anos de alternância do poder entre as principais forças políticas - conservadores e liberais".

Fontes: Euronews, AFP, Reuters e PAP

terça-feira, 9 de junho de 2020

Carroções polacos no Sul do Brasil

Foto: Filmakoteka Narodowa Polski
O carroção polaco visto no filme de 1933, "POLACOS NAS FLORESTAS DO BRASIL", recuperado pela FINA-Filmakoteka Narodowa da Polônia é uma contribuição da etnia polaca ao Brasil.

Antes dos polacos chegarem no Espírito Santo, Rio Grande do Sul, São Paulo, Paraná e Santa Catarina, o meio de transporte usado por portugueses, alemães e outras etnias...era o carro de boi. O polaco da Colônia Murici, em São José dos Pinhais, construiu rodas com raios (como a das bicicletas) e usou tábuas para fazer a carroça.

Os carros de boi eram de madeira maciça e as rodas eram rodelas do próprio tronco...tudo muito pesado. Para puxar só mesmo touros. Mas o polaco com um carroção leve pode trocar os bois pesados e lentos, por cavalos mais leves e ágeis.

Carroções polacos no Sul do Paraná. Foto: Arquivo Ulisses Iarochinski

O Visconde de Taunay viajando pelo interior do Paraná notou carroções tão diferentes do resto do país. Segundo o nobre brasileiro este transporte típico era o "único meio de locomoção dos Campos Gerais" e que "esses imensos carroções" faziam "todo o movimento comercial do interior para Curitiba".

"A existência, frequente e numerosa dessa carroça no Sul do Brasil, constituindo uma das suas notas mais características, leva o observador menos avisado a supor que a mesma seja originária dessa região. Ela, porém, veio de outras terras, longínquas e bem diferentes, trazida pelo estrangeiro imigrante. Seu país de origem eram as estepes europeias da Polônia ocupada pelos russos, trouxeram-na os colonos polacos e rutenos, no último quartel do século XIX". (Revista Geografia. 1942, p. 161)

Para aumentar a carga transportada, o polaco da Araucária colocou toldo de pano e Curitiba começou a ver nas suas estradas e ruas os carroções polacos.

O toldo só era colocado quando a mercadoria exigia ser abrigada. A parte da frente, às vezes se prolongava até a altura dos primeiros animais e era chamada de "tapão" e servia para proteger da chuva, não só a caga, mas principalmente o condutor.

E assim, o polaco podia fazer 14 viagens por dia da colônia Tomás Coelho até as fábricas da Mate Leão e Mate Real (dos Fontanas) nas proximidades da Vila Capanema (perto da Rodoferroviária) com o que tinha colhido de erva-mate nos seus lotes coloniais.

Ilustração: Revista Brasileira de Geografia, v. 4, n. 1. jan/mar. 1942
O caboclo, vizinho do polaco, que fazia uma viagem por dia, com duas cangas no lombo de um jumento...ficou indignado!

"Aquela polacada está tirando o nosso ganha pão... Estão vendendo mais erva-mate do que nóis".

E então os caboclos da Araucária começaram a raptar os filhos dos imigrantes polacos, para segundo eles, forçar os polacos a parar de transportar erva com aqueles carroções "dos infernos".

P.S. Mas isso é outra história....até encontrar provas primárias documentais a respeito.

segunda-feira, 1 de junho de 2020

Um szlachta polaco em Jacarezinho

Andrzej Lubomirski em trajes típicos dos Sarmatas polacos
Foto: Quadro do acervo do Museu de Przeworsk
Um dos homens mais importantes da Polônia no início do século passado morreu em Jacarezinho, aos 91 anos, e está sepultado no cemitério da cidade.

Cidade de Jacarezinho - Paraná
O ano era 1953. Numa grande casa de esquina, no centro de Jacarezinho (390 km de Curitiba), um homem de 91 anos morria longe de sua terra natal. O atestado de óbito assinado pelo médico João Rodrigues Caldas indica que ele morreu de causas naturais; em decorrência da idade avançada. O corpo foi sepultado no dia seguinte, no cemitério da cidade.

