domingo, 10 de novembro de 2013

Manifestação antifascista em Varsóvia lembrando Noite dos Cristais

Foto: PAP / Leszek Szymański
Mil pessoas marcharam este sábado pelas ruas de Varsóvia com motivo do 75º aniversário da "Noite dos Cristais" (Reichskristallnacht em alemão e Noc kryształowa em polaco), um ataque contra os alemães-judeus organizado na Alemanha pelo regime de Hitler. Os participantes do ato, organizado sob o lema "Juntos contra o nacionalismo", marcharam da Universidade de Varsóvia até Umschlagplatz, de onde foram deportados os judeus do gueto de Varsóvia até o campo de concentração de Treblinka.
Um ano depois de invadir a Polônia, em 1º de setembro de 1939, o ocupante alemão criou no coração da Varsóvia, em outubro de 1940, um bairro especial para encerrar cerca de meio milhão de polacos-judeus, tornando-se o gueto mais importante durante a Segunda Guerra Mundial.


Os manifestantes gritavam neste sábado "Não ao fascismo e ao nacionalismo!", "Nunca mais um Holocausto!", e "Varsóvia sem fascismo!". A marcha ocorreu dois dias antes de outras manifestações convocadas por ocasião da festa da independência, em 11 de novembro, às quais se prevê que assistam várias dezenas de milhares de nacionalistas radicais.
"Queremos mostrar à sociedade os perigos que representam o nazismo e o nacionalismo. Hoje lembramos a Noite dos Cristais de 75 anos atrás na Alemanha, que abriu o caminho para a chegada de Hitler ao poder, já que havia um apoio da sociedade", declarou Andrzej Radzikowski, vice-presidente do sindicato OPZZ (ex-comunista)."Na Polônia, estão renascendo os movimentos nacionalistas. Não podemos concordar com isto", acrescentou.
Na madrugada de 9 a 10 de novembro de 1938 e durante toda o dia seguinte, foram saqueadas lojas gerenciadas por alemães-judeus em toda a Alemanha, incendiadas sinagogas e 30 mil pessoas foram detidas e posteriormente deportadas. Os atos de violência deixaram 90 mortos na população judaica alemã.
Polacos-judeus deportados para Nuremberg
Para o regime foi a resposta ao assassinato de Ernst von Rath, um diplomata alemão em Paris, por Herschel Grynszpan, um polaco-judeu, condenado múltiplas vezes a deportação da França.
A pedido de Adolf Hitler, Goebbels instigou os dirigentes do NSDAP e os SA a atacarem os judeus. Heydrich organizou as violências que deviam visar as lojas de judeus e as sinagogas

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Polônia e Portugal: fronteiras da Europa

João Carlos Espada
Cartas de Varsóvia

Na próxima segunda-feira, dia 11, terá início em Lisboa uma conferência sobre Polónia e Portugal: fronteiras da Europa.
Trata-se de uma iniciativa conjunta do embaixador da Polónia, Bronisław Miształ, e da Universidade Católica Portuguesa. Oradores da Academia das Ciências polaca e da Universidade de Varsóvia virão a Lisboa reflectir sobre o tema com académicos portugueses, entre os quais Manuel Braga da Cruz, antigo reitor da Católica, e Isabel Gil, actual vice-reitora.
Muitos elementos inesperados, para além da óbvia tradição católica, aproximam a Polónia e Portugal. Um deles, tantas vezes esquecido, reside no papel central que as duas nações, geograficamente periféricas, desempenharam na eclosão e no alargamento da chamada “Terceira Vaga” da democratização mundial.
Portugal iniciou a terceira vaga, em Abril de 1974. Seguiram-se a Grécia, a Espanha e, em efeito de “bola de neve”, inúmeros países da América Latina e do Sueste Asiático.
Samuel Huntington consagrou este honroso papel de Portugal no relançamento da ideia democrática nos países que se situavam no bloco não comunista durante a Guerra Fria — mas nos quais até então se pensava, por uma razão ou por outra, que a democracia não era viável.
Menos conhecido é talvez o facto de Huntington ter considerado que a queda do Muro de Berlim, em 1989, constituiu uma “segunda fase” da terceira vaga de democratização lançada por Portugal em 1974. E esta segunda fase terá sido aberta pela Polónia.
Na década de 1980, a partir de Gdansk, um poderoso movimento operário deu origem ao sindicato Solidarność, chefiado por Lech Wałęsa, que iria abalar os alicerces do comunismo na Polónia.
Em Junho de 1989 ocorrem as primeiras eleições parcialmente livres na Polónia, depois da II Guerra. Em Agosto, Tadeusz Mazowiecki, falecido no passado dia 28 de Outubro, toma posse como primeiro chefe de um governo não comunista. Em Novembro, o Muro de Berlim caía, abrindo caminho à transição democrática nos outros países europeus da cortina de ferro.
Se a tese de Huntington for pertinente, a Polónia e Portugal, dois países periféricos, terão desempenhado um papel central na história política europeia do segundo quartel do século XX. A Polónia, por seu turno, desempenhou um papel central na união das democracias contra o pacto germanosoviético, em 1939, e, depois de 1945, na eclosão da Guerra Fria das democracias ocidentais contra o expansionismo soviético.
Isso mesmo foi recordado por Winston Churchill, num telegrama enviado a Staline a 29 de Abril de 1945: “Foi por causa da Polónia que os britânicos entraram em guerra contra a Alemanha em 1939. Nós vimos no tratamento da Polónia pelos nazis um símbolo da vil e pérfida fome de Hitler por conquista e subjugação, e a sua invasão da Polónia foi a faísca que incendiou o fogo. (...) Este fogo britânico ainda arde em todas as classes e partidos destas ilhas, bem como nos Domínios autogovernados. Nós nunca poderemos sentir que esta guerra terminou de forma justa sem que a Polónia obtenha um resultado leal, no pleno sentido de soberania, independência e liberdade. Foi sobre isto que eu pensava que nós tínhamos acordado em Yalta.”
Estas palavras podem ser lidas no volume VI das imponentes memórias de Churchill sobre a II Guerra Mundial. Em rigor, o tema da Polónia ocupa bem a segunda metade desse volume e constitui a principal razão do seu título, Triunfo e Tragédia.
Churchill intuiu que a ocupação soviética da Polónia, no final da II Guerra, prenunciava a “Cortina de Ferro” que ia cair sobre a Europa central e de Leste. Este foi aliás o tema do seu célebre discurso em Fulton, no Missouri, em 1946 (quando já tinha ganho a guerra e perdido as eleições em Inglaterra, em 1945): “Desde Stettin, no Báltico, até Trieste, no Adriático, uma cortina de ferro tem estado a descer através da Europa. Por detrás dessa linha jazem todas as capitais dos antigos Estados da Europa central e oriental. Varsóvia, Berlim, Praga, Viena, Budapeste, Belgrado, Bucareste e Sófia, todas estas famosas cidades e as populações em redor delas jazem no que devo designar por esfera soviética, e todas estão sujeitas, de uma forma ou de outra, não apenas à influência soviética mas a um muito elevado e, nalguns casos, crescente controlo de Moscovo.”
Estes e seguramente muitos outros aspectos da centralidade polaca na história europeia serão seguramente recordados na conferência da próxima segunda-feira. Eles ilustram o paradoxo de periferias da Europa que desempenham papéis centrais na história europeia e global. Esse paradoxo certamente ocorreu no passado. Não está excluído que possa voltar a acontecer no futuro. Em qualquer caso, esse paradoxo certamente aproxima Portugal e Polónia. Merece seguramente que lhe prestemos atenção. Se a tese de Huntington for pertinente, a Polónia e Portugal terão desempenhado um papel central na história política europeia do segundo quartel do século XX.

Publicado originalmente em Cision.
João Carlos Espada é professor universitário, 
IEP-UCP e Colégio da Europa, Varsóvia. 

P.S. O professor João Carlos claramente não aderiu a unificação da língua europeia decretada em todos os 8 países lusófonos e continua a escrever no "idioma" de Portugal. Com seus Moscovo (Moscou), Stettin (Szczecin) Polónia e Académico com acento agudos e reflectir e actual (com C mudo).

