quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

O "sonho" também é polaco



Confesso que desde muito criança sempre gostei de sonhos...
Sim! Dos sonhos dos sonhos!
E também daqueles outros sonhos.
Gostava dos sonhos, que já crescidinho ouvia Maria Bethânia cantar “sonhar, mas um sonho impossível...é minha lei”, da música de Charles Chaplin.

Mas os sonhos que sempre gostei mesmo eram os sonhos de sonho. Sim!

Aqueles bolinhos fritos recheados com marmelada e pulverizados com açúcar de confeiteiro.

Passei minha infância toda me esbaldando com os sonhos que uma tia mineira fazia toda a semana. Ela fazia aquilo como uma espécie de ritual. Como sabia que eu gostava muito, bastava eu fazer uma mãnha, chorar, ficar triste para ela ir pra cozinha preparar sonhos.

Pelo fato dela ser mineira e, portanto, não ter nada de polaco (era tia materna), cresci pensando que sonho era mineiro, que era brasileiro, enfim que fazia parte da tradicional culinária portuguesa.



Chegando aqui na Polônia, um dia fui convidado por uma colega do curso de idioma polaco para irmos numa confeitaria. A colega Norte-americana, filha de mãe polaca com pai Norte-americano, durante o percurso ia só repetindo que dos doces da Polônia ela só gostava mesmo era de Pączki (pronuncia-se pontchqui). 

E eu só pensando, “o que será este pączki”. Arrehh! Devia ter visto no dicionário.”

Qual não foi minha surpresa quando a colega pediu o famoso pączek polaco à senhora do balcão. "Ora! Aquilo eu conhecia. Aquilo era um sonho, meu velho conhecido! Que história era aquela de que sonho é polaco?"

Inconformado. Telefonei para o Brasil. Tinha que perguntar a tia Maria Rita onde ela tinha aprendido a fazer sonhos. Se tinha sido em Botelhos, Minas Gerais, se era uma tradição da família de minha mãe, mineira de quatro costados.

- Que nada! Aprendi na Harmonia, em Monte Alegre. Com uma patroa polaca. Ela fazia todo sábado para a família. Quando chegava alguma visita, ela pedia para eu continuar fazendo os sonhos, enquanto ela conversava.

- Com uma patroa polaca? Então a senhora não fazia sonhos em Minas Gerais? (Perguntei).

- heheh! Em Minas não tinha sonho não....lá o doce era Romeu e Julieta. Marmelada com queijo mineiro. (Ela respondeu).

Então, minha tia tinha aprendido a fazer sonho com uma senhora polaca? humm!

Tempos depois acompanhando um professor português pelos pontos turísticos de Cracóvia, convidei-o a provar o sonho polaco.

“Sonho? O que é isto?”
Pensei comigo: "Mas como que este português não sabe o que é sonho?

Quando apresentei o famoso doce ao gajo, ele reagiu dizendo:

- “Mas são bolas de Berlim!”

- "Bolas de Berlim?"

Agora eu é que não estava entendendo mais nada.

"Como bolas de Berlim?”, perguntei.

O professor de etnicidade da Universidade de Lisboa respondeu:

“Não! Isto não é doce português, não! Isto é da culinária alemã. Não me pergunte como chegaram a Portugal. Mas são muito apreciados e Viana do Castelo é a cidade onde se pode comer as melhores bolas de Berlim do país.”

- “Não!”

Disse-me, mais tarde uma professora de tradição e cultura da Universidade Jagielloński.

“Não é doce alemão não, é doce polaco, com certeza. Durante a ocupação de 1795 a 1918, os alemães aprenderam muitas coisas na Polônia, inclusive a fazer pączek.”

Vendo que eu fazia cara de dúvida, ela então recomendou a leitura de um livro sobre história da culinária polaca.

Foi assim que descobri através de Jędrzej Kitowicz, que o pączek já existia na Polônia, quando o rei August III mandou vir cozinheiros da França para melhorar o cardápio do castelo.

Kitowicz escreveu: „Staroświeckim pączkiem trafiwszy w oko mógłby go podsinić, dziś pączek jest tak pulchny, tak lekki, że ścisnąwszy go w ręku znowu się rozciąga i pęcznieje do swojej objętości, a wiatr zdmuchnąłby go z półmiska’. (O sonho antigo só de olhar já podia jogá-lo na parede, hoje o sonho é tão gordinho, tão leve que, quando se aperta na mão, ele estica e de novo incha seu volume, de tal modo que o vento poderia expulsá-lo do prato).

Segundo Kitowicz, o rei já não suportava comer toda semana a mesma comida e tampouco aquele doce de massa tão dura, em que pese o recheio de geleia de broto de rosas.

A tradução de pączek para português é broto de rosa
A pronúncia de pączek é pontchék
A pronúncia de pączki é pontchki

Pączek está no singular
Pączki está no plural





























Chegando em Cracóvia, os cozinheiros franceses conheceram o antigo pączek, e claro, tinham que mostrar serviço sem ferir o orgulho pátrio dos colegas polacos. Assim, fizeram algumas alterações no modo de preparar. O doce duro polaco ficou mais claro, mais esponjoso, mais elástico, mais fácil de comer e saborear.

Assim do francês “beignet” (ou “fritos”) só ficou mesmo uma feição do rio Sena, pois mesmo com a roupagem parisiense, a essência se manteve polaca até os dias de hoje.
Mas o que importa mesmo é saber, que o sonho que conhecemos chegou aos três Estados do Sul pelas mãos das imigrantes polacas e não através das “bolas de Berlim” portuguesas, aliás também chamadas de "malasada". Mas não foi apenas o Brasil que conheceu o pączek pelas mãos das polacas.
Também os Estados Unidos foram influenciados, tanto que adotaram a Tłusty czwartek”, comemorada como “Fat Thursday”, ou “Quinta gorda” dos polacos.

Em Chicago, Detroit, Milwaukee, e South Bend, o dia é celebrado com o nome em polaco mesmo “Pączki Day”.
Hamtramck, distrito de Detroit, é conhecido por ser a única cidade Norte-americana a organizar o verdadeiro “Dia dos Pączki” com a tradicional parada americana, ou seja, desfiles de bandas e escolas pela avenida principal da localidade.

Neste dia, as confeitarias e padarias de Hamtramck ficam abertas 24 horas para vender o “Pączek”. Os confeiteiros concorrem ao melhor "sonho" do ano. Também em Toronto, no Canadá, é celebrado o dia do “sonho polaco”.
Na Polônia, o "dia do sonho", ou "quinta -feira gorda", ou Tłusty czwartek” é secularmente comemorado na primeira quinta-feira antes do início da quaresma.

Diz-se que se alguém na "quinta-feira gorda', não come um sonho, ele não terá sorte durante o ano inteiro. Neste dia, o polaco come em média 2 sonhos e meio.

Provando que a origem dos modernos judeus é a Polônia, também Israel importou o dia do “Pączek”, através dos judeus polacos que o chamavam em Yiddish: פּאָנטשקעס , pontshkes, passou a ser conhecido com o nome em hebráico de סופגניות, sufganiyot (no singular: סופגניה, sufganiyah).

