
O deputado do PiS é membro do parlamento europeu e um dos delegados para relações com o Mercosul. Tem 24 anos e nasceu em Gdańsk.
(BLACK-OUT. MÚSICA: NA BOCA DA NOITE, TOQUINHO. UM ATOR SENTADO NO PROSCÊNIO, ENFORCADO. LUZ VOLTA EM RESISTÊNCIA)
ULISSES: Apesar de todas as angústias e sofrimentos desta vida. Tudo vale a pena, como dizia Fernando Pessoa, poeta português, quando a alma não é pequena. E apesar da injustiça passear pelas ruas com os passos seguros, como dizia Bertold Brecht, poeta e dramaturgo alemão, nós preferimos a poesia.
(RETIRA A CORDA DO PESCOÇO)
Aos que vão nascer – Bertold Brecht
TODOS: REALMENTE EU VIVO NUM TEMPO SOMBRIO!
ULISSES: A inocente palavra é um despropósito! Uma fronte sem rugas demonstra insensibilidade.
TÂNIA: Quem está rindo, é porque não recebeu ainda a notícia terrível.
CLEY: Que tempo é este, em que uma conversa sobre árvores chega a ser uma falta, pois implica em silenciar sobre tantos crimes?
MARISE: Esse que vai cruzando a rua calmamente, então já não está ao alcance dos amigos necessitados?
TODOS: É VERDADE AINDA GANHO O MEU SUSTENTO!
RENE: Porém, acreditai-me: é mero acaso. Nada do que faço me dá direito a isso, de comer e fartar-me. Por acaso me poupam. Se minha sorte acaba, estou perdido.
CLEY: Dizem-me: vai comendo e bebendo! Alegra-te pelo que tens!
MARCOS: Mas como hei de comer e beber, se o que eu como é tirado a quem tem fome e o meu copo d’água falta a quem tem sede?
TODOS: NO ENTANTO EU COMO E BEBO!
ULISSES: Eu gostaria bem de ser um sábio. Nos velhos livros está o que é a sabedoria: Manter-se longe das lidas do mundo e o tempo breve deixar correr sem medo.
TODOS: NÃO POSSO NADA DISSE: REALMENTE, EU VIVO NUM TEMPO SOMBRIO!
SOLANGE: Às cidades cheguei em tempo de tumulto, com a fome imperando. Junto aos homens cheguei em tempo de desordem e me rebelei com ele.
FERNANDO: Vínhamos nós mudando mais de país do que de sapatos. Em meio às lutas de classes, desesperados, enquanto apenas injustiça havia e revolta, nenhuma.
MARISE: E entretanto sabíamos: também o ódio a baixeza endurece as feições, também a raiva contra a injustiça, torna mais rouca a voz. Ah!... e nós que pretendíamos preparar o terreno para a amizade, nem bons amigos, nós mesmos pudemos ser.
ULISSES: Mas vós, quando chegar a ocasião de ser o homem, um parceiro para o homem,
TODOS: PENSAI EM NÓS COM SIMPATIA!
FERNANDO: A injustiça passeia pelas ruas com passos seguros.
MARISE: Os dominadores se estabelecem por dez mil anos. Só a força os garante. Tudo ficará como está.
MARCOS: Nenhuma voz se levanta além da voz dos dominadores.
SOLANGE: Nos mercados da exploração se diz em voz alta: Agora acaba de começar! E entre os oprimidos, muitos dizem: Não se realizará jamais o que queremos!
ULISSES: O que ainda vive, não diga: jamais!
CLEY: O seguro não é seguro. Como está não ficará. Quando os dominadores falarem. Falarão também os dominados.
ULISSES: Quem se atreve a dizer: jamais? De quem depende a continuação desse domínio?
TODOS: DE NÓS!
ULISSES: De quem depende a sua destruição?
TODOS: IGUALMENTE DE NÓS!
RENE: Os caídos que se levantem! Os que estão perdidos que lutem! Quem reconhece a situação como pode se calar? Os vencidos de agora serão os vencedores de amanhã.
TODOS: E O HOJE NASCERÁ DO JAMAIS!
MARCOS: Bertold Brecht nasceu em Ausburgo, na Alemanha em 10 de fevereiro de 1898 e faleceu em Berlim em 14 de agosto de 1956. É o mais influente dramaturgo universal do século vinte. A violência em sua poesia é uma constante. Injustiça social, crimes, alcoolismo, nada foi esquecido por ele. Num de seus poemas ele diz: “Eu, Bertold Brecht, sou das negras florestas. Para a cidade minha mãe me trouxe no ventre ainda e o frio das florestas em mim se há de encontrar até eu morrer.” Hoje, podemos dizer que este frio transcendeu a sua morte.