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Festival de Cinema potiguar premia com viagem a Cracóvia


Estão abertas as inscrições para o 4º Festival Internacional de Cinema de Baía Formosa (Finc). Dentro da temática “Um minuto no país do futebol”, o Finc recebe, até dia 22 de novembro, inscrições de curtas-metragens de um minuto – gravados em qualquer dispositivo –, sequência de fotos ou animação. As inscrições podem ser feitas no site do FINC.
O festival acontece dia 30 de novembro, às 18h, na praia paradisíaca de Baía Formosa, litoral sul do Rio Grande do Norte.
O prêmio para o grande vencedor é passagem, hospedagem e alimentação durante dez dias em Cracóvia, Polônia, onde exibirá seu filme no Festival Off Puls Camera, um dos maiores festivais de cinema independente da Europa.
A premiação inclui ainda um city tour pela cidade, com direito a visita às instalações onde foi gravado o clássico filme “A Lista de Schindler” e ao Alvernia Studios, um dos cinco maiores estúdios de pós-produção de cinema do mundo.
O vencedor, que será conhecido no dia do Finc, passa por duas seleções: a votação no site do festival, que elegerá os mais votados, e finalmente a escolha final, realizada por um júri composto por especialistas da Polônia e do estado. Além do resultado, o festival também contará com exibição de curtas polacos e do longa “Hania”, também polaco, e de produções potiguares.
Sobre o Festival Desde 2010, o festival é realizado na praia de Baía Formosa. O concurso começou a partir da 2ª edição, quando Raíssa Dourado ganhou com seu filme “Vermelho”.
Na 3ª, viajaram à Polônia, Alexandre Santos e Dênia Cruz e mais três pessoas da equipe, depois de vencerem com o curta “Maré Alta”.
A mostra é a primeira do gênero realizada na cidade, e a maior a céu aberto do RN. Tem o intuito de fomentar a sétima arte no estado, bem como ressaltar as belezas naturais da região como destino turístico. O Finc pretende se tornar um evento fixo no calendário do Estado, atraindo olhares nacionais e internacionais.
O quê? 4º Festival Internacional de Cinema de Baía Formosa (FINC) recebe inscrições de curtas com temática “Um minuto no país do futebol”.
Quando? Até dia 22/11
Como se inscrever? No site do FINC http://fincbrazilbf.com
Inscrições Gratuitas

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Tadeusz Mazowiecki nie żyje...Polônia em comoção

Tadeusz Mazowiecki nie żyje. Miał 86 lat. "Uczył nas pokory w polityce" esta é a manchete do principal jornal da Polônia, o Gazeta Wyborcza, em seu portal de Internet. "Tadeusz Mazowiecki morreu. Tinha 86 anos. Nos ensinou a humildade na política."

O escritor, jornalista e político polaco, foi membro fundador do sindicato Solidaridade, junto com Lech Wałęsa.
Mazowiecki, ex-primeiro-ministro da Polônia, faleceu nesta segunda-feira, em Varsóvia. Deixou os filhos Wojciech, Adam e Michał. Foi casado duas vezes, primeiro com Kristina e mais recentemente com Ewa (as duas já falecidas).
Mazowiecki foi o primeiro chefe de Governo não comunista da Polônia e também o primeiro do bloco comunista da Europa.
Nos estertores do comunismo, na famosa mesa redonda, que negociou com Jaruzelski o fim do regime, exerceu o cargo de Primeiro-Ministro da ainda República Popular da Polônia entre 24 de agosto de 1989 a 31 de dezembro de 1989.
Depois, com a derrocada fiel dos soviéticos país, permaneceu no cargo de primeiro-ministro, já no governo do eleito Lech Wałęsa até 12 de janeiro de 1991.

Antes
De 1945-1955 , Mazowiecki foi membro do Partido Comunista controlado pela Associação Católica PAX de onde, mais tarde, foi expulso por ser o líder da chamada oposição interna.
Entre 1953 e 1955, foi o editor-chefe do semanário católico Wrocław (WTK - Wrocławski Tygodnik Katolicki). De acordo, com o stalinismo ele estava envolvido na difamação do Bispo Czesław Kaczmarek de Kielce, sem fundamento, e foi acusado pelos comunistas de ser um espião dos Estados Unidos e do Vaticano.
Ele foi um dos membros fundadores do Clube de intelectuais católicos , que foi criado em 1957. Em 1958,  Mazowiecki tornou-se seu editor-chefe da revista mensal Więź.


Entre 1961-1972 , ele foi eleito parlamentar comunista no Sejm (Parlamento polaco), nos três últimos mandatos ele foi eleito como membro do partido católico Znak.
Ele levantou a questão de manifestações estudantis que ocorreram em março de 1968, no mundo e na Polônia, no Sejm. Depois dos protestos que varreram a Polônia, 1970, Mazowiecki insistiu na criação de uma comissão, a fim de encontrar os responsáveis ​​pelo derramamento de sangue. Quando todos sabiam que eram as autoridades comunistas. Quando, em 1976, não lhe foi permitido concorrer a um cargo parlamentar, juntou-se à oposição.
Desde 1981, ele foi o editor-chefe do Tygodnik Solidarność (Semanário Solidariedade) , uma revista semanal.
Após a lei marcial, declarada em dezembro de 1981, ele foi preso e encarcerado em Strzebielnik, então em Jaworz e finalmente Darłówek. Foi um dos últimos prisioneiros para ser liberto, em 23 de dezembro de 1982.
Em 1987, ele passou um ano no exterior, durante o qual conversou com políticos e representantes sindicais. A partir de 1988, se reuniu em Magdalenka. Ele acreditava firmemente no processo de tomada de poder do Partido dos Trabalhadores polaco através da negociação e, portanto, desempenhou um papel ativo nas discussões da Mesa Redonda polaca, tornando-se um dos mais importantes arquitetos do acordo pelo qual as eleições parcialmente livres foram realizadas em 04 de junho de 1989, e foi vencida pelo Solidariedade em um colapso histórico.
Em uma reunião, em 17 de agosto de 1989, o então presidente comunista polaco, General Jaruzelski finalmente concordou com a exigência de Lech Wałęsa que o próximo primeiro-ministro da Polônia deveria ser um membro do Solidariedade. Wałęsa indicou Mazowiecki como candidato do Solidariedade para liderar o próximo governo.
Em 21 de agosto de 1989, general Jaruzelski nomeou Mazowiecki candidato ministerial. Em 24 de agosto de 1989, o Sejm votou no nome de Mazowiecki e ele se tornou o primeiro primeiro-ministro não-comunista da história do leste da Europa em muitas décadas.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Polônia assina com Ciência sem fronteiras

Pres. da Conferência dos Reitores das Escolas Acadêmicas da Polônia Wiesław Banys
O presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Glaucius Oliva, e o presidente da Conferência dos Reitores das Escolas Acadêmicas da Polônia (CRASP), Wiesław Banys, assinaram, nesta segunda-feira, 21, um memorando de entendimento por ocasião da entrada da Polônia no Programa Ciência sem Fronteiras.
A nova parceria trará oportunidades de bolsas em diversas modalidades para estudar no país. Também estiveram presentes na cerimônia o embaixador da República da Polônia, Andrzej Maria Braiter, representantes do CNPq e do Programa CsF, pesquisadores polacos, entre outros.
O presidente do CNPq, em sua apresentação, contou um pouco da história do CNPq, que completou 62 anos de existência e afirmou que a ciência brasileira é nova, sendo a Universidade de São Paulo (USP) uma das mais antigas e tradicionais universidades do país. Ainda em sua fala, Glaucius apresentou o Programa Ciência sem Fronteiras, as modalidades de bolsas oferecidas e como estas beneficiam, cada uma em sua forma específica, o aperfeiçoamento do ensino, além da qualificação de mão de obra na ciência, engenharias e pesquisa no Brasil e no mundo. "Nós esperamos um futuro bastante produtivo com esta nova parceria assinada. Agradecemos a presença da delegação polonesa e damos às boas vindas ao nosso país", ressalta o presidente.
Para Wiesław Banys, promover este tipo de colaboração, principalmente com foco na mobilidade acadêmica, é investir no crescimento ainda maior do sistema educacional na Polônia. "Eu fiquei muito surpreendido com o que o senhor (Glaucius) disse sobre o programa no Brasil", destacou o presidente polaco. Banys ainda citou as recentes reformas pelas quais o sistema de ensino e pesquisa polaco passou nos últimos anos e citou várias parcerias do país com outras instituições de ensino.

Ciência sem Fronteira (CsF)
O Ciência sem Fronteiras é um programa que busca promover a consolidação, expansão e internacionalização da ciência e tecnologia, da inovação e da competitividade brasileira por meio do intercâmbio e da mobilidade internacional. A iniciativa é fruto de uma parceria entre o Ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e o Ministério da Educação (MEC), por meio de suas respectivas instituições de fomento – CNPq e Capes –, e Secretarias de Ensino Superior e de Ensino Tecnológico do MEC.
O projeto prevê a utilização de até 101 mil bolsas em quatro anos para promover intercâmbio, de forma que alunos de graduação e pós-graduação façam estágio no exterior com a finalidade de manter contato com sistemas educacionais competitivos em relação à tecnologia e inovação. Além disso, busca atrair pesquisadores do exterior que queiram se fixar no Brasil ou estabelecer parcerias com os pesquisadores brasileiros nas áreas prioritárias definidas no Programa, bem como criar oportunidade para que pesquisadores de empresas recebam treinamento especializado no exterior.

fonte: Portal Brasil

sábado, 19 de outubro de 2013

Varsóvia se tornará a capital global da paz

O primeiro-ministro polaco Donald Tusk e Lech Wałęsa recebem Dalai Lama
Agraciados com o Prêmio Nobel da Paz chegaram à Polônia onde passarão os próximos três dias discutindo sobre os direitos humanos e os principais problemas globais.
Mais de seis mil participantes da Polônia e do exterior se inscreveram para participar do evento. A Cúpula Mundial de Agraciados com o Prêmio Nobel da Paz, realizada pela primeira vez na Europa Central e Oriental, é guiada pelo lema "Solidários pela paz - Tempo de agir (Stand in solidarity for peace - time to act)". Piotr Gulczynski, Presidente do Conselho Executivo do Instituto Lech Wałęsa, enfatiza que o lema deste ano tem um significado especial: "Há trinta anos, o Presidente Lech Wałęsa recebeu o Prêmio Nobel por seu compromisso para com a resolução pacífica dos problemas enfrentados pela Polônia.
Suas ações foram uma expressão do sentimento único de solidariedade que a nação polaca apresentou em sua luta pela liberdade e independência. Hoje, na época de conflitos violentos, o mundo necessita da ideia da solidariedade tão urgentemente quanto a Polônia necessitava há três décadas.
Durante a Cúpula, os participantes internacionais se unirão aos Agraciados com o Prêmio Nobel da Paz em um debate sobre as principais questões relacionadas com a redução das desigualdades sociais globais.
Os seguintes Agraciados estarão participando das sessões de debates: Sua Santidade Dalai Lama XIV, o ex-Presidente da África do Sul Frederik Willem de Klerk, a advogada iraniana Shirin Ebadi, as ativistas da paz irlandesas Betty Williams e Mairead Corrigan, Muhammad Yunus,o autor do conceito do microcrédito e a ativista social da Libéria Leyman Gbowee.
O debate também terá a participação de representantes de organizações agraciadas com o Prêmio Nobel da Paz: Gabinete Internacional Permanente da Paz (Permanent International Peace Bureau), Anistia Internacional (Amnesty International), Comitê Americano da Sociedade dos Amigos (American Friends for Service Committee), Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (Intergovernmental Panel on Climate Change), as Nações Unidas e o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados.