Outros países também reconhecem o sonho como algo autenticamente polaco.

A culinária russa o chama de é"pyshki" (especialmente em São Petersburg) e "пончики", ponchiki. Os ucranianos chamam de "pampushky". Nos idiomas alemão e dinamarquês, eles são chamados de "Berliner". Na Áustria, são chamados "Krapfen". Na culinária lituana, eles são chamados "spurgos" e até no Hawai por influência dos imigrantes açorianos da Ilha de São Miguel, eles são chamados de "malasada".

E finalmente a última constatação de que "sonho" é polaco, está justamente nesta relação de desejo de ter sorte, presente na comemoração do "Dia dos Pączki", pois ao comê-los se está claramente "sonhando" que o futuro será melhor. Um futuro de sorte, de fortuna!

Portanto, o "sonho" brasileiro nada tem a ver com "bolas de Berlim", "Berliner", "Malasada", "beignet" ou seja, lá como chamem os outros povos. 

No Brasil, "sonho" só rima com "pączek"... de "sonho de polaco"!!!!








E agora a mais saborosa receita polaca de "pączek" – "Sonho":

Ingredientes
  • ¾ de litro de leite
  • 100 gramas de manteiga
  • 1 ½ kg de farinha de trigo
  • 6 a10 ovos
  • 5 colheres de açúcar,
  • Essência de baunilha
  • licor de vodca
  • 10 gramas de fermento de lêvedo
  • Essência de laranja
  • cascas de laranja
  • geléia de broto de rosas 
* (na falta da geléia tipicamente polaca de broto de rosa pode se usar geléia de ameixa, pêssego, creme de baunilha, doce de leite cremoso, ou marmelada para o recheio).

Modo de fazer

  • Ferver meio litro de leite com a manteiga.
  • Adicionar meio quilo de farinha de trigo e mexer até fazer papa.
  • Adicionar em seguida açúcar e essência de baunilha.
  • Em seguida colocar a essência de laranja, as cascas de laranja e o licor de vodca.
  • Adicionar os ovos com o restante da farinha e em seguida, cuidadosamente, o fermento de lêvedo dissolvido em ¼ de litro de leite frio.
  • Deixar descansar a massa por algum tempo em lugar morno.
  • Finalmente formar pequenas bolas, furando-as com os dedos para colocar o recheio da geléia de broto de rosas (ou de ameixa, pêssego ou marmelada).
  • Fechar e fritar em óleo bem quente.
  • Deixar esfriar por alguns momentos e pulverizar com o açúcar de confeiteiro.



Mostra de filme polaco em Porto Alegre

O projeto Memória Cultural Polonesa abre sua edição de 2008 com a exibição do filme "A ferro e fogo". Baseado na obra homônima do Nobel de literatura Henryk Sienkiewicz (autor de "Quo Vadis"), o filme narra a guerra travada entre a coroa polaca e os cossacos ucranianos ao longo do século 17. O pianista Tiago Halewicz comenta os fatos históricos mencionados no filme, bem como a relevância da obra de Sienkiewicz na literatura mundial. "A ferro e fogo" é uma rica produção polaca que teve trilha sonora, figurino e direção premiados na Europa. Direção de Jerzy Hoffman com Marek Kondrat, Izabella Scorupco, Michał Żebrowski, Zbigniew Zamachowski, Aleksander Domogarov, Andrzej Seweryn, Anna Majcher, Jerzy Bończak, Krzysztof Kowalewski e outros. Produção de 1999 com 180 minutos de duração. A apresentação será dia 29 de janeiro, terça-feira, no horário das 18 horas, no StudioClio, Rua José do Patrocínio, 698, Porto Alegre - RS. O projeto tem apoio do Consulado Geral da República da Polônia, em Curitiba-PR.

Cidade alemã discrimina polacos

Foto: DPolski
Pequena cidade alemã, na fronteira com a Polônia discrimina moradores polacos é a manchete dos jornais polacos de hoje. Löknitz a 11km da fronteira e a 18km da cidade polaca de Szczecin tem preconizado diversas ações contra os mais de 200 moradores polacos que ali passaram a residir desde 2005. A causa da imigração destes trabalhadores de Szczecin é que o aluguel de uma casa na cidadezinha alemã é muito mais barato. Enquanto uma casa de mesmas dimensões não sai por menos de 6 mil złotych em Löknitz, custa 3 mil złotych, em Szczecin, ou seja, a metade. Convertendo para real, significa dizer que os preços são 2.100,00 na cidadezinha alemã e 4.200,00 reais na capital da voivodia Zachodniopomorskie.
Porém, a vida não tem sido fácil para os polacos no lado alemão. Neste fim de semana, escolhidos a dedo, seis automóveis com placas da Polônia foram destruídos, em Löknitz, e seriam mais se alguém não tivesse acordado e avisado a polícia. Os carros com vidros quebrados e portas chutadas deram um prejuízo de mais de 8 mil euros a seus proprietários polacos. O jornal alemão "Nordkurier" entrevistou o policial Joachim Rosenfeld, que informou terem sido detidos dois jovens alemães vestidos de jeans e capuzes como suspeitos, mas que foram liberados por não portarem carteira de identidade. Os moradores polacos estão convictos de se tratar de uma ação antipolaca neonazista liderada pelo partido neofascista NPD. O prefeito de Löknitz, Lothar Meistring, reconhece a grave situação e culpa os 20% de desempregados da cidade. O prefeito não soube explicar porque até agora não apagou a frase, "Polen raus aus Löknitz" (polacos fora de Löknitz") que está pichada nas paredes de lojas e casas de polacos. Por sua vez, Tino Mueller, representante do partido NPD, na localidade vizinha de Pasewalk, ao ser procurado pela reportagem da TV polaca TVN respondeu não saber o que havia ocorrido em Löknitz. Com tudo a situação é tensa, o polaco Krzysztof Potocki, dono de uma pequena mercearia, diz que a atmosfera é cada vez pior. Os alemães não compram nada em seu mercadinho e o que parecia a principio um bom negócio será fechado e ele voltará a morar do outro lado da fronteira, ou seja, na sua Polônia. "E até na escola, nossas crianças estão sendo discriminadas pelos coleguinhas alemães. Fomos conversar com a direção, mas disseram que estamos fantasiando e que é normal as crianças terem tal comportamento. Nos disse uma professora: somos impelidos desde criança a rejeitar o que é estranho. Ou seja, nossas crianças são estranhos para os alemães e eles acham isso normal. Eu chamo isso de discriminação e de pensamento antipolaco." declarou uma mãe polaca que pediu para não ser identificada temendo maiores represálias.