Quase 70 anos depois, um jazigo chama a atenção da professora Terezinha Franco durante uma visita ao cemitério. "Eu achei estranho porque no túmulo estava escrito 'Prince André'. E 'prince' é 'príncipe' em inglês. Além disso, eu vi que ele não era daqui. Era polaco. E isso me deixou ainda mais curiosa. Eu queria saber quem era aquele homem e como ele veio parar em Jacarezinho", conta.

O homem de 91 anos, morto em 1953, cujo túmulo chamou a atenção da professora, era Andrzej Lubomirski. A palavra "prince" escrita na lápide indica a origem nobre desse polaco que nasceu em Cracóvia, no ano de 1862. Ele não só era um príncipe em seu país, como foi um dos homens mais importantes da Polônia no começo do século passado.

Nascido em uma tradicional família principesca da Polônia, Andrzej era o filho mais velho do príncipe Jerzy Henryk Lubomirski; dono das terras de Przerworsk, uma cidade no sudeste da Polônia. Seu irmão mais novo, o príncipe Kazimierz Lubomirski, foi o primeiro embaixador da Polônia nos Estados Unidos depois da Primeira Guerra Mundial; e presidente do Comitê Olímpico Polaco entre 1921 e 1929.

Assim que assumiu a condição de chefe do território de Przeworsk, em 1886, o príncipe Andrzej deu início a um processo de industrialização até então nunca visto na região. "A propriedade do Príncipe Lubomirski era formada por 15 fazendas, que davam 4.440 hectares, e era considerada uma das mais desenvolvidas da Polônia antes de 1914. Ele abriu em Przeworsk a maior fábrica de açúcar da região. Além disso, dirigia destilarias e refinarias em outras fazendas, fábrica de licores, laticínios, alvenarias, oficinas mecânicas, carpintaria, modernos moinhos a vapor e serrarias.", explica Małgorzata Wołoszyn, curadora do Museu de Przeworsk e autora de um livro sobre a história da família Lubomirski na cidade.

"Para uma região superpovoada que sofria de fome por não ter terras produtivas, o surgimento dessas fábricas foi extremamente importante. Ele deu novas oportunidades de emprego e de combate à pobreza e ao desemprego. É com justiça que ele é chamado de patrono da indústria nacional", complementa.

Usina de açúcar de Przeworsk, em 1925. Construída pelo príncipe Lubomirski, era considerada a maior da região - Foto: Zbigniew Franczukowski
Formado em Direito pela Universidade Karolina de Praga, em 1885, Andrzej não foi apenas um empreendedor. Antes mesmo da Polônia se tornar independente, ele foi Membro do Conselho Imperial Austríaco. A Galícia, região da Polônia onde estava localizada a cidade de Przeworsk, era ocupação austríaca. A nação polaca só se tornaria independente em 1918.

Em 1919, já na Segunda República Polaca, o príncipe Andrzej foi escolhido para representar a Polônia na Conferência de Paz, em Paris, como especialista em economia. Anos depois ele ocupou o cargo de deputado no parlamento polaco.

Lubomirski também contribuiu para a preservação da cultura polaca. Entre 1885 e 1943, ele foi o curador literário do Instituto Nacional de Ossolineum, um dos maiores e mais antigos centros de pesquisas científicas da Polônia; formado por uma biblioteca, uma editora, e o Museu Lubomirski.

Ele também foi membro do conselho de administração de um orfanato para meninos em Cracóvia, presidente da Sociedade dos Músicos em Lwów, e vice-presidente do Conselho da União Central da Indústria, Mineração, Comércio e Finanças da Polônia.

Em 1928 o príncipe Andrzej foi condecorado com a Ordem da Polonia Restituta (a maior honraria do país) em reconhecimento pelos trabalhos prestados em prol da educação, ciência, esporte, cultura, arte, defesa nacional e boas relações internacionais.

Instituto Ossolineum, na Polônia. Depois da Segunda Guerra Mundial, a sede foi transferida de Lwów para Wrocław. Andrzej Lubomirski foi o curador do Instituto por 58 anos.
O Terror da Guerra

Em setembro de 1939, o príncipe Andrzej, então com 77 anos, viu a Polônia ser mais uma vez invadida por uma potência estrangeira, voltavam os alemães, agora comandados pelos nazistas.