Mais informações:
Wojciech Chatys: wojciech.chatys@ilw.home.pl; +48-797-030-584. http://www.nobelforpeace-summits.org, http://www.facebook.com/nobelforpeace

FONTE:  Lech Wałęsa Institute Foundation

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Moscou protesta contra escultura da curra em Gdańsk


Um artista polaco instalou sem autorização em Gdańsk (norte da Polônia) uma escultura de um soldado soviético estuprando uma mulher grávida. Prontamente, reações indignadas foram sentidas em Moscou.
O embaixador russo em Varsóvia declarou-se consternado, em um declaração oficial no site da embaixada.
A escultura, que foi colocada junto a um monumento da época comunista em homenagem ao exército vermelho que expulsou os alemães de Gdańsk em 1945, foi retirada algumas horas depois.
"Estou profundamente consternado pela atitude de um estudante de Belas Artes de Gdańsk, que, com sua pseudoarte, insultou a memória dos mais de 600.000 soldados soviéticos mortos pela liberdade e independência da Polônia", escreveu Alexandre Alekseev, embaixador russo em Varsóvia.
A promotoria da cidade vai decidir se o artista que fez a escultura será processado por "incitação ao ódio racial ou nacional".
O estudante de Belas Artes, Jerzy Bohdan Szumczyk, de 26 anos, citado pelo canal privado TVN24, disse que sua intenção foi protestar contra a presença no centro de Gdańsk de um monumento em homenagem ao exército soviético. "Eu quis mostrar a tragédia das mulheres e dos horrores da guerra".
Szumczyk instalou a escultura em tamanho natural na noite de sábado para o domingo, ao lado de um memorial da era comunista, saudando o Exército Vermelho, por expulsar as forças nazistas para fora da cidade, em 1945.
Historiadores dizem que os soldados soviéticos estupraram muitas mulheres durante a "libertação", embora não existam estatísticas.
A porta-voz da polícia de Gdańsk, Lucyna Rekowska disse que a exposição pública da escultura foi de curta duração. Ela disse que a figura de mulher sujeitada por um soldado chamou a atenção da polícia, que determinou que a escultura tinha sido colocada ilegalmente e por isso foi removida do centro da cidade em poucas horas.
Seguindo o procedimento padrão, a polícia entregou o caso ao Ministério Público, na segunda-feira, e este órgão deve decidir até esta quinta-feira se Szumczyk vai ser acusado de incitar o ódio racial ou nacional.
Ouvido na terça-feira, o embaixador da Rússia acrescentou que espera que as autoridades polacas atentem para o "vulgar" e que esta arte é "abertamente sacrilégio".
Szumczyk, por sua vez, disse que a escultura era uma "expressão de pacifismo e um sinal de paz" e que não foi especificamente dirigida contra o memorial do Exército Vermelho.
Esses memoriais provocam regularmente protestos na Polônia, pois eles não representam apenas a libertação da cidade da mãos dos nazistas, mas também  o reinado de meio século de Moscou sobre a Polônia durante a qual dezenas de polacos foram mortos durante o comunismo.
A situação é particularmente delicada em Gdańsk, que antes da guerra era uma cidade livre, com muitos moradores de origem alemã e por isso, durante a guerra foi era denominada de Dantzig. A maioria das mulheres estupradas por soldados soviéticos em março- abril 1945, seriam sob este ponto de vista, alemãs, mas ninguém possui uma estatística quantas eram de fato alemãs, judias, ucranianas ou polacas.
Historiadores ocidentais há muito tem escrito sobre as atrocidades soviéticas, mas o assunto nunca foi amplamente debatido na Rússia e continua a ser um grande tabu. Stalin e seus comandantes militares se acredita teriam feito vista grossa aos relatos de estupros contra mulheres indefesas.

P.S. Não deixa de ser irônica a manifestação do embaixador russo... Será que ele se esqueceu dos 127 anos de ocupação russa em território polaco e das milhares de atrocidades que os russos perpetraram em solo polaco? E que modo deturpado de dizer que 600 mil soviéticos deram a vida para libertar a Polônia...o que a URSS fez na segunda guerra mundial foi também invadir a Polônia covardemente, enquanto ela se debatia com os nazistas no front Oeste. As ações deliberadas dos soviéticos foram apenas para instalar o comunismo à força na Polônia entre 1949 e 1989. E ainda tem promotor polaco mais estúpido ainda...ao  cogitar processar o legítimo protesto do artista.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Vinho brasileiro em 400 pontos de venda na Polônia


Pela primeira vez na história do comércio da Polônia uma marca de vinhos do Brasil chega a alcançar distribuição nacional em seu território. Em apenas um ano e meio de trabalho com aquele país, a Vinícola Aurora já está presente em mais de 400 pontos de venda, entre as lojas das cinco maiores redes de varejo e mais 200 pontos de comércio especializado.
Nas cinco maiores redes varejistas da Polônia, os vinhos Aurora estão colocados com destaque em praticamente todas as lojas: AUCHAN (rede francesa com 31 lojas por toda Polônia), SIMPLY (que pertence ao grupo Auchan, com 39 lojas), PIOTR I PAWEL (é a rede high top da Polônia, com 93 lojas, em todas há uma ilha de vinhos da Aurora), MARCPOL (com 69 lojas no país, colocou vinhos Aurora em 48 delas com direito a ilhas de exposição em todas elas) E.LECLERC (rede francesa de 24 lojas).
O trabalho pró-ativo da maior vinícola do Brasil rumo a novas conquistas no mercado externo baseia-se em parcerias consistentes com empresas sólidas nos diferentes países.
Na Polônia, o contrato é com o mais tradicional importador-distribuidor daquele país, com 50 anos de história. “A partir de novembro teremos várias ilhas com nossos produtos nas cinco redes, para incentivar as vendas no final do ano”, revela Rosana Pasini, gerente de exportações da Vinícola Aurora. 
“Vamos iniciar 2014 com a maior distribuição de vinhos brasileiros na história da Polônia”, comemora Rosana, com a expectativa de dobrar a distribuição até o fim de 2014. “Estamos em negociações com mais redes polacas, por isso confiamos nesse crescimento no próximo ano”
Cooperativa Vinícola Aurora Visite o site: www.vinicolaaurora.com.br
 SAC: 0800 701 4555
 Matriz Bento Gonçalves (RS): (54) 3455-2000

P.S. Bento Gonçalvez, a capital do vinho brasileiro, em que pese toda a fama e marketing da colônia italiana, tem um comunidade polaca expressiva. Apesar dos vinhos da Aurora serem de descendentes de italianos, os vinhedos onde são produzidas as uvas são dos descendentes de imigrantes polacos....aliás toda a famosa serra gaúcha conhecida como italiana tem importantes comunidades polacas....em algumas cidades chega a ser maioria, como Veranópolis (terra do goleiro Acácio do Corinthias e do técnico Mano Menezes) São Marcos (capital brasileira dos caminhoneiros), Caxias do Sul, Nova Prata, Farroupilha....estão entupidas de polacos e não só de italianos.

domingo, 29 de setembro de 2013

Wałęsa faz 70 anos hoje


O continente deve ter mais solidariedade e se desenvolver na direção de uma república federativa, crê Prêmio Nobel da Paz e ex-presidente polaco Lech Wałęsa, em entrevista exclusiva à Rádio Deutsch Welle, da Alemanha.
Ele faz 70 anos neste domingo. Por ocasião do seu 70º aniversário, o ex-chefe de Estado polaco Lech Wałęsa falou de seu projeto de uma Europa unida em entrevista à Deutsche Welle.
Sua biografia é singular: originalmente eletricista, em 1980 assumiu a liderança do primeiro sindicato livre do bloco comunista na Europa Oriental, o Solidariedade de Gdańsk. Dez anos mais tarde tornou-se presidente da Polônia, nas primeiras eleições livres em seu país após a queda do comunismo.
Para Wałęsa, a Alemanha, como peso-pesado no continente europeu, deveria continuar assumindo a responsabilidade pela superação das crises e pelo desenvolvimento de ideias para o futuro.
O Prêmio Nobel da Paz de 1983 afirma, ainda, que países mais abastados deveriam ajudar Estados com menos dinheiro na construção da infraestrutura, por exemplo, sendo ressarcidos posteriormente. O ex-sindicalista afirma que "divisões e fronteiras pertencem ao passado". Para a integração europeia, no entanto, é preciso prosperidade em todo o continente.