Monumento antifascista em Löknitz construido durante o período comunista e ainda de pé na cidade.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Nas montanhas a neve resiste

Foto: Ulisses Iarochinski
Esta imagem é próxima a Nowy Targ, no caminho para Zakopane. Com as chuvas e a temperatura elevada de 5 positivos a neve derreteu em Cracóvia, mas não ainda nos campos próximos as montanhas Tatras.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Controvérsia nos mortos de Auschwitz

O número de vítimas nos campos de concentração de Auschwitz, localizados nas cidades polacas de Brzezinka e Oświęcin continuam gerando polêmica e controvérsia. Um artigo de Franciszek Piper e Fritjof Meyer, “Die Zahl der Opfer von Auschwitz. Neue Erkentnisse durch neue Archivfunde,” publicado em Osteuropa, 52, Jg., 5/2002, nas páginas de 631-641, e disponível no site do Museu Nacional de Auschwitz busca esclarecimentos sobre o assunto e chega a conclusão de que o número de mortos nos campos de concentração de Auschwitz foi de apenas 510.000 pessoas e não 1.500.000 como aceitos oficialmente.As diversas cifras já publicadas em milhares de publicações ao longo dos últimos 60 anos mais confundem que esclarecem. Piper e Meyer dizem que "Quando o exército soviético entrou no acampamento no dia 27 de janeiro de 1945, eles não acharam nenhum documento alemão que informasse com precisão quantas pessoas haviam morrido no campo de concentração. Todos os documentos como listas de transporte, notificações da chegada de transportes e/ou relatórios sobre o resultado de seleção tinham sido destruído antes de liberação. Em função disto, a Comissão soviética que investigou os crimes cometidos em Auschwitz foram obrigados a fazer não mais que estimativas.”
É conhecido o comunicado oficial da Comissão Soviética, publicado em Krasnaya Zvezda, em 8 de maio de 1945, com o número de 4 milhões de incinerados. Este número foi inclusive confirmado pelo comandante do campo Rudolf Höss em seu testemunho ante o Tribunal Militar Internacional em Nuremberg em 1946. O general nazista declarou que 3 milhões tinham morrido no acampamento e assumia que esta cifra só poderia ser aplicada ao período enquanto ele foi comandante, entre 1940 a 1943. Os investigadores de crime polacos e o Tribunal Nacional Supremo da Polônia, que processou os prisioneiros de Auschwitz também aceitaram os 4 milhões. Em função destas deliberações, durante muito tempo, a comunidade internacional aceitou como verdadeira esta estimativa.
Contudo, Piper e Meyer dizem que “Isto não significa que todos os investigadores concordaram com os 4 milhões. Pesquisadores judeus, em particular, sempre viram com reservas este número”. Pois como seria possível que somente em Auschwitz tenham morrido mais da metade de todos os judeus na II Guerra Mundial? Por causa disso, com o passar dos anos, o número maldito foi variando de autor para autor. Os mortos foram pelo menos 900.000 (Reitlinger), 1.000.000 judeus (Hilberg), 2.000.000 judeus (Gilbert), 2.500.000 judeus (Weiss), 3.500.000 e 4.500.000 para Kogon.
Para Piper e Meyer, “em uma coisa não pode haver dúvida alguma: ninguém soube ou poderia ter sabido o verdadeiro número de vítimas de Auschwitz na ocasião.” Segundo os dois pesquisadores, Georges Wellers foi o primeiro investigador a fazer uma análise detalhada deste assunto. Para Wellers foram deportadas 1.600.000 pessoas para Auschwitz pelo menos, e destas morreram 1.500.000. Wellers publicou o resultado de seus estudos no “Le Monde Juif” de 1983. Um dos investigadores do Holocausto mais reconhecidos em todo o mundo, Raul Hilberg, em sua obra “Auschwitz e a Solução Final” reafirmou que o número de 1.000.000 de vítimas em Auschwitz eram judias. Este 1.500.000 é o número aceito atualmente pelo Museu de Auschwitz, em Oświęcim.
Mas neste seu artigo, Fritjof Meyer, tenta provar que o número, na verdade, foi de meio milhão de pessoas. Provavelmente 510.000 (incluindo os 365.000 das câmaras de gás) teriam perecido em Auschwitz. Para tanto, ele se apóia em vários pontos de análise e documentos pesquisados. Um deles, crucial, para tais conclusões. Uma nota de 8 de setembro de 1942, do engenheiro inspetor Kurt Prüfer de und de Topf Söhne, da empresa que construiu os fornos do crematório de Auschwitz para a SS. Nesta nota, o engenheiro informava que a capacidade dos crematórios eram de 2.650 corpos por dia, ou seja, 250 no crematório I do campo principal, 800 em cada um dos crematórios II e III, e 400 corpos nos crematórios IV e V. O que soma 967.250 corpos cremados por ano (876.000 só Birkenau). Meyer também assume, com base no testemunho de Höss, que os crematórios funcionavam nove horas por dia. Calculando o número de dias em que os crematórios teriam funcionado desde 1941 até 1945, chega-se a que o crematório I funcionou durante 509 dias, os crematórios II e III durante 462 dias, os crematórios III e IV durante 50 dias e o crematório e V durante 309 dias. Além disso, era possível cremar apenas 3 corpos simultaneamente num forno durante uma hora e meia. Assim, multiplicando as capacidades diárias dos crematórios, Meyer concluiu que foram cremados 313.866 corpos nos crematórios do campo de concentração de Birkenau (Auschwitz II), 147.564 em fogueiras (107.000 de setembro de 1942 a março de 1943 e 40.564 judeus húngaros em outubro de 1944), além de 12.000 no crematório I, no campo principal de Auschwitz, de um total de 473.000 corpos cremados.
Parece que o estudo de Meyer faz muito sentido, mas desde já está provocando controvérsia, principalmente entre aqueles que preferem engordar as cifras como se isto também aumentasse os crimes perpetrados pelos alemães durante a II Guerra Mundial, principalmente por aqueles judeus que fizeram dos 6 milhões um número exclusivamente deles. Seja como for, tivesse sido apenas uma a pessoa assassinada naquele período terrível da humanidade já seria, como é um crime.


P.S. Com exceção da foto colorida que é de minha autoria, as em preto/branco são do Museu Nacional de Auschwitz.

O espírito polaco no Himalaia

Indicado pelo amigo Fabricio Vicroski, de Erechim, acessei o site da revista National Geografic, edição brasileira deste mês de janeiro. A principal reportagem é sobre alpinistas polacos. Não é o caso de reproduzir o texto todo da reportagem de Mark Jenkins com fotos de Tommy Heinrich, o que se pode fazer clicando aqui em National Geografic. Mas alguns trechos coloco aqui, pois pela primeira vez, vi na chamada grande imprensa do Brasil, um texto que reproduz muito do que é a história da Polônia e o espirito dos polacos de forma correta e verdadeira. Talvez por que não tenha sido escrito por um brasileiro, mas por um Norte-americano do Wyoming. Jenkins além de um jornalista viajante é autor de vários livros como “A Man’s Life: Dispatches From Dangerous Places”, "Off the Map: Bicycling Across Siberia, To Timbuktu: A Journey Down the Niger" e "The Hard Way: Stories of Danger, Survival, and the Soul of Adventure". São estes os trechos que reproduzem o espírito fênix dos polacos:
1 - "Mesmo nesse transe miserável, eles entendem e aceitam a situação. São poloneses, afinal de contas, e essa é uma típica façanha polonesa: o montanhismo invernal em grandes altitudes."
2 - "Nanga Parbat, a "Montanha Nua", é um dos mais cobiçados prêmios para os valentes montanhistas poloneses. Quatro equipes do país já tentaram a escalada, e todas falharam."
3 - "Os poloneses dariam qualquer coisa, inclusive alguns membros do corpo e a própria vida, para ter competido pela primazia na escalada do Nanga Parbat - coisa que lhes era interdita na época pelo governo comunista. A Polônia já havia perdido 1 milhão de vidas na Primeira Guerra. Nos anos 1940, assolada pela Segunda Guerra, um quinto da população polonesa pereceu - quase 6 milhões de pessoas, metade judeus."