O ato foi considerado o estopim da 2ª Guerra Mundial. Dias depois, os russos, agora soviéticos, também voltaram a invadir o país.

As antigas famílias magnatas polacas tiveram suas propriedades confiscadas. As universidades, bibliotecas e igrejas foram fechadas, e o regime de terror se instalou no país que tinha reconquistado a independência havia apenas 21 anos.

Nesse período, Andrzej Lubomirski foi preso duas vezes. Uma, pelos soviéticos, em Lwów, e outra pelos alemães em Przeworsk. A historiadora polaca Bożena Figiela afirma que pouco se sabe sobre as condições em que ele permaneceu na prisão, mas o fato é que ele foi solto. "Andrzej Lubomirski recuperou a liberdade após três semanas. É possível que alguém importante tenha interferido no seu caso", explica.

Também em 1939, a filha mais velha de Andrzej, Helena Lubomirski Sierakowski foi presa pelo regime nazista junto com o marido. A filha e o genro de Helena também foram capturados. Os quatro foram torturados e assassinados. Segundo Gabriela Lubomirski Aksamit, descendente da família "Szlachertswa" (aristocracia) e que atualmente vive em Cracóvia, os corpos nunca foram encontrados. Com isso, Andrzej assumiu a responsabilidade pelos netos sobreviventes e pelas bisnetas Barbara e Izabella. Um ano depois, Eleonora Lubomirski, esposa do príncipe, morreu na França, para onde ele a havia enviado por causa da guerra.

No entanto, apesar da idade avançada e das perdas familiares, o príncipe continuou trabalhando ativamente, e se dedicou às obras de caridade. "Ele estava sofrendo dolorosamente por tudo que estava vivendo, mas logo percebeu que o destino de muitas pessoas dependia de sua provisão e energia", conta Figiela.

"Desde o início da guerra, ele foi um colaborador da Cruz Vermelha polaca. Em uma de suas propriedades foi organizada uma cozinha para atender prisioneiros de guerra, feridos e necessitados afetados pelo conflito. Dali, mais de 300 refeições foram distribuídas por dia", prossegue Figiela.

Lubomirski também fazia contínuas viagens a Cracóvia, onde ajudava a administrar um orfanato e também a Lwów e a Varsóvia, na tentativa de evitar que o Instituto Ossolineum perdesse ainda mais obras do que as que foram saqueadas pelos alemães durante a guerra. Porém, em 1943, após 58 anos como curador, ele nomeou um sucessor para o Instituto.

Andrzej Lubomirski brinca com a bisneta Izabella Sierakowska, por volta de 1940 - Foto: Museu Przeworsk
Mudança para o Brasil

Em julho de 1944, Andrzej deixou Przeworsk e partiu para Mszana Dolna, uma pequena cidade ao sul da Polônia. A guerra parecia se aproximar do fim, mas o avanço das tropas soviéticas sobre o território polaco gerava total insegurança entre os cidadãos.

Além disso, assaltos e furtos em propriedades da região tinham se tornado cada vez mais comuns durante o conflito. Ele viajou em companhia do filho, Jerzy e das netas, que o convenceram a deixar a cidade. Eles não levaram nada além de umas poucas bagagens de mão. De Mszana Dolna eles foram para Cracóvia e de lá, Andrzej partiu para a França com o filho Jerzy e sua nora.

Cidade de Mszana Dolna a 50 km de Cracóvia, na atualidade - foto: Jadwiga Gabała
Os outros sobreviventes da família Lubomirski também se espalharam pelo mundo. As bisnetas de Andrzej foram para o Marrocos, enquanto Maria, a filha mais nova foi para os Estados Unidos. A outra filha, Teresa, emigrou para o Quênia, na África. "Esse foi o destino trágico de todos os proprietários de terras, representantes da inteligência e da aristocracia na República da Polônia, em 1944. Eles foram tratados cruelmente, jogados fora de suas casas. Ninguém perguntou se eles tinham para onde ir ou onde morar. Eles usavam desesperadamente todos os conhecidos possíveis e vagavam de um lugar para outro", explica Katarzyna Ignas, diretora do Museu de Przeworsk.