Deutsche Welle: Muitos países do leste e do sul da Europa invejam a Polônia pela virada democrática e pelos avanços econômicos das últimas duas décadas, para os quais o senhor contribuiu decididamente. Apesar disso, dezenas de milhares de polacos foram recentemente às ruas de Varsóvia protestar contra o governo liberal de Donald Tusk. O líder da oposição nacional conservadora, Jaroslaw Kaczyński, está à frente agora nas pesquisas de opinião. O que há de errado com os polacos?

Lech Wałęsa: Em primeiro lugar, nós não dispusemos de um século para o desenvolvimento da democracia e tivemos que acelerar o máximo possível para acompanhar o Ocidente. Muita coisa se acumula numa aceleração assim. Em segundo lugar: o que são algumas dezenas de milhares em relação a 40 milhões? Se tivéssemos reunido os descontentes em outro país, também nos Estados ricos, então tenho certeza que os protestos teriam uma dimensão ainda maior. Em terceiro lugar: nossa democracia provou seu valor. Embora tenha havido manifestações, esses protestos foram exclusivamente pacíficos. Recolheram-se assinaturas e a conta pela insatisfação dos cidadãos deverá ser paga na próxima eleição. Ou seja, a Polônia passou no teste com a sua democracia e pode servir como modelo de como lidar com o descontentamento.

Deutsche Welle: Em entrevista ao semanário alemão Die Zeit, o senhor expressou o desejo de que os alemães fossem mais corajosos e tivessem maior influência sobre o desenvolvimento e planejamento da Europa. Mas eles acabaram se tornando um bode expiatório, no esforço em combater a crise na Europa. A mídia grega, por exemplo, mostrou caricaturas de Angela Merkel usando uniforme nazista. Como o senhor vê a política alemã para a Europa?

Lech Wałęsa: Desde sempre os líderes políticos são criticados. E a Alemanha é um peso-pesado e isso em todos os setores. Mas os alemães também assumem a responsabilidade pela superação das crises e desenvolvem ideias para o futuro. E eles devem continuar assim. Em tempos em que fronteiras são abolidas, tudo em gira em torno da Europa, não em torno da Alemanha ou Polônia. Nós não deveríamos mais pensar em termos de fronteiras nacionais. Existem muitos temas novos, contemporâneos, como informação, ecologia, crises por exemplo, a financeira. Aqui não se trata mais de um banco, mas de um comportamento responsável por parte dos bancos em geral. Então vem a questão do dinheiro: a Alemanha tem, os outros, não. Na Europa, por exemplo, precisamos de uma boa rede de autoestradas, também na Albânia. Ali e em outros lugares, falta dinheiro para tal, então a Alemanha deveria assumir esse encargo e receber o dinheiro de volta, ao longo dos próximos 50 anos. O dinheiro não deve ficar guardado nas meias.

Deutsche Welle: Em relação à Alemanha, muitos estereótipos e preconceitos são revividos, quase 70 anos após o fim da Segunda Guerra Mundial. Essa situação não se acirraria ainda mais se os alemães começassem a construir autoestradas pela Europa?

Lech Wałęsa: De jeito nenhum. Para a integração europeia, precisamos de prosperidade na Europa. Conflitos podem ser evitados somente se, por exemplo, construirmos autoestradas por todas as partes, então a situação vai melhorar em todos os lugares. Existe toda uma lista de tarefas, como, por exemplo, as redes de comunicação. Os Estados que têm dinheiro também deveriam disponibilizá-lo para países mais pobres e depois ser lentamente ressarcidos. Isso é um bom negócio para todas as partes envolvidas. Esta geração deveria começar a construir o Estado europeu, mas deveria fazê-lo com muito cuidado.

Deutsche Welle: Como esta geração devem proceder, exatamente?

Lech Wałęsa: Ninguém sabe ao certo. Para chegar até lá, precisamos de estruturas europeias maiores. Divisões e fronteiras pertencem ao passado. Em quase todas as nossas atividades, somos ainda assaltados por guerras e lembranças. Mas aos poucos nos distanciamos disso. É um processo penoso, mas temos feito grandes progressos. O importante é construir a Europa unida com base em valores comuns, que no momento ainda diferem de país para país. Nós deveríamos esboçar uma espécie de catálogo de valores, uma espécie de decálogo com dez mandamentos, desenvolvido por fiéis de todas as crenças e também por ateus. O desenvolvimento da futura Europa deveria acontecer sobre este fundamento.

Deutsche Welle: Neste domingo (29/09), o senhor está celebrando 70 anos. Olhando em retrospecto, sabe-se que contribuiu decididamente para a queda do comunismo. Hoje ainda existem muitas ditaduras que perseguem, até mesmo matam seus cidadãos. Qual é a sua receita, como se pode derrotar uma ditadura?

Lech Wałęsa: Minha receita se chama: solidariedade. Naturalmente, essa solidariedade difere de país para país. É particularmente importante que os EUA, a única superpotência que restou, também sejam encorajados a remodelar o mundo de forma que, quando antissemitismo, racismo, limpezas éticas ou armas químicas aparecerem em algum lugar, o mundo aja imediatamente e elimine os problemas.

Fonte: Rádio Deutsch Welle

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Wałęsa é exibido no Rio de Janeiro

Matéria publicada no jornal Folha de S.Paulo, por ocasião do Festival de Veneza 2013...o enviado especial entrevistou Lech Wałęsa, que esteve presente no festival italiano de cinema:

Adeus, Lênin!
RODRIGO SALEM

RESUMO

Parte da vida do ex-eletricista Lech Wałęsa  cujo bigode se impôs como símbolo dos trabalhadores na Polônia comunista dos anos 1980, virou filme nas mãos do amigo Andrzej Wajda. Em "Wałęsa: Człowiek z Nadziei", o cineasta faz um retrato edulcorado do Nobel que perdeu a mão na presidência e fez declarações contra gays.

* O Festival de Veneza é o mais tranquilo do trio de grandes eventos cinematográficos europeus que se fecha com Berlim e Cannes. Na pequena ilha do Lido, convidados, executivos, jornalistas, moradores e público visitante se esbarram com naturalidade. Mas no dia 5 de setembro, uma quinta-feira, os "carabinieri" fecharam a entrada principal do Palazzo del Festival, espalhando-se pelas ruelas charmosas e floridas ao redor do Cassino, onde funciona a organização do evento.

Não era George Clooney (ele já tinha ido embora), nem James Franco (que perambula pelos quatro cantos do mundo sem muito alarde) e muito menos Scarlett Johansson, cujo filme havia sido vaiado dois dias antes. Naquela noite, Lech Wałęsa fazia uma de suas raras aparições fora da Polônia, país onde nasceu e vive. País que ele mudou para sempre.

Wałęsa, aos 69 anos, ainda ostenta seu simpático e simbólico bigodão -agora totalmente branco. Um bigode que talvez não represente muito para a geração que não viu o simples eletricista de Gdańsk fundar o partido Solidariedade, que, por meio de greves e protestos adotados por milhões no início dos anos 1980, pôs um fim ao regime totalitário comunista e serviu de estopim para a derrocada de toda a União Soviética, em 1991.

Um bigode que ganhou o Nobel da Paz, em 1983. Um bigode que virou símbolo da luta pelos direitos dos trabalhadores. Foi para manter esse bigode "vivo" que o diretor Andrzej Wajda, nome fundamental do cinema polaco, decidiu filmar "WałęsaCzłowiek z Nadziei" (Wałęsa: homem da esperança), biografia ficcional daquele que chama "amigo" há mais de três décadas.

"Acho que a nova geração está procurando o herói do tempo atual e quis mostrar o que fizemos 30 anos atrás", conta Wajda, 87, ganhador de um Oscar honorário em 2000 e indicado quatro vezes para o prêmio da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas na categoria de melhor filme estrangeiro -por "Terra Prometida" (1975), "As Senhoritas de Wilko" (1979), "O Homem de Ferro" (1981) e "Katyn" (2007). "A nova geração está perdida, sem um líder, sem uma referência. Talvez esse filme mostre uma luz."

Exibido na penúltima noite de Veneza, "WałęsaCzłowiek z Nadziei"  é claramente um atestado de idolatria. Usando a entrevista do sindicalista à italiana Oriana Fallaci (1929-2006), uma das mais conhecidas jornalistas dos anos 1970, interpretada por Maria Rosaria Omaggio ("Para Roma, com Amor"), o cineasta restringe o período de tempo coberto pelo filme na vida de seu retratado.

Viaja para 1978, quando mostra Wałęsa (Robert Wieckiewicz) assinando um contrato de "informante" para o governo comunista em troca de liberdade, até sua liderança ao unir os principais sindicatos do país, em 1980. Apesar de mostrar o descaso do político em relação à mulher, Danuta Gołoś (Agnieszka Grochowska) e aos filhos, o longa exclui seu controvertido e criticado período como presidente da Polônia (1990-95).

Da mesma forma, nem passa perto de retratar os posicionamentos de Wałęsa contra o aborto e casamento entre pessoas do mesmo sexo. E ignora sua retumbante declaração contra o partido gay polaco - no início do ano, Wałęsa falou que os representantes da minoria deveriam ficar no fundo do Congresso ou fora dele.