É a primeira vez que leio na imprensa brasileira, o reconhecimento de que não foram 6 milhões de judeus, mas que esta cifra representa pessoas de todos os credos que foram assassinadas em território europeu. Segundo, o historiador polaco Czesław Madejczyk (autor de Polityka III Rzeszy w okupowanej Polsce - As Políticas do Terceiro Reich na Polônia Ocupada, foram 2 milhões e 700 mil os judeus (na maioria polacos) dizimados na II Guerra Mundial.

4 - "Nos anos da Guerra Fria, intelectuais, ativistas e quem quer que sustentasse suas opiniões eram manietados pela opressão soviética. Só mesmo com o surgimento de Lech Walesa e do sindicado livre Solidariedade, em 1981, em Gdansk, é que as primeiras fissuras começaram a aparecer no edifício petrificado do comunismo. Esse prolongado período de sofrimentos deixou sua marca na alma da nação. O povo polonês aprendeu a suportar as mais terríveis circunstâncias, demonstrando reconhecimento pelos heróis que lutam e são derrotados - nem por isso menos heróis. Pelo menos em cinco ocasiões, durante o milênio passado, conquistadores varreram a nação do mapa da Europa, dispostos a apagar sua memória. De algum modo, sempre, a identidade polonesa conseguiu sobreviver."
5 - "Muitos alpinistas ainda acreditavam que o montanhismo de inverno em grandes altitudes era suicídio. Mas Zawada sabia umas coisas que os outros desconheciam, pois os poloneses vinham treinando para isso havia duas gerações. Caráter, desejo, experiência, tudo isso, nos montanhistas do país, fora curtido no frio, no vento, na escuridão e no perigo. Em 17 de fevereiro de 1980, Leszek Cichy e Krzysztof Wielicki chegaram ao topo do Everest, na primeira conquista de inverno do cume de um pico de 8 mil metros."
6 - "O acampamento 1 é escavado na crista a 5 070 metros, em 12 de dezembro. Faz um frio de rachar, 25º negativos à noite. "Para um polonês", como diz Jawien, "dá para se virar bem com isso. Os ânimos estão elevados, há energia no ar frígido. Pouco importam as avalanches, a longa subida - a velha valentia polonesa está de volta."
7 - "Estávamos ansiosos naquela época", confessa Wielicki, "ansiosos por escrever nossa própria história." Para obter sucesso, eles tiveram de fazer algo inédito. "Ninguém havia escalado o Himalaia no inverno", diz ele. "Mas os poloneses conhecem o frio. O frio nos torna mais criativos. A escalada do Everest, em 1980, foi o início, um primeiro capítulo."
8 - "Nessa história de montanhas e homens, de inverno e força de vontade, de sofrimento e sobrevivência, oito capítulos já foram escritos. Faltam apenas seis - e não há dúvida de que os poloneses irão escrevê-los. Quem mais o faria?"

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Lech Kaczynski seria alcóolatra?

Lech Kaczyński e Janusz Palikot
Os meios de comunicação da Polônia amanheceram nesta segunda-feira com mais uma grande polêmica política. Tudo porque, o deputado do PO-Partido da Plataforma da Cidadania,
Janusz Palikot, fez uma série de perguntas em seu blog sobre o verdadeiro motivo da internação do Presidente da República Lech Kaczyński (Lérrrhhh catchinhsqui). "O Presidente Lech Kaczyński abusa do álcool? É verdade, que sua estada no hospital tem relação com terapia anti-alcoolismo? O refúgio no Juraty e o vinho tinto não são meios terapêuticos para reagir aos problemas relacionados a família, irmão e mãe? (Juraty é uma entidade de recuperação de alcólicos e drogados).
Não tardou muito para que a chancelaria da presidência da República fosse instada a comentar. O subchefe de gabiente Robert Draba respondeu à TVN que o texto no blog está em forma de pergunta, por isso é difícil brigar com Palikot sobre este assunto. "Evidentemente que buscaremos aclarar, porque antes de tudo devemos defender o bom nome do senhor Presidente".
Mas o líder do PiS - Partido da Lei e Justiça, partido de Kaczyński, o deputado Przemysław Gosiewski informou, que seu partido pensa em conovar o deputado do partido do primeiro-ministro Donald Tusk, à comissão de ética do Sejm (Câmara dos Deputados), pois as perguntas feitas por Palikot são bastante comprometedoras. Já o líder do próprio partido de Palikot, o deputado Zbigniew Chlebowski do PO, disse que nem sempre concorda com as opiniões de seu companheiro Palikot. "Realmente ele é uma pessoa controvertida. Algumas vezes não aceito seu modo de se expressar. Ja tive a oportunidade de conversar com o deputado sobre seus pontos de vista".


A melhor do vôlei está fora

Foto: Kuba Atys
A melhor jogadora de vôlei da Polônia nos últimos anos está fora da seleção nacional. A bela Dorota Świeniewicz foi mandada para casa ironicamente por alguém chamado Bonitta, no caso o treinador italiano Marco Bonitta, após uma conversa de vestiário no sábado último. O treinador estava para explicar ao elenco porque apenas 12 jogadoras seguiriam nas eliminatórias para Pequim. Dorota, interrompendo o técnico, de pronto perguntou: eu vou, ou não? Automaticamente Bonitta respondeu: não! Dorota virou as costas, pegou suas coisas e deixou o recinto.
Em entrevista, publicada nesta segunda-feira, no jornal Gazeta Wyborcza a bela Dorota desconvocada por Bonitta deu sua versão: "Não posso dizer que a decisão do treinador me machucou. Sinto-me bem, estou tranquila, feliz, tenho agora mais tempo para meu filho, para a vida com meu parceiro, com minha família. Minha cabeça também estará mais tranquila e com menos pânico à noite. No momento vejo como positiva esta decisão."
Alguns comentaristas afirmam que Dorota foi desconvocada por ter se transformado no ícone principal do vôlei feminino da Polônia e isto não era bem visto pelo treinador nacional. Pelo jeito, o sentimento de estrela que atinge o maior treinador do mundo, o brasileiro Bernardinho, está fazendo escola. Bonitta prefere correr o risco de uma desclassificação para as Olimpíadas a ver seu triunfo dividido com a melhor jogadora do país.
Encerrando a entrevista Dorota disse que, "jogou durante 22 anos nas diversas seleções da Polônia. Tive momentos maravilhosos. Lembro-me de dois campeonatos europeus e de ter sido escolhida a melhor jogadora do continente europeu. Pena que foram momentos. Agora é tempo de agradecer a todos meus treinadores com quem joguei, as minhas colegas, amigas e principalmente aos torcedores, que sempre estiveram comigo. E que agora continuam comigo. Tenho esperança de que não me esquecerão."