Na França, os Lubomirski viveram em Menton (perto da fronteira com a Itália), onde a família tinha uma propriedade. Em setembro de 1952, aos 90 anos de idade, o príncipe Andrzej chegou ao Brasil em companhia do filho.

"Jerzy pretendia fazer negócios no Brasil, mas não obteve o sucesso esperado. Ele, então, voltou para Menton e deixou o pai aos cuidados da princesa Cecylia de Bourbon Duas Sicílias, que era sobrinha de Andrzej", conta Figiela.

Cecylia de Bourbon Duas Sicilias era filha do irmão mais novo de Andrzej, Kazimierz. Em 1932, ela se casou com o príncipe Gabriel de Bourbon Duas Sicílias, em Cracóvia.

Gabriel, que era tio de Dom Pedro Henrique de Orleans e Bragança (neto da princesa Isabel e chefe da Casa Imperial Brasileira), trouxe a família para viver no Brasil no final da década de 1940. Anos depois, ele comprou terras em Jacarezinho, onde se estabeleceu como agricultor, seguido pela família Imperial Brasileira, que viveu na cidade por 14 anos.

Casa onde a princesa Cecylia de Bourbon viveu em Jacarezinho-PR.
Documentos apontam que foi nessa casa que o príncipe Andrzej Lubomirski morreu, em 1953
Foto: Fabiano Oliveira
Lubomirski viveu menos de um ano em Jacarezinho. Idoso e recluso, quase ninguém na cidade o conheceu. Dom Bertrand de Orleans e Bragança, filho de Dom Pedro Henrique e atual príncipe imperial do Brasil, vivia em Jacarezinho na época e disse ter pouquíssimas lembranças do magnata polaco. Lembra-se apenas de que havia um motorista suíço que sempre acompanhava e cuidava de Andrzej. Trata-se, provavelmente, de Usai Giovanni. Foi ele quem declarou o óbito do príncipe no cartório de registro civil da cidade. Seu nome também aparece nos arquivos da prefeitura, onde está a matrícula do túmulo de Andrzej no cemitério municipal.

Cemitério Municipal de Jacarezinho
Andrzej Lubomirski morreu em 22 de novembro de 1953. Um domingo, por volta das 16h. Um jornal polaco publicado em Londres, em 1954, descreveu como foram os últimos momentos do príncipe:

"Deus o salvou do sofrimento físico. Sentado em uma poltrona, ele adormeceu para sempre aos 91 anos de idade. Se eles escrevessem a história da Przeworsk, Andrzej Lubomirski certamente receberia um lugar de destaque como um homem bom e encantador, que ainda vive no coração de muitos que o conheceram."

Repercussão na Polônia

A notícia de que alguém no Brasil buscava informações sobre o príncipe Andrzej Lubomirski (morto em 1953, na cidade de Jacarezinho) ganhou as manchetes de inúmeros noticiários da Polônia, país onde o príncipe nasceu em 1862 e se destacou como uma personalidade importante no começo do século passado.

A primeira reportagem sobre o assunto foi publicada em dezembro do ano passado, logo após o Museu de Przeworsk e a Fundação Príncipe Lubomirski (com sede em Varsóvia) enviarem as primeiras informações sobre quem era o nobre polaco sepultado no norte do Paraná.

O jornal Super Nowosci 24, por exemplo, trouxe a manchete "O Túmulo de Andrzej Lubomirski encontrado no Brasil" e destacou que, após quase 70 anos, o túmulo atraiu o interesse de um jornalista brasileiro.

O portal Rzészow Eska Info (Informações Eska de Rzészow) escreveu que "A lápide de pedra não se parece nada com o túmulo de um nobre. No entanto, o jornalista brasileiro Fabiano Oliveira ficou tentado em saber quem era o príncipe Andrzej Lubomirski, nascido em 22 de julho de 1862."