"O ataque ao filme vai ser grande quando ele estrear na Polônia, em outubro", admite Wajda. "Mas a responsabilidade é toda minha." O próprio Wałęsa mostrou-se menos cioso em Veneza: falando à Folha, não se esquivou dos assuntos polêmicos. Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

* Folha - O senhor carrega algum ódio no coração?

Lech Wałęsa - Sinto raiva, mas diferente. É um rancor sobre o que está acontecendo na Síria. Por 20 anos eu tenho falado para a Nações Unidas e para todo mundo que precisamos reorganizar o planeta, porque precisa haver um sistema político-econômico novo. Mas ninguém ouve. Não é o comunismo nem o neocapitalismo. Temos três pessoas em escritórios decidindo regras e dizendo como devemos nos comportar, mas ninguém está fazendo nada. Os EUA não sabem o que fazer, porque não tem uma contrapartida financeira. Se os EUA não conseguem resolver, passem para os polacos, que nós fazemos isso. E se há outro ponto pelo qual sinto raiva, é porque minha mulher não está aqui comigo.

O que significa esse símbolo em sua lapela?

É a Ave Maria. No início dos anos 1980, um grupo de peregrinos me forçou a usar. Eu falei: "Enquanto eu estiver combatendo governos, eu sempre usarei o broche". Desde então, nunca deixei de usá-lo. Mantive minha promessa até hoje. Sempre tenho um terço comigo, porque sou católico e vou à igreja todos os domingos, mas isso é outra coisa. Não gosto de demonstrações explícitas de religiosidade.

Como foi se ver no filme, com outra pessoa o interpretando?

Não pensei muito nisso. O mais importante para mim, quanto ao filme, é ver que nossa vitória está conservada para sempre, que podemos dar o exemplo para uma nova geração. Uma luta não é vencida completamente se você não fala sobre ela para os outros. O filme de Wajda tem uma mensagem sobre lutar pelas causas em que você acredita. Como sou uma pessoa meio conhecida, essa mensagem poderá ser "lida" pelo mundo. Lutas ainda são importantes e, se conseguirmos reformar o mundo e obter melhores salários para os trabalhadores, eu terei alguns monumentos erguidos em minha homenagem (risos).

O senhor se envolveu diretamente com as filmagens do longa?

Eu fugi dele. Estava curioso sobre a visão de Wajda e sobre como ele representaria, no cinema, esse período difícil. Minha presença seria uma interferência, e eu queria que esse grande artista que é Wajda apresentasse a história da maneira dele. Um filme é como um dominó: se você derrubar uma peça, ele cai inteiro.

No filme, podemos ver que foram tempos difíceis para sua mulher. Como foi reviver isso na tela?

Eu e minha mulher fomos criados de maneira conservadora. A mulher é responsável por tudo relacionado à casa e aos filhos. E o marido precisa prover o dinheiro. Eu tentava fazer o simples, que era trazer o dinheiro para casa, mas precisei me sacrificar por inteiro pela política, e ela sofreu com isso, porque tínhamos seis filhos. Eu não falava nada sobre política com ela, não pedia conselho e nem a informava. As decisões eram todas minhas. Hoje vejo que talvez não tenha sido a melhor decisão. Ela soube do Nobel pelo rádio e ficou surpresa [depois ela iria a Oslo receber o prêmio em nome de Wałęsa . Então, eu não tenho direito a ser líder nenhum (risos).

Recentemente o sr. ocupou o noticiário devido a declarações contra a presença de representantes de minorias gays no Congresso polaco. O sr. tem a dimensão de quanto isso pode ter manchado sua imagem de defensor da liberdade?

Não foi bem isso que eu falei na televisão [que as minorias devem ficar na última fileira do Congresso ou até fora dele], mas tenho uma visão clara sobre a política de hoje: a sociedade precisa se refletir nas eleições democráticas, que têm de mostrar como ela é dividida. E essas frações significam que os partidos menores têm menos espaço no Congresso. Essa é minha opinião, mas eu não estava tentando eliminar ninguém.

Então, o senhor não acha que os gays deviam ser presos?

Não, claro que não. Isso foi um mal-entendido. Eu sei que Deus criou essas pessoas e sei que precisamos compreendê-las. Mas não vou deixar que elas me dominem.

O que o sr. acha do casamento gay?

Deveria haver uma nova regra baseada no casamento tradicional para permitir aos gays se unirem. Casamento é diferente, porque é entre um homem e uma mulher e envolve procriação. Precisamos de uma nova regra, para que todos sejam respeitados.

P.S.
a pronúncia correta dos nomes é:
Lech Wałęsa (atente para os sinais nas letras) é lérrreehh vaúensa
Andrzej Wajda é andjei vaida
O jornalista da Folha, parece ter se informado à respeito do líder polaco apenas por informes das agências internacionais de notícias, pois o tom de seu texto demonstra um certo preconceito contra a figura de Wałęsa e por Wajda não ter apresentado o homem criticado pelos partidos políticos de oposição.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Polacos trocam comida por telas LCD


Subtrair da boca para atender à necessidade de modernos aparelhos eletrônicos? Os polacos mudaram seus hábitos alimentares durante os anos de crise. E não só isso, aprenderam a procurar os preços mais baratos na concorrência. Os dados, recém publicados pela Central de Estatística mostram que, em geral, os polacos estão comendo menos. Caiu o consumo de quase todos os alimentos.
-  Pão: atualmente se come 4,3 kg por mês de pão. Cinco anos atrás, no início da crise, era de quase 5,1 kg
- Carne: Hoje - 5.4 kg / mês. Antes da crise - 5.6 kg / mês
- Peixe: Hoje - 0,42 kg / mês. Antes da crise - 0,47 kg / mês.
- Leite: Hoje - 3,4 litros / mês . Antes da crise - 3,6 l / mês.
- Legumes: Hoje - 9,6 kg / mês. Antes da crise - 10.5 kg / mês.
- Doces: Hoje - 1,67 kg / mês. Antes da crise - 1,86 kg / mês.
- Frutas: Hoje - 3,45 kg / mês. Antes da crise - 3,59 kg / mês.
Também diminuiu fortemente o consumo de arroz, massas, cereais e flocos, manteiga e margarina, ovos, chá, café ou suco de frutas.
Apenas a água mineral, entre os produtos básicos registrou um crescimento expressivo de 2,9 litros para 4 litros consumidos em média pelos polacos. Apesar de o consumo limitado de nossas despesas de alimentos não caíram . Curiosamente, apesar da inibição da ingestão de alimentos, o polaco médio não diminuiu o apetite por equipamentos eletrônicos modernos e eletrodomésticos.
- A TV de Plasma ou LCD, que já em 2009, 22 por cento da população já possuía pelo menos uma unidade, atualmente mais da metade do moradores urbanos já a possuem, ou 55 por cento dos que vivem na cidade e 46 por cento moradores das vilas rurais.
- Computador com acesso à rede de Internet, que em 2009, era a metade da população a possuir, atualmente este percentual é de dois terços da população.     - Máquina de Lavar Louça, em 2009, era de 12 por cento, agora passa dos 20 por cento dos habitantes (sendo 17,5 por cento na zona rural).
- Fogão elétrico com placa de cerâmica de cada 10 polacos 3 deles já possuem este eletrodoméstico.
De posse dos dados a imprensa está a se perguntar: por que este paradoxo de economizar em comida, mas não em equipamento eletrônico? Não comer, para comprar uma tela LCD?
Entrevistado pelo jornal Metro (sim aquele mesmo que é entregue gratuitamente nas ruas de Curitiba e São Paulo) o prof. Witold Orlowski da PwC (PricewaterhouseCoopers Polska Sp. z o.o.) respondeu que "os polacos sentiram a crise, tornaram-se cada vez mais receosos a repeito do mercado de trabalho e, certamente, isso teve um impacto nas suas compras de alimentos. Eles procuraram por alternativas mais baratas. Mas duvido que a redução quantitativa da ingestão de alimentos possa ser de ordem econômica. Comprar menos comida é sim uma conseqüência da moda por um estilo de vida mais saudável. De um ponto de vista médico, deve-se estar feliz que mais pessoas pararam de comer demais".
Já para o economista Marek Zuber da Dexus Partners, "há pessoas que adiam a decisão de comprar suas casas próprias, vivendo de alugueis em pequenos apartamentos só para ter o prazer de dirigir carros de luxo. Há também um grupo de pessoas que são capazes de comer menos para gastar esse dinheiro em gastar em produtos mais caros".
Já o prof. Tadeusz Popławski, sociólogo da Universidade de Białystok, não é de todo surpreendente que os polacos tirem da boca para tomar posse de equipamentos sofisticados: "Hoje, a tecnologia moderna não é mais um luxo, tornou-se necessidade básica. Desejá-los a um grau semelhante ao da comida pode ser explicado pela lente de como é visto o comportamento das crianças - uma vez a criança pediu aos pais dinheiro para comprar doces, batatas fritas e  sorvetes. Hoje, as mesmas crianças, colocam em um cofrinho dinheiro para comprar em seu smartphone ou tablet".

sábado, 21 de setembro de 2013

Wiesenthal esbarrou em bispo católico quando buscava Wächter

Otto Wächter (esq.) com Heinrich Himmler (centro), durante a ocupação alemã na Polônia

Por Roberto Almeida e Vitor Sion | Viena e São Paulo

Terminada a Segunda Guerra Mundial, em 1945, centenas de sobreviventes do Holocausto passaram a procurar nazistas fugitivos para tentar levá-los à Justiça ou fazê-la com as próprias mãos. Aquele que ficou mais conhecido com essa iniciativa foi Simon Wiesenthal (1908-2005), cuja história se ligou à de Otto Wächter, comandante da SS e ex-governador da Cracóvia, na Polônia, e da Galícia, noroeste da Ucrânia.
Em seu livro “Assassinos Entre Nós”, Wiesenthal diz ter visto Wächter no dia 15 de agosto de 1942 coordenando os trens da morte que levaram judeus de Lwów, hoje Ucrânia, para o extermínio. Cerca de quatro mil idosos foram arregimentados e enviados para campos de concentração. Entre eles, relembra o ativista judeu, estava a mãe que nunca mais tornaria a ver.
O filho de Wächter, Horst, nega a informação. Ao receber a reportagem de Opera Mundi no Castelo Hagenberg, Horst apresentou como prova uma carta do líder nazista à mulher, dizendo que estava em reunião do partido na Cracóvia. Ele diz ainda que Wiesenthal confundiu seu pai com Fritz Katzmann, que era o chefe da SS em Lwów. 