domingo, 13 de janeiro de 2008

Concertos do "Serca Polski"

Festival caritativo da Grande Orquestra Santa em Mysłowice
Neste fim de semana, um exército de voluntários ganhou as ruas de maioria das cidades da Polônia para colocar em todos que passavam o adesico "Serca Polski" (sértssa polsqui - coração da Polônia) . Foi um momento de festa e coleta de fundos para Fundacja Wielka Orkiestra Świątecznej Pomocy (Fundação da Grande Orquesta da Santa Ajuda) a maior organização caritativa do país. A Fundacja com o dinheiro levantado nas ruas com seus concertos compra aparelhos para cardiocirurgia, neonatologia, oncologia, nefrologia e terapia intensiva para crianças enfermas.
Desde seu início, em 1992, até hoje, a fundação já comprou e distribuiu equipamentos a hospitais da Polônia no valor de mais de 72 milhões de dólares. Jerzy Owsiak durante todo o dia de sábado e domingo comandou o programa de televisão "Róbta co Chceta" onde apresentou um festival de música com crianças e a apresentação dos mais famosos artistas do país. O telespectador, por sua vez, contribuiu através da conta telefônica toda vez que ligava para o número da fundação.
Neste ano, a fundação WOŚP expandiu e atingiu cidades também no exterior e chegou a Berlim, Oberhausen, Osnabrück e Kaiserslautern, na Alemanha. Na capital alemã, todos foram supreendidos com voluntários colocando adesivo do "Serca Europa" durante concerto ao ar livre com artistas da Polônia, Estados Unidos e Sibéria, no centro da cidade.
No final da noite de domingo, no grande concerto, em frente ao Palácio da Cultura em Varsóvia, Owsiak anunciou que os 120 mil voluntários, mais o programa na TV e as demais ações coletaram mais de 30 milhões de złotych. Até o primeiro-ministro Donald Tusk foi abordado na rua da capital polaca. Este ano, o valor arrecadado vai para ajudar as crianças com problemas de laringe, que principalmente no inverno ataca a todos indistintamente.
Munidos com estes porta-moedas, os jovens colocavam o adesivo do "Coração da Polônia" em todos os que contribuiam.

Principe Habsburgo enterrado em Viena

Enterrado em Viena, neste fim de semana, um dos filhos do último imperador austro-húngaro, o príncipe Karol Ludwik Habsburgo Lotaryński, que morreu em Bruxelas, aos 89 anos de idade. Em cerimônia de corpo presente, celebrada pelo núncio papal Edmund Far-hat compareceu quase toda a família Habsburgo. Depois o féretro seguiu pela avenida Kartnerstrasse até a cripta imperial da Kapuzinerkirche - Igreja dos Capuchinhos, no Neuer Markt. Os restos mortais de Karol Ludwik ficará ao lado do sarcófago de sua mãe a imperatriz Zyty Burbon-Parmeński. No enterro, estiveram representantes da principais casas reais da Europa, entre eles o príncipe Hans Adam II von und zu Lichtenstein.
O maior império que já existiu na face da terra, o Austro-húngaro, caiu com a Primeira Guerra Mundial, o que entre outras coisas, permitiu a volta do Estado polaco no mapa da Europa em 1918. Grande parte do Sul da Polônia e Sudoeste da atual Ucrânia for ocupado pelo Império Habsburgo como província da Galícia durante 127 anos.
Para se ter uma idéia da grandeza do Império Habsburgo, basta dizer que até a colônia do Brasil fez parte dele, entre 1580 e 1640, quando com a vacância de um português no reino de Portugal, assumiu o trono o rei espanhol da Casa de Áustria - ou seja, também um Habsburgo parte do único Império que dominou os cinco continentes.
P.S. Pelos sobrenomes do príncipe morto e da sua mãe, percebe-se também sobrenomes polacos e também da família real brasileira.

Momentos do Papa na Polônia

Em suas visitas a Polônia como Papa João Paulo II, Karol Wojtyła (cárou voitiúa) sempre arrumava um tempo maior para se descontrair com seus patrícios. Neste vídeo, o cardeal tenta de todas as formas encerrar o contato de sua Santidade com o povo. Faz sinais aos mais próximos do balcão para que fechem a boca, que deixem o Papa ir embora. João Paulo II acha tudo muito divertido, abaixa a cabeça e fica rindo. O povo tenta cantar músicas tradicionais, entoa o "parabéns para você" e rendido, finalmente o cardeal propõe como encerramento do encontro, no balcão da Cúria de Varsóvia, que todos cantem a música "Góralu czy Ci nie Żal" - a música que fala do montanhês que volta à sua terra. Wadowice, a cidade onde nasceu Wojtyła está justamente na região das montanhas do Sul da Polônia, na voivodia da Małopolska e, portanto, era ele um montanhês. O Papa vai ao microfone e canta a música acompanhado pelo povo. O vídeo é da transmissão ao vivo da TVP2.

Casas de troncos polacas exportadas

Foto: Ulisses Iarochinski
Na região montanhesa da Polônia, fronteiras com a República Tcheca e Eslováquia, as casas de troncos encaixados continuam a fazer sucesso, mesmo após séculos de tradição. Cidades como Zakopane possuem leis incentivando a construção de novas casas com a mesma arquitetura milenar da região. Empresas de construção e serrarias são criadas com fundos da União Européia. Podczerwony, munícipio na voivodia da Małopolska, é praticamente uma cidade de casas de troncos (como esta da foto). Empresários portugueses andam por aqui fazendo contatos para levar estas casas desmontadas em caminhões até a Serra da Estrela, em Portugal e as construir lá para clientes da classe média alta de Lisboa e Porto. Junto aos troncos, portas e janelas de madeira polaca vão os mestres de obras e os carpinteiros polacos dos Tatras.

sábado, 12 de janeiro de 2008

Sábado cracoviano: saudade da Itália

Kamiennice no Rynek de Cracóvia. Foto: Ulisses Iarochinski
Cracóvia amanheceu mais uma vez ensolarada. E com um calor de 12 graus positivos. Impressionante para um janeiro de inverno. Dois anos atrás, deste mesmo dia, estava 20 graus negativos. Um dia bonito como esse causa saudade. Lembrar do passado faz a mente "volar" e foi o que fez a minha agora.
Os pensamentos foram parar num tempo mais distante e num local ainda mais distante do que a o frio polaco de dois janeiros atrás... foram parar na Itália. E como num filme, que se assiste na tela grande do escurinho do cinema, imediatamente ouço uma música, vejo uma morena, sinto a brisa de uma estrada beira mar. O caminho para Toscana, naquela manhã de sábado, era justamente após uma noite de frio e luzes na Piazza San Carlo de Torino. Tanto naquela meia noite, quanto naquela manhã se ouvia no rádio do carro a mesma voz: Antonello Venditti. Entre aquelas luzes amarelas da praça e aqueles Pallazzi centenários, entre caricias e palavras se ouvia "Amici mai" e naquela estrada de penhasco ensolarada eramos embalados por "Alta Marea".