Já o Nowiny24 destacou que a informação de que Andrzej Lubomirski estava sepultado em Jacarezinho já era de conhecimento dos polacos. No entanto "foi uma surpresa que alguém no Brasil, depois de tantos anos, tenha se interessando pela tumba de um príncipe da distante Polônia e se esforçado para levar essa informação à instituição de Przeworsk, a cidade de Lubomirski".

Tradução da manchete: Jornalista brasileiro encontrou no seu país o túmulo do príncipe Andrzej Lubomirski de Przework (fotos)
Os noticiários também deram informações sobre a cidade onde o príncipe viveu os últimos dias. O portal Korso24.pl explicou que "Jacarezinho fica no Estado do Paraná, no sul do Brasil. Tem cerca de 40 mil habitantes e é reconhecida por ter um dos melhores cursos de direito do país".

O site ressaltou porém, que "o príncipe de Przeworsk está enterrado em uma tumba modesta (...) um pouco negligenciada e esquecida".

Manchete do portal polaco Rzeszów Eska Info: "Jornalista Brasileiro descobre tumba do Príncipe Polaco"

Tradução da manchete: Jornalista brasileiro encontrou a tumba do príncipe polaco

Familiares contataram


À partir de 1944, os filhos do príncipe Lubomirski resolveram sair do país por causa da guerra. O patriarca Andrzej, junto com o filho Jerzy, se estabeleceu na França antes de vir para o Brasil em 1952.

A filha Tereza foi para o Quênia, na África; e a caçula Maria se mudou para os Estados Unidos. Hoje todos são falecidos.

Porém, no final de março, Anthony Potulicki entrou em contato com o jornalista brasileiro. Ele é o filho mais velho de Maria Innocenta Potulicki, a filha mais nova de Andrzej. Aos 97 anos, ele mora em Nova York e - junto com o irmão mais novo que mora no Canadá - é um dos únicos netos ainda vivos do príncipe.

Potulicki em foto de 1955
Por e-mail, recordou com carinho dos tempos em que convivia com o avô. "Como a residência de meus pais ficava perto de Lwów (hoje Lwiw Ucrânia), eu e meus dois irmãos passávamos muitos meses nas duas residências de meus avós: inverno na cidade de Lwów e verão na cidade de Przeworsk, no sudeste da Polônia. Minha última correspondência postal com meu avô data de final dos anos quarenta, quando ele estava na Bélgica", conta.

As fotos do túmulo de Andrzej também chegaram em Nairobi, no Quênia, onde Teresa Sapieha, de 72 anos, vive com a família. Ela é bisneta do príncipe, e também se mostrou emocionada ao saber mais sobre o último chefe de Przeworsk. "É incrível obter informações sobre meu bisavô. Eu e minha irmã sabíamos muito pouco sobre ele. Apenas que ele foi para o Brasil e sua esposa, minha bisavó, morreu na França. Estive no Rio de Janeiro há alguns anos; perguntei sobre ele e não obtive informações", explica.

As três bisnetas de Andrzej Lubomirski que vivem no Quênia. Teresa Sapieha (sentada no banco do jipe), Anna Joanna Sapieha (em pé na carroceria do jipe) e Maria Gabriela Sapieha. As três bisnetas de Andrzej Lubomirski que vivem no Quênia.
Nenhuma das bisnetas quenianas de Andrzej o conheceram pessoalmente. O pouco que sabem sobre ele provavelmente foi contado pelo pai delas, o príncipe Eustachy Seweryn Sapieha.

Eustachy Sewerin Sapieha
Eustachy era neto de Lubomirski e morreu em 2004. Em 2000 ele lançou uma autobiografia na qual revela traços da personalidade do avô: "Pessoas como o vovô não se conhece sempre. Ele vivia com bondade e simplicidade. Ele tinha um grande talento: foi capaz de escolher funcionários inteligentes, dedicados, e talvez o mais importante - funcionários honestos. Com uma energia inacreditável e um certo poder criativo, ele conseguiu fazer de Przeworsk uma maçã dourada. Quando ele assumiu, ela não era pobre, já era uma bela propriedade. Mas foi ele quem fez dela uma das propriedades mais desenvolvidas do país".