Carreira de Wiesenthal
Em favor da versão de Horst, além do documento, está o histórico de erros da obra de Wiesenthal. Ao tentar capturar o famoso médico de Auschwitz, Joseph Mengele (1911-1979), que veio para o Brasil após a guerra, o pesquisador disseminou ao menos duas informações falsas. A primeira delas dizia que Mengele estava em Porto São Vicente, na região do Alto Paraná, no Paraguai.
No entanto, autoridades paraguaias responderam que tal localidade nem sequer existia. Antes disso, em novembro de 1968, Wiesenthal distribuiu à imprensa e aos órgãos policiais supostas fotos de Mengele nas ruas de Assunção.
O fotografado, porém, não era o médico de Auschwitz. O trabalho de Wiesenthal, no entanto, foi fundamental para muitos sucessos em prisões de nazistas. Teve papel relevante nas buscas por Adolf Eichmann (1906-1962), finalmente capturado em 1960 na Argentina e levado a Israel por agentes do serviço secreto do país, o Mossad.
Eichmann foi o responsável pela montagem burocrática do sistema de extermínio nazista, e seu julgamento, em 1962, foi um marco na história da condenação de criminosos de guerra. O caso também é bastante conhecido por ter sido objeto de reflexão da filósofa Hannah Arendt, que resultou no livro “Eichmann em Jerusalém”.
A prisão de outro nazista de alto coturno, o chefe do campo de Treblinka, Franz Stangl (1908-1971), é resultado direto das pesquisas de Wiesenthal. Um genro de Stangl teria fornecido ao austríaco, já famoso pela busca de nazistas, a localização de Stangl, preso em 1967 no Brasil.
Na época, ele trabalhava com o nome verdadeiro na Volkswagen, em São Bernardo do Campo (SP) e foi extraditado para a Alemanha, onde foi julgado e condenado a prisão perpétua. Logo em seguida à prisão de Eichmann, animado com a captura, passou a considerar Wächter “o fugitivo nazista mais odiado”. Seu paradeiro, até então, era desconhecido e as circunstâncias de sua morte, duvidosas.
O comandante da SS e governador havia escapado para Roma sob nome falso, no pós-guerra. Passara a se chamar Alfredo Reinhardt e estava sob os cuidados do bispo austríaco Alois Hudal, responsável pela chamada “Linha dos Ratos”, que acobertou e facilitou a fuga de criminosos de guerra para a América do Sul – entre eles, Mengele e Stangl. Ele manteve sob proteção Wächter e seu arquivo, conhecido como “Arquivo Wächter”, no mosteiro Santa Maria Dell’Anima, perto da Piazza Navona, em Roma.
Opera Mundi teve acesso às correspondências do ativista judeu depositadas no Instituto Simon Wiesenthal, em Viena, que narram a investigação sobre o paradeiro do comandante da SS e sobre seu arquivo, uma caixa de documentos do governo nazista na Galícia polaca, que continha informações importantes sobre a morte de milhares de judeus no leste europeu.
Em sua investigação, Wiesenthal conseguiu reunir farta documentação proveniente de Berlim, como a ficha completa do comandante da SS e todos os seus passos na carreira militar, mas ainda buscava informações relevantes sobre os guetos e os trens da morte das cidades polacas de Cracóvia (Polônia) e Lwów (hoje Ucrânia), de onde saíram as locomotivas e vagões que levaram sua mãe.
As correspondências, porém, mostram que os pedidos de informações preciosas sobre o paradeiro de Wächter e seu arquivo esbarraram nas negativas do esquivo bispo Hudal.

Insistência e frustração
Durante as décadas de 1950 e 1960, período em que Wiesenthal mais se esforçou em encontrar o arquivo, a morte de Wächter em Roma já havia sido noticiada por jornais austríacos e italianos. Mesmo assim, desconfiado das circunstâncias, o ativista judeu pediu diversas vezes ajuda a terceiros, que sondaram o bispo Alois Hudal sobre a morte e os pertences do comandante da SS.
“Meu colega, um alto aristocrata austríaco, visitou o bispo Hudal em 1950 e perguntou sobre o Arquivo Wächter. Hudal disse a ele que o arquivo estava depositado na ‘Anima’, mas que ele não poderia acessá-lo”, escreveu Wiesenthal em 21 de junho de 1961 a um procurador da cidade de Waldshut, no sul da Alemanha.
Sem desistir, Wiesenthal endereçou mais cartas a procuradores alemães e italianos, expondo a necessidade de encontrar os documentos. Em 28 de março de 1962, o ativista judeu recebeu uma resposta desanimadora da procuradoria de Ludwigsburg, dedicada a investigar os crimes do nazismo.
“Bispo Hudal declarou que nunca viu o Arquivo Wächter. Ele viu Wächter uma única vez e ele tinha sido envenenado, morrendo em um hospital de Roma. Ele é o diretor da igreja alemã assim chamada e deu a ele o último sacramento”, afirma o procurador. Ele continua: “Não vejo necessidade de continuar a investigação, afinal, as informações comprovam que Dr. Wächter não está mais vivo.” Mesmo depois da negativa, Wiesenthal manteve correspondência com um de seus informantes, Theodor Faber, em Salzburgo.
Em 3 de abril de 1962, pouco depois de receber a carta da procuradoria de Ludwigsburg, o ativista judeu afirmou que ainda acreditava que os documentos estariam na igreja, confiando na primeira informação recebida. No entanto, o arquivo nunca foi encontrado. O destino do arquivo Horst Wächter, filho do comandante da SS, afirmou a Opera Mundi que sua mãe, “desesperada e sem saber o que fazer com os documentos”, destruiu o arquivo e deixou para sempre uma lacuna na história.
Mesmo sem acesso aos números, dados e protocolos da administração nazista na Galícia, há documentos depositados no Castelo Haggenberg e compilados por Horst, sob análise de acadêmicos alemães, que podem ser considerados uma nova fonte de valor incalculável para a história do nazismo. São centenas de fotos e correspondências entre Otto Wächter e sua mulher, Charlotte Bleckmann, que trazem informações inéditas sobre a atuação do comandante da SS à frente da administração da Galícia.
As cartas atravessam a Segunda Guerra Mundial e chegam ao período em que o nazista estava escondido em Roma, sob proteção do bispo Hudal. As informações desenham um perfil detalhado do nazista, que encheriam os olhos de Simon Wiesenthal. O ativista judeu morreu em 2005 sem saber o paradeiro daquele que considerava seu maior inimigo.
Wiesenthal tentou, até a década de 1980, buscar mais informações sobre Wächter, novamente sem sucesso. Horst afirma que, àquela época, “não estava preparado” para abrir o arquivo. Foi a partir dos anos 2000 que mergulhou nos documentos. “Com o passar dos anos, a necessidade de dizer a verdade aumentou, assim como a reação contrária da minha família”, disse.

Em carta do arquivo, Wächter fala em fugir para o Brasil


Caro Ladurner! 