O cantor é este extraordinário poeta da música italiana, Antonello Venditti e a bela morena do videoclip é a atriz Norte-americana Angelina Jolie, ainda jovem... Mas a morena de pele siciliana, agitação torinesa e olhos verdes piemonteses era e ainda é a mesma Chiara. Para ela são estes versos de Venditti:
"Lo so lo sai la mente vola fuori dal tempo e si ritrova sola, Tu sei dentro di me come l'alta marea, che scompare e riappare portandoti via, Sei il mistero profondo, la passione, l'idea , sei l'immensa paura che tu non sia mia. Lo so lo sai il tempo vola ma quanta strada per rivederti ancora (alta marea) ... Ogni volta che parlo di te, tu fai parte o non parte di me, ogni volta che piango per te, tu fai parte o non parte di noi, E mille nuovi amori cercherá
per non amarti più...(ogni volta) Certi amori non finiscono, fanno dei giri immensi e poi ritornano, amori indivisibili, indissolubili, inseparabili, Ma amici mai...(amici mai)"

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Casamento livre em Varsóvia

Foto: Kuba Atys / AG
"Kocham ciebie,
tylko ciebie znaczy:
nie kocham was wszystkich,
którzy nie jesteście nią lub nim.
Znaczy: kocham jednego potwora,
którego potworowatość polega między innymi na tym,
że żąda,
żeby kochać jego i tylko jego.
Moja zaś potworowatość polega między innymi na tym,
że przystaję na to."

Fragmento de "Missa Pagã" do polaco Edward Stachura, poeta, escritor, cantor e caminhante. Viveu pouco - 42 anos. Mas deixou uma obra de poesias e prosas sobre o amor e a vida, que são recitadas até em casamentos, como foi o caso destes versos, recitados em Varsóvia pelos noivos Monika Szmidt e Miłosz Kuligowski. A cerimônia foi conduzida por Krzysztof Tanewski e Jane Bechtel, respectivamente membros da "Polskiego Stowarzyszenia Racjonalistów" e "Szkockiego Towarzystwa Humanistycznego". O casamento, portanto, não foi oficializado na igreja. Mas ainda assim os noivos repetiram as palavras da Biblia: "...juro amá-lo, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, até que a morte nos separe...". Foi o chamado casamento livre, ou humanitário, que há dois anos é reconhecido na Escócia, mas ainda não o é na Polônia. Para este primeiro casamento livre da Polônia, ocorrerram os pais dos noivos, padrinhos, familiares e amigos para testemunharam a união de duas pessoas que se amam. Se não foi uma cerimônia religiosa, para ser reconhecido civilmente em nova cerimônia no cartório. Pelo menos, enquanto a Polônia, não tenha a mesma lei escocesa.
Tradução livre de Stachura: "Amo você, só você significa: não amo vocês todos, os quais não são ela, ou ele. Significa: amo um único mostro, monstruosidade que confia entre outros nisto, que reclama, a fim de amá-lo e só a ele. Minha monstruosidade confia entre entre tantos nisto, que concorda nisto".

Árvores despidas no inverno

Foto: Ulisses Iarochinski
Pois o inverno sem aquele manto branco de neve em Cracóvia não é o mesmo. As árvores, tão faceiras na primavera e verão estão frondosas e verdes; no outono, coloridas de folhas amarelas, laranjas, ocre e vermelhas; e no inverno lindamente vestidas de branco. Sim, isto quando tem neve, mas como nesta semana, sem folhas e sem neve, elas, pobrezinhas, ficam feias e retorcidas e a imagem do bosque que circunda o centro de Cracóvia, o Planty, fica muito triste. Este é o início da Ulica (ulitssa-rua) Wiślna que liga o Planty ao Rynek, que apesar do sol e o céu azul é desolador.

Cracóvia sem neve no inicio de 2008

Foto: Ulisses Iarochinski
Pois não é que depois de mais de um mês coberto por um manto branco de neve e temperaturas de até 15 graus negativos, 2008 começou com chuvas e temperatura acima de zero. Chuva e sol! Resultado: nada de neve, nada de branco e calor de 8 graus positivos. O Rynek (praça do mercado) de Cracóvia estava assim hoje de manhã: sol forte e passeio de bicicleta. Pelo jeito, os prestidigitadores erraram de novo: Não será o inverno mais frio dos últimos 500 anos... Já deu até para encostar a "ceroula de baixo", as tocas e as luvas. Será?

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

A eterna Lwów polaca

A cidade fica no território da Ucrânia, desde 1991, quando da criação do Estado ucraniano. Antes disso e por quase 700 anos foi a mais importante cidade polaca do Oriente. E também significativa para boa parte da imigração polaca que chegou ao Brasil, a partir do século 19. Durante o período de maior fluxo imigratório para o Brasil, funcionou em Lwów, um escritório do Império brasileiro (e depois da República) de promoção da imigração polaca para os Estados do Sul. E por isso, em função de sua longa história sob as bandeiras da Polônia e sua estreita ligação com os brasileiros “polskiego pochodzenia” e descendentes dos antigos povos rutenos, creio ser interessante falar alguma coisa sobre a cidade dos leões.

O nome Lwów deriva de Leopolis, como era denominada a cidade pelo Vaticano durante a Idade Média e após. Sua atual denominação, Lviv passou a ser usada após 1939, quando foi ocupada pelos soviéticos e se mantém desde 1991, como a maior cidade do Ocidente ucraniano.

Antes dos anos 1.000 d.C. a região era ocupada por polacos e rutenos. Até 1250 fazia parte da Rutênia Vermelha, região de terra que compreendia a Galicia Ocidental durante a ocupação austro-húngara de 1795 a 1918. Historiadores ucranianos discordam da denominação “Vermelha” por entenderem que é uma forma dos polacos dividirem a etnia que deu origem aos atuais ucranianos. Seja como for é o território entre os rios Bug e Wieprz. A área foi mencionada pela primeira vez em documentos escritos, em 981, como parte do Principado de Kiev (Kijów em polaco). Włodzimierz – o Grande, da dinastia Rurik, príncipe de Kievan Rus (Cidade-Estado de Kiev), entre 980 e 1015, conquistou a região. Seu filho Jarosław I, que o sucedeu, manteve a região sob o domínio de Kiev até 1018, quando esta foi anexada pelo Reino da Polônia. Contudo, em 1031, a Rutênia Vermelha voltou a fazer parte do Principado de Kiev e assim permaneceu até que o rei polaco Casimiro Grande III, a reconquistou em 1340.