Princesa Paola Maria de Orleans e Bragança Sapieha. Trineta de Andrzej Lubomirski e da Princesa Isabel do Brasil
As reportagens repercutiram não só entre os familiares do príncipe, mas também entre os polacos. No portal wykop.pl alguns leitores pediram que as autoridades polacas fizessem algo em relação ao túmulo do príncipe. Um deles chegou a escrever: "Ele participou da reconstrução do país após a independência e foi premiado com a Ordem da Polônia Restituta. Isso deve ser suficiente para fazer com que a Embaixada da Polônia, no Brasil ou um museu se sintam obrigados a limpar o túmulo do homem".

Fotos

Brasão da Família Lubomirski

Túmulo de Lubomirski em Jacarezinho - Foto: Fabiano Oliveira

Lápide do túmulo em Jacarezinho - PR - Foto Fabiano Oliveira

Ficha-cartão de imigração. Ele chegou no Brasil em 1952
Foto: Fabiano Oliveira


Andrzej Lubomirski em 1930 - Foto: Museu Przeworsk


A casa onde viveu Andrzej hoje é o Museu de Przeworsk, na Polônia
Foto: Museu Przeworsk

Visita do vice-presidente da República da Polônia, Ignacy Mościński
a Przeworsk sendo recebido por Andrzej Lubomirski em 1929
Foto: Arquivo Nacional da Polônia

Cidade de Przeworsk a 206 km de Cracóvia,  37 km de Rzeszów e a 127 km de Lwów (Ucrânia), na atualidade


Noivado de Andrzej e Eleonora Husarzewska. Casaram-se em 1885 e tiveram 4 filhos
Foto: Stanisław Bizański

Eleonora e os filhos Jerzy e Helena




Texto: Fabiano Oliveira
Fonte: Blog http://abre.ai/avulsos

quinta-feira, 28 de maio de 2020

Cem anos de relações diplomáticas Brasil - Polônia


O Consulado Geral da Polônia, em Curitiba, foi a primeira representação consular aberta no mundo após a Polônia recuperar a sua Independência em 11 de novembro de 1918. E os Estados Unidos do Brasil (Era o nome oficial do Brasil na época) foram o primeiro país do mundo a reconhecer a Independência da Polônia.

Neste mês de maio, os dois países estão celebrando os 100 anos de estabelecimento de relações diplomáticas. Isto porque, antes de 1822, o Brasil era uma colônia do Reino de Portugal e a República da Polônia tinha sido riscada do mapa do mundo, em 1795, pelos reinos invasores da Prússia, Rússia e Império da Áustria.

Os presidentes atuais do Brasil e da Polônia conversaram nesta quarta-feira, 27 de maio, por telefone. No momento, confirmaram o desejo de aprofundar a cooperação bilateral em prol da prosperidade de seus povos e do fortalecimento da posição internacional de ambos os países. Os respectivos ministros de relações exteriores emitiram um comunicado conjunto:

"Brasil e Polônia celebram o 100º Aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas entre os países.

Há 100 anos, a formalização do relacionamento bilateral reforçava os laços de amizade que uniam os povos das duas nações. A partir das últimas décadas do século XIX, fluxos sucessivos de imigrantes polacos já chegavam ao Brasil, aportando significativa contribuição ao desenvolvimento do País e dando origem à segunda maior comunidade de descendentes de polacos no mundo.

Recentemente, Brasil e Polônia têm estreitado, ainda mais, a colaboração em torno da comunhão de valores e da defesa da liberdade, da democracia e da economia de mercado. Os encontros de alto nível entre autoridades dos dois países têm sido cada vez mais frequentes, conferindo lastro político a iniciativas nos planos bilateral e multilateral. O diálogo entre os dois países tem-se intensificado em áreas como defesa, cultura, educação e esportes.

No plano internacional, Brasil e Polônia colaboram estreitamente no âmbito do “Processo de Varsóvia” e no contexto das Nações Unidas promovem iniciativas como a “Aliança para a Liberdade Religiosa” e a “Parceria para as Famílias”, que refletem o apreço mútuo pela liberdade e os valores que embasam a formação de nossas sociedades."