Eis que volto agora da cidade completamente acabado. Durante o dia a temperatura chega a graus consideravelmente mais quentes. Mas as noites esfriam maravilhosamente. Eu agora entendo porque todos os homens aqui vestem camiseta regata por baixo da camisa. Resfria-se muito facilmente com a mudança de tempo, razão pela qual o guia Baedecker e a experiência de Deterling acham aqui muito pior que no Norte.
Agora, vamos ao que interessa:
I. Documentos: nenhum progresso desde minha última carta. Situação em nada mudou! – O P.A. prometido [passaporte, possivelmente] tampouco tenho em mãos ainda; devo conseguir na próxima ou nas próximas duas semanas.
II. Emigração. – Aqui lhe dou o resultado das conversas que tive nos últimos dias a respeito desse assunto. Garantias sobre a pertinência deles, naturalmente não posso endossar.
Segundo Hu. [Alois Hudal, possivelmente], passaportes da Cruz Vermelha não serão mais expedidos após o fim de maio. Essa função será então transferida para um departamento do Vaticano. Ele acredita que o documento emitido pelo Vaticano poderá ter menos valor que os atuais (que por sua vez já possuem reconhecimento bastante limitado).
Detering tem outra opinião e diz que esse tipo de afirmações já se repetiram várias vezes sem jamais terem sido provadas. – O processo de obtenção você conhece. É preciso ter prova de apátrida. H. poderia lhe fornecer uma, mas somente sob o seu nome verdadeiro! – D. tem outro caminho, que também possibilita outras coisas.
Como o lance da “Libre” continua e continuará evidentemente enrolado, H. sugere pegar um visto de turista, que segundo ele é possível obter com um passaporte da Cruz Vermelha, para conseguir chegar até lá. As cerca de 150.000 liras necessárias, ele sugere pegar emprestado aqui, pois ficaria muito feliz com a possibilidade de conseguir dinheiro bom em troca. – (Eu sei o quão teórica é a coisa, mas quero lhe reportar sobre tudo, e especialmente as possibilidades discutidas. E quem sabe se, enquanto isso, você mesmo já não tenha encontrado um financiador de peso!?). Aqui achamos que, quando você estiver já do outro lado, você vai se virar de alguma forma. – Segundo H., um visto de turista é concedido mediante apresentação de quaisquer informações sobre intenção ou motivos de visita.
Em conversas com atuais candidatos à Argentina, pude verificar que estes, devido às conhecidas dificuldades, foram até o Brasil para mudar de profissão. –Você deverá fazer o mesmo quando estiver do outro lado, para aumentar suas chances de sucesso. –O consulado que emite o visto (Br. [Brasil] não tem conhecimento de nenhum “Libre”) exige:
1) Passaporte (também da Cruz Vermelha, desde que junto com qualquer documento mais antigo, de antes da Guerra, e com fotografia; carteirinha de clube alpino, por exemplo, deve servir).
2) Certidão de Nascimento
3) Certidão de Casamento
4) Carteira profissional (do tipo técnico ou agronômico), ou um atestado de que trabalhou por mais de dois nessa tal profissão (atestado da firma é suficiente).
5) Declaração de que não é comunista (anexo nesta).
Também conversei com um senhor que se encontra na mesma situação que você, e que também espera (para ir à) Argentina desde dezembro.
Ele me contou uma notícia direto da fonte: os brasileiros na verdade não reconhecem os passaportes da Cruz Vermelha, mas se contentariam com um passaporte austríaco ou I.Karte [carteira de identidade]. Além disso, é possível falar de maneira bem aberta com eles, sem que as autoridades austríacas tomem conhecimento. As outras quatro exigências supracitadas são, segundo ele, também necessárias.
Ele mais tarde comentou, quando falávamos do seu caso, que acreditava poder levantar o financiamento para lhe ajudar (da mesma maneira que havia conseguido para si). Condição indispensável para isso é que você declare ser Protestante (isso mesmo: Protestante!!). – Trata-se aqui da organização que já financiou a viagem de um grande número de interessados, e da qual até há pouco fazia parte aquela famosa dama americana. Naquela época também pagavam, excepcionalmente, para pessoas de outras confissões, mas agora, com a mudança de regime, essa opção está infelizmente descartada. – Eu devo dizer que essa pessoa de que falo me parece ser um homem bastante sério, depois de tudo que pude saber sobre ele. – O dito cujo também disse que daqui dez dias, ou seja, lá pelo dia 20, estará aqui pra pegar seu navio. Nesse tempo ele poderia lhe dar uma ajuda nessas coisas, conforme ele mesmo disse. –Eu sei muito bem que essas coisas não lhe agradam por princípio, mesmo assim não gostaria de deixa-lo desinformado sobre esta possibilidade, e lhe manterei informado do que acontecer.
Quanto a uma eventual permanência aqui, seria possível lhe arranjar almoço e jantar de graça no refeitório papal, em princípio por uma semana (renovável). É meio primitivo, assim como a companhia, mas é o que há. – A grande dificuldade continua sendo como sempre o bairro. Eu acabei agora mesmo de falar sobre isso com D. Nós não vemos nenhuma outra possibilidade (para pernoite), além do instituto onde eu dormi na minha primeira semana (400 por noite com café-da-manhã 450) ou uma pensão que D. citou (300 a 350 por noite). Se você ficar apenas na semana até o dia 20, é possível agitar. – Eu aguardo assim a sua decisão.
Eu gostaria ainda de enfatizar, como já o fiz na minha primeira carta, que se você quiser vir até aqui por documentos, os custos e despesas no momento não valem a pena. Se você tem interesse nas coisas aqui discutidas e ainda consegue encarar todos os obstáculos e cumprir todos os requisitos, aí sim as suas despesas e o seu tempo estarão mais que justificados. No caso de você não querer ir ao Brasil, e essa oferta vale só para lá, você poderá economizar seu dinheiro tranquilamente e deixar a manivela girando comigo, como venho fazendo há tanto tempo durante essa longa estadia aqui. De toda maneira haverá sempre nuances aparecendo, as quais, quando eu achar relevante, continuarei lhe informando como nesta.
Aquele sujeito que o Pri. e o seu amigo Redator bem chamavam de Croata infelizmente já se foi para a Argentina há bastante tempo. E não deve voltar nunca mais.
Se você vem até aqui, melhor tomar o trem noturno que chega de manhãzinha para não passar pelas mesmas complicações que eu passei, e me avise com antecedência por telegrama.
Neste ínterim, cordiais saudações,

Alfredo Reinhardt

Por favor me escreva o endereço daquele parente meu de nome, o seu antecessor R., que está na Argentina. Gostaria de escrever a ele e me informar sobre o mapa (pode ser também um cartão).

Grande abraço e um beijo nas mãos de Frau F.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Alemanha está exportando idosos para a Polônia

A pacata Szklarska Poręba nas montanhas silesianas
Por Naomi Kresge, 
da Bloomberg

Sonja Miskulin se esqueceu de seu amado gato, Pooki. Ela não pode lembrar se tem netos e não recorda a viagem de nove horas realizada num recente domingo, no qual ela abandonou para sempre sua casa na Alemanha.
A ex-tradutora, que sofre de demência e anda em cadeira de rodas, comemorou seus 94 anos, no mês passado, em uma casa de repouso na Polônia. Sua filha a mandou para o local para que tenha uma vida melhor e um tratamento mais econômico. Miskulin uniu-se à vanguarda de um movimento controvertido: residentes de asilos que emigram.
A tendência à “exportação de avós” tem causado indignação na Alemanha. O maior jornal de Munique denunciou o fenômeno como sendo de “colonialismo gerontológico” e o comparou às nações que exportam lixo próprio.
Contudo, cada vez mais famílias como a de Miskulin afirmam que é a melhor opção para dar uma velhice digna aos seus pais idosos – e poupar dinheiro – perante a falta de atenção de boa qualidade em casa. Segundo uma pesquisa feita em março pela TNS Emmid, uma das maiores empresas de sondagens da Alemanha, um em cada cinco alemães consideraria atualmente viajar ao exterior para procurar uma casa de repouso. “Eu somente posso dizer: crianças, quando seus pais ficarem velhos, mandem-nos à Polônia”, disse a filha de Miskulin, Ilona von Haldenwang, de 66 anos.
Idosos que migram da Alemanha são um sinal de alerta para um desafio de proporções globais. À medida que a taxa de natalidade decresce, que a esperança de vida aumenta e a geração de baby boomers chega à velhice, as Nações Unidas estimam que a população mundial de pessoas com mais de 60 anos mais do que triplicará, chegando a quase 2 bilhões em 2050. Enquanto isso, mesmo em países como a Alemanha, onde o governo assiste aos idosos, o custo dos asilos está tornando-se rapidamente proibitivo.
Espera-se que os gastos dos alemães em atenção médica com seus idosos aumentem, no longo prazo, de 1,4 por cento para 3,3 por cento do PIB em 2060, segundo um relatório da Comissão Europeia publicado no ano passado.