Foi nesse período da dinastia Rurik, que o príncipe Daniel Halicki (1201-1264), descendente de Włodzimierz I, fundou Lwów e a denominou assim em homenagem a seu filho Lev, ou Leon. Com a morte do pai Daniel, Lev Halicki transformou a cidade de Lwów, na capital do Principado da Volinia.

Em 1356, já sob reinado polaco de Casimiro – o Grande, Lwów foi reconhecida pela Lei de Magdeburg. Um ano antes, portanto, de Cracóvia – capital da Polônia - ter sido reconhecida como cidade, segundo as leis medievais do Sacro-Império Germânico. Desde o rei polaco Władysław Jagiełło, Lwów foi a capital da Voivodia Rutênia da Polônia. Mesmo com a ocupação austro-húngara de 1793 a 1918, quando foi renomeada de Lemberg, com o status de capital da Galicia e Lodomeria, Lwów manteve-se essencialmente uma cidade polaca até 1939, quando foi ocupada pelas tropas soviéticas na Segunda Guerra Mundial.


Rei Kazimierz Wielki - Casimiro o Grande

Com os acordos, pós Segunda Guerra e a dizimação quase completa da população judaica, todos os polacos residentes de Lwów e antiga Voivodia Rutênia foram expulsos e realocados para o novo mapa da Polônia que surgiu. Stalin, Churchil e Trumam sem a participação de polacos e rutenos, simplesmente tiraram da Polônia metade de seu território. Essa metade ficou sob o domínio comunista soviético e entregue a República Soviética da Ucrânia. Foi preferido o nome Ucrânia, criado pelos nacionalistas rutenos em 1840 a quase milenar denominação de Rutênia. Com isso, a maioria da população polaca foi colocada em trens e enviada para Wrocław, Cracóvia, Lublin, Bielsko Biała e Katowice. A cidade foi então repovoada por pessoas dos mais diferentes pontos da União Soviética.

Ainda em 1910, a cidade possuía 192.472 habitantes, em sua grande maioria polaca do credo Católico Apostólico Romano, representando 51,7% da população. Em seguida os do credo judaico com 29%, além de 17% de católicos ortodoxos do rito grego. Entre as duas guerras mundiais Lwów era a terceira maior cidade polaca, menor apenas que Varsóvia e Łódż. Já em 2001, a cidade chegou a 725.000 habitantes, dos quais 88% eram ucranianos, 9% russos e 1% polacos. A última estimativa, de 2007, é de que a cidade possui 735 mil habitantes. Lwów está a 70 km de Przemyśl, fronteira com a Polônia e a 315 km de Cracóvia.

Monumento ao artista polaco Nikifor, em Lwów



Declarada patrimônio da humanidade pela Unesco, em 1998, Lwów, em que pese seus 68 anos soviético-ucraniano, tem uma arquitetura essencialmente polaco-austríaca. Os edifícios das universidades, dos teatros, monumentos e cemitérios são os locais de visitação turística que mantém viva a cultura polaca em território ucraniano. Poucos anos atrás, o Cemitério de Orląt foi motivo de intensa polêmica nos meios diplomáticos polaco-ucranianos. Panteão dos soldados polacos que morreram na guerra polaco-soviética de 1918-1920 foi completamente destruído pela União Soviética, em 1971, para a construção de avenidas. Com a queda do comunismo, familiares dos soldados enterrados ali começaram a restaurá-lo. Os polacos tinham em mente recuperar a área tal qual o cemitério foi construído em 1920. Mas os políticos ucranianos ficaram contra. A Sociedade dos Mortos Militares Polacos, organização histórico-cultural insistia que a reforma devia recolocar nos seus devidos lugares os símbolos patrióticos e do exército polaco existente nos túmulos. Devido à falta de fundos, o cemitério nunca foi completamente reconstruído. Já os ucranianos consideram ofensivos estes símbolos, pois muitos ucranianos foram vítimas inocentes desta guerra. O ex-presidente Kuchma ao pressionar a prefeitura da cidade para resolver a questão, acabou criando um conflito em seu próprio governo. Uma solução parcial foi encontrada no inicio do governo do atual presidente ucraniano Viktor Januszczenko e o cemitério foi finalmente reaberto numa solenidade com a presença dos presidentes dos dois países. Os polacos concordaram em não recolocar os símbolos da pátria polaca. Muitos residentes da cidade dizem não entender a profundidade das emoções envolvidas no assunto. Mas estão satisfeitos com o aumento de turistas polacos, que desde a reabertura do cemitério, chegam, principalmente no dia de finados, aos milhares para render homenagem a seus soldados mortos e rever a cidade natal de seus pais e avós.

Rutênia

Rutênia é uma antiga região da Europa Oriental, povoada por eslavos de várias etnias. Basicamente, a palavra é uma grafia latinizada do legendário nome Rus. Sua origem, contudo, tem varias versões. Uma delas, de origem normanda (povos dominadores do Norte), diz que os Varegues, que se constituíram no século 9, fundiram-se aos poucos com a população eslava, daí o nome Rus, que seria derivado do finlandês, a partir do norueguês antigo roðs- ou roths- o qual por sua se referia aos remadores, ou seja, aos varegos suecos. Pois para alguns ainda existe no idioma finlandês e estoniano as palavras Ruotsi e Rootsi para designar a Suécia. O termo Ruteni apareceu inicialmente como rex Rutenorum nos anais de Augsburgo no século 12, reflexo da antiga tradição dos autores latinos de chamarem os dinamarqueses de Dácios e os alemães de Teutões. Em 1772, os Habsburgos ao criarem a província da Galícia, para distinguir o povo eslavo local dos polacos e russos que habitavam aquela região deram-lhe o nome de ruteno, pois o nome até então usado Rusyny, soava como a palavra alemã para russos, ou seja, Russen. Então, os austríacos adotaram a designação Ruthenen - rutenos e continuaram a usar até a queda do império em 1918. A partir de 1840, aqueles nacionalistas eslavos que não eram, nem polacos, nem russos encorajaram às pessoas a substituírem o nome "Pequena Rus" por Ukrayina. Atualmente, o território histórico da Rus compreende partes das terras da Ucrânia, Bielorrússia, Rússia, uma pequena parte do Nordeste da Eslováquia e uma estreita faixa do Leste da Polônia.

Em idioma polaco, país é Kraj e o prefixo U geralmente é empregado para se dizer que "se está com uma pessoa"... assim talvez, Ukrajna, possa ser entendido como “no país”, ou “do país”. E Lwów: "Leões", ou cidade dos Leões.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Poster polaco: mostra de música

Cartaz da 7° Mostra da Canção de Atores de Wrocław - 1986. O vencedor da mostra foi Wojciech Walasik, que como todos os concorrentes teve que interpretar uma música. A 29° edição da mostra vai acontecer em abril próximo de 4 a 13.