O novo lar de Miskulin é uma pitoresca estância de esqui chamada Szklarska Poręba, (próxima a cidade de Jelenia Góra, quase fronteira com a República Tcheca) cuja tradução aproximada é “Clareira para fazer vidro”, nome derivado das muitas fábricas de vidro que antes estavam na região.
Sua filha escolheu a casa de repouso sem vê-la, depois de estudar seu site e reunir-se com uma agente de colocação em casas de repouso. O que começou como um ato de desespero – exportar sua própria mãe – logo começou a fazer sentido.
Durante quatro anos, Von Haldenwang viu como a saúde da sua mãe se deteriorava no que ela atribuiu ao mau atendimento na Alemanha. Agora, por um terço do preço dos cuidados cobrados na Alemanha, Sonja mora em um lugar de cem anos, luxuoso e restaurado, onde desfruta de boa comida, da atenção permanente e de terapia ocupacional.
Os donos afirmam que no futuro próximo metade dos pacientes virá da Alemanha, que possui, por lei, um seguro de longo prazo oferecido pelo Estado em um programa de quase vinte anos de antiguidade, benefício que está fora do alcance da maioria fora da Europa, como nos EUA.
O seguro paga 1.550 euros (US$ 2.060) por mês aos cidadãos alemães como Miskulin, que precisam do maior nível de atenção. É menos da metade do custo médio para tal tratamento na Alemanha, que chega a 3.250 euros.
As casas de repouso na Polônia estão anunciando o que, podem ser em alguns casos similares ou até melhores, os serviços por 1.200 euros por mês. O governo alemão paga até 700 euros pela atenção fora do país. Trata-se de uma equação persuasiva para os alemães mais velhos e seus filhos adultos. Além disso, é provável que os custos no país somente aumentem: espera-se que a população da Alemanha figure entre as mais idosas do mundo em 2050 junto com a japonesa, a sul-coreana e a italiana, com 15 por cento de pessoas com mais de 80 anos, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico.
O atrativo dos alemães idosos com dinheiro no banco chamou a atenção dos empreendedores polacos e dos donos de fazendas que já viveram tempos melhores. Um dos novos estabelecimentos tentou transferir um pedacinho da Alemanha para a localidade polonesa de Zabełków.
Como Szklarska Poręba, Zabełków fica na Silésia, uma região que durante muito tempo foi ocupada pelos alemães da Prússia e pelo Império austríaco dos Habsburgo, integrando-se finalmente à Polônia após a Segunda Guerra Mundial.
Na casa de Zabełków, as enfermeiras falam alemão, os anúncios do elevador estão em alemão e a cozinha foi feita pela Robert Bosch GmbH. Seus pacientes comem refeições clássicas da Alemanha como o jantar frio com pão, carne defumada e queijo.
Na televisão grande de tela plana, é possível ver o jogo de futebol entre o Wolfsburg e o Mönchengladbach, pela Bundesliga alemã.
A roupa de cama, o sistema de ligação de emergência e as luvas sanitárias são feitas na Alemanha – até mesmo as colheres de chá são fabricadas pela marca alemã BSF.
Desde que abriu na última Páscoa, a residência já ocupou suas 34 camas e está terminando de construir seis quartos individuais no sótão, que já estão reservados para novembro, conta Fabrice Gerdes, que foi gerente na inauguração.
Gerdes, consultor de gestão nascido na Alemanha, construiu a casa com seu sogro polaco em frente à fazenda onde sua sogra nasceu. “Superamos por muito as metas que tínhamos estabelecido”, disse Gerdes. A casa que Von Haldenwang acabou escolhendo para sua mãe foi pensada, originalmente, para polacos com dinheiro.
Após a abertura em setembro de 2012, os donos – que também possuem um centro médico no distrito de Karpacz – descobriram que a maioria dos seus clientes era de alemães e de polacos que moravam no exterior. 
Miskulin teve sorte: ela tinha passado parte da sua vida como funcionária pública, recebendo uma pensão relativamente generosa de 1.500 euros por mês, quase suficiente para cobrir sua parte dos custos da casa de repouso do lado da casa da sua filha onde ela estava originalmente.
Mesmo assim, acumulavam-se custos extras de até 250 euros mensais por cortes de cabelo, manicure e pedicure, “somente para fazer dinheiro”, disse Von Haldenwang.
Enquanto isso, ela começou a procurar uma casa nova, primeiro, nas redondezas, e depois, desanimada, pelo preço da atenção e com a qualidade, mais longe. Para achar uma residência na Polônia, Von Haldenwang acudiu a um intermediário: o empresário Günther Stobrawe. Um ex-agente de vendas à distância, Stobrawe criou, no ano passado, um serviço de colocação para alemães em casa de repouso na Polônia.
Ele criou o local com sua mulher – polaca e ex-administradora desses estabelecimentos na Alemanha – e um amigo. Muito longe Stobrawe conta que o negócio começou a decolar nos últimos meses. A companhia já aconselhou mais de cem famílias, recebeu oito idosos e assinou contratos para mudar mais sete para a Polônia nos próximos meses.
A companhia possui parcerias com oito casas de repouso na Polônia. “Nossos clientes não dependem da previdência social”, explica Stobrawe enquanto bebe seu cappuccino e uma água mineral na estação de trem em Wiesbaden, uma luxuosa cidade perto de Frankfurt, famosa pelos seus banhos. “São pessoas que pouparam algo”. Von Haldenwang afirma que a saúde da sua mãe está melhor agora do que quando morava perto dela.
Ela não toma sedativos, está mais desperta e ciente do que acontece em volta dela, conta a filha. Ela voltou a se lembrar do polaco – uma das muitas línguas que falava como tradutora – nas conversas com a diretora Grab, que por sua vez recebe lições de alemão de um paciente. “A nacionalidade não parece ter a mínima importância”, disse Grab. “Estávamos um pouco nervosos pelo aniversário da guerra, mas vimos que uma das pacientes, uma polaca que lutou na Revolta de Varsóvia, sentou-se à mesma mesa com dois alemães e viraram amigos”.

Eleições alemãs não despertam interesse na Polônia

Merkel ao lado de Donald Tusk em visita a Polônia
Entre a opinião pública alemã, a atual chanceler federal alemã é apresentada na maioria das vezes como uma parceira confiável na Europa. A simpatia por se tornou tanto maior quando se veio a público que seu pai era polaco. "Quando ela falava antigamente que era fã da Polônia, pensávamos que era por causa de viagens que ela tinha feito ao país na época do comunismo. Hoje, essas palavras encontram-se num contexto totalmente diferente", escreve o maior diário polaco, a Gazeta Wyborcza.
Angela Merkel
De maneira geral, contudo, o interesse da mídia polaca pelas eleições alemãs é pequeno. Parte-se do princípio de que Merkel irá continuar governando. O escritor e jornalista Adam Krzemiński critica também a falta de vigor da campanha eleitoral alemã: "Nenhum assunto, nenhum debate, nada sobre o que se pudesse realmente brigar", descreve Krzemiński.
Ele questiona se "as fraquezas estruturais dos social-democratas" podem ser responsabilizadas, pois o partido, na oposição, não engrenou com força na campanha.
E num ponto Krzemiński dá razão a Peer Steinbrück: o social-democrata vê no passado de Angela Merkel (ela cresceu na ex-Alemanha Oriental) seu desinteresse pela Europa. "O pensamento de comunidade na Europa não era algo conhecido dos cidadãos lá", diz o jornalista, apontando "uma pontinha de verdade" nas polêmicas declarações de Steinbrück.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Câmara Federal aprova acordos com Polônia

Câmara Federal em Brasília
A Câmara Federal dos Deputados, do Brasil, aprovou nesta quinta-feira (12), os projetos de decreto legislativo (PDC 825/13) e (PDC 873/13), que tratam, respectivamente, dos acordos assinados com Canadá, na área de Previdência Social; e Polônia, na área de Defesa.
O PDC 825/13 assegura que cada sistema pague ao beneficiário, em sua própria moeda, apenas o equivalente ao período de contribuição efetuado no respectivo país. Como, por exemplo, a soma dos períodos de contribuição para os sistemas de previdência de ambos os países, para fins de aposentadoria e outros benefícios previdenciários.
O Brasil já mantém acordos semelhantes com Argentina, Uruguai, Paraguai, Espanha, Grécia, Itália, Portugal e Japão.
Já o PDC 873/13 estimula a troca de experiências e conhecimentos com a Polônia, a realização de programas e projetos comuns em tecnologia, produtos e serviços de defesa, além da realização de eventos conjuntos.

Por J.Maurício dos Santos

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Polônia investe em xisto e carvão


O primeiro-ministro da Polônia disse esta semana que o país vai apostar no carvão e no gás de xisto para sustentar a sua independência energética, com investimentos limitados em energias renováveis.
A Alemanha é outro país europeu que volta a investir em carvão para compensar o fim das usinas nucleares, depois do acidente com a central de Fukushima, no Japão, em 2011. “Nós queremos ter fontes de energias renováveis, mas são a hulha, o lignito e, no futuro, o gás de xisto, que serão as nossas principais fontes de energia.
Este é o futuro do setor energético”, afirmou Donald Tusk, ao inaugurar uma feira internacional da indústria de minas em Katowice, no sul do país. “Nós decidimos que as fontes de energia renováveis, um complemento importante para o setor energético polaco, serão limitadas enquanto as regras europeias permitirem”, observou.
 “É preciso respeitá-las mas não podem nos privar do nosso bem nacional. Cada país constrói a sua independência energética e industrial com as suas próprias fontes. Percebemos isso durante o período de crise econômica.” Tusk lembrou que, nos últimos anos, a Polônia investiu em pesquisas para diminuir a poluição gerada com o tratamento do carvão.
Atualmente, 91% da energia elétrica do país vem da hulha e do lignito, cujas reservas são suficientes para atender as demandas do país nos próximos 150 anos. Cerca de dois terços dos 14 bilhões de metros cúbicos de gás consumido na Polônia hoje são importados da Rússia.
Preocupado em garantir a sua independência energética, o país também aposta na exploração do gás de xisto. Em julho, uma primeira extração, a título experimental, foi realizada. O governo espera investir 12,5 milhões de euros até 2020 para extrair este combustível fóssil.
As reservas do país são estimadas entre 800m e 2 milhões de metros cúbicos. Na Alemanha, o debate sobre a transição para as energias renováveis está a pleno vapor, a menos de duas semanas das eleições legislativas.
A chanceler Angela Merkel, que briga pela reeleição, prometeu fechar todas as usinas nucleares nos próximos 10 anos. Entretanto, para suprir as necessidades do país, novas usinas de carvão estão sendo abertas no país, embora o objetivo do governo seja que as energias limpas representem 80% da produção elétrica alemã até 2050.

Fonte: RFI