Europride 2010 será na Polônia

Europride 2007 - Madrid
O anúncio de que Cracóvia se converteu, no último verão, o terceiro destino turístico da Europa, atrás apenas de Paris e Roma, tem atraído além de novos investimentos, outros tipos de turismo. O embaixador da IGLTA - Organização Internacional de Turismo de Gays e Lésbicas, anunciou, esta semana em Varsóvia, que sua entidade está preparando Varsóvia e Cracóvia para receberem em 2010 a Grande Parada Europride.
A IGLTA fundada em 1983 nos Estados Unidos está presente atualmente em 20 países e mantém convênios com mais de 1.100 empresas de turismo, entre estas 3 já na Polônia. A IGLTA certifica estas empresas como amigas dos gays e lésbicas, o que permite preços mais atrantes para seus turistas.
A Polônia é o primeiro país da Europa do Leste, o qual a IGLTA se interessou. Piotr Wójcik, o embaixador polaco da IGLTA, já tem um plano em execução. Primeiro estamos estabelecendo contatos para oferecer uma base hoteleira para os turistas homossexuais que viram as duas principais cidades polacas. Depois serão preparados os trabalhadores destes estabelecimentos para atenderem a esta clientela especial.
No ano que passou, a Europride aconteceu em Madrid e a cidade recebey mais de um milhão de gays de todo o mundo. Na parada anterior, Estocolmo recebeu 800 mil. O que desde já aponta um número muito maior para 2010 como se nota na presença sempre crescente nas duas últimas paradas.
A questão tem interessado outras cidades européias. Em Viena, na Áustria, um juizado já contratou uma empresa de consultoria especializada para apontar soluções em problemas que possam ocorrer com a presença massiva de turistas "desde já polêmicos", como disse um juiz austríaco. Varsóvia, que há alguns anos, teve um parada interrompida pelo então prefeito da cidade, o atual presidente da República Lech Kaczyński, já está dando os primeiros passos. Em que pese, o ato tenha rendido votos decisivos na eleição de Kaczyński, já possui cerca de 19 bares e um hotel gay: Friends Gesthouse. Cracóvia ainda não aderiu a moda, tem apenas 2 discotecas.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Sobrenomes polacos aportuguesados

Ancoradouro da Ilha das Flores, na Baia da Guanabara. 1907.
Dentre os vários e-mails que recebo diariamente sobre grafia de sobrenomes polacos que foram aportuguesados selecionei duas respostas para "postar" aqui. São centenas de descendentes de polacos que agora com a entrada na Polônia na União Européia vêem a possibilidade de tentar a cidadania polaca. Na maioria das vezes não possuem rastros dos antepassados, seja porque, ser polaco no passado foi motivo de vergonha, seja porque a Polônia era um país comunista, seja porque no Brasil as poucas informações existentes sempre foram de que a Polônia era um país pobre e atrasado. A primeira barreira que aparece é justamente onde procurar documentos dos antepassados se não se sabe nem como se escrevia em polaco o nome e sobrenome do bisavô, ou trisavô, quanto mais a cidade e o ano em que nasceu. Mas com algum conhecimento de história polaca, brasileira e de idioma polaco é possível chegar a grafia correta.
O primeiro caso é do sobrenome OLSCHOWSKI e o segundo de JEVINSKI. Minhas tentativas de reconhecimento passam inicialmente por buscas na própria Internet em idioma polaco. Fiz umas tentativas de pesquisa de teu sobrenome do google e como pressentia... Só encontrei referências em português, alemão e algo em inglês. Ou seja, para ser polaco a grafia não está correta. Primeiro que sobrenome polaco não termina em sky....mas SOMENTE em nski (N com acento agudo) ou wski (ou outras terminações). Sky é terminação de sobrenome tcheco. Mas também não vi referências em idioma tcheco desta palavra no google.
O encontro sch é corriqueiro no idioma alemão... Mas como termina em wski não pode ser alemão... portanto como wski é terminação autenticamente polaca, o sobrenome é polaco.
Levando em consideração que, primeiro, os imigrantes polacos que iam aos cartórios registrar seus filhos brasileiros não portavam nenhum documento polaco, segundo, que mesmo que portassem estariam em idioma polaco, terceiro, que o cartorário não aceitava documento estrangeiro, pois no caso, não entendia a língua polaca. Depois, é necessário lembrar, que por essa época, muitos dos passaportes eram familiares. Um imigrante que chegou como filho não tinha um passaporte individual, seu nome estava junto com seus irmãos no passaporte de seus pais. O passaporte era emitido no nome do cabeça da família, ou seja, o pai.
Assim quando o imigrante pronunciava o sobrenome, o fazia em idioma polaco. O cartorário ouvia e escrevia conforme o alfabeto português permitia grafar aqueles encontros consonantais. Partindo dessa premissa, teu sobrenome poderia ser Olszowski, pois SZ tem a pronúncia em português do encontro CH. E escrito assim, este sobrenome existe na Polônia.
O segundo sobrenome é sobre o ancestral de um brasileiro escrito Vladislau Jevinski.
1- o nome é Wladyslaw (os dois L na verdade são a letra polaca uel, representada por um L cortado transversalmente e que tem pronúncia de U e não de L. Assim a pronúncia seria vuádissuáf.
2 - Se o cartorário grafou J é porque provavelmente o imigrante pronunciou Jewinski (nao existe letra V no alfabeto polaco assim era W) e o sobrenome seria JEWINSKI (N com acento agudo). Essa sobrenome existe na Polônia.
3 - Se o imigrante realmente pronunciou Ge, então o sobrenome seria RZEWINSKI (N com acento agudo) e essa familia também existe na Polônia, mas não tem nada a ver com JEWINSKI.
4. Ainda sobre o J. O imigrante normalmente chegava no cartório e pronunciava o sobrenome como ele pronunciava em polaco.... assim o mais normal é que ele tenha dito ievinsqui... Mas assim como meus primos de Pariquera-açu /SP tiveram apenas o J preservado do sobrenome polaco Jarosinski (N com acento agudo) para Jarochinski, o meu passou a ser meu Iarochinski (com I e CH e sem acento agudo no N)... O mesmo ocorreu, por exemplo com Javorski (que em polaco é JAWORSKI e só perdeu o W e manteve o J no Brasil), mas é pronunciado como iavórsqui.
5 - Nao acredito em Dzievinski como mencionas... O cartorário não saberia transcrever este encontro consonantal de Dziewinski para português e seria muito estranho que só mudasse o W para V. Embora o sobrenome Dziewinski (N com acento agudo) também exista na Polônia.
6 - A única forma no mundo, atualmente, de se saber como seria a grafia correta do nome e sobrenome do ancestral (além destas tentativas idiomáticas) é ir pessoalmente ao Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro, e pesquisar nas listas de passageiros dos navios e de hóspedes da Ilha das Flores se o ancestral esteve registrado com a grafia que popssuia de seu nome em polaco. Ainda no Arquivo Nacional existem pastas da Policia Federal, seção Rio Grande do Sul e seção Paraná com informações de todos os imigrantes que compareceram na década de 40 para cumprir a Lei de Nacionalização de Getúlio Vargas, onde se pode encontrar os rastros dos ancestrais imigrantes... E não adianta enviar para lá carta, e-mail ou telefonar... O Arquivo não possui funcionários suficintes para atender tanta demanda. O interessado tem que ir pessoalmente lá fazer a pesquisa.